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·24 de dezembro de 2020

Xenofobia é gritante no país do futebol; entenda o caso

Imagem do artigo:Xenofobia é gritante no país do futebol; entenda o caso

Todos sabemos que o futebol é um dos esportes mais amados do mundo, principalmente por nós. Não é a toa que o Brasil ficou conhecido mundialmente como país do futebol, tanto é que desenvolvemos um estilo próprio de jogar com fluidez, gingado e muita habilidade com a bola nos pés. Dessa forma, também revelamos Pelé – o Rei do Futebol, que é reverenciado internacionalmente. Ao passo que desde criança vivemos um clima de festa às vésperas de uma Copa do Mundo. É algo diferenciado, típico do nosso país, onde todos independente de classe social se reúnem para pintar e enfeitar as ruas de verde e amarelo.

Partindo desse princípio, assim como o amor pelo futebol e as festas para acompanhar jogos da seleção já fazem parte da cultura brasileira. O esporte acaba indiretamente refletindo comportamentos e problemas estruturais da nossa sociedade.


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Haja visto que em pleno o século XXI, ainda nos deparamos com situações em que o racismo é praticado com jogadores e em alguns casos com próprios torcedores. Os exemplos são os mais variados e infelizmente corriqueiros em vários países. A homofobia também acaba sendo um problema muito presente no futebol e que atualmente as entidades esportivas juntamente com os clubes travam uma luta para colocar um ponto final.

Entretanto, existe uma outra forma de preconceito no futebol brasileiro que é pouco abordado, trata-se do chamado preconceito regional, em outras palavras, a xenofobia. Mas o que isso significa? De acordo com o dicionário, xenofobia é o medo, aversão, a desconfiança em relação a pessoas que vêm de fora do seu país. Mas no caso que abordaremos, o preconceito tem como foco clubes de outras regiões.

Cobertura insuficiente

Um exemplo claro disso é quando assistimos um programa esportivo, onde apenas doze times (São Paulo, Corinthians, Santos, Palmeiras, Atlético-MG, Cruzeiro, Flamengo, Fluminense, Vasco, Botafogo, Internacional e Grêmio), ganham maior destaque. Enquanto outros que são de fora do eixo Sul-Sudeste são rapidamente citados e ás vezes nem isso. Dessa forma, principalmente os times do norte e nordeste acabam sendo os mais afetados.

O Campeonato Brasileiro Série A é uma das competições mais complexas do mundo composto por 20 equipes que disputam entre si, o prêmio do melhor futebol do país. Desses times, quatro são do nordeste (Bahia, Ceará, Fortaleza e Sport) e duas do centro-oeste (Atlético-GO e Goiás). Além disso, temos Athletico Paranaense e Coritiba, que assim como os outros citados não tem tanta visibilidade nacional.

Desvalorização de clubes nordestinos

A princípio, a desvalorização indireta desses times se dá pelo preconceito enraizado na sociedade, a mania de achar que o futebol do Sul-Sudeste é superior ao de outras localidades do país. Mas não são só os times que enfrentam esse dilema, muitos atletas e técnicos só são valorizados após saírem de seus clubes nordestinos e migrarem para os chamados ‘clubes de elite’.

Contudo, alguns veículos da mídia esportiva acabam por reforçar esse preconceito de forma velada, seja por descuido ou por esquecimento, ignoram as equipes do nordeste e dão ênfase aos do eixo. Recentemente, vimos isso no sorteio da Sul-Americana, onde tinham Vasco, São Paulo e Bahia. No entanto, só os dois clubes do Sudeste ganharam espaço na chamada de um portal, enquanto o Tricolor baiano foi citado brevemente no corpo da matéria. Outra vez, foi o anúncio do duelo entre São Paulo e Fortaleza pela Copa do Brasil, Na época, o técnico do Tricolor de Pici era o Rogério Ceni e curiosamente no título da matéria em questão, enfatizou o nome da equipe paulista e do técnico do Leão, ignorando totalmente o nome do Fortaleza.

Caso recente no Brasileirão

No último domingo (20), no jogo polêmico de Flamengo x Bahia, no estádio do Maracanã. Em partida válida pela 26° do Campeonato Brasileiro. O Brasil se separou com denúncias de racismo que laudos de leitura labial não conseguiram comprovar. Mas os mesmos laudos encontraram um ato de xenofobia contra o atacante colombiano Juan Ramírez, praticado pelo atleta do Flamengo, Bruno Henrique. Dessa forma, no vídeo é possível notar que o Rubro-Negro chama o camisa 11 de ‘gringo de merda'.

O fato é um crime descrito em nosso código penal e devemos que não é algo isolado. Isso porque supostamente em jogo recente contra o Athletico Paranaense, um jogador do Furacão de “Paraibano de merda“. Entretanto, tal fato não pode ser comprovado já que não teve tanto apelo por parte da mídia esportiva.

Opinião dos torcedores

Nós do portal ‘Futebol na Veia' fomos atrás dos torcedores para saber a opinião deles em relação a esses deslizes por parte da imprensa esportiva. Logo não poderia ser diferente, muitos se mostram indignados e não compreendem esse ‘desprezo’, como é possível conferir nos relatos abaixo:

“A forma de tratamento da imprensa esportiva brasileira com o futebol nordestino desnuda um pacote que vai da não referência à referência pejorativa; da sonegação de qualquer virtude evidente à rotulação como clubes meramente produtores de matéria prima (jogadores de qualidade e baratos) a serviço do futebol do Eixo. É aquilo: os clubes nordestinos, quando não são solenemente ignorados pela “grande mídia” (há honrosas exceções), são referidos na posição de coadjuvantes, seja quando ganham, porque aí só se fala essencialmente de quem perdeu, seja quando perdem, porque aí só se fala essencialmente de quem ganhou. E quando há erros de arbitragem então… a gente já sabe: a repercussão na grande mídia varia de acordo com o CEP.”

R.B – Torcedor do Bahia

“Fator geográfico e alcance midiático, os maiores conglomerados de comunicação do país estão na região Sudeste e vão promover os times desta região, porém além de promover, destrata os de outras regiões, o preconceito com o futebol nordestino é apenas uma faceta da desigualdade de tratamento entre os ricos e os mais pobres. Eu vejo isso com mais frequência em todas as mídias, porém com diferentes graus de desigualdade. Por isso que eu senti a morte de Maradona e achava foda e justíssima a idolatria dele em Napoli, os caras tiveram Maradona NO AUGE, e ele decidiu jogar numa região pobre e vítima de preconceito como é o Sul da Itália, que as questões de desigualdade econômica e preconceito regional são os mesmos e o futebol é um espelho disso”.

F.S – Torcedor do EC Vitória

“O ciclo onde a mídia fomentou o aumento das torcida dos clubes de massa criando o publico que consome seus produtos e ao msm tempo justificando o maior espaço dado a eles é algo que hoje ocupa quase todo o espaço da mídia. Em resumo é o como se o debate esportivo perdesse espaço pra resenha do clube lá, aquele que tem mais torcida. É mais interessante pra alguns editores ter uma noticia qqr desses times do que mostrar o futebol que realmente aconteceu nos outros jogos da rodada. E olha, antes que vcs me acusem de clubismo direcionado, preciso compartilhar do q acontece aqui no RN: O GE local cometia o descaramento de não passar os gols dos times do interior, sim senhores, como o publico maior é composto pelos times da capital, os do interior são alojados de uma cobertura decente. E assim funciona no maior grau tbm, sendo os clubes do nordeste atualmente vitimas dessa segregação que tem tudo a ver com marketing e pouco com a valorização da esportividade. É obvio que dá pra conviver com a realidade que vc é um marginal, mas é intragável observar que esse processo é injusto e não contempla o louvor do melhor e sim a bajulaçao do fanfarrão”.

A.J – Torcedor do Vasco

“Como torcedora de um clube do eixo Sul-Sudeste, lamento muito ver o desprezo que a mídia e alguns torcedores tratam os clubes, os técnicos e jogadores do nordeste. Não dá pra dizer que seja maldade, mas não dá também pra menosprezar a importância deles para o futebol brasileiro, assim como não dá pra apagar os títulos conquistados por eles. Muitos jogadores que foram criticados ao serem anunciados por atuarem no nordeste, calaram os críticos assim foi com Marinho, Zé Rafael, Thiago Galhardo, entre outros. Um exemplo nordestino, é Daniel Alves, revelado no Bahia e que se tornou um dos atletas mais reconhecidos mundialmente na atualidade. Espero que um dia as pessoas tenham consciência que ninguém é melhor que ninguém”.

D.A – Torcedora do São Paulo

Não é frescura e nem mimimi

Segundo o código penal brasileiro a Lei 9459, de 13 de maio de 1997 , são considerados como crimes  ofensas “resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional”. Assim sendo, a partir do momento que uma situação passa a integrar o código penal, ou seja, ela deixa de ser frescura e passa a ser uma regra em que todos devem respeitar. E só quem sente esse preconceito na pele, pode dimensionar o quanto dói e o tanto que incomoda essa exclusão. Afinal de contas, somos todos iguais e todos merecem respeito, independente de cor, gênero ou origem.

Contudo, a vítima de xenofobia deve denunciar. De acordo com a advogada Vera Gers, especializada em regulamentação migratória, orienta como a vítima deve proceder nessas situações em busca de ajuda.

“Todo ato de xenofobia, seja verbal, gestual ou discriminatório deve ser denunciado. O primeiro passo é procurar uma delegacia para que seja emitido um Boletim de Ocorrência (BO). Posteriormente o caso será encaminhado para as delegacias especializadas em crimes de discriminação. Além da notificação, o número de denúncias contribui para que o Estado e o Poder Público possam implementar políticas públicas. Depois do BO, o migrante pode recorrer a órgãos públicos, como o CRAI (Centro de Referência e Atendimento para Imigrantes) ou a instituições da sociedade civil”.

Lembrando que no Disque 100, também é possível que pessoa denuncie diversas violações de direitos humanos, inclusive a xenofobia.

O intuito da matéria é propor uma reflexão das pessoas sobre o assunto, já que não adianta nada pagar de defensor nas redes sociais e na vida fora da telinha do computador/smartphone não colocar em prática as palavras escritas.

Foto Destaque: Divulgação

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