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·02 de janeiro de 2020

Sérgio Sette Câmara: herança obscura, austeridade, erros e qualificação de departamentos importantes

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Já se vão dois anos da gestão Sette Câmara à frente do Atlético. Da entrevista inicial, da qual ficou a marca da “austeridade”, até os últimos pronunciamentos, a relação entre presidente e torcida é bastante conflituosa. Os erros esconderam os acertos e as frequentes críticas deram pouco espaço aos elogios. Neste último ano do mandato – e possível reeleição –, há esperança de que os acertos sejam maiores e os resultados comecem a aparecer.

O novo eleito à presidência do Galo tinha uma herança maldita. Na gestão do Clube, dívidas, receitas antecipadas, cobranças, riscos de punição, receitas em queda. No futebol, um time que fracassou no Campeonato Brasileiro e não conseguiu vaga para Taça Libertadores de 2018, mesmo contando com atletas consagrados. O fracasso esportivo teria consequências importantes nas finanças, já que participar da principal competição de futebol na América do Sul gera receitas de bilheteria, premiação e exposição da marca. Porém, a situação de calamidade não pode ser tratada como “desculpa” para o que vinha pela frente: como conselheiro e integrante da gestão do Atlético há muitos anos, o Presidente não apenas deveria conhecer profundamente a condição do Clube como tem parcela de responsabilidade, ao menos no papel fiscalizador que deveria exercer como conselheiro.

A primeira entrevista e as primeiras medidas davam mostra do que viria pela frente: o controle das contas seria rigoroso. A prioridade seria o pagamento das dívidas, especialmente as que já levavam a condenações na FIFA e traziam o risco de punições. Não haveria grandes contratações e a primeira leva de atletas contratados veio por empréstimo ou estavam sem vínculos. Muitas apostas e, como qualquer aposta, poucas trouxeram resultados positivos. Logo de início, a saída do centroavante Fred, que se transferiu ao maior rival, gerou muitas polêmicas, críticas e questionamentos. O tempo, “senhor da razão”, mostrou um grande acerto ao liberar o atleta e uma jogada de mestre ao levar o caso para a Câmara de Arbitragem – instância muito mais ágil para solução da disputa.

No campo esportivo, os dois anos da gestão Sette Câmara foram de surpresas. A expectativa para 2018 era das piores e terminou com uma vaga à Copa Libertadores. Já 2019 trazia maiores esperanças e termina com um desempenho pífio. As trocas de treinadores permanecem (desde a gestão anterior) uma constante. Profissionais com perfis bastante distintos mostram que falta clareza quanto ao objetivo para o Clube e ao modelo de jogo a ser adotado. Com isso, convivemos com ex-treinadores em atividade e estagiários. Demonstração inequívoca da falta de clareza quanto ao que buscam para o futebol.

A gestão do futebol foi entregue ao sr. Alexandre Gallo. Com toda a história que possuía no futebol, mostrou-se sem competência suficiente para assumir um time com o tamanho, a história, os problemas e as exigências do Atlético. Tomou muitas decisões equivocadas até deixar o cargo.

Rui Costa assumiu a diretoria de futebol em abril de 2019. O novo diretor chegou como “bombeiro” para controlar o momento conturbado que o time passava. Chegou com um currículo vasto e com imagem de competência. Chegou trazendo muitas expectativas e, em pouco tempo, cobranças – parte delas, injustas. Enquanto a torcida esperava medidas enérgicas, contratações e saídas de jogadores e mudanças profundas no departamento de futebol, o diretor teve postura tão calma e paciente que chegou a tirar a nossa paciência. Mesmo reconhecendo que o elenco é desequilibrado e tem peças sem qualidade para vestir o manto Alvinegro, em um clube financeiramente combalido, o diretor tinha pouco a fazer para rescindir contratos em vigor (isso tem custo), seja para novas contratações (que também tem custo). Nas poucas contratações, um erro grosseiro: o Clube precisava de contratações para jogarem imediatamente. Ao buscar estrangeiros, não considerou que os atletas precisariam de tempo para adaptação. Mas cabe uma ressalva ao trabalho do diretor: o Atlético deixou de contratar o lateral Felipe Jonathan e, posteriormente, investiu valor superior em Lucas Hernández. Crítica justa, mas endereçada à pessoa errada pois Rui Costa não estava no Atlético quando da negociação com o lateral cearense. Ou seja, essa conta é do presidente. O final de 2019 mostra o começo da reestruturação do elenco profissional do Atlético, com várias saídas (Elias, Geuvânio, Luan, Léo Silva…) e a aposta em algumas promessas da base.

Por sinal, as categorias de base tiveram uma contratação muito mais ativa: o diretor da base, Júnior Chávare, fez uma verdadeira revolução, com dezenas de dispensas e contratações de jogadores. Fez uma profunda mudança nas categorias de base, ampliou a captação de atletas e investiu em empréstimos com opção de compra. Alguns jogadores se destacaram e estarão no grupo profissional em 2020.

Enfim, na base ou no profissional, as mudanças precisam de tempo para que os resultados sejam avaliados. A base teve alterações mais intensas e os resultados podem surgir mais cedo. Já o profissional convive com contratos e valores mais significativos, e maiores restrições para mudanças radicais. De qualquer maneira, Rui Costa e Júnior Chávare tiveram seu tempo para adaptação e planejamento para atuar de forma mais incisiva a partir de 2020 e serão cobrados por isso.

Fora de campo ficaram as maiores e mais importantes mudanças no Atlético – e os maiores acertos do presidente Sette Câmara. Muitas substituições e muitas contratações de profissionais bastante qualificados para diversos cargos-chave no Clube. Sem estardalhaço, aos poucos o Atlético vai sendo profissionalizado. Além da qualificação dos profissionais do quadro interno, também foram firmadas “parcerias” importantes para análise de dados e comportamento do “consumidor” (torcedor), para oferta de experiências de consumo, para gestão integrada e, ao final de 2019, para o planejamento estratégico. Foram firmados contratos com empresas de referência em suas áreas, como SAP e EY.

Há evolução significativa em várias áreas: foram firmados acordos ou realizados pagamentos de várias dívidas que se arrastavam há anos; não se fala mais em antecipação de receitas (até porque nem deve ter o que antecipar); custos operacionais estão melhor controlados; e as despesas financeiras estão sendo reduzidas. Mais importante, o Atlético vem recuperando sua credibilidade no mercado. Nada disso aparece ou chama atenção da maior parte da torcida. Assim como um político acha que investir em obras de saneamento não gera voto porque não aparece, investir em organização administrativa não faz o torcedor gritar o nome do Presidente. O torcedor quer títulos, mas a tragédia do outro lado da Lagoa já fez muitos torcedores mudarem de opinião e reconhecerem a importância do que o atual presidente vem fazendo no Atlético.

Se há muito a elogiar, ainda há pontos a melhorar. A relação com a torcida pode ser bastante aprimorada. Já se fala em mudanças no GNV e elas precisam ser profundas – atualmente, o programa oferece pouco ao torcedor – e não estamos falando em ingresso. O acesso a produtos e serviços do Clube também merece ser melhorado. E, principalmente, é preciso ter mais transparência e clareza com relação ao que acontece no Atlético. Tanto o balanço quanto o orçamento são obscuros, não há publicação de balancetes mensais, não se sabe a real situação da instituição. A relação torcida-presidente seria muito mais fácil, amena e amigável se houvesse franqueza e transparência.

Em 2020, ainda teremos muitas dificuldades. São décadas de gestão amadora e não se resolve em pouco tempo. A caminhada é longa. Mas, se o presente ainda é nebuloso, o futuro parece promissor, com a Arena MRV, equilíbrio nas contas, organização administrativa. Até lá, precisa de muito trabalho, persistência e paciência. Enquanto isso, continuamos entre alegrias e tristezas, elogios e críticas, tapas e beijos.

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