T3, Ep. 6 | «O LF Vieira entrou a matar no Benfica, mandou-me para a equipa B» | OneFootball

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·17 ottobre 2024

T3, Ep. 6 | «O LF Vieira entrou a matar no Benfica, mandou-me para a equipa B»

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O DESTINO: SAUDADE recupera a mudança de Quim Berto de Alvalade para a Luz, no verão de 2001. Campeão nacional nos leões, o antigo lateral atravessa a Segunda Circular, é apresentado ao lado de Eusébio, faz a pré-época, o jogo de apresentação contra a Fiorentina e desaparece.

Na visita ao zerozero, o atual treinador de 53 anos - dedica-se também ao ramo imobiliário - fala dos anos em Lisboa, dos colegas desse ciclo e da «maior figura do Sporting: Paulinho, o roupeiro.


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O final da conversa tem o seu Vitória SC, emblema de coração, e a mágoa assumida por não ter assumido o comando da equipa B. Esta é a PARTE II da entrevista.

zz – Em 1997 troca Guimarães por Alvalade. O que recorda dessa transferência?

QB – Era difícil lidar com o presidente Pimenta Machado. Eu comecei a época no Vitória e tinha mais um ano de contrato. Ele, um ano antes, já me estava a 'comprar', porque eu na altura não era um jogador bem remunerado. Santos da casa não fazem milagres. Ele chamava-me lá cima e era assim com aquela arrogância dele. Falava e nós até metíamos o rabo entre as pernas. Abria a boca e até metia medo. ‘Anda cá em cima, tenho aqui qualquer coisa para ti’. Ele começava a falar, muito bem disposto. ‘Está aqui um chequezinho, sei que vais comprar uma casa, não sei o quê’. E eu dizia-lhe que não tinha dinheiro para uma casa. ‘Pega lá, que isto é para dares uma entrada para uma casa’.

zz – Isso no início da época ainda?

QB – Isso mesmo. Três meses depois, mais um chequezinho. Percebi que se passava alguma coisa, mas eu queria era jogar futebol. Cheguei ao fim da época com quatro cheques e depois o dr. Pimenta disse-me assim. ‘Olha, agora vou-te vender ao Sporting’. Eu tinha o Sporting e o Benfica interessados. O Benfica tinha mandatado o empresário Paulo Barbosa. zz – Como se decidiu pelo Sporting?

QB – O Benfica queria que eu fosse para lá, o Sporting igual, mas o Sporting queria para já, ou para ontem. O Benfica só queria para dali a um ano, porque não aceitava pagar a transferência. Eu tinha mais um ano de ligação ao Vitória. O Benfica pagava mesmo muito dinheiro, mas eu tinha de ficar mais um ano no Vitória, o Benfica pagava-me tudo e mais alguma coisa e depois ia para lá a custo zero. Respeitei aquilo que o Benfica me queria dar e oferecer, mas nunca iria passar por cima do Vitória. Iria sempre privilegiar uma boa venda para o Vitória, com o intuito de retribuir tudo o que o Vitória me deu.

zz – E seguiu para Alvalade.

QB - Saí para o Sporting com uma venda bem boa para o clube. Por isso posso dizer que parte de uma bancada que o Vitória tem, não digo a bancada Neno, mas aquela que está atrás da baliza, é um bocado minha (risos).

zz – A bancada Quim Berto.

QB – Podia ser, porque foi a minha transferência que a pagou.

zz – Quem foi o seu primeiro treinador no Sporting?

QB – Octávio Machado. Fui o jogador mais utilizado, apesar da época ter sido difícil. Tivemos quatro treinadores. Octávio, [Francisco] Vital, [Vicente] Cantatore e Carlos Manuel.

zz – Nessa época há Liga dos Campeões em Alvalade.

QB – Fiz seis jogos na prova. Estivemos a ganhar 2-0 no Monaco e perdemos 3-2. Oceano e Luís Miguel para nós, antes de entrar o Henry, aquela bicicleta, e começar a galgar. Dois golos dele e um do Trezeguet.

zz – Aí também era lateral esquerdo?

QB – Luís Miguel na direita e eu na esquerda. O Pedrosa e o Vinícius eram os outros laterais esquerdos. Nesse Sporting fui o mais utilizado, titular indiscutível. Sabem o que acontece no final da época?

zz – Nem ideia.

QB – Sou dispensado para o Vitória. É de deitar as mãos à cabeça e mandar tudo àquele sítio que eles sabem. Tinha mais três anos de contrato em Alvalade. Havia ali alguma coisa que não batia certo. Mas tudo bem, o Sporting tinha de pagar o que estava acordado e por mim não havia problemas. No Vitória tive o Filipovic como treinador. No Sporting estava o Mirko Jozic.

zz – E o que acontece em Guimarães?

QB – Faço três ou quatro meses e rebento tudo: 18 jogos, dois golos. O Jozic pede o meu regresso. Mas tive de dar uma entrevista, a dizer que o Sporting me queria de volta. ‘Sou jogador do Sporting, estou aqui por empréstimo do Sporting, o Sporting pediu o meu regresso. Claro que eu, como jogador do Sporting, quero regressar’. O Pimenta Machado não me queria deixar sair, mas depois disso fez-me uma cruz e mandou-me de patins. É normal, eu estava a fazer uma época fantástica e ele pensou na parte do Vitória.

«Vi o Paulinho deitado num banco de jardim»

zz – E que tal o regresso a Alvalade?

QB – Espetacular, mas era difícil lidar com o mister Jozic. Calado, reservado, frio, e tinha um adjunto meio maluco. Tive de me adaptar, o Sporting não era nada do que é hoje. No terceiro ano veio o Materazzi e depois o Augusto Inácio, que nos levou ao título. Foi sempre uma carrada de treinadores, uma carrada de jogadores, até chegarmos agora e vermos o Sporting completamente estabilizado, com uma liderança fora do normal. Enquanto este treinador [Rúben Amorim] lá estiver, o Sporting vai ser sempre tido e achado.

zz – Lutava com o Rui Jorge pelo lado esquerdo?

QB – Exato. Na direita estavam o Saber e, a meio da época, o César Prates. Nessa temporada, os reforços de inverno foram mais-valias e vieram ajudar-nos a sermos campeões, 18 anos depois. Chegaram também o André Cruz e o Mpenza.

zz – Que tal o Beto Acosta, um avançado que fez muitos golos?

QB – Quando o Acosta chegou, olhámos para ele e dissemos que tinha uma aparência de velhote. Ele começou muito mal, só no segundo ano é que se adaptou. Mas não estávamos ali para opinar, a nossa obrigação era ajudá-lo. Teve muitas dificuldades, mesmo muitas, no início. Acabou por se tornar um ídolo, já tinha 33 anos. Possuía um faro anormal pelo golo, uma inteligência incrível, jogava muito bem de costas e finalizava. Não corria muito, mas sabia desgastar as defesas.

zz – Falemos da celebração do título, o fim da longa espera. Já estavam à espera da festa em Vidal Pinheiro?

QB - Não foi fácil, porque o título era uma novidade para quase todos nós. Não sei se na altura já havia campeões nacionais, não me estou aqui a lembrar.

zz – O Bino e o Rui Jorge pelo FC Porto.

QB – E o Schmeichel também, enfim. O André Cruz também em Itália, julgo. Passados 18 anos, tínhamos ali uma oportunidade única e sabíamos que, fosse como fosse, íamos ganhar aquele jogo.

zz – Nem aquele golo do Sabry (Benfica) em Alvalade vos assustou?

QB – De maneira alguma. Independentemente de quem jogasse, ou de quem fosse para dentro do campo, estava toda a gente focada naquele objetivo e tudo a lutar para o mesmo lado. Fomos recebidos à noite em Alvalade, o estádio completamente cheio. Foi um dia para nunca esquecer. Tenho o prazer e o orgulho de dizer que fui campeão pelo Sporting, porque não é fácil. O Sporting todos os anos fazia, e continua a fazer, boas contratações, mas o que é certo é que as coisas não saíam, não pegavam.

zz – Quem era a figura mais divertida no balneário?

QB – O nosso famoso Paulinho, o nosso roupeiro. Se pudéssemos contar todas as histórias (risos). Conto só uma ou duas. No meu primeiro ano no Sporting, fomos fazer a pré-época a Lamego. E em Lamego não havia nada. Não havia internet, não havia televisão. Foram lá 10 dias ou 15 dias em Lamego. O Octávio tinha aquelas coisas dele, que trazia da quinta em Palmela, e guardava aquilo, que era para depois nós assustarmos o Paulinho. Em certo dia conseguimos fazer do Paulinho um super atleta.

zz – Então?

QB – Tirámos-lhe a roupa toda, atámos-lhe uma cobra morta e ele sempre a correr à volta do campo, a olhar para trás, até não poder mais. O Paulinho é uma pessoa incrível, todos passam e ele continua no Sporting. O que ele já viu e viveu… Não tenho dúvida. Para mim, é a maior figura que o Sporting tem. Toda a gente gosta dele, de coração. Todos nós levávamos o Paulinho a comer às nossas casas.

zz – Foi à sua?

QB – Sim, eu morava ali num apartamento do Talon [nutricionista] no meu primeiro ano, no Campo Grande. Convidei o Paulinho e disse à minha mulher para fazer uma tripalhada à moda do Porto. Ele é um bom comedor, come bem, e ali enfardou até não poder mais. ‘Paulinho, queres que te leve agora ao estádio?’. ‘Não, não, eu agora vou a pé’, disse ele. Bem, ele lá foi. Passado um bocado, fui passear o meu cãozinho, talvez duas horas depois, e vi o Paulinho deitado ali, num banco do jardim (risos). A ver os patos. Mandei-lhe com água em cima para ele acordar.

«O Porfírio era amalucado»

zz – Falta falar da mudança de 2001, de Alvalade para a Luz. Porquê a transferência para um rival direto?

QB - Acabei o contrato com o Sporting, não houve uma renovação e não houve porque também não fui convidado a renovar. Houve, sim, o convite do Benfica. A partir do momento em que tens uma oportunidade destas… o Benfica é sempre o Benfica. E tive ofertas também de fora. Ao sair do Sporting para o Benfica, estava a trocar um clube grande por outro clube grande. A prioridade era ficar no Sporting, mas não houve essa vontade [do clube]. Mudei-me para o Benfica através do empresário Paulo Barbosa, o mesmo que quatro anos antes já me tentara levar.

zz – Não fez nenhum jogo pelo Benfica, nem um. Porquê?

QB – Fiz o meu contrato na casa do sr. Vítor Santos, o senhor do novo Estádio da Luz. Estava na direção e tinha algum poder. O presidente era o Manuel Vilarinho. Até aí tudo muito bem. Fui apresentado à comunicação social, blá blá blá, não houve problemas nenhuns. Ao lado do Eusébio, fotografias, tudo normal. Só queria trabalhar, mas nessa pré-época houve a transição do Vilarinho para o Luís Filipe Vieira.

zz – Os problemas começaram aí?

QB – Houve um litígio entre o Vieira e o Paulo Barbosa. O Vieira entrou a matar no Benfica. No primeiro dia dele disse logo assim: ‘Quero todos os jogadores representados por esse senhor fora daqui. A partir de amanhã começam a treinar à parte’. Não me perguntem porquê, nunca percebi. Era uma coisa entre eles. Mandou-me para a equipa B.

zz – Quem foram os jogadores?

QB – Eu, Paulo Madeira, Sabry, Maniche…

zz – Isso é logo na pré-época?

QB – Não, eu fiz a pré-época toda, joguei na apresentação contra a Fiorentina. O treinador era o Toni. O assistente era o Jesualdo. Depois do jogo contra a Fiorentina, o Vieira arrumou com esta malta toda. Não tenho nada contra o Luís Filipe Vieira, pelo contrário. Sempre que precisei dele, ajudou-me. Enquanto assalariado do Benfica, cumpriu sempre comigo. Uma pessoa espetacular e não tenho de dizer rigorosamente nada.

zz – Tinha quantos anos de contrato?

QB – Dois anos. Faltavam uns dias para fechar o mercado e fui treinar para a equipa B. O que fazia? Apontava uma pistola à cabeça do presidente? Então se havia ali um litígio entre o Paulo Barbosa e o Vieira, que não interessa agora o que era... e levaram esses jogadores por tabela. Esses jogadores acabaram até por depois cada um resolver o problema e apareceu-me esta situação do Varzim. Mas não fui em setembro, só em dezembro. Eu queria era jogar. Fiquei três meses na equipa B do Benfica.

zz – Não voltou ao Benfica.

QB – No final da temporada na Póvoa tive o convite de 13 clubes da I Liga. Estive inclinado a ir para o Vitória de Setúbal, com o Luís Campos. O Benfica pagava-me o contrato remanescente e eu ia, mas não houve acordo. Fiquei no Varzim.

zz – Nunca jogou na Seleção Nacional. Esteve perto?

QB – Muito perto. Fui convocado para os Jogos Olímpicos de 1996. Foram chamados quatro jogadores com mais de 23 anos e fui eu o excluído da lista final. Estive nos treinos e acabei por ser o elo mais fraco. Foram o Capucho, o Paulo Alves e o Rui Bento. O Sérgio Conceição também esteve nos treinos e ficou de fora, o Nelo Vingada não o levou aos EUA.

zz – Na baliza estavam o Costinha e o Nuno E. Santo?

QB – Não me lembro bem. Lembro-me do Porfírio, porque era um amalucado. Ele falava para o Nelo Vingada como ninguém falava para nenhum treinador. Era desbocado, era a forma dele ser, tinha coisas dessas.

zz – Falta falar do seu percurso como treinador: Vizela, Varzim, Tofense, Lusitanos de Andorra, Torreense, Tirsense, Vitória B e Merelinense, este em 2023.

QB – Estou à espera de um novo projeto. A minha carreira como treinador tem sido até consolidada, num percurso sempre difícil. Com desafios enormes. Salvámos o Trofense na última jornada e fizemos 32 pontos na segunda volta. Mantivemos o Tirsense no CP. Em Andorra fizemos um trabalho bom até dezembro. Acabou o dinheiro, os jogadores deixaram de ter condições, o projeto degradou-se e viemos embora. O clube desapareceu, aliás, devido às enormes dívidas.

zz – No Vitória B foi adjunto.

QB - Não quero falar porque muito sobre isso. Falar do meu clube, assim, é uma mágoa muito grande, porque foi uma injustiça e uma crueldade tão grandes, tão grandes, tão grandes, até por parte desta direção… não quero aqui especificar o assunto. Podia ter tido a oportunidade de treinar a equipa B do meu Vitória. Nunca me foi dada essa oportunidade. Meteram-me como adjunto, para depois fazerem o que fizeram.

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