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Central do Timão
·12 febbraio 2025
Transparência no Fiel Torcedor: gestora apontou problemas do programa ao Conselho do Corinthians
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·12 febbraio 2025
Nesta quarta-feira, 12, o Corinthians enfrenta o Santos pela nona rodada da fase de grupos do Campeonato Paulista. Será o terceiro clássico do Timão na competição e o único disputado na Neo Química Arena, o que gerou rápida procura por ingressos – todos já reservados, segundo o clube – e também muita revolta nas redes sociais por conta da atuação agressiva de cambistas, que chegam a vender as entradas para a partida por até R$ 950.
A disponibilidade frequente de ingressos nas mãos de cambistas é uma das facetas de um dos maiores problemas enfrentados atualmente pela gestão Augusto Melo, que também enfrentou reações adversas quando flexibilizou a política de acessos aos ingressos por membros do clube social e, mais recentemente, viu um suposto esquema de desvio de entradas do programa Fiel Torcedor virar objeto tanto de investigação no Conselho Deliberativo (CD) quanto de inquérito policial, instaurado no fim de novembro passado.
Foto: José Manoel Idalgo/Agência Corinthians
Internamente, porém, o tema já vinha sendo discutido antes disso. Diante de múltiplas reclamações de sócios do FT na ouvidoria e de conselheiros do clube, as comissões de Justiça e Marketing analisaram a questão a pedido de Romeu Tuma Júnior, presidente do CD. O relatório dessa análise foi recebido pelo órgão em 7 de outubro, data em que os conselheiros também ouviram representantes da OneFan, empresa responsável pelo programa desde 2023.
O que disse a OneFan
Gustavo Verginelli e Fábio Palma, respectivamente sócio e CEO da OneFan, fizeram longa apresentação no CD sobre o trabalho da empresa junto ao Corinthians. A dupla afirmou que o clube é seu principal cliente e que o aplicativo Universo SCCP foi desenvolvido exclusivamente para as necessidades do Alvinegro, com tecnologias específicas e códigos criados de forma personalizada. Também ressaltaram que o vínculo assinado em 2023 é baseado em receita variável, sem valores fixos, de forma que a empresa só lucra caso os seus produtos sejam financeiramente bem sucedidos.
Outro ponto abordado foi a autonomia do Corinthians na gestão do aplicativo Universo SCCP e do programa Fiel Torcedor. Segundo Gustavo Verginelli, o clube é o único responsável pela administração, enquanto a OneFan atua apenas como “processadora” dos dados, que são utilizados em um trabalho de business intelligence, com o objetivo de identificar estratégias para aumentar o engajamento da base de torcedores em ações e campanhas.
Gustavo também explicou por que o Corinthians costuma figurar em posições intermediárias nos rankings e estudos sobre os maiores programas de sócio-torcedor do país. Segundo ele, isso ocorre porque os torcedores tendem a pagar o Fiel Torcedor próximo aos dias de jogos, sem necessariamente manter as mensalidades em dia. Esse comportamento distorce os números oficiais, fazendo com que o total de membros ativos do programa, que ele afirma ser “bem maior” do que o divulgado na mídia, não seja refletido corretamente nos levantamentos.
O sócio da empresa ainda esclareceu uma polêmica levantada à época sobre a suposta remuneração de 20% da receita do Fiel Torcedor para a OneFan, afirmando que a informação não é verdadeira. Segundo ele, o contrato prevê que a empresa receba 20% da “memória de cálculo do FT elegível”, uma variável que não considera, por exemplo, o plano Minha Cadeira, além dos custos de manutenção do programa, como host, gateway de pagamento e luvas para o Corinthians, todos bancados pela empresa. Com isso, a remuneração líquida efetiva da OneFan seria de aproximadamente 4%.
Questionado por um conselheiro sobre a crescente dificuldade relatada pela torcida para adquirir ingressos pelo Fiel Torcedor, Fábio Palma explicou que isso ocorre, em parte, porque o número de membros do programa é muito superior à quantidade de ingressos disponíveis por jogo, caracterizando o que chamou de “negócio de escassez”. Ele revelou que, em geral, o Corinthians libera apenas entre 24 e 25 mil ingressos para venda na plataforma, que, na época do depoimento, contava com quase 80 mil assinantes – mais que o triplo da carga ofertada.
O CEO da OneFan seguiu detalhando o assunto, revelando que a gestão corinthiana normalmente reserva cerca de 17 mil ingressos para “usos diversos” e ressaltou que a empresa não tem autonomia para interferir nessas decisões, cabendo a ela apenas executar as determinações do clube.
Fiel Torcedor negligenciado?
Procedeu-se então à leitura do relatório elaborado em conjunto pelas comissões de Justiça e Marketing. Os conselheiros se reuniram em setembro de 2024 com Vinicius Azevedo, superintendente de marketing do clube, e também com representantes da própria OneFan, a fim de entender melhor o assunto e as demandas dos torcedores em relação às crescentes dificuldades na compra de ingressos na plataforma do Fiel Torcedor.
Em sua declaração, Vinicius explicou que, por estar há pouco tempo no cargo, ainda não havia se inteirado completamente sobre as questões envolvendo o FT, mas que o estado atual do programa no clube era de manutenção, sem investimentos em seu desenvolvimento, devido à intenção da diretoria de trocar sua administradora.
Na conversa com membros da empresa, os conselheiros receberam um feedback semelhante, com a OneFan afirmando que o programa de sócio-torcedor não recebia do clube a devida atenção. Segundo eles, o Corinthians estaria deixando de executar ações e campanhas previamente programadas, o que dificultava o crescimento do FT e desmotivava novas adesões por parte dos torcedores.
Outro ponto discutido foi a polêmica ocorrida em julho, durante o jogo contra o Grêmio pela Copa do Brasil, quando torcedores foram flagrados provocando gremistas em relação às enchentes no Rio Grande do Sul, o que resultou em uma multa de R$ 50 mil imposta ao clube pelo STJD. Romeu Tuma Júnior fez um aparte, destacando que as normas internas do clube não preveem punições para torcedores do FT que prejudicam o Corinthians. Ele defendeu mudanças nesse sentido, como, por exemplo, a possibilidade de banir do programa corinthianos flagrados em atos lesivos ao clube.
Também chamou a atenção dos conselheiros um dado apresentado pela OneFan sobre o pico de corinthianos cadastrados no Fiel Torcedor, que chegou a ultrapassar 150 mil membros antes de partidas-chave recentes do clube. Esse número, que é o dobro do registrado em setembro de 2024 (cerca de 77 mil), revela o potencial real do programa, cuja arrecadação foi estimada em R$ 56 milhões potenciais/ano pela Falconi, empresa de consultoria que trabalhou com o Timão durante a gestão de Duilio Monteiro Alves.
Distorções nos planos
Outro ponto de preocupação levantado pela comissão conjunta foi a distribuição dos ingressos realizada à época pela diretoria no Fiel Torcedor. Em média, a plataforma recebia apenas 180 ingressos do Setor Norte e 3,5 mil do Setor Sul para venda aos torcedores, o que dificultava bastante o acesso a esses setores para os membros do plano Minha Vida, o mais popular do FT. Isso comprometia a viabilidade comercial do plano, segundo a análise dos conselheiros que estudaram os dados.
Para complicar ainda mais a situação, a diretoria tentou minimizar o problema abrindo ao plano Minha Vida a possibilidade de adquirir ingressos nos setores Leste e Oeste. No entanto, essa medida gerou um novo problema: o acesso a esses setores era comercializado pelo Corinthians como um benefício do plano Minha História, mais caro, e esse benefício praticamente deixou de existir quando o plano mais acessível também passou a garantir ingressos para esses locais.
A situação foi descrita como uma “discrepância” no sistema de gestão do Corinthians, pois, na prática, dificulta o acesso à Neo Química Arena para todos os torcedores. Quem paga pelo plano mais barato não consegue acessar os setores originalmente destinados a si, “migrando” para setores mais caros, que ficam inacessíveis para o público original desses locais, que paga um plano mais caro. Essa dinâmica explicaria o aumento na dificuldade de adquirir ingressos, até mesmo entre os corinthianos com altas pontuações no FT, devido à sua assiduidade no estádio.
Segurança afrouxada
A intensa prática de cambismo, tanto na internet quanto nos arredores da Neo Química Arena em dias de jogo, também foi discutida na reunião do CD. Na apuração da comissão conjunta do conselho, foi constatado que há uma carga de ingressos que nunca chega a ser disponibilizada no FT: são as “sobras” daqueles ingressos reservados pela diretoria no início de cada operação, mas que não são efetivamente utilizados. Esses ingressos acabam “morrendo” sem uso, tornando-se perda de receita para o Corinthians.
Além disso, uma questão preocupante foi trazida para os conselheiros: na análise dos dados, foi constatado que o Fiel Torcedor estava operando com sua API desativada a pedido da diretoria. API é a sigla em inglês para Interface de Programação de Aplicativos e, no caso do FT, ela funcionava como uma espécie de “filtro” que identificava os compradores de ingressos por meio de seu CPF, impedindo, por exemplo, que pessoas sem direito ao benefício pudessem acessar o sistema. Com a API desativada, essa filtragem não ocorre, e o sistema passa a ficar disponível para qualquer um, independentemente de ser sócio-torcedor ou não.
O reflexo disso é que, segundo os dados levantados pelas comissões, cerca de 32% das vendas feitas pelo Fiel Torcedor ocorrem para torcedores que não têm direito a esse benefício, por não serem membros efetivos do programa. Desses, 4% eram sócios-torcedores inadimplentes e 28% eram torcedores que sequer eram sócios do FT, o que representa, na prática, um desvio interno de ingressos.
Essa questão foi avaliada como especialmente grave pela comissão, pois, pela estrutura do sistema, quando a API está desativada, a operação de venda de ingressos requer autorizações para que possa ocorrer. Isso significa, na prática, que mesmo as vendas indevidas pelo FT são, de alguma forma, autorizadas pela diretoria. No entanto, a comissão mista não conseguiu identificar quem, exatamente, fornece tais autorizações.
Por fim, foi mencionada a atuação de Fred Luz, consultor da Alvarez & Marsal alocado no Corinthians. Segundo a comissão, até aquele momento o profissional ainda não havia se dedicado ao Fiel Torcedor, apesar de ter prometido, em sua apresentação, potencializar financeiramente o programa. Também foi destacada a ausência de representantes do TI corinthiano na reunião, mesmo após o responsável pelo setor ter sido convidado a prestar esclarecimentos aos conselheiros.
O tema continua sendo analisado nos órgãos internos do clube para apurar responsabilidades pelos problemas encontrados. Além disso, desde o final de novembro, como já mencionado nesta matéria, a polícia também investiga o caso por meio de um inquérito sigiloso, conduzido pela Divisão de Crimes Cibernéticos (DCCIBER) do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic).
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