Wydad e Raja Casablanca também representam a luta pela independência de Marrocos contra a França | OneFootball

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Trivela

·13 de dezembro de 2022

Wydad e Raja Casablanca também representam a luta pela independência de Marrocos contra a França

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Mohammed V, o monarca que liderou a independência de Marrocos, dá nome ao principal estádio do país. E o Dérbi de Casablanca costuma colorir as arquibancadas com duas cores muito representativas à nação: o vermelho do Wydad está ligado ao sangue das antigas dinastias reais, enquanto o verde do Raja foi inspirado pelo islamismo. Juntos, os dois gigantes marroquinos formam uma das maiores rivalidades do planeta. Mas que, décadas atrás, representou o mesmo lado contra o domínio francês no então Protetorado de Marrocos. Se as origens de WAC e RCA são distintas, entre um clube mais próximo das elites locais e outro com raízes mais populares, da mesma forma eles representaram os ideais independentistas: o Wydad batia de frente contra os times de origem francesa no Campeonato Marroquino e por isso atraía muita gente às arquibancadas, enquanto o Raja reunia os membros da resistência em sua fundação e também não demorou a conquistar sua massa.

A história do Campeonato Marroquino começa em 1916, quando as primeiras edições da liga nacional passam a ser organizadas. A competição, de qualquer forma, estava submetida às estruturas do então chamado Protetorado Francês de Marrocos – o domínio colonial estabelecido no país em 1912. Desta maneira, a Liga Marroquina de Futebol acabava submetida à própria Federação Francesa de Futebol, e se tornou um organismo oficial da Fifa a partir de 1922. Já em 1926, a entidade local passou a compor a União de Ligas de Futebol do Norte da África – que, com quase três décadas de antecedência, já organizava uma versão local da “Champions League”, reunindo os campeões coloniais.


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Os primeiros clubes participantes do Campeonato Marroquino eram majoritariamente administrados por europeus. Ainda que não existissem segregações relativas a árabes ou outros povos nativos, a organização ficava sob a responsabilidade da comunidade estrangeira que tinha o poder nas mãos na época da colonização. Aquele que é considerado como o clube mais antigo de Marrocos é o chamado Club Athlétique Marocain, de Casablanca, ligado à comunidade francesa que já existia na cidade antes mesmo do protetorado. E foi assim com outras agremiações nestes primórdios, inclusive nas cidades que depois passaram a integrar o chamado Protetorado Espanhol de Marrocos, em divisão do território assinada também em 1912.

O Campeonato Marroquino nestes primórdios se dividia em quatro competições concentradas nas principais cidades do Protetorado Francês de Marrocos: Casablanca, Rabat, Marraquexe e Fez-Meknès – os times da parte espanhola do território marroquino tinham seus torneios paralelos, integrados às estruturas do Campeonato Espanhol. Dentro do protetorado francês, as melhores equipes das ligas regionais se uniam para a fase final da competição nacional. Curiosamente, os times de Oujda, cidade na fronteira com a Argélia, acabavam integrados ao campeonato da colonização francesa vizinha, na chamada Liga de Oran – um dos torneios regionais argelinos. Já a partir de 1931, saiu do papel a Copa do Norte da África, em que o campeão marroquino media forças com os vencedores das ligas da Tunísia, de Oran, de Argel e de Constantine.

Nestes primórdios, os clubes que dominavam o Campeonato Marroquino eram de origem francesa. Entre os principais concorrentes estavam times como a Union Fez, o Stade Marocain de Rabat, o Olympique Marocain de Rabat e o Sporting Athlétique de Marraquexe. De qualquer maneira, a partir de 1918, quem se estabeleceu como principal força foi a Union Sportive Marocaine, de Casablanca, conhecida como USM. A equipe fundada em 1913 tinha como intuito estimular a prática esportiva, inclusive para manter parte da população fisicamente apta a atividades militares.

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A USM com Ben Barek

A USM, de qualquer maneira, não se restringia apenas aos jogadores franceses em suas fileiras. A equipe tinha abertura não apenas para outros atletas de origem europeia, como também absorvia talentos árabes e de outras minorias locais. Era um elenco multiétnico que chegou ao seu ápice especialmente a partir da década de 1930, quando conquistou 10 títulos do Campeonato Marroquino numa sequência de 12 anos – com o tetra de 1932 a 1935, antes de um hexa de 1938 a 1943. Naquele período histórico, a liga marroquina também passaria por mudanças, ao adotar o formato de pontos corridos.

O sucesso da USM era tão grande que os tricolores ganharam o apelido de “Monstro do Futebol”. E alguns dos melhores jogadores do país, naturalmente, despontavam por lá. Um nome fundamental a esse sucesso é o do atacante Larbi Ben Barek, não coincidentemente contratado pela agremiação nos anos 1930. Tornou-se o grande símbolo do futebol local, a ponto de ser levado pelo Olympique de Marseille e se tornar a primeira estrela marroquina do Campeonato Francês, bem como na seleção da França. Outro nome central nessa era gloriosa do time é o atacante Mario Zatelli, filho de imigrantes italianos que nasceu na Argélia e cresceu no Marrocos. Seria também levado pelo Olympique de Marseille, pouco antes da chegada de Ben Barek.

Apesar da mistura de origens nos clubes marroquinos, os anseios por uma identidade nacional se tornavam cada vez mais presentes na década de 1930. Foi nessa época em que surgiram os primeiros clubes árabes do protetorado: o Maghreb Football de Rabat, criado em 1930, e a Union Sportive Musulman de Rabat-Salé, fundada em 1932. A USM Rabat-Salé teve mais relevância e, como o próprio nome revela, era uma agremiação muçulmana. A equipe idealizada por nacionalistas chegaria a disputar a primeira divisão, embora tenha sido dissolvida por motivos políticos na década de 1940. Mas, se não teve vida longa, deixou uma semente para o que viria a acontecer pouco depois em Casablanca.

O time disposto a rivalizar com a força da USM Casablanca surgiu em 1937, no seio da comunidade nativa de Marrocos: o chamado Wydad Casablanca. O intuito inicial dos alvirrubros, contudo, não era o futebol. Na época, a administração francesa construiu piscinas públicas na região do porto de Casablanca. Com a adesão de grande parte da população às instalações, clubes de origem francesa passaram a limitar os acessos de moradores locais – não só árabes, mas também judeus. E as duas comunidades se uniram para fundar a nova agremiação, não só para ter acesso às piscinas, como também para praticar polo aquático.

A administração francesa impôs barreiras na fundação do Wydad. O clube deveria se distanciar da religião e da política, assim como não poderia excluir franceses. Precisava contar inclusive com metade dos assentos aos colonizadores na junta diretiva. O próprio sultão teria intervindo nas negociações com a federação francesa. E conseguiram a autorização, já significativa. O nome Wydad, em árabe, significa “amor”. A alcunha seria inspirada por um dos fundadores, que estava no cinema e por isso se atrasou a uma das reuniões iniciais da agremiação. Assistia ao filme Wydad, estrelado por Umm Kulthum, famosa atriz egípcia da época. De início, os alvirrubros contavam apenas com o departamento de natação. Depois viria o de basquete e, em 1939, o de futebol.

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Ben Barek na breve passagem pelo WAC

Apoiado pelas elites nativas, o Wydad logo passou a integrar o Campeonato Marroquino. E se tornou uma oposição à USM, não ainda nos títulos, mas pelo menos em campo e nas arquibancadas. A identidade como um clube formado por locais, mesmo que se submetesse às exigências dos colonizadores franceses, acabava atraindo uma parcela expressiva de torcedores. Era um caminho simbólico à resistência e ao senso de comunidade, que se viam suprimidos em diversos meios, quando outros tipos de organizações políticas estavam bem mais vigiadas. E, mesmo sendo um time novato, o WAC passou a complicar a vida do Monstro do Futebol desde os primeiros encontros.

O grande nome do Wydad Casablanca dentro de campo era o atacante Abdelkader Hamiri, visto como o único capaz de competir com o estrelato de Larbi Ben Barek naqueles tempos. De qualquer maneira, o grande triunfo do WAC estava no banco de reservas. A equipe era treinada por Père Jégo – considerado o pai do futebol em Marrocos. Nascido em Túnis, filho de um rico comerciante marroquino, o antigo defensor teve uma carreira modesta como jogador, enquanto conciliava as atividades de bancário e jornalista. Em compensação, virou um treinador de mão cheia, especialmente ao realizar viagens para a Inglaterra na intenção de estudar o futebol. Treinou de início a US Safi e a US Athlétique de Casablanca, antes de assumir o departamento de futebol do Wydad em 1939. Provocaria uma revolução, pelo estilo pragmático e eficiente que representava uma evolução ao jogo local. O título de uma supercopa contra a USM em 1940 serviu de cartão de visitas.

O Campeonato Marroquino não parou durante a Segunda Guerra Mundial. A USM continuou empilhando taças. E se o Wydad não conseguiu romper a hegemonia da liga naquele intervalo, pelo menos levou ninguém menos que Larbi Ben Barek para o seu elenco. O atacante chegou a atuar inclusive pelo time de basquete dos alvirrubros, mas a USM criou empecilhos contratuais para barrar a presença do craque na equipe de futebol. Ben Barek acabaria voltando aos tricolores, mas não por muito tempo. Em 1945, com o fim da guerra, os principais jogadores marroquinos se transferiram ao Campeonato Francês, atraídos pelo dinheiro do profissionalismo. Ben Barek vestiria a camisa do Stade Français, de Paris, onde inclusive teve a breve companhia de Abdelkader Hamiri.

O equilíbrio de forças do Campeonato Marroquino mudou nos anos finais da guerra, quando a USM deixou o topo da tabela. US Athlétique de Casablanca, Stade Marocain de Rabat e Racing de Casablanca foram os campeões nos anos seguintes, enquanto a USM ainda levou o troféu em 1946, em disputa com o Wydad. A essa altura, as diferenças entre os dois times eram ainda mais expressas em campo e nas arquibancadas, com o fortalecimento dos movimentos nacionalistas pela independência de Marrocos. Jogadores alvirrubros chegaram a ser detidos sem motivo, enquanto existia repressão nas tribunas. Como resposta, uma virada no domínio nacional aconteceu a partir de 1948. Liderado por Père Jégo e com a volta de Abdelkader Hamiri, o WAC emendou um tetracampeonato marroquino. Eram tempos do chamado Trio Dourado no ataque, composto por Mohamed “Chtouki” Anwar, Abdesselem Ben Mohammed e Driss Joumad – o primeiro levado depois pelo Nice, os outros dois comprados pelo Bordeaux.

Aquela sequência do Wydad teria um simbolismo além dos gramados. Para muita gente, era a vitória da população nativa contra os colonizadores franceses que se expressava num contexto mais amplo. Ao mesmo tempo, o Wydad foi tricampeão consecutivo da Copa do Norte da África, repetindo a sequência da USM no mesmo torneio durante os anos 1930. Um episódio simbólico, inclusive, aconteceria numa decisão dos alvirrubros em Argel. Os jogadores se recusaram a iniciar a partida enquanto a bandeira de Marrocos não fosse hasteada ao lado da francesa.

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O Wydad campeão de 1948

Se por um lado o Wydad se fincava como emblema dentro do Campeonato Marroquino, o contexto auxiliou o surgimento de outros clubes com raízes nacionalistas, como oposição às autoridades francesas no pós-guerra. O ano de 1946 marcaria os primórdios da Fath Union Sportive, o FUS Rabat, visto como herdeiro esportivo da extinta Union Sportive Musulman de Rabat-Salé. A equipe que reunia a população muçulmana contava inclusive com o apoio do sultão Mohammed V, que teria sugerido o nome Fath, que significa “conquista”. Também em 1946 nasceria a Maghreb Association Sportive, em Fès, importante centro cultural e religioso do país. Os aurinegros concentravam nacionalistas da cidade, com um nome emblemático que fazia referência à região do Magrebe. Já em 1947, Marraquexe ganhou o Kawkab, que reunia os principais jogadores árabes locais.

Em Casablanca, o Wydad também não estaria sozinho. E o Raja Club Athletic, que trazia no próprio nome o termo “esperança”, tinha em suas origens uma oposição aos alvirrubros dentro da comunidade nativa. Se por um lado o WAC era associado às elites árabes, o RCA tinha suas origens em movimentos populares. Entre os torcedores alviverdes, inclusive, existe um discurso de que os alvirrubros estavam disputando competições entre os franceses e se submetendo à autoridade colonial, enquanto os “verdadeiros responsáveis pela resistência” se recusavam a se aproximar dos invasores – no caso, o Raja sendo um destes.

Desde 1942, Casablanca já contava com o Étoile de Casablanca, time ligado a membros do Exército de Libertação Nacional, que se opunha não só ao protetorado francês como também à figura do sultão. Já na sequência da década de 1940, a cidade teve um campeonato paralelo estimulado por movimentos políticos, que não concordavam com a submissão da Liga Marroquina de Futebol à federação francesa. As equipes eram organizadas nos subúrbios de Casablanca e contavam inclusive com jogadores oriundos do Wydad ou da USM. Em 1949, parte desses times resolveu se unir para compor um novo clube, que enfrentasse os demais oponentes na Liga Marroquina de Futebol. Era exatamente o Raja.

Assim, o Raja Casablanca seria fundado por trabalhadores em bairros populares, parte deles envolvida com movimentos nacionalistas de resistência. Um dos pilares do RCA, inclusive, era a União Marroquina do Trabalho – organização sindical vigente naqueles tempos coloniais. Também estavam relacionados a membros da União dos Advogados Árabes. O primeiro presidente do clube era um nativo argelino com nacionalidade francesa, maneira encontrada para driblar as autoridades que exigiam o posto ocupado por algum francês. Já o primeiro ídolo dos alviverdes era Mohamed Naoui, que dividia as funções de jogador e treinador. Antigo craque de Wydad e USM, assim como ex-jogador do Racing de Paris, o atacante passara pelas ligas paralelas de Casablanca até vestir a camisa do RCA.

Apesar da identidade forte, o Raja ainda seria figurante dentro de campo nos últimos anos do Protetorado Francês no Marrocos. Wydad e USM ainda disputavam o topo da liga. A sequência de títulos do WAC no Campeonato Marroquino acabou quebrada em 1952. O responsável? Exatamente a USM, em seu último suspiro como força local. Os tricolores haviam ganhado um novo talento naquele intervalo: Just Fontaine, filho de pai francês com mãe espanhola que, fã de Ben Barek, se estabeleceu como sucessor do velho ídolo no clube de Casablanca. O centroavante passaria pela seleção do protetorado – treinada naqueles anos 1950 por Père Jégo, que assumiu um cargo de consultor na liga.

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Père Jégo é condecorado por Mohammed V

AS Marrakech e Racing de Casablanca também venceram as edições derradeiras do Campeonato Marroquino sob o Protetorado Francês. Já a última edição da competição foi realizada em 1955. O Wydad Casablanca se tornou o campeão final. Neste momento, a luta pela independência se tornava ainda mais intensa no Marrocos e, em 1956, foram assinados acordos pelo agora Rei Mohammed V, que encerraram o domínio colonial tanto de franceses quanto de espanhóis. O Campeonato Marroquino seria refundado, com sua nova era inaugurada a partir da temporada 1956/57.

A primeira edição do Campeonato Marroquino no país independente ainda misturava os times dos colonizadores franceses com aqueles ligados aos movimentos nacionalistas. Existia um interesse da própria monarquia constitucional, que passava a comandar o país, em estimular o sucesso dessas equipes nativas, de maneira a usar a popularidade do futebol como um vetor da identidade nacional. O Wydad Casablanca seria o primeiro campeão marroquino pós-independência, seguido depois pelo Kawkab de Marraquexe.

Apesar das ligações fortes com o Wydad Casablanca e com o FUS Rabat, a monarquia também fundou a sua própria equipe no intuito de transformá-la em potência. Era a Association Sportive de Forces Armées Royales, o FAR Rabat, surgido dentro das forças armadas reais. A equipe militar tinha como principal fundador o príncipe herdeiro Moulay El Hassan, futuro Rei Hassan II, ele mesmo um ávido entusiasta do futebol. Curiosamente, em 1959, o campeão marroquino ainda seria o surpreendente Étoile de Casablanca, que permanecia ligado ao Exército de Libertação Nacional. Entretanto, o movimento encabeçado pela esquerda local seguiria como oposição à monarquia e o presidente do clube foi executado, com o time caindo em ostracismo pouco depois. Já na década de 1960, o FAR Rabat viveu seu auge, com sete títulos de 1961 a 1970.

O Raja Casablanca, por sua vez, entrou na mente do Wydad Casablanca bem antes de conquistar seus primeiros troféus nacionais. Depois de entrar em atrito com os dirigentes do WAC, Père Jégo se tornou o treinador do RCA a partir de 1957, permanecendo à frente do time por mais de uma década. O comandante mudaria inclusive sua concepção de futebol e seria o responsável por estimular um jogo vistoso nos alviverdes, sobre o qual o técnico dizia se inspirar na América do Sul, opondo-se ao pragmatismo dos tempos de Wydad. E ele permitiu que a equipe se impusesse nos primeiros anos do dérbi. O Raja ganhou o primeiro clássico em 1957, por 1 a 0, numa edição da liga em que ficou apenas em décimo e viu os vizinhos serem campeões. Independentemente do histórico vitorioso do WAC, os novatos do RCA somaram seis triunfos contra apenas três dos alvirrubros nas primeiras sete temporadas do Campeonato Marroquino, até que o equilíbrio se tornasse um pouco maior – com muitos empates.

Père Jégo faleceu em agosto de 1970 e não viu o Raja Casablanca conquistar seus primeiros troféus nacionais naquela mesma década de 1970. Já o título inédito no Campeonato Marroquino aconteceu em 1988, numa época em que o Wydad já tinha sete taças desde a independência. A quantidade de canecos dos alvirrubros, aliás, se tornou uma pimenta a mais na rivalidade. O WAC defende que os títulos do Campeonato Marroquino nos tempos de protetorado sejam contados, porque fazem parte da história de Marrocos e ainda representam um orgulho dos triunfos sobre os franceses. Os torcedores do RCA refutam essa ideia. Dizem que esportivamente algumas dessas edições estavam abaixo da exigência e também alfinetam a relação dos alvirrubros com os antigos colonizadores, a ponto de dividirem o mesmo campo de jogo.

Nos últimos 30 anos, Wydad e Raja passaram a dominar o topo do Campeonato Marroquino, com alternâncias de períodos hegemônicos. Também passaram a desfrutar grandes glórias na Champions Africana e nos demais torneios continentais. Além disso, há um orgulho que resiste: o fato de cada clube, com sua própria narrativa, se ver como parte integrante do processo de independência de Marrocos. Ainda que o WAC continue rotulado como time ligado à monarquia, sua torcida se distanciou do poder com um engajamento político e social evidente nas arquibancadas. O mesmo resiste no RCA, que nunca renegou suas raízes populares e muitas vezes integrou manifestações nas ruas do país. Desde 2005, os ultras da Winners e dos Green Boys viraram referência do que é torcer e do que é se posicionar nas arquibancadas. Uma herança e um orgulho que, juntos, podem exibir também numa Copa do Mundo em que Marrocos corresponde a muito mais.

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