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Trivela

·02 de dezembro de 2020

O que muda na Premier League com as novas regras de contratação de jogadores europeus pós-Brexit

Imagem do artigo:O que muda na Premier League com as novas regras de contratação de jogadores europeus pós-Brexit

O Brexit, como ficou conhecido o processo de saída do Reino Unido da União Europeia, foi aprovado em um referendo realizado em 2016. Em seguida, começou uma longa e difícil negociação para acertar os termos do divórcio. Os papéis foram assinados e entram em vigor a partir de 1º de janeiro. A UE começará 2021 sem os britânicos em seus quadros. Para nós, o importante é saber qual o impacto disso no futebol, após a Premier League, a Football League e a Federação Inglesa chegarem a um acordo para as novas regras de contratação de cidadãos europeus.

Os cidadãos europeus têm liberdade para circular e trabalhar em todos os membros do bloco. Agora, o Reino Unido não é mais um membro desse bloco. Em termos gerais, jogadores de Itália, Alemanha e Espanha, por exemplo, se tornaram estrangeiros à Inglaterra. Sempre foram contratados livremente pela Premier League e agora precisam de uma licença de trabalho, como sempre foi o caso com atletas sul-americanos, africanos, asiáticos ou de nações da Europa que não fazem parte dos acordos da UE.


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Mas os principais clubes ingleses não queriam que as exigências para contratar jogadores europeus – que a partir daqui serão definidos como jogadores de membros da União Europeia – fossem tão rígidas quanto as que estavam em vigor para estrangeiros de outros cantos do mundo. Montar esquadrões de estrelas internacionais se tornou a principal marca da Premier League. Ela precisa dessa marca para vender contratos de televisão e ter capilaridade com o mercado internacional de torcedores para continuar fazendo mais dinheiro que as outras ligas do continente.

No entanto, mesmo que a Premier League conseguisse chegar a um acordo com o governo que mantivesse a sua capacidade de contratar jogadores europeus livremente, o que sempre pareceu perto do impossível, não pegaria bem. Nem ao governo, que teria que explicar por que abriu uma exceção ao futebol, nem à própria liga. Seria mais um exemplo de como ela vive em uma realidade paralela, visão que existe na sociedade inglesa e que foi exacerbada pela pandemia de coronavírus. Todos esperavam que fosse negociado um meio-termo, e nessa situação, a Federação Inglesa viu uma oportunidade de avançar sua própria agenda.

Sempre foi preocupação da FA o excesso de jogadores estrangeiros nos principais clubes da Inglaterra ocupando o espaço de jovens ingleses. A principal preocupação dela é a seleção. Ela não apenas quer como precisa que haja uma robusta formação de talento nacional. E, no fim, foi a este acordo que eles chegaram: pouca coisa muda na contratação de jogadores europeus adultos, muita coisa mudará na contratação de jogadores europeus jovens.

As novas regras, aprovadas pelo governo, valem a partir da próxima janela de transferências, em janeiro, depois da qual o novo sistema será reavaliado por todas as partes.

O que muda exatamente?

Para começar, a Fifa proíbe a contratação de jogadores menores de 18 anos de outros países. Isso é permitido dentro da União Europeia porque na prática todos têm o mesmo passaporte, mas, agora a proibição vale também para o Reino Unido. O Arsenal não pode mais contratar um Cesc Fàbregas de 16 anos da base do Barcelona, como fez em 2003, ou Héctor Bellerín. O Manchester City não pode mais assegurar os serviços de Eric García, também de La Masía, antes dele se tornar adulto. E o mesmo passa a valer também para a Irlanda, onde os clubes ingleses tradicionalmente garimpam as principais promessas. Como Caoimhin Kelleher, que se juntou à base do Liverpool em 2015, quando tinha 17 anos.

Como é o caso com toda regra, há um jeito de circundá-la. Os clubes ingleses podem fechar parcerias e estacionar jovens europeus em equipes menores de países membros da UE até que eles completem 18 anos. O City sai na frente nessa questão porque faz parte de uma rede com representantes em diversos países. Digamos que quisesse contratar outro Eric García de 16 anos. Bastava deixá-lo dois anos no Girona. Quando o jogador chegasse à maioridade, decidiria se o melhor para o seu desenvolvimento seria continuar no clube espanhol ou ser integrado à sua própria categoria de base.

Mesmo esse tipo de decisão terá que ser tomada com cautela porque haverá um limite para contratação de jogadores estrangeiros entre 18 e 21 anos: serão permitidos apenas três por janela e seis no total de uma temporada. Essa regra aplica-se a jogadores definidos como “estrangeiros” no comunicado da FA, que em outros trechos especifica atletas da União Europeia. Logo, indica que vale para jogadores sub-21 do mundo inteiro. Essa restrição não será adotada na Football League.

Aqui parece ter havido uma concessão das duas partes. Segundo a The Athletic, a Federação tentou aumentar a exigência de jogadores formados na Inglaterra de oito para 12, dentro da lista de 25 inscritos de cada clube para a Premier League. Houve resistência da elite. Essa limitação, porém, impede que as categorias de base sejam inundadas por jovens estrangeiros, mas ainda reserva aos clubes o direito de contratar alguns que sejam excepcionais ou mesmo prontos para o time principal, como Kylian Mbappé, quando ele surgiu no Monaco, ou Erling Haaland.

Em vez de buscar um teto restritivo a estrangeiros, a FA preferiu negociar uma maneira de aumentar o nível de qualidade daqueles que serão contratados. E aí chegamos ao novo sistema de pontos. O jogador europeu precisará receber um visto especial de trabalho para jogar no Reino Unido, o GBE (Governing Body Endorsement ou Endosso do Governo, em uma tradução excepcionalmente livre).

As regras para obter esse GBE são menos rígidas do que as aplicadas a estrangeiros-não-europeus. O visto de trabalho para estrangeiros-não-europeus baseia-se em partidas pelas seleções dos seus países. O novo oferece mais opções para provar que o cara sabe jogar bola mesmo e merece atuar na Premier League: em qual clube ele atua, em qual liga, as participações em competições europeias e até mesmo o sucesso em âmbito nacional.

De acordo com a BBC, a Premier League queria que fossem necessários apenas nove pontos para a obtenção automática do GBE. A Federação Inglesa começou a negociação em 18. No fim, fecharam em 15. Entre 10 e 14, os clubes podem levar o caso a um painel independente. Na apelação, terão que demonstrar condições excepcionais que impediram o jogador de alcançar os 15 pontos. Importante: o GBE também vale para a contratação de treinadores e comissão técnica no geral. São três critérios:

  • Partidas pela seleção principal ou da base
  • Qualidade do clube vendedor, com base em qual liga ele disputa, a posição na tabela e a progressão em competições continentais
  • Minutos em campo pelo clube em competições nacionais e continentais

Os critérios para a contratação de jogadoras europeias pelos clubes ingleses são parecidos, mas eles não levam em conta partidas pelas seleções de base ou a progressão em competições continentais do clube vendedor.

Certo, mas e na prática, o que muda?

Na prática, muda pouca coisa. Os principais impactos são mesmo nas categorias de base. É muito provável que em breve sejam anunciadas novas parcerias entre equipes da Premier League e algum time belga ou holandês em que promessas com menos de 18 anos serão estacionadas. Isso causa um pequeno problema porque, dependendo da idade que o jogador chegava ao clube inglês, ele poderia ser considerado jogador formado em casa para a lista de inscrição, mesmo que não fosse cidadão britânico.

As contratações de jogadores entre 18 e 21 anos terão que ser feitas com mais critério, mas seis por temporada ainda são bastante para o time principal, mesmo que elas também tenham que passar pelo novo processo de obtenção do GBE. O que não será mais possível é recrutar 15 de uma vez para inchar as categorias de base, torcendo que pelo menos uns três deem certo.

O mercado de jogadores adultos será pouco afetado. A grande maioria dos reforços europeus com mais de 21 anos será aprovada automaticamente, mas agora, naturalmente, a conta dos pontos terá que fazer parte do processo de observação e pode haver alguns bloqueios. O GBE será de fácil acesso a qualquer jogador que representa uma seleção do top 50 da Fifa ou que atua regularmente nas principais ligas do continente (Alemanha, Itália, Espanha ou França).

A The Athletic acredita que isso pode influenciar o fluxo de jogadores da Escandinávia. Deu o exemplo de um atleta qualquer da primeira divisão da Dinamarca: receberia quatro pontos pela liga, mais quatro se disputasse 90% dos minutos do seu clube e poderia juntar mais seis se o time fosse campeão, mas ainda faltaria um ponto para os 15 da aprovação automática.

É possível que os clubes tenham que esperar um ou dois anos até que os seus alvos se estabeleçam nos times principais, o que seria um certo incômodo porque, àquela altura, o jogador seria mais conhecido e naturalmente haveria mais concorrência.

O timing da contratação também pode virar um fator. Por exemplo, seria esperto aproveitar a boa campanha do Copenhague na última Liga Europa para contratar alguns dos seus destaques. Os detalhes sobre a pontuação com base em progressão continental ainda não foram divulgados, mas pode existir o caso em que algum jogador que normalmente não receberia o GBE fosse elegível porque o clube dinamarquês chegou às quartas de final da competição.

Contratar Kanté ainda seria difícil. O volante, bicampeão nacional e eleito duas vezes seguida o craque da Premier League pela Associação dos Jogadores, foi o exemplo mais usado de talento que a Inglaterra potencialmente perderia por causa das novas regras, antes mesmo de elas serem definidas. Isso porque ele chegou ao Leicester, em 2015, do Caen, da segunda divisão francesa, sem nunca ter disputado uma partida da Ligue 1, pela seleção francesa principal ou mesmo das categorias de base. Foi um garimpo supremo das Raposas que provavelmente não será possível dentro do novo sistema de pontos.

Também pode haver algum impacto no mercado de treinadores. Segundo a The Athletic, os professores europeus precisarão ter a licença profissional da Uefa e pelo menos três temporadas de experiência em uma “liga top” ou dois anos consecutivos. O que é uma “liga top”? Segundo a publicação, são 33 campeonatos, da Serie A italiana à PrvaLiga da Eslovênia. O critério parece razoável, mas impediria que o Huddersfield contratasse David Wagner e que o Norwich trouxesse Daniel Farke porque ambos haviam treinado apenas a equipe reserva do Borussia Dortmund antes de se mudarem para a Inglaterra.

De qualquer maneira, o mercado disponível aos clubes da Premier League encolhe, mesmo que apenas um pouco. Jogadores ingleses, que já eram mais valorizados por contarem como formados em casa à lista de inscrição, devem ficar ainda mais caros. Talvez seja suficiente para que a elite passe realmente a dar mais ênfase ao desenvolvimento interno de talento para cobrir os buracos que possam aparecer no elenco. Isso não é interessante apenas à Federação Inglesa, mas também a eles próprios. Pratas da casa são mais baratos e têm identificação com a torcida.

O que os caras disseram?

Bom, para os executivos, é a melhor coisa desde a invenção do pão de forma, como dizem os britânicos, embora os cartolas tenham deixado em aberto uma reavaliação do processo, dependendo do que rolar na janela de transferências de janeiro de 2021.

Mark Bellingham, executivo-chefe da FA: “Apesar de haver diferentes perspectivas sobre como o Brexit deveria influenciar o futebol, este é mais um exemplo de como as autoridades do futebol podem trabalhar juntas de maneira eficiente pelo bem maior do esporte. Temos uma relação forte de trabalho com a Premier League e a EFL e vamos monitorar este novo acordo juntos para garantir que se desenvolverá para cumprir os nossos objetivos. Vamos discutir melhoras para o benefício mútuo dos clubes de futebol e do talento nacional deste país”.

Richard Masters, executivo-chefe da Premier League: “A Premier League trabalhou com a FA para chegar a um acordo para assegurar que o Brexit não prejudique o sucesso da Premier League ou as perspectivas das seleções inglesas. Ficamos satisfeitos que o governo aprovou nosso plano para a janela de transferências de janeiro de 2021. Continuar a ser capaz de contratar os melhores jogadores fará com que a Premier League permaneça competitiva e atraente e a solução complementará nossa filosofia de desenvolvimento dos melhores talentos estrangeiros ao lado de jogadores formados em casa”.

David Baldwin, executivo-chefe da EFL: “A EFL contribuiu para as discussões com nossos colegas do futebol, no momento em que o esporte se prepara para a saída do Reino Unido da União Europeia, e ajuda podermos oferecer esclarecimentos aos clubes da EFL com uma posição estabelecida nessa questão antes da janela de transferências de janeiro. O objetivo à EFL, ao longo do processo, foi assegurar que os nossos clubes tenham a oportunidade de contratar jogadores estrangeiros para melhorar a qualidade dos times, reconhecendo a necessidade de restrições, e vamos continuar avaliando a aplicação dessas regras e considerar as implicações de longo prazo”.

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