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Zerozero

·27 June 2024

É preciso conhecer o povo, amigos!

Article image:É preciso conhecer o povo, amigos!

Está instalada a crise. De café em café - ou de rede social em rede social -, não se fala de outra coisa. Portugal e o Europeu, que combinação desastrosa. A derrota perante a Geórgia, esse David que jamais poderia aspirar a ganhar-nos, foi a derradeira prova que o povo precisava: Roberto Martínez é incompetente e a seleção portuguesa sobrevalorizada.

Ganhar o torneio? Só em sonhos!


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Bastaram 90 minutos para um país inteiro puxar da espada de Dâmocles e içá-la sobre a cabeça de cada um daqueles que está a representar a seleção na Alemanha. Um ultraje, aquilo que os homens de Martínez - e ele próprio - fizeram em Gelsenkirchen.

É a lei do controlo emocional – ou falta dele. Na verdade, é algo difícil de explicar.

Por esta altura, espero que tenham percebido que há uma boa dose de ironia nas minhas palavras. Apropriei-me de muitas das coisas que li nas últimas horas para apontar, eu mesmo, a lâmina à seleção mas também aos portugueses. Há culpa no cartório em ambos os lados da barricada.

Primeiro, ao povo. Desculpem-me a frontalidade, mas para quê tanta revolta? Exige-se que se entendam contextos e, sobretudo, que se espere pelos momentos certos. E este, meus amigos compatriotas, está longe de o ser. Portugal está nos oitavos de final depois de ter garantido o primeiro lugar do grupo em apenas 180 minutos.

Discuta-se a qualidade dos rivais e o respetivo grau de dificuldade, mas nunca a verdade dos factos. Os objetivos iniciais foram cumpridos.

E, confesso, entristece-me esta nossa sensibilidade extrema para assuntos negativos. Gostamos genuinamente de cada frincha de oportunidade para nos lamuriarmos, como se dessa revolta irracional dependesse o dia seguinte, sempre melhor do que o anterior.

O que eu gostaria de ter visto, por exemplo, em Gelsenkirchen, era uma enormíssima ovação quando Rosa Mota apareceu nos ecrãs do estádio para dirigir uma mensagem à seleção e aos portugueses. Passou – totalmente! - despercebida junto dos adeptos lusitanos, ao contrário da reação efusiva da bancada georgiana quando um dos seus heróis desportivos – Illia Topuria, campeão do UFC – surgiu em vídeo.

Mas, como disse, a culpa não mora apenas de um dos lados. O selecionador nacional e a equipa não podem passar incólumes por esta tempestade desnecessária. É preciso conhecer o povo, amigos. Representar Portugal implica que se entenda as idiossincrasias das nossas gentes, para o bem e para o mal.

Por isso, e num torneio tão curto em que o estado de graça é decisivo, foi uma asneira de Martínez levar este último jogo para o campo das probabilidades. Havia o risco de correr mal, como correu, e de isso levantar as ondas que levantou.

Por outras palavras, caro Roberto: havia mesmo necessidade?

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