Trivela
·01 de dezembro de 2022
In partnership with
Yahoo sportsTrivela
·01 de dezembro de 2022
A Austrália foi uma das surpresas até aqui na Copa, mesmo sem exercer um futebol vistoso, mas porque arrancou uma classificação baseada em um estilo bastante australiano: defesa forte, muita determinação e, claro, um ou outro contra-ataque que encaixe. Um dos responsáveis pela defesa tão firme que a Austrália teve foi Harry Souttar, um zagueiro que está longe da classe e qualidade de Thiago Silva ou Dayot Upamecano, mas ele tem qualidades que o fariam ser descrito por Vanderlei Luxemburgo como zagueiro-zagueiro, uma entidade mística do futebol brasileiro: joga duro, simples e sem erros. Algo que tem sido fundamental para os Socceroos avançarem, após vitória sobre a Dinamarca por 1 a 0.
A atuação de Souttar contra a Tunísia e depois contra a Dinamarca chamaram a atenção. Contra os tunisianos, ele foi impecável pelo alto, por baixo, fez bloqueios, fez até aqueles cortes sendo o último jogador da linha defensiva, salvando um companheiro que se enrolou com a bola e entregou chance nos pés do adversário. Souttar corrigiu, e sem nem fazer falta. Contra a Dinamarca, com bons jogadores ofensivos, Souttar afastou a bola nove vezes, bloqueou um chute, interceptou dois passes e fez um desarme. Mais uma vez, foi impecável.
Souttar nasceu em Aberdeen, na Escócia, e começou a carreira por lá, no Dundee United. Jogou nas categorias de base da seleção escocesa antes de mudar para a seleção australiana, com a qual tem ligação pela sua mãe, que é australiana. Só passou a ser jogador australiano a partir de 2019, quando aceitou a convocação e passou a disputar as Eliminatórias. Também jogou a Olimpíada de Tóquio pelos Socceroos, como contamos no Guia da Copa.
Com 1,98 metro, foram os escoceses que começaram a chamá-lo de Superman. E a sua participação na Copa ficou sob sério risco, porque o jogo contra a Dinamarca é apenas o quarto desde que voltou de uma grave lesão no ligamento cruzado. Pelo que vimos no Catar, ele não só está recuperado fisicamente da lesão: ele está pronto para atuar em um nível acima. Algo, aliás, que deve render um bom dinheiro ao seu clube atual, o Stoke City, que defende desde 2016.
Aos 24 anos, Souttar já chamava a atenção pelo estilo, digamos, clássico de um zagueiro-zagueiro. Clubes da Premier League já o monitoravam, mas o Stoke estabeleceu um preço de £ 30 milhões pelo zagueiro, o que afastou os interessados. Seu desempenho na Copa talvez faça os endinheirados clubes da primeira divisão inglesa desembolsarem essa grana.
O segredo de Souttar nesta Copa foi algo que nem sempre é muito valorizado: a simplicidade. Ele não é um zagueiro que fará um lançamento de 30 metros, como Upamecano. Não terá a classe para dominar uma bola difícil pressionado por atacantes, como Thiago Silva. Mas ele é limpo nos seus desarmes, mesmo sendo sempre duro. Ele simplesmente faz o trabalho primário de um defensor com qualidade.
Pode não ser suficiente para os superclubes europeus atuais, em que os defensores – e até o goleiro – precisam participar da construção do jogo. Para a Austrália, que precisa, antes de qualquer coisa, defender ferozmente, ele é muito útil. Ele se tornou um colosso na defesa não só porque é um gigante de quase dois metros, mas porque ele tem se posicionado bem, tem desarmado de forma limpa e tem sido duro como precisa – e como se espera de um zagueiro do seu tamanho.
A campanha da Austrália ficará marcada na história do futebol australiano, mesmo que acabe, como é esperado, contra a Argentina, nas oitavas de final. Um dos grandes destaques será, sem dúvida, Harry Souttar. A Austrália espera que o zagueiro, que ainda é jovem, possa atuar por muitos anos pela seleção, quem sabe para disputar outras Copas do Mundo. Até lá, é muito possível que vejamos o jogador subir de divisão e deixar o Storke City, na Championship, a segundona inglesa, e migrar para um time de Premier League.