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·25 de setembro de 2022

Você vai a Guayaquil?

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O cidadão perguntou: você iria a Guayaquil ver a decisão da Libertadores? Expliquei, curiosamente, que o meu problema não é o dinheiro, mas algum ceticismo, e principalmente a limitação. Minha mãe tem 96 anos de idade, já atingiu um estado de demência irreversível, embora ainda tenha a consciência da necessidade da presença efetiva do filho, que toma sozinho todas as decisões e banca todas as despesas.

A minha ausência, pois mais curta que seja, faz dela uma pessoa paranoica. E se mal posso sair de casa, imagine deixar o país para uma viagem de pelo menos quatro dias rumo a Guayaquil. E vivendo momentos de distância, por exemplo, de um simples celular, que será um objeto inútil em lugares sem o sinal. Em resumo, a possibilidade de presenciar o jogo é absolutamente impraticável.


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Com a ideia de preservar jogadores, Dorival abandonou o Brasileiro. Bola fora –  Gilvan de Souza/Flamengo,

No entanto, caso houvesse plena liberdade, e o suficiente para um mínimo de conforto na aventura, esse que vos escreve não tomaria o avião rumo ao Equador. A outra razão para não fazê-lo, ainda não mencionada, e isso dito por experiência própria, é que não há nada de fantástico por lá. Mas a principal delas é a quase certeza de que o Flamengo voltou a caminhar pela estrada de 2021. Ou seja: caso não tenha mudança na postura, as decepções serão enormes. Ficou evidente que a estratégia é a de preservar os principais jogadores. Assim, abandonou o Brasileiro quando ainda havia possibilidades reais de conquistá-lo. Enfim deixou o time – com titulares, reservas ou mix – enfraquecido, apresentando atuações abaixo da média, e pior, desperdiçando pontos em sequência, inclusive diante de adversários inferiores sob o ponto de vista técnico. Como ocorreu no ano passado.

Preservar não é uma boa

Com essa preservação lamentável, o atleta relaxa mais do que deve. Perde um mínimo de condição física, e ainda acaba mantendo distância da concentração nos compromissos decisivos. E se não bastasse, há a maldição das convocações para seleções nacionais. Elas desgastam consideravelmente os jogadores, com viagens e partidas totalmente desnecessárias. Além disso, causam aos atletas efeitos prejudiciais ao clube. De alguma forma, e de olho na Copa do Mundo, vão criar ansiedade e evitar riscos que possam deixá-los de fora do torneio. Curiosamente, não basta apenas fugir do choque, mas sofrer algum tipo de contusão mesmo sem contato com o adversário. No futebol é assim.

Vale lembrar que jogador de futebol não é máquina, e que não precisa permanecer 24 horas focado na competição. Mas mantê-lo alheio em excesso também é péssimo. Se vocês não lembram, ou não sabem, logo após a fase de classificação do Mundial de 1974, o técnico Helmut Schön deu folga de dois dias aos seus comandados. Liberou os atletas, inclusive, para proezas sexuais. O que não atrapalhou a sequência do torneio, tanto que a Alemanha (ainda Ocidental) conquistou a Jules Rimet, derrotando na decisão a poderosa Holanda de Johann Crujff.

Mude a postura rumo a Guayaquil, Dorival

Curioso, o comportamento de Dorival Júnior, e do próprio Flamengo, é claro, em relação ao fim de ano. Conseguiu milagrosamente resgatar, guardadas as devidas proporções, o período mágico de 2019-20. Mas, embora técnico experiente, ex-jogador, cismou de obedecer a essas recomendações de teóricos que infestam o futebol de hoje. E  pior, dispensou a oportunidade efetiva de ganhar pela nona vez o Brasileiro. Como se fosse essa uma daquelas competições de verão que costumam abrir as temporadas.

Quem escreve aqui não é uma viúva inconsolável de Jorge Jesus, que infelizmente deixou o Flamengo pela porta dos fundos, atrás dos euros do Benfica. Mas é fato que o técnico português ganhava porque ignorava preservação de jogadores. Poupar é pontual. Se o médico avisa que alguém no elenco pode, por exemplo, estourar o músculo, é interessante deixá-lo de fora. Caso contrário, é ridículo encostar atletas que têm entre 20 e 30 anos de idade, toda uma infraestrutura a favor, e que ganham milhões, recebendo salários e prêmios em dia.

Ainda há tempo para o Flamengo mudar a postura, até porque até o fim de outubro estará livre da maldição das seleções, pelo menos da praga das convocações. Se houver correção no roteiro, o filme do clube poderá até, quem sabe, brilhar no cinema. Caso contrário, Flamengo e torcedores passarão mais uma vez vergonha na Copa do Brasil e farão um turismo mixuruca em Guayaquil.

A propósito, mesmo que tivesse liberdade para ir e vir, e que o clube modificasse a sua estratégia suicida, meu ceticismo, repito, prosseguiria. Pois esse não é, definitivamente, o Flamengo do período 2019-20. Ele não existe mais. E se nem aquele time conseguiu ser campeão mundial, não é esse que brigará por esse título.

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