Senad Lulic e o 26 de maio de 2013: um guia para se tornar imortal na Cidade Eterna | OneFootball

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·04 de agosto de 2022

Senad Lulic e o 26 de maio de 2013: um guia para se tornar imortal na Cidade Eterna

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Em 2011, Senad Lulic, então com 25 anos, chegou à Itália para reforçar a Lazio. Naquele momento, quem em sã consciência apostaria que o pouco conhecido ala esquerdo, proveniente do futebol suíço, poderia se tornar um ícone biancoceleste? Simplesmente era improvável demais. No entanto, o bósnio atropelou a lógica. Já no início de sua passagem de uma década pela equipe, marcou um gol que resultou em título sobre a Roma, arquirrival citadina. Com crédito de sobra, ainda se tornaria capitão dos aquilotti.

Nascido em Mostar, capital da Herzegovina, nos tempos em que a cidade ainda pertencia à antiga Iugoslávia, Senad viveu parte de sua infância em Jablanica, também na Bósnia. No entanto, a guerra em seu país natal, na década de 1990, forçou que a família Lulic fugisse para a Suíça. Nos Alpes, então, ele iniciou a sua história no futebol: em 1998, ingressou nas categorias de base do recém-fundado Chur 97.


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Lulic passou oito anos no clube, entre os juvenis (1998-2003) e os profissionais (2003-2006). O bósnio disputou a terceira divisão helvética pelo Chur e, na sequência, se transferiu para o Bellinzona, time situado em um cantão cuja língua predominante é o italiano. Por lá, Senad começou a arranhar o idioma em que viria a ser fluente e disputou a segundona por duas temporadas, se destacando a ponto de chamar a atenção do Grasshopper, o maior campeão do futebol suíço.

Em trajetória ascendente, Lulic teve dois anos muito prolíficos pelo clube de Zurique e mais um pelo Young Boys, de Berna. Jogando como ala ou ponta pela esquerda, apesar de destro, balançou as redes 19 vezes em 97 aparições e se consolidou como um dos maiores prospectos em atuação na Suíça. Além disso, passou a ser convocado pela seleção da Bósnia e Herzegovina, na qual estreou em junho de 2008, em vitória por 1 a 0 num amistoso com o Azerbaijão.

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Em seu segundo ano de Lazio, Lulic marcou o gol solitário na final da Coppa Italia, contra a Roma (Getty)

Na janela de transferências do verão europeu de 2011, Lulic deu o grande salto da carreira e acertou com a Lazio por 3,25 milhões de euros. A partir daí, a história da lenda laziale começou a ser escrita. Em sua temporada de estreia pelos capitolinos, Senad foi rapidamente alçado à condição de titular da equipe de Edoardo Reja, se tornando o dono do flanco esquerdo biancoceleste – como lateral ou ala. O bósnio somou 39 aparições ao longo de 2011-12, marcando quatro gols e fornecendo seis assistências. No fim das contas, ajudou o time a conquistar um honroso quarto lugar na Serie A.

Desde o seu início no clube italiano, Lulic demonstrou o que sempre lhe caracterizaria como jogador: a vitalidade que o fazia dominar a cancha esquerda. Não à toa, ganhou diversos apelidos que remetiam a seus arranques e sua resistência: Speedy, Duracell, Filho do Vento, Locomotiva. Todas estas alcunhas foram associadas ao bósnio em seus tempos de Lazio.

Na temporada seguinte, 2012-13, Lulic reencontrou o técnico Vladimir Petkovic, com quem dividia parte da história de vida e de trabalho: ambos nasceram na Bósnia, mas cresceram na Suíça; o comandante ainda foi seu treinador no Bellinzona e no Young Boys. A intimidade entre os dois fez com que o futebol de Senad ficasse ainda mais eficiente, de modo que ele contribuísse com oito assistências e três gols ao longo do ano.

No Campeonato Italiano, a Lazio faturou somente um sétimo lugar, apesar de – curiosamente – ter somado apenas um ponto a menos do que na temporada anterior. Nas copas, o desempenho foi melhor. A equipe biancoceleste chegou até as quartas de final da Liga Europa e, na Coppa Italia, viveu um momento histórico, do qual Lulic foi protagonista. Talvez até mesmo os dois emocionantes scudetti conquistados pelo clube, em 1974 e em 2000, não tenham rendido uma combinação de emoções que possam ser comparadas às que ganharam corpo no dia 26 de maio de 2013.

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O bósnio chegou à Lazio como um desconhecido e se tornou um dos jogadores mais influentes do clube na década de 2010 (Getty)

A edição de 2012-13 da Coppa Italia colocou os dois arquirrivais da Cidade Eterna, que disputam um dos maiores clássicos do futebol mundial, o Derby della Capitale, frente a frente em sua final. Como não poderia deixar de ser, o estádio Olímpico estava lotado. Afinal, se tratava da primeira – e, até hoje, única – decisão em que se enfrentariam Lazio e Roma.

O jogo foi brigado, sem grande técnica, mas com disposição e vontade de sobra. O lance capital, que consolidou a santificação de Lulic perante o povo laziale, aconteceu aos 71 minutos. Antonio Candreva efetuou um cruzamento despretensioso para a área, o goleiro Bogdan Lobont desviou, tirando a chance de corte de Marquinhos, e Senad empurrou para as redes, meio sem jeito, a bola que veio um pouco atrás da linha de seu corpo. Por linhas tortas, foi o gol mais bonito e importante da carreira do bósnio. O tento que definiu o dérbi e levou à explosão biancoceleste.

A história de Lulic na Lazio continuou. O motorzinho consolidou, pouco a pouco, a sua liderança no time capitolino, através de bons exemplos – sempre foi um profissional dedicado aos treinamentos e esforçado dentro de campo. Mas houve momentos em que Senad passou longe de ser um espelho para alguém.

Em dezembro de 2016, Lulic ficou de cabeça quente após uma derrota para a Roma, na Serie A, e usou tom racista para provocar o adversário Antonio Rüdiger, alemão cuja mãe é natural de Serra Leoa, país da costa oeste da África. O bósnio disse que o rival “vendia meias e cintos em Stuttgart antes de se achar um fenômeno”, em alusão aos imigrantes africanos que trabalham nas ruas da Europa como vendedores ambulantes. O comentário repugnante lhe rendeu uma suspensão de três semanas e uma multa de 10 mil euros. Depois, Senad se declarou arrependido do que havia falado.

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Vestindo biancoceleste, Lulic ficou marcado por gols importantes (Getty)

Com a boca fechada, Lulic se saía melhor, evidentemente. Antes de tudo isso, em 2013-14, teve o seu ano mais prolífico pela Lazio, com sete gols marcados, além de três assistências fornecidas. Nessa época, o ala já havia se tornado uma peça fundamental da seleção da Bósnia, ao lado de Edin Dzeko, Miralem Pjanic, Sead Kolasinac e Vedad Ibisevic. O quinteto foi a grande referência técnica da equipe nacional naquele período, cujo ápice foi a participação na Copa do Mundo do Brasil, em 2014. Senad jogou duas das três partidas dos dragões: esteve em campo nas derrotas para Argentina e Nigéria.

Até 2019, o bósnio jamais teve ameaçado o posto de titular absoluto da Lazio, que sustentou na ala esquerda ou como terceiro homem de meio-campo no mesmo flanco. Somente em 2014-15, por uma lesão no joelho, que lhe deixou dois meses parado, é que foi menos utilizado no período. Mesmo assim, Lulic entregou três gols e oito assistências, sendo fundamental na boa campanha do time de Stefano Pioli no Campeonato Italiano. Os aquilotti ficaram com o terceiro lugar na competição e se classificaram para os playoffs da Champions League.

Depois de uma campanha pouco brilhante em 2015-16, a Lazio emendou, já com Simone Inzaghi no comando, a quinta colocação na Serie A nas temporadas 2016-17 e 2017-18, além de ter sido vice-campeã da Coppa Italia e vencedora da Supercopa Italiana, em 2017. Nesse mesmo ano, Lulic foi oficializado como capitão da equipe, após a venda de Lucas Biglia ao Milan. O bósnio já havia utilizado a braçadeira em algumas ocasiões, mas se tornou o seu verdadeiro dono depois da saída do volante argentino.

Desempenhando o papel de grande líder da Lazio, Lulic levantou três troféus. Em 2019, ergueu a Coppa Italia e, em seguida, a Supercopa nacional pela segunda vez – nesta ocasião, marcou um lindo gol, encaminhando a vitória por 3 a 1 sobre a Juventus. Somente um outro jogador laziale conquistou mais títulos do que o bósnio enquanto ostentava a braçadeira de capitão da equipe: Alessandro Nesta, que faturou seis canecos entre 1998 e 2002.

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Lulic conquistou quatro títulos pela Lazio, sendo três como capitão (Getty)

Em suas derradeiras temporadas com a camisa da Lazio, 2019-20 e 2020-21, Lulic perdeu espaço para Adam Marusic e contribuiu mais no aspecto de liderança, dentro e fora de campo, ajudando o time a se classificar para a Liga dos Campeões graças ao quarto lugar conquistado na Serie A. Um posicionamento que talvez pudesse ter sido melhor, não fosse a pausa na disputa do campeonato, em 2020, por conta da eclosão da pandemia de covid-19. A equipe de Inzaghi estava tinindo entre fevereiro e março daquele ano, mas derrapou na retomada da competição.

Lulic sofreu com lesões em sua última temporada com a camisa biancoceleste e não pode ter uma despedida adequada do clube. Não só pela pequena participação, mas pelo fato de a covid-19 ter esvaziado os estádios de todo o mundo. Em 2021, em fim de contrato, Senad deixou a Lazio. Um ano depois, anunciou oficialmente a sua aposentadoria.

Pela Lazio, Senad se desdobrou por uma década e 371 partidas. Tal número coloca Lulic na quinta posição na lista de jogadores com mais aparições pelo clube mais antigo de Roma – um feito e tanto, sobretudo para quem aportou na Cidade Eterna como um desconhecido. Vestindo biancoceleste, o bósnio conquistou quatro títulos, marcou 34 gols e ainda forneceu 49 assistências.

O longo tempo de dedicação aos aquilotti, com papel decisivo para a obtenção de títulos inesquecíveis, além do alto rendimento em diversas boas campanhas do clube, gravou o nome de Senad Lulic eternamente na história da Lazio. E, claro, no coração de seu povo, que o considera um dos imortais que passaram pelo lado azul e branco da capital italiana.

Senad Lulic Nascimento: 18 de janeiro de 1986, em Mostar, antiga Iugoslávia (atual Bósnia e Herzegovina) Posição: lateral-esquerdo e meio-campista Clubes: Chur 97 (2003-06), Bellinzona (2006-08), Grasshopper (2008-10), Young Boys (2010-11) e Lazio (2011-21) Títulos: Coppa Italia (2013 e 2019) e Supercopa Italiana (2017 e 2019) Seleção bósnia: 57 jogos e 4 gols

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