Calciopédia
·13 de janeiro de 2020
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No início dos anos 1990, a Dinamarca estava em voga no cenário do futebol mundial. É que, em 1992, a seleção dinamarquesa, comandada por Peter Schmeichel e Brian Laudrup – Michael Laudrup não quis participar do torneio –, surpreendeu ao conquistar a Eurocopa, batendo a Holanda nas semifinais e a Alemanha na decisão. Depois do título, o fato de a Dinamáquina não ter se classificado para a Copa de 1994 também acabou surpreendendo e levou a uma renovação do elenco nórdico. Entre as promessas que se juntaram ao grupo, destacava-se um defensor que acabara de ser contratado pela Udinese: Thomas Helveg.
Helveg começou sua carreira como jogador no OB, time da cidade de Odense. O lateral-direito atuou pelos listrados por cinco temporadas e meia, vencendo duas Copas da Dinamarca e a primeira divisão local. Seu desempenho o levou à seleção olímpica dinamarquesa, com a qual disputou a Olimpíada de 1992, e também às competições europeias de clubes. Na primeira fase da Recopa Uefa de 1993-94, o OB foi eliminado pelo Arsenal – que se sagraria campeão numa final contra o Parma – e Helveg teve a missão de marcar o experiente Ian Wright. O jovem de 23 anos conseguiu incomodar o atacante inglês e recebeu elogios.
Em evidência, Helveg recebeu algumas propostas e resolveu trocar o OB pela Udinese. Curiosamente, o lateral – que era um dos mais ilustres jogadores da equipe – deixou o time de Odense um ano antes da grande façanha dos listrados. Em 1994-95, o OB eliminaria o Real Madrid e chegaria às quartas de final da Copa Uefa. Foi eliminado pelo Parma, que ficaria com o título.
Helveg chegou à Udinese no meio da temporada italiana, em novembro de 1993. O dinamarquês teve de encarar uma situação nada agradável, já que os bianconeri brigavam na parte de baixo da tabela. Mesmo ganhando espaço no time titular, com 22 apresentações em pouco mais de seis meses e dois gols marcados, Thomas não conseguiu evitar o rebaixamento dos friulanos à Serie B. Recentemente, o ex-jogador contou à uma rádio italiana a enorme diferença para o futebol dinamarquês para o italiano.
“O salto foi enorme. Primeiro porque na Itália não era permitido haver tantos estrangeiros em campo. Na Udinese, eu disputava a posição com dois poloneses (o defensor Marek Koźmiński e o meia Dariusz Adamczuk) e era uma luta entre nós. Mas era uma nova realidade. Estar no campeonato mais importante do mundo não foi uma escolha fácil para mim. Eu me via jogando na Alemanha, Holanda ou Inglaterra, mas não na Itália. Me dediquei e tive a sorte de encontrar meu espaço no time. Fiz um ano na Serie B e subimos. Isso me fez crescer como homem e como jogador”, declarou o ex-jogador.
Apesar da queda da Udinese, 1994 foi um ano positivo para Helveg. Ele estreou na seleção nacional e logo ganhou a titularidade na renovação promovida pelos nórdicos. Tal afirmação no grupo da Dinamarca e o espaço obtido num clube italiano o levaram a conquistar o prêmio de melhor jogador dinamarquês daquele ano.
A estadia da Udinese – e de Helveg – na Serie B foi bem curta. Afinal, a equipe comandada por Giovanni Galeone fez boa campanha e, vice-campeã, conseguiu o acesso imediato à elite. O treinador acabou rumando ao Perugia e deu lugar a Alberto Zaccheroni, que estrearia na primeira divisão após campanhas surpreendentes nas categorias inferiores, com Venezia e Cosenza. Trabalhar com o técnico romanholo mudaria a carreira do lateral dinamarquês.
Absoluto na lateral ou na ala direita no esquema mutável de Zac, Helveg ajudou a Udinese a passar longe do rebaixamento em seu retorno à elite: a equipe terminou com a 10ª posição e incomodou os grandes. Em 1996-97, logo após disputar sua primeira Euro pela Dinamarca, Thomas contribuiu muito para que o time de Údine encantasse a Itália e, com o quinto lugar na Serie A, se classificasse à Copa Uefa. Helveg era uma grande válvula de escape e vetor de assistências para o poderoso ataque bianconero, que contava com Amoroso, Oliver Bierhoff e Paolo Poggi.
Para a disputa da temporada 1997-98, Helveg ganhou a companhia do compatriota Martin Jorgensen, com quem ocasionalmente fazia dobradinha pelo flanco direito. A parceria funcionou e ajudou a Udinese a deslanchar no campeonato, embalada pelo artilheiro Bierhoff, que marcava muitos gols de cabeça. O time comandado por Zaccheroni foi o terceiro colocado no Italiano e obteve a melhor posição de sua história na competição – repetida em 2011-12.
A dupla dinamarquesa da Udinese, não à toa, foi chamada pelo técnico Bo Johansson e embarcou para a França, onde ocorreria a Copa do Mundo de 1998. Em seu primeiro mundial, Helveg foi titular absoluto da Dinamarca, que acabou eliminada pelo Brasil nas quartas de final. Thomas anotou um de seus dois gols pela seleção no Mundial: nas oitavas, contra a Nigéria, foi o autor de um dos tentos que determinou a vitória europeia por 4 a 1.
Pouco antes da Copa, Helveg já havia aceitado uma proposta do Milan. Os rossoneri haviam acertado com Zaccheroni e o técnico pedira a contratação de dois de seus bruxinhos: além de Thomas, o Diavolo levaria Bierhoff a Milanello. O acordo pela transferência fez do defensor o jogador dinamarquês mais caro da época, com valor de venda equivalente a 6 milhões de libras esterlinas.
Titular absoluto do time de Zaccheroni, seja como lateral-direito no 4-4-2 ou ala destro no 3-4-3, Helveg faturou o seu primeiro – e único – scudetto ao final da temporada, dando um título ao Milan após três anos de jejum. O dinamarquês continuou sendo utilizado com frequência pelo clube até 2000-01, quando o técnico foi demitido por não conseguir manter uma sequência de resultados satisfatórios após o título.
Em novembro de 2000, na verdade, Helveg já havia sido vendido à Inter, numa troca que envolveu o marfinense Cyril Domoraud. Contudo, o time nerazzurro o manteve emprestado ao rival por três temporadas e meia. A partir de 2001-02, o dinamarquês começou a perder espaço progressivamente: em 2002-03, por exemplo, atuou em apenas 17 partidas, sendo sete delas na Coppa Italia, competição vencida pelo Milan. Thomas também acabou se sagrando campeão da Uefa Champions League, visto que atuou duas vezes na campanha rubro-negra.
A verdade é que Helveg já passava dos 30 anos e caminhava para a descendente do ponto de vista físico. Mesmo assim, a sorte lhe sorria. A mesma sorte que parecia ter desaparecido de seu caminho até na seleção, visto que não havia feito uma boa Euro 2000 e, por conta de uma lesão, fizera apenas duas partidas na Copa de 2002, a última que disputaria. Em 2003, porém, Thomas acabou se transferindo para a Inter.
No lado azul e preto de Milão, Helveg recuperou o bom futebol e até a forma física, chegando a atuar também como lateral-esquerdo por Héctor Cúper. O argentino, porém, foi demitido após a sexta rodada da Serie A e Thomas acabou recebendo uma grande notícia: o substituto do ex-comandante seria Zaccheroni.
Havia grandes expectativas sobre aquela Inter, uma vez que o time contava com nomes como Christian Vieri, Álvaro Recoba, Javier Zanetti, Fabio Cannavaro, Iván Córdoba, Francesco Toldo e, a partir de janeiro de 2004, com Adriano e Dejan Stankovic. Os problemas de relacionamento com Cúper atrapalharam a equipe e Zaccheroni tentou colocar a situação nos eixos, mas foi capaz apenas de fazer o time terminar a temporada de maneira minimamente aceitável. “Tínhamos um grupo unido, que trabalhava muito, mas também situações que deixavam o clima tenso”, confidenciou Helveg. Naquela campanha, o dinamarquês teve 32 aparições.
Como Zaccheroni não permaneceria na Inter e os dirigentes nerazzurri também não lhe procuraram para renovar o contrato, Helveg encerrou sua passagem pela Itália após a Euro 2004. O lateral se aventurou no futebol inglês e vestiu a camisa do Norwich, que acabara de ser promovido à primeira divisão. Os canários viam em Thomas a classe e experiência necessárias para comandar o time, mas o dinamarquês não conseguiu reproduzir o bom futebol dos tempos de Serie A na Premier League. Perseguido por lesões, perdeu muitos jogos e viu seu time ser rebaixado ao final da temporada.
Helveg deixou o Norwich em 2005 e se transferiu para o Borussia Mönchengladbach, onde fracassou de forma veemente: em uma temporada e meia, fez apenas 15 jogos pelos Fohlen, o que lhe fez sair do radar da seleção dinamarquesa, então comandada por Morten Olsen. Dessa forma, rescindiu seu contrato em comum acordo com o clube e retornou à casa, já com o objetivo de encerrar a carreira no OB. Thomas ficou mais três anos no clube de Odense, venceu sua terceira Copa da Dinamarca e disputou sua última partida como profissional em dezembro de 2010, aos 39 anos.
Aposentado do futebol, Thomas Helveg atuou como auxiliar do OB entre 2011 e 2013. Desde 2015, o ex-lateral é membro do conselho administrativo do Roskilde, clube da segunda divisão dinamarquesa.
Thomas Lund Helveg Nascimento: 24 de junho de 1971, em Odense, Dinamarca Posição: lateral-direito Clubes como jogador: OB (1989-94 e 2007-10), Udinese (1993-98), Milan (1998-2003), Inter (2003-04), Norwich (2004-05) e Mönchengaldbach (2005-07) Títulos conquistados: Campeonato Dinamarquês (1989), Copa da Dinamarca (1991, 1993 e 2007), Serie A (1999), Coppa Italia (2003) e Uefa Champions League (2003) Seleção dinamarquesa: 108 jogos e 2 gols