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·29 de agosto de 2024

Da Juventus ao Lamas: «Ronaldo deu-me um clique»

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Do balneário com Vitinha e Fábio Vieira, para os treinos com Cristiano Ronaldo em duas temporadas. João Serrão viveu o sonho de vir a ser profissional de futebol aos 16 anos, e logo num gigante europeu: a Juventus. Após três anos no topo da Europa, a entrada no futebol sénior foi numa escada sempre a descer, começando na Primeira Liga e acabando agora no Campeonato de Portugal.  Aos 24 anos, ainda alimenta a esperança de subir a escada até ao topo, tendo já muita bagagem e histórias para contar. Esta é a entrevista ao zerozero do defesa criado entre o Leixões e o FC Porto, e filho de José Serrão, antigo guarda-redes.

zerozero: João, como tem estado neste início da nova época no Lamas?


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João Serrão: Tem corrido bem, tenho sido bem recebido. Ganhámos o primeiro jogo em casa, este fim de semana empatámos em Cinfães. Tem sido positivo e estou a integrar-me bem.

ZZ: Vamos voltar lá atrás, aos tempos de formação e à famosa transição Porto-Juventus. Como é que surgiu?

JS: Na altura o meu empresário falou-me em algumas possibilidades no estrangeiro, nomeadamente em Itália, estava eu nos Sub16 do FC Porto (emprestado ao Padroense). Quando me disseram que a Juventus estaria interessada eu não acreditei , sinceramente. Era grande de mais. Mas as coisas concretizaram-se no final da época (2015/2016), já eles tinham observado alguns jogos meus e deu-se a mudança.

ZZ: Nunca teve receio de mudar?

JS: Temos sempre receio. Ainda por cima com 16 anos, mudar de país, sem os meus pais, fui sozinho para a academia da Juventus. Mas também encarei como uma oportunidade para poder singrar no futebol e não pensei duas vezes.

ZZ: Não foi o único português a ir, pois não?

JS: Não, na altura foram o Afonso Freitas (Vitória SC) e o Ricardo Campos (SL Benfica).

ZZ: Como foi a adaptação lá?

JS: Não tive muita dificuldade porque aprendi facilmente a língua, com aulas de italiano nos primeiros seis meses, e como deve imaginar fui para um contexto em que não me faltava nada, porque é uma equipa grande. Sendo nós menores e vindo de outro país, dão-nos todo o apoio e ajuda que precisamos.

ZZ: Como foi a sua utilização na Juventus?

JS: Quando cheguei foi para os Sub17 e fiz a época toda a titular. No ano seguinte fui para os Sub19 e essa transição lá é mais difícil, porque eles privilegiam os jogadores mais velhos.

Mas lembro-me que nesse ano ainda acabei o campeonato a jogar, inclusive na meia-final do campeonato, em que perdemos 1-0 com o Inter. No ano seguinte, até janeiro, joguei sempre. A partir daí as coisas começaram a não correr tão bem e vim embora.  Estive lá três anos e voltei para o Vitória de Setúbal, quando ainda estavam na I Liga.

ZZ: O que é que acha que correu mal?

JS: Sinceramente não sei responder a isso. Sei que parte da culpa foi minha, é obvio. Dentro e fora do campo. Quando soube que ia embora acabei por andar um bocadinho mais «largado», digamos. Se calhar eles estariam à espera que eu desse um salto qualitativo maior e não aconteceu.

ZZ: Nunca se arrependeu de ter trocado o FC Porto pela Juventus?

JS: Já pensei que se não tivesse trocado as coisas poderiam ter sido diferentes. Se calhar estaria melhor do que estou agora, não sei. Continuando o meu trajeto no FC Porto, acho que poderia ter sido diferente. Mas não me arrependo, foi uma experiencia incrível, que se calhar podia ter corrido bem e ter sido ainda melhor. Faz parte. O futebol é mesmo assim, nunca podemos olhar para trás com arrependimento.

O convívio com Cristiano Ronaldo na Juventus

ZZ: Coincide com o Cristiano Ronaldo na Juventus. Que impacto teve ele no clube?

JS: Foi uma loucura. Ele vai para lá no meu último ano e foi uma loucura. Só se falava dele. Quando houve os primeiro rumores, nos balneários da formação só se falava de Ronaldo. Ganhou uma dimensão inacreditável.

ZZ: Chegou a conviver com ele?

JS: Cheguei a treinar algumas vezes com eles, na equipa principal. Treinei algumas vezes com o Ronaldo.

ZZ: A sério?

JS: Eles têm uma politica de levar Sub19 para complementar o treino da equipa principal.

ZZ: Falava com ele?

JS: Ficas tão nervoso que nem sabes o que estás a dizer. Nem me lembro. Olhas para ele e ficas um bocado a tremer.

ZZ: Era o João que o marcava no treino?

JS: Marcava-o mas sem lhe tocar, com medo de lhe dar um pisão. No ginásio falei uma vez com ele, porque percebeu que eu era português depois de um ou dois treinos. Perguntou só se estava tudo bem, se eu gostava de lá estar, nada de mais.

ZZ: O que sentiu que há de diferente dele em relação aos outros? Teve essa comparação direta...

JS: Eu acho que é a vontade de trabalhar, de querer ser melhor todos os dias, querer sempre mais. Ainda hoje se vê, quase com 40 anos continua igual.

ZZ: Isso inspirou-o?

JS: Mudou a forma de eu ver as coisas. Percebes que só ter talento não chega, é preciso muito mais do que isso.

Sinto, agora que estou num nível mais baixo, que me ajudou a ser mais profissional, a cuidar mais de mim fora do campo: alimentação, ginásio, preparação física para estar bem. Ajudou-me ter o exemplo dele e dos restantes, porque era um nível muito alto. Ronaldo deu-me ali um clique. À medida que comecei a vir mais para baixo, percebi que estava a fazer alguma coisa errada e a lembrar-me do que esses atletas faziam.

ZZ: Na formação da Juventus estava com Franco Israel e o Nicolò Fagioli. Talvez tenham sido os que chegaram mais longe. Lembra-se de mais algum?

JS: Lembro-me do Hans Nicolussi, que foi agora emprestado ao Venezia. Também lá estava o Moise Kean, mas ele jogava acima, nos Sub19. Treinei apenas com ele mas ele a meio do ano e foi logo para a equipa principal.

No berço de uma geração dourada do FC Porto

ZZ: No FC Porto divide balneário com João Mário, Romário Baró, Afonso Sousa, Fábio Vieira, Vitinha. Esperava todo este sucesso de alguns deles?

JS: Na nossa altura, tanto o Afonso Sousa como o Romário Baró tinham mais destaque. Olhavam para eles de maneira diferente e até achavam que eram esses dois quem chegaria ao patamar onde estão o Vitinha ou o Fábio Vieira. Mas o futebol é assim, o que hoje é amanhã já não é. Felizmente as coisas acabaram por correr bem para eles.

Se me perguntar, sinceramente, se achava que o Vitinha ia chegar ao patamar que chegou? Se calhar não. Na altura já tinha muita qualidade, mas neste momento é um craque absoluto.

ZZ: O que acha que fez a diferença para o crescimento destes jogadores?

JS: Depende muito do teu trabalho e rendimento, mas também depende um bocadinho da sorte, um treinador que goste de ti e aposte. É complicado dar uma resposta, é um conjunto de fatores muito grande.

ZZ: O seu pai também tem passado no futebol. Qual é o papel dele na sua carreira?

JS: Ás vezes até fico um bocadinho chateado porque o meu pai só me diz o que eu faço de mal. Sei que é para o meu bem, mas isso chateia-me um bocado. Mas ajudou-me muito, chegou a chatear-se a sério comigo porque achava que eu não estava focado a 100 por cento. Nesse aspeto ele ajudou-me muito e passei a olhar para mim de maneira diferente.

O que Francisco Conceição vai encontrar em Turim

ZZ: O Francisco Conceição acabou de se mudar para a Juventus. O que é que ele vai encontrar lá na cidade e nos adeptos?

JS: O estádio não é muito grande, mas os adeptos enchem-no e são um público exigente. Quanto à cidade, eu adorei viver lá. As pessoas têm um carinho especial, sobretudo se fores jogador, reconhecem-te e acarinham-te. O clima não é fácil, porque no verão faz muito calor, no inverno muito frio.

O Francisco tem tudo para singrar lá e para as pessoas gostarem dele, devido à qualidade e à atitude.

ZZ: O que ainda sonha para a  sua carreira?

JS: Neste momento tenho de ser realista, mas ainda espero chegar à I Liga. Joguei com alguns exemplos que o conseguiram, mesmo nestas ligas inferiores, como o caso do Jota, que esteve no Campeonato de Portugal e chegou à Premier League. Vou trabalhar e dar o meu melhor e espero chegar ainda à I Liga.

Se puder ser no FC Porto, seria algo de outro mundo, porque é o meu clube do coração.

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