Trivela
·22 de maio de 2022
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·22 de maio de 2022
O Campeonato Inglês possui temporadas memoráveis, grandes desfechos, campeões eternos. A rodada final de 2021/22, por todos os elementos, entra para a história como uma das maiores da competição. Se a corrida entre Manchester City e Liverpool garantiu emoções inesgotáveis nos últimos meses, o domingo que concluiu a campanha ofereceu um épico de verdade. E com o City campeão, como já se desenhava, mas apenas depois de um drama imenso, que valoriza a campanha do time de Pep Guardiola. É o quarto título em cinco anos, o oitavo da história, mas num grau de loucura e ranger de dentes que só se aproxima daquele milagre de 2011/12.
Para quem pensava que a experiência do Manchester City ajudaria em uma vitória tranquila sobre o Aston Villa, isso não aconteceu. Pilhados, os celestes acumulavam erros e expunham a jugular. Tomaram dois gols em pleno Estádio Etihad e tinham pouco mais de 20 minutos para buscar a virada no segundo tempo. Enquanto isso, o Liverpool só dependia de si. Começou perdendo para o Wolverhampton, mas empatou e se mostrava pronto à virada. Em Anfield, a torcida comemorava os tentos dos Villans, gritava os nomes de Gerrard e Coutinho.
O milagre do City veio quando o time parecia desmoronar, depois dos 30 do segundo tempo. Os jogadores que vieram do banco fizeram a diferença. Zinchenko, Rodri, Sterling, De Bruyne e principalmente Gündogan surgiram como heróis. Em pouco mais de oito minutos, os Citizens conseguiram três gols. Viraram por 3 a 2, venceram o campeonato por um ponto de diferença e provocaram uma apoteose que até pareceu distante em certos momentos. O Liverpool venceu depois, anotando 3 a 1 no Wolverhampton, mas esta é uma nota de rodapé. A memória definitiva de um domingo fantástico de futebol é recontada pelos mancunianos, num reviravolta de arrepiar.
(Michael Regan/Getty Images/One Football)
O Liverpool começava a rodada sem Mohamed Salah e Virgil van Dijk. Ambos voltavam de lesão e ficaram apenas no banco. Entretanto, Jürgen Klopp retomava a equipe titular poupada contra o Southampton. O trio de frente tinha Sadio Mané, Diogo Jota e Luis Díaz. O Manchester City, em sua partida, contava com a inclusão de Fernandinho na zaga, em sua despedida do clube, com John Stones de lateral. O meio incluía Rodri, Kevin de Bruyne e Bernardo Silva. Já na frente, os escolhidos foram Riyad Mahrez, Phil Foden e Gabriel Jesus.
Para quem via os dois jogos simultâneos, os olhares de início de concentraram em Anfield. O Liverpool contava com uma atmosfera pulsante de sua torcida, mas sofreu um baque logo aos três minutos. Num contra-ataque iniciado pelo goleiro José Sá, Raúl Jiménez cruzou para Pedro Neto abrir o placar. Os Reds demoraram a entrar nos prumos e a realmente pressionar. Com o passar dos minutos, a pressão aumentou e as chances se tornaram sucessivas – apesar de contragolpes dos Lobos. O empate dos anfitriões parecia próximo, até realmente acontecer aos 24 minutos. Thiago Alcântara, excepcional nesta reta decisiva da temporada, deu um lindo passe de letra e Sadio Mané invadiu a área para fuzilar.
Enquanto isso, o Manchester City não entrou com o sangue nos olhos que muita gente esperava. Os celestes tinham amplo domínio no Estádio Etihad, mas o Aston Villa conseguia lances pontuais e Fernandinho precisou intervir num cruzamento para Coutinho. O volume de jogo do City não se convertia em tantas chances de gol. Mesmo que Emi Martínez ganhasse um descanso, Robin Olsen demorou a ser incomodado na meta dos Villans. Os melhores lances dos Citizens se resumiam a chutes para fora, sobretudo um arremate de Phil Foden desviado aos 24. Essa falta de contundência até parecia elevar um pouco mais as tensões.
O Aston Villa fazia um papel bastante digno. Defendia-se com competência, equilibrava alguns momentos do jogo e até cera fazia. Tinha os elementos para provocar um baque, o que aconteceu aos 37, num período em que o Manchester City se mostrava mais aceso. O gol surgiu num avanço pela esquerda, com Lucas Digne. O cruzamento saiu na medida e Matty Cash desferiu a cabeçada fatal. O tento no Estádio Etihad renderia uma calorosa comemoração a dezenas de quilômetros dali, assim que a notícia chegou a Anfield. O nome de Steven Gerrard seria gritado pelos velhos fãs.
O Liverpool ainda precisava vencer para ser campeão, porém. E um lembrete disso veio quando o Wolverhampton quase marcou o segundo, aos 39, numa defesaça de Alisson. Apesar do susto, os Reds pareciam melhores para buscar a virada. O Manchester City, afinal, derretia no final do primeiro tempo. Os celestes cometiam erro atrás de erro e chamavam o Aston Villa para o seu campo. Ollie Watkins faria a torcida mancuniana prender a respiração algumas vezes. Enquanto isso, os esboços de um empate demoraram a surgir. A defesa do Villa cortava todas e, no máximo, Olsen fez defesa segura em cabeçada de Aymeric Laporte.
(OLI SCARFF/AFP via Getty Images/One Football)
Os problemas físicos que tanto preocuparam o Liverpool nos últimos dias voltaram a dar as caras em Anfield. Thiago Alcântara precisou ser substituído no intervalo, por James Milner. O Wolverhampton também precisou trocar o goleiro, com John Ruddy na vaga de José Sá. Não foi a mudança que abalou os Reds, na pressão desde os primeiros minutos. As redes voltaram a balançar aos cinco, numa troca de passes que permitiu novo tento de Mané. Porém, o senegalês estava ligeiramente impedido e o empate continuava.
O Manchester City também voltou mais agressivo para o segundo tempo, com Oleksandr Zinchenko no lugar de Fernandinho – em errática despedida do clube. Fato é que os celestes cresceram: sitiavam os arredores da área do Aston Villa e encurralavam os visitantes. As chances surgiam, principalmente a Gabriel Jesus. O atacante, todavia, não aproveitou uma bola de ouro que chegou aos seis minutos. Dentro da área, o brasileiro pegou mal de direita e isolou. O erro parecia custar caro pela situação e pelos riscos. Do outro lado, Watkins voltou a aparecer aos dez. Saiu na frente de Ederson e desperdiçou um lance cristalino para ampliar aos Villans.
Aos 13, Mohamed Salah entrou em campo no lugar de Jota. A partida era um monólogo do Liverpool, que só dependia da vitória neste momento. Ruddy fez uma boa defesa em batida de longe de Trent Alexander-Arnold, com Salah mandando por cima o rebote. Já aos 23, Salah escapou num contragolpe e seria travado no limite por Willy Boly. O que alguns jogadores provavelmente não entenderam é que, em questão de segundos, a torcida começou a comemorar. A implosão do Manchester City, paralelamente, seguia em curso. O Aston Villa ampliou, e com gol de um velho conhecido dos Reds.
Pouco antes do segundo gol do Aston Villa, o Manchester City escancarava seu desacerto mental. Era um controle de jogo inócuo, que pouco produzia contra uma defesa sólida. Os Villans continuavam tendo as chances mais concretas na mínima brecha. Raheem Sterling e Ilkay Gündogan saíram do banco, o que não necessariamente gerava resultados. E, exatamente aos 23, o Villa ampliou. O gol nasceu numa reposição longa de Olsen. Watkins deu uma casquina no alto e a bola chegou a Coutinho na entrada da área. O craque limpou para o chute e mandou no cantinho, no contrapé de Alisson. O grito daquele gol reverberava na Inglaterra inteira.
O Liverpool não estava imune ao nervosismo. O time ainda precisava fazer a sua parte e começava a tomar certa pressão do Wolverhampton. Alisson voltaria a aparecer aos 26, desviando com a ponta dos dedos um chute de Hwang. Os Lobos emendavam bons ataques e o Liverpool não aproveitava a brecha na tabela. Se os jogadores recebiam as notícias, aliás, elas não eram boas. O City ressurgia das cinzas e conseguia um empate imediato no Estádio Etihad, com apenas dois minutos. O drama aumentava, o épico se desenhava.
(Michael Regan/Getty Images/One Football)
Foden e De Bruyne mandaram para fora, pouco depois do gol de Coutinho. A reação do Manchester City começou aos 31, e com grande participação dos substitutos. O primeiro gol dos celestes veio numa grande jogada de Sterling na direita, em cruzamento para Gündogan concluir de cabeça. Já aos 33, saiu o empate. Zinchenko fez uma jogadaça pela esquerda e rolou para trás. Encontrou Rodri, que conectou um chute cirúrgico da entrada da área. Nesse momento, eram as chances de título do Liverpool que derretiam. O campeão, enfim, estava presente em campo no Estádio Etihad. Um time do milagre, como aquele de dez anos atrás.
A reviravolta no placar do Etihad também não demorou. O gol do título. O herói da tarde se chamava Gündogan. E sem menosprezar o auxílio do melhor do campeonato, De Bruyne. A virada do Manchester City se concretizou aos 37. De Bruyne ganhou uma disputa na entrada da área e arrancou para a linha de fundo. O cruzamento saiu mascado, imperfeito. Gündogan estava atento para surgir na pequena área e meter o pé. Para balançar as redes e provocar uma explosão no Estádio Etihad. A taça voltava a ficar nas mãos. Ainda assim, tinha jogo pela frente. Os corações precisavam ser fortes.
O Liverpool demorou para conseguir o gol da virada, seu segundo, o gol que minutos antes garantiria o título. Ele veio aos 39, a partir do escanteio. Foi necessário tentar duas vezes, com a cabeçada de Joël Matip salva em cima da linha, até que Salah mandasse para dentro. Porém, os Reds dependiam de um empate do Aston Villa longe dali, de qualquer maneira. Pouco depois, Anfield até comemorou efusivamente. Não passava de um alarme falso, já que o placar permanecia inalterado no Estádio Etihad. E a confirmação da vitória dos Reds veio com o terceiro gol, aos 44, num passe de Roberto Firmino para trás que Andy Robertson completou para as redes. Já não adiantava mais nada.
Neste momento, a Inglaterra inteira olhava para o Estádio Etihad. Só um gol do Aston Villa poderia mudar a história do campeonato. Os Villans não abriam mão da chance de estragar a festa e partiam para cima. Entretanto, o espírito de luta estava presente no Manchester City. Os celestes estavam bem mais inteiros nas divididas, bem mais conscientes da situação, bem mais calmos sem a pressão toda sobre as costas. Nos minutos finais, os mancunianos teriam sua dose de cera. Quando o apito final veio, uma apoteose tomou conta do Etihad. A Premier League era celeste novamente, no maior dos dramas deste atual ciclo vitorioso – e, por isso, talvez o título mais saboroso com Pep Guardiola.
(OLI SCARFF/AFP via Getty Images/One Football)
O Estádio Etihad, como tinha que ser num domingo desses, abrigou uma massiva invasão da torcida. Os mancunianos celebravam os jogadores, em especial Gündogan, o protagonista definitivo desse feito. Já uma imagem fortíssima era a de Guardiola às lágrimas. Depois de semanas difíceis, em especial pela queda na Champions, o treinador podia desafogar. Enquanto isso, em Anfield, os abraços eram de consolo por uma luta que escapou no fim. O desafio de Jürgen Klopp é recuperar o moral antes que o Real Madrid apareça no horizonte.
O Manchester City fecha a campanha com 93 pontos, contra 92 do Liverpool. O campeonato de novo contou com uma corrida histórica e em alto nível. Desta vez, com uma rodada final que grava em letras douradas tudo o que se viveu. Por mais que os Citizens sintam o gosto do título repetidamente nos últimos anos, esse tipo de explosão é única. A taça de 2021/22 é memorável graças a isso.
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