Ep. 16 | Ukra: «Ganhei ao Hulk a jogar ao braço-de-ferro» | OneFootball

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·30 de junio de 2024

Ep. 16 | Ukra: «Ganhei ao Hulk a jogar ao braço-de-ferro»

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O nosso convidado deixou de jogar com 36 anos. Jogou 245 na Primeira Liga em cinco clubes diferentes. Pelo meio experimentou outras latitudes e outros futebóis. O seu apelido superou o nome original, tal como a sua originalidade tornou-se mais mediática que os golos que marcou dentro do campo. Um exemplo de irreverência, companheirismo e responsabilidade, dizem todos os que privaram com ele num balneário. Um palmarés recheado e uma infinidade de histórias. A pergunta antes do Ponto Final: quem é?

zerozero: Ukra, adivinhava o nome deste jogador?


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Ukra: (risos) Adivinhava. É muito fácil. Acho que as pessoas vão descobrir facilmente.

zz: Ukra, para o nome de André Filipe Alves Monteiro.

U: Quando comecei a jogar era o Monteiro, o Monteirinho, no Famalicão. Depois, quando me mudei para o FC Porto, o meu treinador, o Mister Rolando, que infelizmente já faleceu, dizia que eu parecia um ucraniano, por causa de ser loirinho. Começou a chamar-me assim, sempre, e o nome ficou.

zz: Já havia algum Monteiro?

U: Havia um Monteiro, mas fiquei com este diminutivo, por causa dele. Ficou Ukra e eu só alterei o C pelo K, para dar mais estilo ao nome e assim nasceu o meu nome de guerra.

zz: Sempre lidou bem com a alcunha que lhe deram?

U: Sim, no futebol sempre me trataram por Ukra. Mesmo na escola, quando vim estudar para o Porto, tratavam-me por Ukra. A única diferença é que nos jornais aparecia André Monteiro.

zz: Não era famoso.

U: Exato. Não havia o mediatismo de agora, não havia grande impacto das redes sociais.

zz: Não havia o zerozero com a expressão de agora, onde é possível mudar o nome do jogador e ter a alcunha que todos os outros colegas chamam.

U: Sim, além de que a visibilidade das camadas jovens era pouca. Só quem ia aos estádios é que sabia mesmo o nosso nome de guerra. Não havia transmissões televisivas e nos jornais aparecia André Monteiro. Só nos seniores de primeiro ano, quando fui para o Varzim e pôde colocar o nome na camisola, é que ficou visível o nome Ukra. A partir daí foi sempre Ukra.

zz: Terminou a carreira no dia 17 de maio, de 2024. Parece sina: o número 17, terminar num dia 17, ao 17º minuto...

U: 17 épocas como profissional.

zz: Tinha isto tudo pensado?

U: Não. (risos) Parece que os astros se alinharam e bateu tudo certo. Falei com o mister e ele pediu-me para eu lhe dizer o que queria fazer, por ser o meu último jogo. Ele disse-me que de início eu iri jogar, pois não fazia sentido ser o último jogo e estar a entrar em campo. Ele quis que eu jogasse de início e depois fosse homenageado na saída. Decidi que sair aos 17 minutos seria bom, pois o número 17 diz-me muito, entretanto vimos que o jogo seria no dia 17 e depois vi que estava na minha 17ª época como profissional e então tudo fazia muito mais sentido. Deu mais brilhantismo ao momento.

zz: Teve tempo para pensar neste fim de carreira? Quando decidiu que era melhor terminar?

U: Foi durante a temporada. Fui me apercebendo que iria ter menos minutos de jogo, mas o ciclo do jogador é assim. O e o são casos à parte, tal como outras exceções, mas se eu quisesse jogar mais, tinha de baixar um patamar. Um ou dois.

zz: Por vezes, também tem a ver com o estilo de jogo.

U: Sim, nos jogávamos sem extremos. Fui colocando as coisas em cima da balança e aquilo que eu ainda tinha para dar ao futebol, quis dar ao . Por outro lado, estive três anos nos açores, alguns anos fora de casa e o conforto que tinha no Rio Ave, como poder levar as minha filhas à escola, viver os momentos importantes delas e da minha família, era o que queria. Eu nunca olhei para o meu umbigo e não eram esses minutos a mais na minha carreira que me iriam fazer mais feliz e mais realizado. O que me estava a fazer mais feliz e realizado era poder viver as coisas que estava a viver fora do futebol e que podia conciliar com o Rio Ave, que é o meu clube. Mesmo não tendo muitos minutos era feliz por fazer aquilo que mais gostava e estar perto da minha família. Com o passar dos anos fui percebendo qual o meu papel dentro da equipa e fiquei sempre muito confortável e feliz com isso. Eu sabia que podia não estar sempre dentro do campo, mas ajudava a que as coisas ao final de semana corressem da melhor forma.

zz: Foi no decorrer deste ano que percebeu que era melhor colocar um ponto final? Terminava contrato...

U: Terminava contrato, mas sinto que se quisesse continuar a jogar conseguia. Quase toda a certeza que o Rio Ave me oferecia um contrato de mais um ano.

zz: Mas qual a justificação para terminar a carreira agora?

U: Decidi terminar agora, pelo acumular de dores que tenho nos meus joelhos. Preferi sair em cima, pois não queria andar mais dois ou três anos a arrastar-me. Sei que iria ter muito mais dificuldade com a exigência dos treinos, com a recuperação e a resposta dos meus joelhos de um treino para o outro. Senti que este era o momento certo, pois também tinha muitos projetos fora do futebol, que sei que me vão fazer feliz. Além disso quero jogar no futebol amador de Vila do Conde e ajudar a promover o futebol concelhio. Este bichinho nunca vai desaparecer, pois vou continuar a treinar, talvez menos vezes, mas assim consigo controlar as minhas dores, consigo descansar e gerir a minha intensidade.

zz: Não tem um treinador a chatear a cabeça. (risos)

U: Por acaso, o treinador do futebol amador é um técnico exigente. Eu conheço, pois ao longo desta época fui acompanhando essa realidade.

zz: É um nível diferente.

U: Sim e outra mentalidade. Já me disseram que eu tenho de ter muito cuidado, pois há muita pancada e entradas quase assassinas. Vou preparado para o que vou encontrar, sendo que o principal objetivo é ajudar a promover o futebol concelhio. Sei que vou encontrar muitos erros, mas não vou para lá para me chatear, vou para ajudar e me divertir.

zz: Se aparecer alguém para chatear, vais ter que fazer uma partida qualquer... é certinho.

U: Uma manipulação do cóccix. (risos)

zz: Começou a jogar no Famalicão. No zerozero temos 1999/2000, mas deve ter sido antes.

U: Comecei com sete anos, nasceu em 88, portanto foi em 95/96. Os primeiros treinos foram nas escolinhas, depois tive no Famalicão até aos infantis de segundo ano, depois vou para o FC Porto.

zz: Como foi parar ao futebol? Foi o Ukra que pediu?

U: Eu comecei no futebol, porque gostava muito do , tinha umas chuteiras da Kronos com um autógrafo dele, foram as primeiras botas que eu tive. Aí começou essa paixão e por isso quis ser guarda-redes. Mas no primeiro treino estava a chover, a bola quase não chegava à baliza, eu todo molhado, sem tocar na bola, só via os meus colegas a correr. Cheguei a casa e disse que não queria ir à baliza, que queria jogar à frente. Comecei a jogar mais à frente, no início ainda sem posição específica. Nas escolinhas jogas mais para te divertir. Agora quando começou a haver competição, fui para ponta de lança. Eu era muito rápido, fazias muitos golos.

zz: Bolas nas costas...

U: Era mesmo isso... Bola nas costas e lá ia eu.

zz: Como foi parar ao FC Porto?

U: Na altura ia a vários torneios da AF Braga e na altura o Sr. Craveiro viu-me a jogar, falou com o meu pai e assim começou a minha vida no FC Porto. A treinar uma ou duas vezes por semana, para eles avaliarem as minhas qualidades.

zz: Foi difícil essa mudança?

U: Eu não vim para o FC Porto no primeiro ano que o Sr. Craveiro falou com o meu pai. Ou foi no segundo, ou no terceiro ano. Ele insistiu muito e aceitamos a mudança.

zz: Qual foi a razão para o seu pai não aceitar logo de início?

U: Eu ainda era muito novo, estava em Famalicão, tinha a escola e mudar para o FC Porto significava sair desse meu habitat, ficar a morar no Lar do Dragão e o meu pai não queria isso. O meu pai preferia levar-me todos os dias de Famalicão para o Porto, e fez isso até aos iniciados...

zz: Devia ser duro.

U: Sim, muito duro. No primeiro ano reprovei na escola. Eu terminava a escola às 18h15, às 18h30 o meu pai, ou o pai do Daniel, que era uma guarda-redes que tinha vindo comigo do Famalicão para o Porto, levavam-me para o FC Porto, tínhamos treinos às 19h30.

zz: Treinos na Constituição?

U: Sim. Depois regressávamos às 22h30 e quando chegava a casa só queria comer... Nem sequer estudava. A juntar a isso, era o facto de ser jogador do FC Porto. Eu só pensava no FC Porto. Facilitei nos estudos, reprovei e no ano seguinte o pai deixou que eu ficasse no Lar do Dragão para não perder a escola.

zz: Hoje em dia é diferente?

U: Os jovens têm mais condições. Na altura, eu já sentia a abertura dos professores, porque representava a seleção nacional nas camadas jovens, faltava às aulas para torneios de qualificação de Portugal.

zz: Mas isso já no FC Porto, mas quando estava no Famalicão o que lhe diziam os professores?

U: Eles sabiam que eu estava no FC Porto, mas quando olham para uma criança de 13 anos que joga no FC Porto vêm uma incógnita. Até para nós é uma incógnita, pois não sabemos o que vai acontecer e se vamos dar jogadores. Os professores passam e bem a mensagem de que os estudos são mais importantes. Eu, felizmente, tive a sorte de conseguir ser alguém no futebol, mas os professores sempre me passaram a mensagem de que a escola é o mais importante, pois para sermos jogadores de futebol não precisamos da escola. Precisamos de ter jeito, talento, disciplina e talvez um bocado de sorte. Com o evoluir da minha carreira, comecei a perceber que podia ser profissional de futebol.

zz: Quando teve essa noção?

U: Quando comecei a ir às seleções jovens e via que dentro do FC Porto apostavam em mim. Comecei a ter contratos profissionais. Senti que estava no caminho certo, que poderia ser alguém no futebol.

zz: O sonho daquela criança que entra pela primeira vez em Famalicão, era ser jogador de futebol?

U: Era ser jogador de futebol no Famalicão. Quando começamos, o nosso maior sonho é jogar no clube da terra. Depois, indo para o FC Porto, o Famalicão passou a ser pequeno e o meu sonho passou a ser jogar no FC Porto. De sonhos, as coisas passaram a desejos. Um sonho é uma coisa que parece que é irreal, desejo é quando sentimos que é possível.

zz: Qual é o momento mais marcante ou o treinador que mais o alertou e não o deixou fugir do seu sonho, de ser jogador profissional de futebol?

U: Todos os treinadores foram importantes, pois a mensagem para uma criança de 10 anos não é igual à mensagem que damos a um jovem de 17 ou 18 anos. Todos passaram a mensagem certo, no tempo certo, no escalão certo.

zz: Naquela fase da carreira de um jovem que começa a ir à seleção, tem os primeiros contratos e passa a ter o papel de intocável, é fácil ganhar peito e perder a dimensão real que tem. Nessa altura, houve algum treinador que o ajudou a manter os pés bem assentes no chão?

U: Não, porque eu, felizmente, desde criança, fui este maluco saudável e com os pés bem assentes na terra. Nunca andei de peito feito, trato os outros da mesma forma que gostaria de ser tratado, sou igual a toda a gente e esses valores foram passados pelos meus pais, quando era mais novo e levei sempre comigo.

zz: É conhecida a sua boa disposição. Quando sentiu que as pessoas achavam piada às suas brincadeiras?

U: Eu antes de ser alguém no futebol já era assim. Não mudei, porque consegui ser alguém. Eu já era feliz antes de ser jogador profissional. A minha forma de ser e de estar sempre foi assim: na escola, nas camadas jovens do FC Porto, no Famalicão, não mudei nada.

zz: Só as brincadeiras.

U: Só as brincadeiras. A maluqueira vai aumentando e o nível aumenta. As pessoas começaram a saber que eu era assim em 2012, quando fui para o Rio Ave. O e o aconselharam-me a partilhar com as pessoas a minha forma de ser e a forma como eu vivo. Eles diziam que as pessoas iam adorar e que mereciam saber como eu era. Eu era assim no FC Porto, naquele grupo que tinha o e o . Era o menino deles. Era assim no mas na altura as redes sociais não tinham a dimensão que tem hoje. Na altura era o Facebook e o Hi5.

zz: Qual foi a primeira brincadeira? Recorda-se?

U: Não me lembro. Penso que a primeira foto que se tornou viral e que fez com que as pessoas falassem, foi a da lesão peniana, do Football Manager. Fomos de estágio, jogar contra o Aalborg da Dinamarca, e eu meti a manga de compressão, a dizer que estava em tratamento e depois fiz a foto da rodela a dizer que já estava recuperado. Penso que foi essa a primeira sequência de história.

zz: Qual foi o primeiro colega que massacrou com brincadeiras, quando ainda estava na formação?

U: Aquele que eu brincava mais e digo que é o meu tomate de futebol, é o . Fiz a formação com o Castro, quando cheguei ele já estava lá, no Olhanense joguei com o Castro, no FC Porto joguei com ele, nas seleções joguei com o Castro. Na brincadeira, no balneário, abri um sobreolho e o Castro chorava por mim. Eu a sangrar no balneário e ele a chorar, a tentar levar-me ao enfermeiro para eu levar pontos. Obviamente que já tive grandes amigos no balneário, como , , , o Tiago Pinto, o mas o Castro foi o primeiro com quem criei uma forte relação. É o padrinho da minha segunda filha, a Carlota, por isso digo que ele é o meu tomate do futebol.

zz: No FC Porto fez toda a formação, venceu vários títulos, e ganhou a primeira edição da Liga Intercalar, pelo Varzim.

U: Foi uma final contra o SC Braga na Trofa. Lembro-me perfeitamente dessa prova, era o equivalente à Liga Revelação de agora. Foi no meu primeiro ano de sénior, na altura ia entrando, tanto eu, como o . O Varzim era uma equipa experiente e nós íamos fazer minutos à Liga Intercalar. Conseguimos ir à final e vencemos por 2-1.

zz: Na altura em que foi emprestado ficou triste?

U: Não, na altura fiquei muito feliz. Quando fui campeão de juniores, no plantel principal ficou o , o e o Rui Pedro, eu, o e o Fredson fomos para o Varzim. Os outros foram para 2ª Divisão B e outros deixaram de jogar, pois não arranjaram clube. Ou seja, ir para uma 2ª Liga foi fantástico. Sabia que a transição era muito difícil. Hoje há muita competição e muita visibilidade e naquela altura não havia. Quem nos queria ver, tinha de ir ao estádio. O diretor desportivo do Varzim era o Miguel Ribeiro, que hoje é o presidente da SAD do Famalicão, mas também foi meu diretor desportivo no Rio Ave. Eu fiquei muito feliz com a transição que tive, pois sabia que era um passo importante para a minha carreira.

zz: Correu tão bem que o Olhanense, com um projeto claramente de subida, apostou em si.

U: Verdade, com o . Tínhamos uma equipa muito boa, um grupo espetacular e o Jorge Costa criou ali uma dinâmica brutal que nos fez ser campeões da 2ª Liga.

zz: e

U: Juntamente comigo, ainda tínhamos o Guga, o Rui Duarte, o Rui Baião... Tínhamos uma equipa muito boa.

zz: A ida para Olhão foi algo desejado ou surpreendeu-o?

U: Foi algo que me surpreendeu. Não estava à espera, pois tinha terminado o meu empréstimo com o Varzim, estava à ver como ia ser o futuro e fui parar ao Algarve. Foi uma mudança grande, mas senti-me em casa, pois tenho um irmão do meu pai que vive em Olhão há muitos anos e estive sempre em família. Isso ajudou-me, pois foi a minha primeira saída de casa.

zz: Mas a escolha foi feita por quem?

U: O Jorge Costa tinha bons contactos com o FC Porto, por todo o passado que tem ligado ao clube, sugeriu o meu nome e nem houve discussão. Falaram-me, eu vi o plantel, conhecia o Castro, depois tinha o João Gonçalves, que tinha feito a formação no Sporting, tinha o , que tinha estado comigo nos juniores do FC Porto e tudo isso pesa. Eu sabia que não ia para um mundo desconhecido, pois sabia que ia encontrar amigos.

zz: Correu tão bem que continuou no ano a seguir, já na 1ª Liga.

U: O mais importante é sempre manter a base. O sucesso dos clubes está sempre aí. Obviamente que depois é preciso retocar, mas manter a base é muito importante e foi isso que o fez. Depois, foi buscar mais jogadores emprestados ao FC Porto, como o Ventura, o o outros jogadores mais experiente da Liga, como Paulo Sérgio, como o Carlos Fernandes. Era um misto de jogadores jovens, com outros experientes. A época correu bem, com um bocado de sofrimento, até porque o Olhanense não estava na Liga há muitos anos, mas conseguimos a manutenção num jogo em casa, contra o Leixões. Foi um ano de aprendizagem, pois foi a minha estreia na 1ª Liga e sinto que foi a escolha certa.

zz: Regressou ao FC Porto e sentiu que aquele poderia ser o seu momento e iria ter uma oportunidade?

U: Sim, foi isso mesmo. Foi o concretizar do desejo. Enquanto estava no Olhanense jogava nos Sub-21 de Portugal, fui o melhor marcador da fase de qualificação e sentia que as coisas estavam a encaminhar-se para ficar no plantel principal do FC Porto.

zz: Quando lhe disseram que ia ficar na equipa principal sentiu que era algo normal, ou ficou surpreso, pois foi uma época de mudança do FC Porto.

U: Aquilo aconteceu, porque a fase de qualificação de Portugal correu-me muito bem, comecei a ter propostas de clubes ingleses... Recordo-me que na parte final da última época em Olhão, fomos jogar a Coimbra, estava lá o mister e ele perguntou-me, sem eu saber que ele iria ser o treinador do FC Porto, como estava a minha vida para a época seguinte. Mas foi o interesse dos clubes ingleses que fez com que o FC Porto me chamasse, renovasse o contrato e eu ficasse no plantel principal.

zz: Aí já é outro nível, porque foi renovar num outro patamar.

U: Foi olhar para trás e perceber que todo o que tinha feito, tinha sido bem feito. Quando comecei com sete anos nunca pensei que eu um dia ia jogar no FC Porto. Foi um percurso melhor do que aquele que eu tinha perspetivado.

zz: Como foi entrar naquele balneário de consagrados?

U: Quando soube que ia para o FC Porto comecei a pensar na forma como a equipa ia reagir às minhas maluqueiras. Eu já era assim, era completamente maluco. Eu tentava imaginar como é que o , o iam reagir às minhas brincadeiras e iriam olhar para mim. É totalmente diferente estar no balneário do Olhanense, ou no balneário do FC Porto.

zz: Mas quando pensa numa brincadeira para fazer, pensa em fazê-la a qualquer pessoa, ou prepara uma brincadeira para uma pessoa específica?

U: Há coisas que dá para em geral, mas quando vais conhecendo as pessoas, há coisas que encaixam melhor em determinadas pessoas e adaptas a brincadeira em quem queres fazer.

zz: E ainda em Olhão começou a pensar nisso.

U: Comecei. Por exemplo, com o já tinha passado a pré-temporada, estávamos em setembro ou outubro, o Hulk é aquele poço de força...

zz: É o Hulk...

U: Exato. Tínhamos uma salinha dentro do balneário, com umas marquesas, para quem quisesse descansar mais um bocado. Um dia meti todo o plantel lá dentro para me ver a fazer o braço-de-ferro contra o Hulk. Quem estava a apoiar o atrás dele, quem me estava a apoiar, atrás de mim. Eu ganhei ao a jogar ao braço-de-ferro e naquela sala pequena voou tudo. Foi uma alegria naquele balneário... Lembro-me do a colocar-me Powerade na boca, a passar-me panos molhados na cara, a fazer massagens, para eu ganhar ao Hulk. Imagina, estávamos todos metidos naquela a ver-me a jogar o braço-de-ferro contra o Hulk.

zz: Fabuloso.

U: Eu consegui ser naquela equipa aquilo que sempre fui. Todos me adoravam, era o menino deles e andava com eles para todo o lado.

zz: Reza a lenda que certo dia, quando o ambiente estava mais azedo, o André Villas-Boas montou um ringue de boxe no Olival.

U: É verdade, isso aconteceu. Ele ainda chamou os jogadores para andarem à porrada.

zz: Mas havia clima tenso no balneário?

U: Não, mas havia treinos mais durinhos, naqueles exercícios de meiinho, mas isso acontece no Porto e em todo o lado. Somos competitivos e competimos uns contra os outros, para ganharmos o nosso espaço. Há dias que uns podem estar mais aziados e podem aceitar menos bem as pancadas. São coisas do futebol...

zz: E foi isso que aconteceu...

U: Sim, um treino mais durinho e no dia seguinte chegámos ao Olival e tínhamos um ringue montado, o  disse para dois jogadores entrarem para andarem à porrada, mas como ninguém entrou, foi ele lá para dentro e disse que queria andar à porrada. Ficou lá dentro à espera que entrasse alguém, mas ninguém entrou.

zz: Foi titular contra o Genk, que tinha o Courtois na baliza e ainda o Kevin de Bruyne. Depois foi titular contra o Beira-Mar, mas saiu aos cinco minutos.

U: Saí aos cinco minutos, mas magoei-me no primeiro minuto. Tive mais tempo a ser assistido, do que a jogar.

zz: O que aconteceu?

U: Tive uma fratura da cara... Eu era muito mais bonito (risos). Foi um choque de cabeças e o osso entrou-me para dentro da cara. São coisas que não controlámos, acontecem. Não olho para esse momento com tristeza, pois são coisas que acontecem, porque têm de acontecer.

zz: Mas sente que esse foi um momento fulcral na sua passagem como sénior do FC Porto?

U: Não. Eu também tive essa oportunidade, porque tinha falecido a sobrinha do Hulk e ele teve de ir ao Brasil. Senti que mesmo que fizesse um grande jogo, obviamente que poderia ganhar mais espaço, mas aquele lugar era do ou do , quando estivesse bem fisicamente. Eu sabia que era muito difícil para mim jogar. Já me senti realizado por estar ali com eles diariamente, pois aprendi muito só a treinar.

zz: Toda a gente diz que aquela época foi uma pedrada no charco, pela forma como o FC Porto jogava. A forma de trabalhar de André Villas-Boas era assim tão clara, como o que víamos em casa?

U: Era incrível. Eu e o Castro íamos para o treino, mesmo sabendo que não íamos jogar, felizes. Os treinos eram muito competitivos e nunca sabíamos que tipo de exercícios íamos apanhar, mas sabíamos que íamos ter bola e ia ser divertido.

zz: Era quase um sentimento de criança.

U: Era mesmo isso.

zz: Foi para Braga por saber que não ia ter espaço?

U: Foi uma decisão minha, porque queríamos jogar. Já tínhamos trabalhado muito para ter uma oportunidade, como aquelas duas temporadas no Olhanense e depois tívemos uma quebra competitiva. Queríamos jogar, mostrar o nosso valor. Decidi que queria ter mais minutos de jogo, para não cair no esquecimento. Não queria ser o Ukra que fazia apenas parte do plantel do FC Porto. Sentia-me valorizado pelas pessoas, mas queria ter mais minutos de jogo. Recordo-me de na altura em que saí, numa das conferências de imprensa, o ter dito que não queria que eu saísse, que queria ficar com todos os jogadores, pois era importante no jogo, mas também no grupo. Eu era jovem, mas já tinha uma preponderância grande no grupo. Ele não queria que eu saísse, mas depois percebeu o meu ponto de vista e até hoje ainda mantemos contacto.

zz: Na mesma época ganha a Liga Europa e perde a Liga Europa.

U: (Risos) É verdade. Fui para Braga, a equipa tinha ficado em terceiro lugar no grupo da Liga dos Campeões e caiu para a Liga Europa. Eu como já tinha jogado a Liga Europa pelo FC Porto não pôde disputar a Liga Europa pelo Braga. Fui à final de Dublin vestido à Braga, a equipa perdeu, mas eu fui campeão. Fui para lá a saber que qualquer que fosse o resultado, eu iria ganhar.

zz: Pensou nisso, na altura?

U: Veio à conversa, porque era uma coisa inédita. Eles diziam que aquele tipo de coisas, só poderia acontecer comigo.

zz: Deve ter sido estranho.

U: Muito. Eu não conseguia explicar às pessoas o que sentia.

zz: Queria que ganhassem os dois.

U: Não consigo explicar. Eu queria muito que o Braga ganhasse, pois era o meu clube, fazia parte daquele grupo, mas tinha feito parte do trajeto no FC Porto, onde tudo começou. Estava numa posição ingrata, mas boa, pois ia ser sempre campeão.

zz: Na época seguinte continua em Braga, agora com o e foi colega do . Aposto que houve alguma brincadeira com ele.

U: Sim, já contei. Era eu que fazia a depilação ao rabo do . Ele dizia que só mesmo no final da carreira é que tinha encontrado um maluco capaz de lhe fazer a depilação ao rabo. O que o futebol nos deixa são as amizades e os momentos que vamos colecionando. Passamos muito tempo juntos e temos de nos divertir. As pessoas costumam dizer que contam os amigos que têm pelos dedos de uma mão, eu não tenho dedos suficientes, pois a minha forma de ser e de estar é assim. O que sinto é que quando alguém se preocupa com o outro já não é apenas colega, é amigo.

zz: Continuou ligado ao FC Porto, mas sempre emprestado. Em alguém momento houve novamente o oportunidade de regressar?

U: Não, nunca mais houve essa oportunidade. O FC Porto continuou a ser uma equipa campeã e é difícil entrar.

zz: E o Ukra queria entrar para ser influente.

U: E para isso acontecer, eu teria de explodir no Braga, mas isso não aconteceu. Fui muito utilizado na primeira época, mas no ano seguinte fui operado em julho e só comecei a jogar em janeiro. Sabia que aquilo que tinha feito não era suficiente para regressar ao FC Porto. Fui me apercebendo que a minha realidade não era o FC Porto, se calhar também não era num SC Braga, mas talvez num patamar abaixo. Aceitei muito bem isso, pois já era um felizardo por estar a jogar na 1ª Liga, numa equipa boa da 1ª Liga, como era o Rio Ave. São muitos mais os jogadores que não conseguem chegar ao nível do Rio Ave, do que aqueles que conseguem estar num patamar melhor que esse.

zz: Era um Rio Ave a crescer.

U: Era uma equipa recheada de dúvidas. Muita gente profetizava que o ia descer. Foi a primeira época do .

zz: E é uma época incrível.

U: Ficamos a três pontos da Liga Europa, numa decisão que só ficou conhecida na última jornada. Éramos uma equipa que iria lutar para não descer e ficamos a três pontos da Liga Europa. Foi aí que deu o clique para o Rio Ave que conhecemos.

zz: Foi fácil a continuidade. No primeiro ano esteve emprestado, mas depois ficou em Vila do Conde. Foi com base na ideia de se estamos bem, não vale a pena mexer.

U: Sim, mas também pelo facto do NES ter um passado ligado ao FC Porto. As coisas tinham corrido muito na primeira época e só fazia sentido continuar lá.

zz: Nessa altura, no Rio Ave, teve um registo muito bom.

U: Nunca tinha feito tanto jogo na minha vida.

zz: Foi chamado à seleção nacional.

U: Sou o primeiro e único jogador da história do Rio Ave a ser chamado à seleção nacional.

zz: Quando viu o seu nome na lista ficou intrigado?

U: Fui eu e o Tiago Pinto. Fomos os dois chamados. Eu tive a oportunidade de jogar, ele é que não. Sinto que fui chamado não apenas por aquela época, mas também pelas outras.

zz: E ajuda ser um jogador de seleção. Tinha feito todo o percurso nas seleções jovens.

U: Verdade, estive em todas as seleções. A chamada à seleção esteve muito relacionada com o meu papel feito no Ave. Eu tinha feito épocas muito boas com o  e nessa com o estava igual. Senti que fui chamado não apenas por essa época, mas pelo desempenho que também tive nas anteriores. Para mim foi o realizar de um sonho.

zz: Só ao Ukra é que acontecem essas coisas.

U: Só ao Ukra é que acontecem essas coisas. Nunca pensei estar no Rio Ave e ser convocado para a seleção nacional portuguesa.

zz: Foi para a Arábia Saudita. Esteve relacionado com o lado financeiro?

U: Antes da minha última época no Rio Ave, na época em fui chamado à seleção nacional, eu já queria ter uma experiência no estrangeiro, para ter outras condições financeiras. Houve propostas de clubes turcos, mas quando rescindi com o Porto para assinar pelo Rio Ave, o FC Porto ficou 70% do meu passe. Para o Rio Ave conseguir ter algum encaixe financeiro com a minha venda, pedia verbas mais elevadas e os negócios não aconteciam. Por isso, esperei pelo meu último ano de contrato e saí livre. O Al Fateh surgiu por intermédio do Sá Pinto. Eu tinha propostas do Chipre, da Turquia, da Polónia, da Coreia do Sul... A proposta da Coreia do Sul era a melhor financeiramente, mas como na Arábia Saudita tinha uma equipa técnica toda portuguesa, o Sá Pinto a fazer força para eu ir para a equipa dele... A Neuza (minha mulher) percebeu que para ir, tínhamos de casar e por isso, acelerou logo o processo e optámos pela Arábia Saudita.

zz: Como é que o Sá Pinto o descobriu?

U: Ele já me conhecia do campeonato português e sabia que eu estava em final de contrato. Fez-me ver que as coisas não eram tão más como pintavam. A minha mulher não podia ver os jogos, não podia conduzir.

zz: Foi difícil para ela?

U: Não, ela adorou. Adaptámo-nos muito bem e por vezes até nos esquecíamos que estávamos na Arábia Saudita. Só quando víamos um maluquinho a fazer os drifts de carro. A vida que fazíamos em Portugal, fizemos lá. A nossa forma de estar, faz com que nos adaptemos rapidamente aos locais e às pessoas.

zz: Algum episódio com o Sá Pinto?

U: Tivemos um início de época muito difícil, contra equipas muito difíceis. Jogávamos muito bem, mas não tivemos a sorte de fazer golos, ou ganhar um jogo. Num dos jogos em que perdemos, o Sá Pinto quis reunir só com os jogadores e houve um dirigente que quis estar presente, pois é algo normal. O Sá Pinto não quis, os ânimos aqueceram, o Sá Pinto conseguiu que o dirigente não estivesse nessa reunião, falou apenas com os jogadores, mostrou-nos imagens do jogo, mas no dia seguinte o mister já não deu o treino. Sinto que foi por esse momento que ele foi embora. Alguns jogadores árabes quando souberam que o Sá Pinto ia embora começaram a chorar. Gostei muito do Sá Pinto. Ele é muito exigente, é muito forte, mas os treinos eram bons e os árabes gostavam.

zz: Veio embora porque teve uma lesão e foi para Sofia.

U: Tenho uma história curiosa. Senti uma dor no joelho, num jogo. Fui ao hospital fazer um ressonância, para perceber se tinha algum problema. O médico era português, viu a minha ressonância e disse que eu não tinha nada. Fiz uma semana de recuperação para deixar de ter dor, voltei a jogar. Fiz mais três jogos. Nesse jogo senti o joelho a falsear e inchou. A equipa já tinha falado comigo para eu renovar, por mais dois anos, mas só iríamos assinar quando garantíssemos a manutenção. Faltavam dois jogos, no jogo seguinte garantimos a manutenção, entretanto vim para Portugal e fiquei à espera do contrato. Trouxe os exames que tinha feito na primeira vez que tive a dor e fui ao Rio Ave mostrar ao Dr. Basílio e ao Dr. Sérgio. Eles disseram logo que eu já tinha rompido o cruzado. Os árabes também tinham os exames, mostraram a outros médicos e viram que eu estava com problemas no joelho... Nunca mais me mandaram o contrato. Não me deram a justificação, mas apenas que o acordo não iria acontecer. Eu sei que eles gostavam muito de mim, fiz golos importantes, na rua as pessoas falavam comigo. Ia a casamentos de pessoas que nem sequer conhecia, só porque gostavam de mim. Eles não me deram a justificação, mas eu já sabia, pois tinha mostrado a minha ressonância aqui em Portugal. Paguei a operação do meu bolso, depois tive a sorte do Rio Ave me deixar recuperar no clube e foi em janeiro que surgiu a oportunidade de ir para Sofia.

zz: E o que correu mal?

U: Naquela altura estava sempre a nevar e como não havia campos naturais para treinar, íamos para o sintético e treinar nesses sítios é o pior que pode acontecer para quem estava a recuperar de um lesão ao cruzado. Só fiz 12 minutos, mas só aconteceram porque tomei mil e uma coisas para isso acontecer.

zz: Ficou com pena de jogar tão pouco?

U: Sim, porque adorei Sofia. Mas eu não conseguia controlar as dores. Até a caminhar tinha dores.

zz: Regressou para o Santa Clara estando livre de contrato?

U: Sim. Estava em fim de contrato, apesar de ter mais um ano de opção, por parte do , mas eles não acionaram. Depois estive dois meses e meio com o Dr. Milagres, o Paulo Araújo. Ele foi médico na China com o André Villas-Boas, o André era agenciado pela ProEleven, tal como eu e eles meteram-me com o Paulo a recuperar. Foram dois meses e meio, de manhã e de tarde.

zz: Como correu tudo?

U: Foi ele que me salvou. Eu sentia que não conseguia jogar mais, pois tinhas dores insuportáveis. Nem conseguia andar.

zz: Toda a gente diz que ele é o Dr. Milagres e teve duas recuperações aos cruzados, uma aos 18 anos e esta. O que foi feito de diferente. Ele ajudou de forma diferente em que sentido?

U: A dor não era no ligamento, porque a operação tinha corrido bem, mas o meu corpo não aceitou tão bem a operação e as mazelas que a operação deixa. Eu fiquei com tendinites, tinha líquido no joelho e por muito reforço muscular que fizesse, as dores faziam com que o músculo ficasse inibido e não estava a conseguir ficar no nível desejado. O Paulo ajudou-me a drenar o joelho, depois a aliviar a dor e só quando estava bem é que começou a dar cargas no joelho, para ganhar massa muscular e ter um bom suporte. Lembro-me de ir treinar com ele para o Parque da Cidade, no sintético, e treinava com agulhas. Havia pontos específicos do corpo, onde ele metia uma agulha e a dor desaparecia. Era incrível. Lembro-me de estar a treinar e ter as agulhas. Depois quando ele tirava a dor vinha novamente. Começou a trabalhar nesses pontos e só vou para o Santa Clara no fecho do mercado.

zz: Como surgiu o Santa Clara?

U: O tentou a minha contratação, pois o Miguel Ribeiro já estava lá.

zz: Ainda na 2ª Liga.

U: Correto, o Miguel falou comigo. Fui com ele fazer ressonâncias ao joelho, para haver a certeza de que estava tudo bem, ele queria muito que eu fosse para o Famalicão, e eu estava muito inclinado para ir para o Famalicão.

zz: Seria romântico.

U: Sim, mas surgiu o e aí tive de deixar o coração de parte. O meu pensamento foi o seguinte: tinha estado um ano sem jogar, o Santa Clara ia ser um bom projeto e era 1ª Liga. Se as coisas corressem menos bem, descia um patamar e ia para a 2ª Liga. Indo para a 2ª Liga, se as coisas não corressem bem, tinha de baixar o patamar e aí já era Liga 3. Joguei pelo seguro e por ter a oportunidade de estar na 1ª Liga portuguesa. Tive de pensar com racionalidade, porque o capítulo monetário foi idêntico.

zz: Ainda fez três temporadas no Santa Clara. O corpo ainda tinha muito para dar.

U: Os três anos no Santa Clara foram espetaculares, porque foram sempre a melhorar. Saí de lá com a qualificação para a Conference League feita. Quando o Rio Ave foi jogar aos Açores, a faltar poucas jornadas para o fim, o presidente o António Silva Campos e o Coentrão, tal como o André Vilas Boas, que era o diretor desportivo, vieram falar comigo. Queriam que eu regressar, pois sentiam que faltava alguém como eu no clube, porque as coisas não estavam bem. Diziam que tinha de regressar, por ser quem era e porque o balneário precisava de uma referência. Quando falaram comigo, independentemente do que acontecesse depois no Santa Clara, meti na cabeça que tinha de regressar.

zz: Aí foi mesmo com o coração.

U: Sim, porque também queria estar perto da família, pois nos Açores estava sozinho. Nos Açores, estava a fazer o que gosto, mas perdia muitas coisas das minhas filhas. Recebia vídeos e ficava triste, pois queria estar perto delas. Obviamente que quando o Rio Ave foi ao Play-Off estava a rezar para que conseguissem a manutenção, mas não era isso que me ia fazer recuar. O Rio Ave desceu, mas eu regressei, mesmo tendo uma proposta do Santa Clara para ficar e disputar a Conference League.

zz: Veio para o aproveitar estes momentos finais ou achou que ainda podia sair outra vez?

U: Não, quando regressei ao Rio Ave senti que não iria sair mais. Mesmo sendo na 2ª Liga, sentia que poderia ajudar, mesmo a jogar pouco. A minha experiência, também na 2ª Liga, ia ser fundamental para a equipa.

zz: Foi mais um título de 2ª Liga.

U: Verdade. Tive três anos na 2ª Liga e tenho dois títulos. Além disso, ia ajudar a passar a mística e os valores do Rio Ave. A vinda do Vítor Gomes ajudou muito, pois é da terra. Nós dois juntos, mais um Guga, um Aderllan Santos, um Jhonatan, conseguimos passar esses valores a quem chegava e a quem de novo entrava naquele clube. Olho para trás e vejo que foi a opção correta. Mesmo não jogando tanto, sei que fui muito importante no meu papel fora do campo.

zz: Vocês subiram e depois foi publicado aquele documentário relativo a essa temporada e vimos o Luís Freire a cantar. Vocês conheciam esses dotes vocais?

U: (Risos). O Luís é um treinador que admiro muito, porque conseguiu tudo o que tem por mérito próprio, não precisou de ninguém para conseguir. Aliás, precisou da equipa técnica dele. São amigos de adolescência que o acompanham. Acredito que ele vai dar o salto, aliás, acho que já devia ter dado, pelos trabalhos que tem feito.

zz: Foi isso que lhe disse naquele abraço, em que terminaram no chão?

U: Não. Aí foi um abraço de alívio, porque foi um ano de muito sofrimento. Esta mensagem que estou a dizer, dizia a ele, quando tínhamos reuniões. A nossa relação foi sempre muito espetacular. Os meus colegas, sempre que queriam alguma coisa, pediam para eu ir falar com o treinador. Mesmo os restantes treinadores da equipa técnica diziam para eu passar algumas mensagens, pois diziam que o mister ouvia-me mais a mim, do que a eles. Ele fez trabalhos formidáveis, tem uma ideia de jogo incrível e sei que vai ter muito sucesso. Está a demorar mais um bocado, mas vai valer a pena no futuro.

zz: Quem merece o seu maior agradecimento.

U: As pessoas mais importantes são a família, o meu pai, a mãe, madrinhas, toda a gente, mas se tiver que especificar alguém tem de ser as minhas filhas, a Neuza e a Mafalda, que é a mãe das minhas filhas mais velhas, pois foi com ele que começou este trajeto. A Neuza trouxe-me aquilo que eu mais precisava: o equilíbrio e a felicidade. Aquilo que sou hoje deve-se a ela e às miúdas. Não me vou esquecer de ninguém com quem partilhei momentos, pois todos tem lugar no meu coração. Não me esqueço de ninguém. Posso estar muito tempo sem ver as pessoas, mas quando volto a ver amigos com quem não estive há tanto tempo, parece que foi ontem.

zz: Só tem pena de não ter corrido com o fato do Borat no deserto da Arábia Saudita?

U: Ainda posso fazer isso. É só marcar uma viagem e fazer isso.

zz: Só falta escolher o 11 do Ukra.

U: Na baliza vou colocar o vou deixar o no banco.

zz: Esteve com os dois...

U: Mesmo e ajudou nessa troca. O Oblak é expulso no Dragão e eu tenho de sair para entrar o Ederson.

zz: Se não fosse o Ukra, o Ederson não tinha entrado (risos).

U: Isso, recusava-me a sair. Vou fazer um misto de jogadores. Lateral direito vou colocar o Foi o lateral com quem tive melhor conexão e melhor química. No lado esquerdo, vou colocar o .

zz: O Palito.

U: Sim, apesar de ter o que foi um lateral de muita qualidade. A central vou colocar o e o companheiro ao lado, estou indeciso entre o meu colega no Rio Ave, ou o , com quem joguei no Santa Clara. Vou colocar o Marcelo. Com o Otamendi encaixa melhor o Marcelo do que o Fábio (risos). Vou jogar com um meio a 2x1. Vou colocar o Moutinho. Foi o melhor jogador com quem joguei.

zz: Então?

U: O é bom em tudo. Numa escala de 0 a 10, ele é do 7 para cima. Por isso é que escolho como o melhor jogador com quem já joguei. É muito competente. Vou colocar também o Foi uma grande surpresa.

zz: Como falava com ele?

U: O primeiro estágio do Morita foi comigo no quarto, em Penafiel. Chamei-lhe de tudo, Tsubasa, Doraemon, Pokemon, Naruto... Tínhamos um gravador, ele falava em japonês e aquilo traduzia para português e eu falava em português e traduzia para japonês. Ele dizia que o povo dele era um bocado esquisito. Eu só lhe disse: 'Tu vais ver o que é ser esquisito!' Temos grande relação, falamos muitas vezes. A 10, vou colocar o ... Tenho o , o , o , mas só como escolher 11.

zz: Na frente?

U: Vou ter que colocar o , o e no outro lado o . Gostei muito dele no SC Braga e era um jogador que apreciava muito as qualidades deles.

zz: Vocês mediam o remate do Hulk?

U: O mediu, porque levou com um remate nas costelas e ficou mais de um minuto sem respirar. Ficou a guinchar no campo que parecia um porco. Podia ter muitos mais jogadores e peço desculpa a quem deixo de fora, mas neste momento, é este o meu melhor 11.

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