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·18 de maio de 2022

Trapp experimentou a megalomania de Paris, mas é de volta à vibração de Frankfurt que se torna gigante

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O futebol europeu tantas vezes parece se fechar em pequenos círculos. Os clubes mais poderosos concentram talentos, como se não houvesse nada além deles. E não é problema um bom jogador ambicionar seu espaço numa equipe midiática, embora seja importante também entender que o sucesso no futebol não se resume a disputar os mata-matas da Champions e dominar sua monotemática liga nacional. Kevin Trapp aprendeu isso por experiência própria. O goleiro teve a chance de defender o Paris Saint-Germain, não se firmou e ampliou a lista de talentos queimados num clube estagnado por sua megalomania. Quando deixou o Parc des Princes, o camisa 1 ganhou a chance de ser ídolo novamente num clube menos estelar, mas até mais tradicional e com torcida apaixonada. Se pudesse voltar no tempo, Trapp talvez nem trocasse o Eintracht Frankfurt. E o que alcançou nesta quarta-feira é bem maior do que provavelmente teria conseguido se ficasse no PSG. O arqueiro decidiu um título de Liga Europa para as Águias. Vira um herói continental para nunca mais ser esquecido por seus torcedores.

O Eintracht Frankfurt já representava um passo além da carreira de Trapp. O goleiro surgiu nas categorias de base do Kaiserslautern e despontou cedo nas seleções menores da Alemanha. Quando virou titular dos Diabos Vermelhos, não conseguiu evitar o rebaixamento na Bundesliga 2011/12. No entanto, seu talento se tornava mais conhecido na primeira divisão alemã e ele não precisaria disputar a segundona. O Frankfurt, recém-promovido, apostava no jovem de 22 anos para ser o seu novo titular. Seria o herdeiro de Ola Nikolov, um dos grandes ídolos das Águias, que defendeu a equipe principal por 18 temporadas e se despediu da torcida exatamente em 2012/13.


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Trapp seria importante num processo de reconstrução do Frankfurt. Ajudou o time a se restabelecer na elite e logo de cara se classificar para a Liga Europa, após sete anos longe das competições continentais. O goleiro se firmou entre os melhores da Bundesliga, eleito o melhor do campeonato em 2012/13, e também ganhou as primeiras chances na seleção. Foram três temporadas em alto nível com as Águias, virando até capitão. Quando o PSG bateu em sua porta, aos 25 anos, o alemão decidiu não recusar. Mudou-se a Paris e tentaria se firmar numa posição que não tinha um nome tão impactante desde o início do projeto catariano, com Salvatore Sirigu sob as traves.

A passagem de Trapp pelo PSG não foi boa. O goleiro não transmitia tanta segurança e parecia estar ali mais pela “grife alemã” do que necessariamente para se colocar entre os melhores do mundo. A megalomania também o queimava, quando se pedia outro arqueiro mais renomado. Em meio à sanha por grandeza dos parisienses, levar só o Francesão não bastou. O alemão já passou a se alternar com Alphonse Aréola em sua segunda temporada e mal entrou em campo na terceira. Ao menos, garantiu seu lugar como reserva na Copa do Mundo de 2018, mas tal convocação era garantida mais por confiança de Joachim Löw do que por seu trabalho na Ligue 1. O que vale mais, ser reserva no luxo ou poder brilhar num nível mais baixo, mas bem mais caloroso? Trapp escolheu a segunda opção e voltou à Alemanha logo após o Mundial.

O Eintracht Frankfurt tinha as portas abertas ao seu antigo capitão, mas Trapp também precisou reconquistar a confiança – a sua e também daqueles que acompanharam seus maus bocados em Paris. O arqueiro retomou a titularidade, a segurança e também a boa forma. Passou a liderar o Frankfurt em seu franco crescimento sob as ordens de Adi Hütter, com boas campanhas na Bundesliga e o sucesso nas copas. Substituto de Lukas Hradecky, o alemão não participou da conquista da Pokal, mas foi um dos personagens principais na caminhada até as semifinais da Liga Europa de 2018/19. Se aquilo foi incrível, o melhor estava por vir.

Trapp é um dos melhores goleiros da Bundesliga, indiscutivelmente. Não precisa ser um Manuel Neuer para ser respeitado no país e considerado, hoje, como uma justa convocação nas listas da seleção. Não comete muitos erros, transmite firmeza aos seus companheiros, tem bons fundamentos e opera seus milagres com certa constância. Dentro da liga, essas virtudes permitem que as Águias se mantenham na parte de cima da tabela. Já na Liga Europa, se tornaram chave para uma campanha fantástica do Frankfurt. O título é o prêmio mais digno por aquilo que a equipe fez durante a caminhada, especialmente nos mata-matas.

O Eintracht Frankfurt bateu Betis, Barcelona e West Ham para chegar à decisão. Trapp era sempre um dos pontos focais de uma equipe sem tantos nomes tarimbados. Era uma estrela, muito mais por sua idolatria no Deutsche Bank Park do que por aquela malfadada passagem pelo PSG. Seria assim também na decisão contra o Rangers. E o resultado final mostra bastante a diferença que o camisa 1 faz. A conquista só foi possível pela defesa milagrosa que Trapp operou no fim da prorrogação, à queima-roupa e com o gol aberto. Já na disputa por pênaltis, nem precisou de grande arrojo para rebater o tiro de Aaron Ramsey. Foi o suficiente para que o Frankfurt celebrasse a reconquista da Europa após 42 anos.

O Eintracht Frankfurt possui uma lista de goleiros célebres: Egon Loy, Peter Kunter, Jürgen Pahl, Uli Stein, Ola Nikolov, Lukas Hradecky. Não são necessariamente conhecidos do grande público, mas permanecem respeitados pelos torcedores das Águias. Trapp excede todos eles por sua história na seleção. Agora, também atinge um novo nível pelo heroísmo num torneio continental. O camisa 1 certamente imagina o que poderia atingir se ele desse certo no PSG e, também, se o projeto do PSG desse certo. O Frankfurt, em contraposição, oferece outros tipos de certeza. É por lá que seu nome será eterno, com uma taça bem mais rara de se conseguir, e por isso tão saborosa.

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