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·03 de março de 2020

Sorte no clube, azar na seleção: a história de Francesco Janich

Imagem do artigo:Sorte no clube, azar na seleção: a história de Francesco Janich

Quando discutimos sobre a carreira de um jogador, é comum mencionarmos a convocação para a seleção nacional como um grande mérito e até o ápice na sua jornada dentro dos gramados. De forma insólita, no caso de Francesco Janich, ocorreu exatamente o contrário.

Nascido em Údine, Janich chegou à Atalanta em 1956 para disputar a Serie A, depois de uma rápida passagem nas categorias de base em times da região em que se criou. Sempre jogando como líbero e com boas atuações, o friulano rumou à Lazio após dois anos na Dea. Na capital, Franco conquistou seu primeiro título: uma Coppa Italia já aos 21 anos de idade. Era a primeira copa disputada no país desde o fim da II Guerra Mundial.


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Janich jogou na capital italiana por três temporadas, sendo titular absoluto dos biancocelestes e chamando a atenção dos grandes clubes da época. O defensor escolheu se transferir para o Bologna, que era uma das potências do país, e lá viveu sua melhor fase como jogador, além de seus momentos mais desafortunados pela seleção italiana.

Depois de uma bela temporada de estreia no time emiliano, o defensor foi chamado para jogar o Mundial de 1962, mesmo sem jogar ao menos um amistoso antes do torneio. Sua partida de estreia com a camisa azzurra foi na famigerada Batalha de Santiago, uma partida violentíssima entre os donos da casa e a Itália, que envolveu expulsões, pontapés, socos, muito sangue, e terminou com uma derrota de 2 a 0 para os sul-americanos. O resultado eliminou os europeus, que terminaram o duelo com nove em campo, da competição.

Titular incontestável dos rossoblù, Franco Janich era apelidado de “armário” (L’Armadio), em virtude de seu porte físico. O corpulento zagueiro participou da memorável conquista do último scudetto do Bologna, em 1964, junto de estrelas como Giacomo Bulgarelli e Harald Nielsen. Sobre o time treinado por Fulvio Bernardini havia uma máxima: daquela forma se jogava apenas no paraíso, de tão bonito que os felsinei faziam.

Em alta, Janich viveu um ciclo parecido com o da Copa de 1962. Foi convocado para a de 1966, desta vez por Edmondo Fabbri, jogando desta vez três amistosos e uma partida das eliminatórias da Eurocopa no espaço de quatro anos. Também atuou em uma só partida do Mundial – e que partida.

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O líbero friulano realmente era desventurado no que tangia a representar seu país na Copa do Mundo. Janich entrou em campo na partida contra a Coreia do Norte, em uma derrota vexatória de 1 a 0 para um time que tecnicamente era incomparável a Itália. Curiosamente, Franco foi o único que atuou tanto na Batalha de Santiago quanto no vexame contra os norte-coreanos.

O trauma profundo significou mais uma eliminação para a então bicampeã mundial e a derradeira participação de Janich pelo escrete azzurro. “Se eu fui dos melhores em campo naquele jogo, só poderíamos perder mesmo”, brincava o zagueiro. Devido à mudança no comando da seleção – Fabbri deu lugar a Ferruccio Valcareggi – e ao fracasso na Inglaterra, o grupo italiano foi revolucionado e os jogadores mais voluntariosos, como Janich, acabaram perdendo espaço.

Depois de 1966, beirando os 30 anos de idade, Franco viu sua carreira começar a entrar em um leve declínio. Ele ainda era titular na defesa do Bologna, mas com menos participações por temporada. Janich participou do título da Coppa Italia de 1970 e encerrou seu ciclo de onze temporadas na Emília-Romanha com 376 partidas. Atualmente, é o oitavo no ranking de partidas disputadas pelo clube.

Janich ainda jogou uma temporada pelo Lucchese, da Toscana, antes de se aposentar, aos 36 anos, sem gols marcados e expulsões na carreira. Por um lado, Franco é o atleta que mais partidas atuou na Serie A sem balançar as redes (425); por outro, sua disciplina em campo lhe rendeu inclusive um prêmio em 1970. Ele era um jogador exemplar, distinto não apenas pelo porte físico, mas também pelo comportamento.

Depois de sua aposentadoria nos gramados, Janich foi dirigente de Napoli, Como, Lazio e Bari até o final dos anos 1980. Após este período, abriu uma agência de olheiros na qual trabalhou até os 70 anos, quando se aposentou de vez do futebol e foi morar numa casa próxima ao Lago de Nemi, a cerca de 30 quilômetros de Roma. Lá, criava gatos e cachorros – entre os quais, alguns com nomes de ex-jogadores, como Cafu, Gullit e João Paulo.

Francesco Janich faleceu em dezembro de 2019, aos 82 anos. Simbolicamente, após sua cremação, seus filhos colocaram um pouco da grama do estádio Renato Dall’Ara junto de suas cinzas, para representar o amor que o ex-jogador tinha pelo clube.

Francesco Janich Nascimento: 26 de março de 1937, em Údine, Itália Falecimento: 2 de dezembro de 2019, em Nemi, Itália Posição: líbero Clubes: Atalanta (1956-58), Lazio (1958-61), Bologna (1961-72), Lucchese (1972-73) Títulos conquistados: Coppa Italia (1958 e 1970), Serie A (1964) e Copa Mitropa (1961) Seleção italiana: 6 jogos

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