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·04 de fevereiro de 2024

O clássico da vergonha! Uma bofetada na cara…

Imagem do artigo:O clássico da vergonha! Uma bofetada na cara…

Por Max Pereira @MaxGuaramax2012

Perder um clássico faz parte. Porém a forma como o Atlético perdeu este último jogo é que é inadmissível, lamentável e frustrante. Méritos do adversário à parte, é uma vergonha, uma bofetada na cara de cada atleticano.


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Mal preparado emocional, tática, física e mentalmente para o jogo, o time atleticano caiu na armadilha do rival e, à exceção de um lance isolado com Paulinho no primeiro tempo, sequer ameaçou a meta azul.

Letárgico, sem inspiração, impotente, desarticulado, sem energia, sem nenhuma capacidade de construção e de criação, sem contundência ofensiva e com a defesa mais uma vez, além de lenta e pesada, insegura, indecisa e mal posicionada no jogo aéreo, o Atlético foi um time patético e irritante.

Felipão mais uma vez deu uma aula de como não se deve armar um time e, principalmente, de como não se deve mexer, de como não se deve deixar de reconhecer os erros e de como não se deve protelar ou não buscar as soluções necessárias. Scolari nos ensinou, enfim, o que devemos e como devemos fazer para errar do princípio ao fim.

O Atletico perdeu Zaracho no início da partida e se perdeu completamente no jogo. Igor Gomes entrou e foi muito mal. Ainda desentrosado e sem ritmo Scarpa demorou a ser substituído. Felipão tinha que ter mexido no intervalo, tanto fazendo substituições, como sacudindo os jogadores.

Além de orientados para não mais cair na armadilha cruzeirense, os jogadores tinham que ter sido motivados a voltar para a etapa complementar com a faca nos dentes, se impondo e explorando as limitações e as deficiências do adversário.

Há uma máxima no futebol que é imutável: quem pede recebe e quem desloca tem preferência. O time do Atletico está há tempos viciado em uma forma de jogar que só favorece aos adversários, particularmente àqueles flagrantemente inferiores tecnicamente como é o caso do rival nos tempos atuais.

Os jogadores atleticanos sempre esperam a bola parados e muitas vezes de costas e encaixotados entre dois ou até três adversários. Quando o time alvinegro não perde a bola, há sempre um bate rebate, seguido de uma bola longa, espetada, que sempre é recuperada pelo adversário. O máximo que fazem é esticar uma perna para tentar interceptar a bola e quase sempre sem sucesso. Ou seja, o Atletico insiste em praticar um jogo insosso, improdutivo.

Durante a semana anterior ao maior derby mineiro, enquanto o adversário se concentrava no jogo, o Atlético se perdia em fatos e situações evitáveis e inoportunas como, por exemplo, uma novela ridícula protagonizada pelo diretor executivo de futebol, esse irritante sai não sai do clube, e uma entrevista absolutamente desnecessária e cheia de empáfia de um de seus investidores a respeito de seu prognóstico para o clássico.

Além disso, o Atlético viu nos últimos 10 ou 20 dias alguns jogadores da base bastante promissores se despedirem do clube de forma inexplicável e bastante preocupante. O que o Atlético está ganhando com essas saídas? Eu não sei e acho que ninguém sabe ao certo também.

O zagueiro e volante Daniel Borges, o meia atacante Berê, ambos do sub 20, e Fábio Esteves, este último um promissor lateral esquerdo de apenas 15 anos que foi para o Flamengo, deixaram o clube sem que o Atlético recebesse um centavo sequer, sem completar o seu período formação e sem que se lhes permitisse dar ao Galo qualquer retorno esportivo.

O habilidoso meia Yan Philippe, também do sub 20, ainda rendeu algum dinheiro para o clube. Yan vai cumprir o restante de seu período de formação no futebol mexicano, até que o grupo que controla o Atlético de Madrid e que adquiriu os seus direitos econômicos possa reencaminha-lo e usufruir os frutos técnicos e/ ou financeiros que ele puder entregar.

Mal a semana do clássico se iniciou a torcida atleticana foi sacudida por uma insuspeita fake news, plantada casuisticamente como tantas outras ao longo dos tempos, nos dias que antecedem este tradicional confronto: Arana estaria de saída para o Tottenham da Inglaterra. E mais: o Olympique de Marselha teria encerrado as tratativas com o Atlético e Luís Henrique não viria mais. Um disse-me-disse insuportável e interminável.

Não é de se estranhar, pois, que, além de muito mal treinado e orientado, o time atleticano ainda tenha mostrado deficiências em sua preparação para um jogo com estas características. Razões de sobra para o time não entrar em campo com a postura adequada não faltaram.

As arbitragens, e não é de hoje, são geralmente ruins e nocivas aos interesses do Atlético. Os jogadores atleticanos mais uma vez e, com extrema facilidade, foram envolvidos pelo clima antijogo, de tensão e de provocação que o rival impôs, contando com a fragilidade do árbitro, claramente enredado pelos atletas azuis.

Não que o árbitro fosse desonesto. Nada disso. Fraco e despreparado para um jogo desta envergadura ele também caiu na armadilha azul e os cruzeirenses deitaram e rolaram.

Em resposta os atleticanos bateram boca com o árbitro, com seus auxiliares, com os adversários e até com membros da comissão técnica do rival de forma absolutamente estéril e pueril e, ainda, colecionaram cartões amarelos desnecessários e, um deles, claramente injusto.

A catimba azul, o jogo tenso provocado pelo rival, a misancene (Mise en Scène em francês) e as pressões dos jogadores celestes sobre a arbitragem e as paralizações fortuitas do jogo, tudo isso, objetivando irritar e tirar os atleticanos da zona de conforto, foram a tônica do clássico. O banco participativo, ativo, visceral e aceso, do lado azul se contrastava com o banco “politicamente correto” e “normal” do Atlético.

Se de um lado os deméritos alvinegros foram bastante explícitos, de outro é preciso destacar os méritos do rival azul que cumpriu à risca e, com excelência, a sua missão, ao explorar com maestria os vícios táticos atleticanos, as deficiências físicas e o despreparo emocional e mental dos jogadores do Atlético. Vitória justa e merecida.

O futebol dos tempos atuais, cada vez mais físico, tático e mental e, em razão de sua complexidade sistêmica dentro e fora de campo, exige uma preparação multiforme, isto é, multifacetada. Jogo não se ganha apenas dentro de campo.

Não à toa, não canso de repetir que tudo o que acontece dentro de campo é consequência, é reflexo, de tudo o que ocorre fora das quatro linhas. São responsáveis pelas vitórias e pelas derrotas, por tudo de bom e por tudo de ruim que venha acontecer dentro e fora do campo todos os profissionais envolvidos direta e indiretamente com o futebol.

E, se o time do Atlético mais uma vez recebeu seu maior rival regional e não jogou, i.e., mostrou mais uma vez não ter entendido ou não saber a importância e o significado desse clássico para o clube e para a sua torcida, a responsabilidade é de quem?

A responsabilidade é de todos os dirigentes (da SAF e do clube), do treinador e da comissão técnica, de todos os funcionários das áreas fim e meios do futebol e dos jogadores, cada qual, na medida de seu poder, grau de decisão e participação. Há que se cobrar de todos, sem exceção. Tem muita roupa suja para ser lavada intramuros do clube.

O ex-artilheiro atleticano Renaldo, o baiano que veio do Paraná, profundamente irritado com o que viu, disse em suas redes sociais que o time atleticano não tem brio e que os jogadores de hoje do Galo desconhecem que o clássico é o jogo da torcida e que, por isso, eles teriam que dar a vida em campo. Para ele também o Atlético entrou em campo e não jogou.

Independentemente do que fizerem ou não fizerem diretoria e treinador a partir de agora, os jogadores do Atlético, que têm falhado muito tanto no plano individual quanto no coletivo, têm obrigação moral de dar uma resposta emblemática à torcida atleticana em relação às suas atuações pífias nos dois clássicos diante do rival disputados na Arena e em outros jogos.

Não, não estou falando de entrevistas, de desculpas esfarrapadas. Estou falando de uma resposta contundente dentro de campo. Estou falando, também, de uma resposta eficiente e fundamental fora de campo. E aí, estou falando das respostas que diretoria e treinador também estão moralmente obrigados a dar depois desta bofetada na cara de cada atleticano.

Estas respostas só serão possíveis se o alto comando do Atlético fizer a sua parte, tanto em relação ao trabalho intramuros do clube e à preparação multiforme dos jogadores, quanto no jogo dos bastidores. Há muito o que fazer, o que repensar, o que corrigir, o que mudar, o que trabalhar e o que focar.

E estas respostas só serão possíveis se Felipão também fizer a parte dele e tiver a humildade de reconhecer os seus erros que não são poucos. Caso contrário, sua permanência será de alto risco para o clube. Não, não é um fora Felipão. Por enquanto, é um acorda Felipão.

Algumas entrevistas e várias reações dos jogadores, somados a um quê de clara insatisfação e de nítido incômodo que transparecem de seus semblantes durante os jogos parecem revelar algo que sempre desconfiei estar existindo: uma falta de sintonia das ideias do treinador com as características e o que pensam alguns jogadores.

Por tudo isso, é, também, um acorda diretoria. Hulk deu um choque de realidade em Cuca em 2021 e o resultado todos sabemos. Quem sacudirá o clube neste 2024? Quem levará os dirigentes, o treinador e os jogadores a se confrontarem com a realidade de suas emoções, pensamentos e comportamentos?

Quem levará os dirigentes, o treinador e os jogadores alvinegros a se confrontarem com uma situação ou informação que desafia ou contradiz as suas expectativas, crenças ou ilusões pré-existentes?

Quem levará os dirigentes alvinegros, o treinador e os jogadores atleticanos a encarar a verdade ou a realidade de uma forma inesperada e provavelmente desconfortável, mas revolucionária e transformadora? Quem dará ao clube o choque de realidade que está se fazendo necessário?

Quando isto acontecer os clássicos da vergonha passarão a ser apenas uma triste lembrança de um passado que se quer esquecer. Mas, será que um dia conseguiremos esquecer essa bofetada na cara?

* Este texto é de inteira responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do portal Fala Galo

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