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·12 de junho de 2024

Vice do Corinthians conta à Polícia que alertou Augusto Melo sobre “laranja” antes de vazamento

Imagem do artigo:Vice do Corinthians conta à Polícia que alertou Augusto Melo sobre “laranja” antes de vazamento

Armando Mendonça, segundo vice-presidente do Corinthians, prestou depoimento à Polícia Civil do Estado de São Paulo nesta terça-feira. No depoimento, ao qual a Gazeta Esportiva teve acesso, o dirigente diz que alertou o presidente Augusto Melo sobre a movimentação financeira suspeita entre a Rede Social Media Design Ltda, empresa intermediária do acordo com a VaideBet, e a Neoway Soluções Integradas, grupo considerado de fachada, que está no nome de Edna Oliveira dos Santos, mulher residente de Peruíbe que foi usada como “laranja”.

Armando contou que se reuniu com Augusto Melo no dia 8 de maio para falar sobre o tema e aconselhá-lo a tomar algumas providências, como paralisar os pagamentos à Rede Social Media Design Ltda, pedir imediata apuração policial e afastar Sergio Moura (ex-superintendente de marketing) e Marcelo Mariano (diretor administrativo). A ideia do vice-presidente era que o mandatário tomasse ações antes do caso se tornar público e a gestão ser acusada de omissão.


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O vice comentou que, mesmo passando as informações para Augusto, o presidente “preferiu, naquela oportunidade, não seguir com nenhuma das minhas sugestões e recomendações”, já que Augusto entendia que esse era um problema exclusivo da empresa intermediária, e não do clube. O caso foi exposto pelo jornalista Juca Kfouri no dia 20 de maio e caiu como uma “bomba” no Parque São Jorge.

Embora o Corinthians seja considerado uma “potencial vítima” pela Delegacia de Crimes Financeiros do Departamento de Polícia de Proteção à Cidadania (DPPC) neste momento das investigações, caso seja comprovado que uma eventual omissão de Augusto Mello causou prejuízo considerável ao patrimônio ou à imagem do clube, poderia surgir a possibilidade até mesmo de um pedido de impeachment.

De acordo com o inciso 2º do artigo 106 do estatuto do Corinthians, entre os motivos para requerer a destituição dos administradores (Presidente da Diretoria ou de seus Vice-Presidentes), está “ter ele acarretado, por ação ou omissão, prejuízo considerável ao patrimônio ou à imagem do Corinthians”.

Armando também relatou que conversou com Sergio Moura no dia 9 de maio. O vice-presidente questionou Moura a respeito de sua relação com Alex Cassundé, sócio-administrador da Rede Social Media Design Ltda e peça na equipe de campanha de Augusto Melo durante período eleitoral do clube, e contou ao profissional as informações que teve acesso.

Nas palavras de Armando, Sergio disse que conhece Cassundé de longa data, mas que “infelizmente achava que não tinha nenhuma troca de mensagens e ou contato” com a empresa intermediadora no período em que o acordo foi firmado entre as partes, no começo do ano. Além disso, o ex-superintendente teria se exaltado quando o vice-presidente confirmou que falou com Augusto Melo sobre o caso.

Veja depoimento completo de Armando Mendonça:

No dia (08.05.2024) estive na sala do Presidente Augusto Melo no Parque São Jorge. Relatei que havia recebido informações que entendia gravíssimas e que o presidente do SCCP, como mandatário responsável pelo clube, deveria tomar imediatas providências, antes que tais informações se tornassem públicas e a gestão fosse acusada de omissão por parte da oposição, imprensa e parceiros comerciais. Expliquei que fui procurado por um jornalista que havia me passado informações e estava apurando-as e queria saber se eu tinha alguma posição. Disse que não, mas iria apurar internamente. Disse-me que aguardaria para divulgá-la por alguns dias, mas que a matéria seria de qualquer forma divulgada.

Por conta disso, já no dia 08.05.2024, informei ao presidente da diretoria do SCCP que a empresa intermediadora do nosso patrocínio Master à época – Vai de Bet – Rede Social Media – de sócio Alex Cassundé, havia recebido dois valores de grande monta – R$ 700.000,00 cada, em um total de R$ 1.400.000,00, em um intervalo de apenas três dias (no mês de março de 2024). E que, ao recebimento desses valores essa empresa, segundo o jornalista, havia desviado quase sua totalidade do valor para uma empresa fantasma – de uma “laranja”. E que isso era de se causar estranheza e muita preocupação, sendo que o clube deveria interromper imediatamente qualquer pagamento para a empresa Rede Social Media (contrato permitia isso) e pedir imediata apuração pela autoridade policial, uma vez que o clube não poderia compactuar com uma empresa que recebeu dinheiro do Corinthians e estaria “abastecendo” outra considerada “fantasma” , ou seja, transformando um dinheiro licito em ilícito.

Ainda, informei para o Presidente da diretoria do SCCP que, diante da informação obtida e que depois fui averiguar a sua veracidade com o respectivo diretor financeiro, não via com bons olhos, pois entendia ser um ato de má gestão o fato do diretor administrativo Marcelo Mariano se aproveitar da ausência do diretor financeiro responsável à época Rozallah Santoro, para pedir que o funcionário do clube subordinado ao diretor financeiro, fizesse o pagamento de duas notas fiscais de R$ 700.000,00 cada, para essa empresa Intermediadora – Rede Social Media, sob a frágil justificativa de que referida empresa havia emitido essas notas fiscais e recolhido os impostos decorrentes delas. Ora, expliquei que entendia que a função de qualquer diretor do clube primeiro e principalmente é de se preocupar com o pagamento de fornecedores e prestadores que prestam e / ou prestaram serviços diretos para o clube e que estavam com seus pagamentos atrasados, como, por exemplo: assessoria jurídica, empresa de limpeza, segurança, dentre outros, em vez de se preocupar com o fato da empresa intermediadora ter recolhido, em tese, o imposto das notas fiscais. Ainda, posteriormente, cabe esclarecer, que foi solicitado para o Marcelo Mariano que exigisse tais comprovantes do recolhimento dos impostos para o Alex Cassundé e até hoje não tenho conhecimento se tal providência foi tomada. Confesso que não achei usual a preocupação do Marcelo Mariano.

Outro ponto que manifestei preocupação para o presidente da diretoria, na mesma reunião, era o fato de que a imprensa havia divulgado e não tinha sido negado pelo Superintendente de Marketing do SCCP, Sérgio Moura, a relação de amizade, de trabalho e até mesmo a contratação por ele para nossa campanha do Sr. Alex Cassundé, sócio da empresa intermediária Rede Social. E, que isso, soaria politicamente de forma negativa para a nossa gestão, diante dos fatos então narrados para o presidente, sem fazer nenhum juízo de valor sobre culpa ou dolo.

Diante desse quadro, sugeri também para o Presidente da diretoria do SCCP que utilizasse das boas práticas adotadas pelas empresas nos casos de investigações e apurações, e iniciasse imediatamente procedimento interno de averiguação, além daquele recomendado (pedido de instauração de inquérito policial e imediata suspensão de pagamentos para a empresa intermediadora) com o afastamento de todos os envolvidos (respeitando sempre a presunção de inocência) para demonstrar a lisura das investigações. Assim, o presidente estaria protegido de qualquer ataque de opositores, pois agiríamos com rapidez em prol do clube, transparência e dentro do que recomendam as empresas que fazem trabalhos de investigação.

Dito tudo isso para o presidente, ele preferiu, naquela oportunidade, não seguir com nenhuma das minhas sugestões e recomendações – nem paralisação de pagamentos, nem pedido de instauração de inquérito policial e nem apuração interna com o afastamento dos citados (Sergio Moura e Marcelo Mariano), com a alegação de que essa questão (eventual repasse para empresa de “laranja”) era problema exclusivo da empresa intermediadora Rede Social e não do SCCP. Não via o clube como vitima. Ainda, disse que a Rede Social fazia o que quisesse com o dinheiro e que só afastaria qualquer pessoa com a prova de corrupção. Afirmou que sequer lembrava da cara de Alex Cassundé e só esteve, se me recordo, com ele uma única vez na época da campanha. Eu, mais uma vez, expliquei que o Corinthians precisaria se posicionar imediatamente pois o clube não poderia pagar para empresa que eventualmente estaria cometendo um ato ilícito e repeti que não era a questão de culpar ou acusar de corrupção qualquer dirigente do clube, mas sim que o Corinthians não poderia ficar inerte tendo conhecimento dos fatos narrados e deveria adotar o que um procedimento investigatório sugere (tanto é verdade que só depois da repercussão negativa decorrente da matéria jornalística, foi contratada a renomada empresa EY que sugeriu o afastamento dos envolvidos, sugestão também adotada pelos então renomados diretores jurídicos da época e não aceito pelo Presidente do SCCP – afastamento do Marcelo Mariano e Sergio Moura, o que inclusive culminou no pedido de renúncia dos cargos).

Já no dia 09.05.2024, quinta-feira, foi ter uma simples conversa com Sergio Moura que era o responsável pelo departamento e poderia aclarar dúvidas que eu tinha. Ainda, pelo relacionamento que era publicado na imprensa entre Alex Cassundé e Sérgio Moura, tive o cuidado de perguntar se era verdade da relação que a imprensa divulgava entre ele e o sócio da empresa Rede Social. Ele confirmou, mas disse que não eram amigos íntimos, de frequentar residência, mas se conheciam de longa data, de trabalhos e que inclusive contratou o Alex para fazer trabalho na campanha. Ainda aproveitei para perguntar se existia qualquer troca de mensagens, mesmo que de WhatsApp, contrato etc. com a empresa desse Alex na época do fechamento e negociação da intermediação que pudesse de vez por toda por fim a toda especulação envolvendo o intermediário e assim o clube teria tranquilidade para ser administrado. Ele me disse que infelizmente achava que não tinha nenhuma troca de mensagens e ou contrato.

Então, expliquei toda a história para o para o Sérgio Moura que me foi passado pelo jornalista e apenas pedi que avisasse seu “suposto amigo” (Alex Cassundé) a não emitir mais nenhuma outra nota fiscal contra o Corinthians. Quando eu disse isso, Sergio Moura falou que não era problema dele. Perguntou se eu havia comentado isso com o presidente Augusto Melo, eu disse que claro que sim, momento em que ficou exaltado, contrariado e começou a falar da vida dele. Eu, mais uma vez, repeti que estava apenas preocupado com o clube e que precisava resolver urgentemente essa questão. Não acusei ninguém de absolutamente nada. Terminamos a conversa e fomos embora do clube.

Depois disso, passados mais de 15 dias do contato do Juca Kfouri comigo, sem nenhuma providência do clube, o jornalista, então, no dia 20.05.2024, publicou sua matéria de conhecimento de todos.

Somente depois da reportagem do jornalista e da repercussão, no mesmo dia, 20.05.2024, o SCCP divulgou uma nota oficial dizendo que não guardava nenhuma responsabilidade sobre eventuais repasses financeiros a terceiros, o que respeitosamente, embora não tenha sido consultado, não concordei com tal posicionamento.

Somente depois da repercussão na mídia, o presidente do SCCP tomou algumas das providencias, sendo mesmo com a minha sugestão e até mesmo do antigo diretor jurídico, preferiu não afastar nenhum dos envolvidos para a lisura da investigação.

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