Calciopédia
·08 de dezembro de 2021
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Pedro Troglio é um dos maiores argentinos que passaram pelos gramados italianos. Vice-campeão mundial em 1990, o volante pode não ter chegado ao nível de compatriotas como Carlos Tévez, Javier Zanetti, Gabriel Batistuta, Diego Milito e, claro, Diego Armando Maradona, mas deu a sua contribuição com as camisas de Verona, Lazio e Ascoli. Nas equipes da província, aliás, o meio-campista de cabelos cacheados deixou muitas saudades.
Antes de chegar às glórias e aos grandes momentos, que o acompanharam no River Plate, na seleção e no futebol italiano, o argentino enfrentou desde cedo dificuldades em sua vida pessoal. Troglio é natural de Luján, cidade localizada na enorme província de Buenos Aires, e viu sua família perder tudo numa enchente, quando ele ainda tinha dois anos de idade. Esse acontecimento foi decisivo para que o futuro meia se aproximasse ainda mais de seus pais, acompanhando-os ao trabalho. Desde cedo, viajava nos ônibus urbanos com o genitor, que era funcionário de uma fábrica de móveis.
As agruras na vida pessoal de Pedrito se estenderam também ao início de sua carreira futebolística. Embora torcedor do River Plate desde os 10 anos, Troglio tentou a sorte na base do arquirrival, o Boca Juniors, mas foi recusado. Muito decepcionado, andou distraído pelas ruas e quase foi atropelado por um trem pouco após a negativa dos xeneizes. Mais tarde, o volante foi aceito na base de seu clube de coração e, em 1985, ficou à beira da morte: sofreu uma peritonite fecal, que tirou seus sinais vitais por 16 segundos. Após passar por três operações, o jogador conseguiu escapar mais uma vez. Recuperado, pode viver dias melhores em sua trajetória profissional.
Troglio fez seu nome no River Plate. Ao lado do amigo Claudio Caniggia, conquistou a tríplice coroa em 1986: a primeira divisão argentina, a Copa Libertadores da América e o único Mundial de Clubes na história dos millonarios. Mesmo não sendo titular absoluto no gigante sul-americano, Pedrito passou a ser convocado por Carlos Bilardo para a seleção um ano e meio depois do título mundial albiceleste.
Troglio, Berthold e Caniggia foram os estrangeiros do Verona na temporada 1988-89 (Wikipedia)
Rulo, como era conhecido, em virtude de seus cabelos cacheados, começou a sua trajetória na seleção da Argentina como reserva de Héctor Enrique, meia-direita que faturou a máxima honraria com a equipe nacional. O volante estreou num amistoso vencido por 1 a 0 sobre a Alemanha Ocidental, em dezembro de 1987, e foi ganhando chances nos meses seguintes.
Pedro Troglio atuou pelo River até o verão de 1988, quando o destaque internacional que ganhou lhe impulsionou ao futebol europeu: Rulo foi vendido, juntamente a Caniggia, ao Hellas Verona. Na época, o clube italiano ainda colhia as glórias do esquadrão que havia conquistado o campeonato nacional em 1985 e via no argentino o jogador certo para substituir Antonio Di Gennaro, que estava de saída.
Sob o comando de Osvaldo Bagnoli, Troglio foi peça fundamental no meio-campo dos mastini. Baixo, mas combativo, o volante tinha a boa técnica como grande virtude, e a condução de bola era facilitada por essa característica. No setor central, fazendo um trio guerreiro com Giuseppe Iachini e Mario Bortolazzi, o argentino participou de 42 partidas na temporada e contribuiu bastante para que o Verona garantisse a 11ª posição na Serie A e avançasse até as quartas de final da Coppa Italia.
Troglio se tornou um dos jogadores preferidos da torcida do Verona, mas permaneceu apenas um ano no Marcantonio Bentegodi. Como o Hellas tinha muitas dívidas, a diretoria precisou vender as suas peças mais preciosas. Caniggia e Bortolazzi, por exemplo, foram negociados com a Atalanta; Iachini, Giuseppe Volpecina e Stefano Pioli, com a Fiorentina; Giovanni Cervone e Thomas Berthold, com a Roma; o artilheiro Marco Pacione, com o Torino; Dario Bonetti, com a Juventus. Pedrito, por sua vez, rumou à Lazio.
“A torcida do Verona foi fantástica comigo e Bagnoli me ensinou muito. Se dependesse de mim, jamais teria deixado o clube. Mas a diretoria precisou vender os jogadores que tinham mais mercado e, assim, fui para a Lazio”, lembrou Troglio, em entrevista ao jornal L’Arena, em 2015. O desmanche do elenco não fez bem ao Hellas, que terminou rebaixado à Serie B em 1990. Para Rulo, o ano de afirmação numa equipe que ainda buscava se consolidar novamente na elite, após frequentar a segundona entre 1985 e 1988, também não foi simples.
Troglio, Maradona e Caniggia: entre os argentinos, a rivalidade entre Verona e Napoli ficava em segundo plano (Liverani)
Em sua primeira temporada na Cidade Eterna, Troglio teve enorme dificuldade de se firmar entre os titulares – ainda que a torcida biancoceleste tenha reconhecido seu profissionalismo. Precocemente eliminada na Coppa Italia e 9ª colocada na Serie A, a Lazio fez 36 partidas em 1989-90 e o argentino atuou em 25 delas, sendo apenas 13 como titular. “Encontrei alguns problemas de adaptação no início. Não era fácil trocar uma cidade do interior pela capital”, explicou ao diário L’Arena. Naquela campanha, além de acumular más apresentações, Rulo foi um dos dois jogadores expulsos na reta final de um dérbi perdido por 1 a 0 para a Roma: completou apenas 26 minutos em campo e levou o vermelho direto após cometer falta dura em Giovanni Piacentini.
Apesar do momento negativo na Lazio, o volante tinha a confiança de Bilardo e continuou a ser convocado para a seleção argentina. A albiceleste também não vivia uma fase excepcional e chegou a passar oito partidas seguidas sem vitórias entre 1989 e 1990. O fim do jejum teve justamente a assinatura de Troglio e aconteceu no segundo jogo da Copa do Mundo, disputada na Itália, país que lhe abriu as portas no futebol europeu. Pedrito recebeu cruzamento de Julio Olarticoechea e abriu o placar no triunfo por 2 a 0 sobre a União Soviética, em Nápoles.
Esse gol teve ainda mais importância se levarmos em conta que os argentinos haviam perdido o primeiro jogo da fase de grupos para Camarões e, se fossem derrotados pelos soviéticos, estariam eliminados do torneio de forma prematura. Sempre com Rulo participando dos confrontos, a seleção campeã mundial seguiu em frente, eliminando Brasil, Iugoslávia e Itália – nas quartas, contra os iugoslavos, Troglio quase foi de herói a vilão da campanha ao desperdiçar um dos pênaltis. A decisão, perdida para a Alemanha Ocidental, marcou a última exibição do volante de quase 25 anos pela albiceleste.
O vice-campeonato mundial não foi suficiente para levar Troglio ao lugar de peça indiscutível da Lazio, que trocou de técnico no verão – Giuseppe Materazzi deu lugar a Dino Zoff. Por conta de uma lesão, o argentino perdeu parte considerável da temporada e só atuou em três pelejas do primeiro turno da Serie A, todos como reserva. No returno, jogou outras 13 vezes (11 como titular) e contribuiu para que os aquilotti terminassem a campanha na 11ª posição.
Descartado pelos capitolinos ao fim de 1990-91, Troglio decidiu permanecer no futebol italiano e fechou contrato com o Ascoli, recém-promovido à Serie A – horas depois de acertar com o pica-pau, foi convidado por Bilardo para reforçar o Sevilla, mas não podia desfazer o acordo. Com a camisa bianconera, porém, Rulo se reencontrou do ponto de vista individual e ficou de fora de apenas quatro jogos (dois deles, por suspensão) nas três temporadas seguintes.
Volante aguerrido e potente, Troglio mostrou bom futebol no Verona (Guerin Sportivo)
O Ascoli, embora contasse com Troglio, Oliver Bierhoff e Bruno Giordano, tinha um elenco muito frágil para disputar a elite italiana em 1991-92. Não à toa, segurou a lanterna por quase toda a competição e foi rebaixado com grande antecedência, com apena quatro vitórias e 14 pontos. Pedrito foi um dos poucos que tiveram desempenho aceitável, com quatro gols marcados em 34 partidas realizadas. Querido pela torcida, decidiu permanecer para disputar a Serie B.
No biênio seguinte, o Ascoli foi comandado por um Troglio bastante prolífico, que marcou nove gols, e por um Bierhoff implacável, que anotou 37. Em ambas as temporadas, o time bianconero lutou pelo acesso e bateu na trave, ficando a menos de quatro pontos de uma vaga na elite. As tentativas fracassadas levaram ao fim da gestão do histórico presidente Costantino Rozzi e a uma reformulação no clube da região das Marcas. Com isso, depois de 114 aparições pelos piceni, Pedrito rumou ao Japão.
Na época, o mercado do futebol japonês começava a se aquecer: em seus primórdios, a J-League já tivera até mesmo a passagem de Zico, que se aposentara pelo Kashima Antlers exatamente em 1994. Troglio chegou para jogar no Avispa Fukuoka, da segunda divisão, e fez parceria com um dos irmãos de Maradona – Hugo, que também atuara pelo Ascoli. Pelas vespas, Pedrito desencantou e anotou 20 gols em 56 partidas disputadas. Além disso, ajudou o clube a conquistar a promoção à elite, em 1995, e disputou duas temporadas na máxima categoria da terra do sol nascente.
Em 1997, então, Rulo decidiu voltar para casa. As portas do River Plate estavam fechadas para ele, já que os millonarios estavam contentes com Roberto Monserrat na linha de meio-campo. Dessa forma, Troglio acertou com o Gimnasia La Plata, que vivia melhor momento do que o Estudiantes, seu rival local. Com Pedrito em seu elenco, os triperos fizeram campanhas invejáveis: embora não tenham conquistado nenhum título, foram vice-campeões em 1998, ficando atrás do Boca Juniors de Carlos Bianchi, e em 2002, perdendo para o River Plate. Rulo não permaneceu para defender o Lobo na Libertadores porque, já experiente, assinara com o Villa Dálmine, da terceirona.
Troglio se despediu do futebol no time violeta, pelo qual ainda marcou um gol de bicicleta e o tento decisivo para o acesso à segunda divisão. Aos 38 anos, o ex-volante se transformou em técnico, comandou a equipe por um breve período e, em seguida, rumou ao Godoy Cruz. Ficando apenas uma temporada à frente do clube de Mendoza, Rulo retornou ao Gimnasia La Plata para a sua primeira passagem como treinador pelo Lobo. Seu grande feito nesta experiência foi devolver os triperos à elite.
Pelo Ascoli, Troglio disputou uma temporada na Serie A e duas na segunda divisão (Score)
Em seguida, Pedro teve um trabalho infrutífero pelo Independiente e recuperou seu prestígio entre 2008 e 2010, quando dirigiu o Cerro Porteño, tradicional clube paraguaio: foi campeão do Apertura do país vizinho em 2009 e levou os azulgrana até a semifinal da Copa Sul-Americana, ocasião em que foi derrotado pelo Fluminense, vice daquela edição. Troglio retornou à Argentina e não se deu bem pelo Argentinos Juniors, mas reencontrou a felicidade no Gimnasia LP. Foram quatro à frente do time.
Nessa segunda parte da trilogia a frente do Lobo, Pedro conseguiu o acesso à elite em 2013 e lutou pelo título no resto dos anos em que permaneceu por lá. Na época, Troglio foi um dos técnicos que conseguiu se manter a mais tempo à frente do comando de um clube. Isso demonstrava o prestígio que o ex-meia possuía não só com a torcida e diretores, mas também com a presidência da república. Sim, isso mesmo! Rulo costumava almoçar antes dos jogos com Ofélia de Fernández, a mãe da então presidente Cristina Kirchner.
Nos anos seguintes, Troglio comandou o Tigre e o Universitario, do Peru, mas não levantou taças. Retornou ao Gimnasia, mas dessa vez não obteve destaque no clube de La Plata. Em 2019, então, foi se aventurar no futebol hondurenho: acertou com o tradicional Olimpia, time centenário de Tegucigalpa, capital de Honduras. Por lá, já levantou dois títulos, ratificando o que mostrou no futebol italiano: costuma brilhar mais quando está longe dos grandes palcos.
Pedro Antonio Troglio Nascimento: 20 de julho de 1965, em Luján, Argentina Posição: volante Clubes como jogador: River Plate (1984-88), Verona (1988-89), Lazio (1989-91), Ascoli (1991-94), Avispa Fukuoka (1994-97), Gimnasia La Plata (1997-2002) e Villa Dálmine (2002-03) Títulos como jogador: Campeonato Argentino (1986), Copa Libertadores (1986), Mundial Interclubes (1986), Copa Interamericana (1987) e Japan Football League (1995) Clubes como treinador: Villa Dálmine (2003), Godoy Cruz (2004), Gimnasia La Plata (2005-07, 2011-16 e 2018-19), Independiente (2007-08), Cerro Porteño (2008-10), Argentinos Juniors (2010-11), Tigre (2016-17), Universitario (2017-18) e Olimpia (2019-21) Títulos como treinador: Campeonato Paraguaio (Apertura; 2009) e Campeonato Hondurenho (Apertura; 2019 e 2020, Clausura; 2021) Seleção argentina: 21 jogos e 2 gols
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