
Central do Timão
·04 de julho de 2025
Zé Elias critica perda de identificação no futebol moderno e diz que jogadores devem se preocupar apenas com o campo

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·04 de julho de 2025
O ex-volante e ídolo do Corinthians, Zé Elias, falou sobre as transformações do futebol e da postura dos jogadores nas últimas décadas. O comentarista abordou a perda do sentimento de pertencimento e o que enxerga como o fim do tradicional “amor à camisa” no futebol atual.
“Quando eu era amador no Corinthians, no juvenil, o meu salário era o equivalente a uma semana de ônibus. Eu tinha que jogar futsal para ter dinheiro para pagar passagem. Vivia de uma coxinha e um refrigerante. Cresci nessa dificuldade. Hoje, os meninos são mapeados por times do exterior e empresários com dez anos. As famílias são sustentadas por empresários.”
Foto: redes sociais
“As dificuldades que me formaram como ser humano, esses meninos muitas vezes não passam. Com a Lei Pelé, é possível fazer contrato de gaveta. O garoto chega ao profissional já ganhando R$ 30 ou R$ 40 mil. Se o clube não oferece isso, a multa rescisória fica baixa. Eles já chegam com essa mentalidade”, afirmou ao portal Meu Timão.
Zé Elias ainda ressaltou a mudança de ambição entre as gerações, destacando que, enquanto sua geração sonhava em jogar no clube do coração, os jovens de hoje miram diretamente no mercado europeu.
“Quando eu era pequeno, queria jogar no Corinthians. Hoje, se você pergunta para um menino da base, ele responde: ‘quero jogar no Real Madrid, no Barcelona…’. Isso nem é culpa deles. A globalização e a internet trouxeram informações e acesso a campeonatos que antes não tínhamos. Esses meninos, quando chegam ao profissional, encaram como trampolim para chegarem onde querem. Falta sentimento. Existe o lado profissional: ‘Se eu jogar aqui, beleza. Se não jogar, jogo em outro lugar’”, completou.
Além do aspecto emocional, o ex-volante também criticou os altos valores envolvidos no futebol atual.
“É o mundo que o futebol se tornou. Um negócio absurdamente gigante em termos financeiros. Um treinador não pode ganhar R$ 2,5 milhões. É fora da realidade. Um jogador também não pode ganhar R$ 2 milhões. O salário mínimo é R$ 1.500. Como você vai pagar R$ 2,5 milhões para um jogador?”, questionou.
Ao ser perguntado sobre o envolvimento de atletas com a política interna dos clubes, Zé Elias foi enfático ao dizer que isso não deve ser uma preocupação dos jogadores.
“Vai muito da cabeça do jogador. Eu, particularmente, não ficaria pensando muito na política do clube. Tem uma máxima dentro do vestiário: ‘O jogador passa, o dirigente passa, o treinador passa, e o clube fica’. O Matheuzinho e o Garro não vão ser eternos no Corinthians. Qual é a função deles? Jogar futebol, não pensar em política. Talvez o máximo que devam se perguntar é: ‘Com isso, será que meu salário vai cair?’. Eles não precisam pensar em outra coisa. Matheuzinho e Garro não são políticos, são jogadores. A preocupação que entendo como válida no vestiário é premiação. As preocupações do jogador devem ser: salário e desempenho dentro de campo. Mais nada.”
“Eles não têm o que fazer politicamente no clube. Não têm influência nenhuma em relação a isso, até porque são blindados. Não estão no dia a dia da política, não sentam na mesa do presidente para ver se vai pagar a merenda ou a luz. A função deles é jogar bola”, finalizou.
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