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·03 de fevereiro de 2020
Santa Cruz, 106 anos: uma história de renascimentos

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Nesta segunda-feira (3), um dos clubes mais tradicionais do futebol brasileiro faz aniversário: Santa Cruz Futebol Clube. Assim, popular desde o nascedouro e inclusivo por formação, a Cobra Coral carrega um passado de glórias e a mística da camisa tricolor do Mundão do Arruda. Do pátio da Igreja de Santa Cruz à Avenida Beberibe, a equipe cresceu até ganhar o mundo sendo a única do Norte/Nordeste a possuir a Fita Azul. Atualmente, vive anos difíceis após sucessivos rebaixamentos que lhe dragou às últimas divisões do Campeonato Brasileiro. No entanto, ainda assim, conquistou seus dois maiores títulos: a Copa do Nordeste e a Série C.
Dessa forma, o Santa Cruz foi fundado em 3 de fevereiro de 1914 através da ideia de 11 garotos que moravam no bairro da Boa Vista, área central do Recife. Assim, como não tinham acesso aos clubes da capital, restritos à elite açucareira e aos britânicos, eles costumavam bater bola na frente da Igreja de Santa Cruz. Logo, naquele ano, decidiram oficializar a brincadeira criando o “Santa Cruz Foot-Ball Club“. Ao passar dos jogos iniciais, os feitos do clube foram se tornando notáveis na cidade. Algo que contribuiu para a adesão das massas ao esporte que surgia em Pernambuco.
Outro fator de destaque é a origem popular do clube. Isso porque, enquanto que Náutico e Sport, clubes pioneiros a praticar o futebol no Recife, eram elitistas, o Santa Cruz tinha surgido da classe média, sendo, inclusive, um dos primeiros a aceitar negros em sua estrutura. A saber, Teófilo de Carvalho, o Lacraia, foi o primeiro negro a jogar por uma equipe de futebol nas regiões do Norte e Nordeste do Brasil. Sendo sua presença determinante para a simpatia das camadas mais pobres da população. Além disso, contribuiu por décadas para o crescimento da agremiação, tendo sido o criador do primeiro escudo tricolor.
A princípio, alvinegro, o Santa Cruz viria a adotar o vermelho em seu pavilhão devido a um episódio inusitado. Em 1915, a Liga Sportiva Pernambucana, embrião da atual Federação Pernambucana, foi criada e em suas regras estipulou que os filiados não poderiam usar as mesmas cores. Assim, como o Flamengo-PE também vestia preto e branco, um sorteio foi a solução para o impasse, onde os Corais foram derrotados. Logo, influenciados por uma excursão do Flamengo-RJ à Recife, que usava uniformes com listras vermelhas, brancas e pretas, além da simpatia de diretores à bandeira alemã, na 1ª Guerra Mundial, o clube se tornou, de fato e de direito, tricolor.
Dessa forma, demorou para que “os meninos do pátio da igreja” comemorassem um título. Pois, nos primeiros campeonatos, o Santa Cruz sempre chegava perto, mas era derrotado na final. Após seis vices em sete anos, veio um período longe das fases decisivas até 1929. Nesse ínterim, dois fatos de destaque. Em 1917, em jogo contra o América-PE, o tricolor perdia por 5 x 1 e em 15 minutos foi avassalador. Assim, virou o placar para 7 x 5, naquela que é, até hoje, a maior virada do futebol brasileiro. Além disso, outro feito marcante aconteceu em 1919 ao ter sido o primeiro clube do Norte/Nordeste a derrotar um clube do Sul do Brasil. Na oportunidade, venceu o Botafogo-RJ por 3 x 2.
Na sequência, o primeiro título veio acompanhado de um tricampeonato pernambucano (1931-32-33), com a marca da liderança do atacante Tará. Após o primeiro tri, o Santa Cruz aplicou a maior goleada do Clássico das Multidões ao bater o Sport por 7 x 0 através dos gols de Lauro (3), Tará (2), Limoeiro e Estevam. Posteriormente, a equipe passou por um jejum de 10 anos sem título, entre os anos de 1947 e 1957, algo que incomodava, sobremaneira, a torcida tricolor.
Assim, em 1957, ano em que o Pernambucano foi decidido em um triangular final, o Santa Cruz, de Lanzoninho, Rudimar, Faustino, Mituca e Jorginho enfrentou o então bicampeão Sport, do goleiro Manga e do artilheiro Traçaia, e o Náutico, de Caiçara e Lula. No jogo decisivo, os tricolores voltaram a ser campeões diante do Sport, na Ilha do Retiro, por 3 x 2. Após o título em 1959, novo jejum de 10 anos, até que veio a década de 70 com a quebra do hexacampeonato alvirrubro e grandes campanhas à nível nacional.
Talvez, a maior década da história do clube, os anos 70 foram de alegrias para o torcedor coral. Isso porque, ao por fim a sequência de seis títulos pernambucanos do rival Náutico, o Santa Cruz iniciou sua maior série de conquistas estaduais: o Pentacampeonato. Além disso, em 1975, fez sua maior campanha em Campeonatos Brasileiros. Naquele ano, o Brasileirão foi disputado por 42 clubes e com craques como Ademir da Guia no Palmeiras, Rivelino no Fluminense e Falcão no Internacional. No entanto, a Cobra Coral não ficava por baixo e tinha nomes como Givanildo, Ramon, Nunes e Fumanchu. Juntos, levaram o clube à 4ª posição e teriam ido a final se não fosse um lance polêmico de impedimento na semifinal contra o Cruzeiro. O fato lhe tirou do jogo decisivo contra o Internacional.
Já no final da década, o Santa Cruz recebeu a Fita Azul, uma honraria dada pela CBF à clubes brasileiros que excursionavam no exterior e voltavam invictos. No total, 12 clubes ostentam a conquista. Sendo o último deles, a Cobra Coral é a única do Norte/Nordeste a possuí-la. Isso é devido ao período de 12 jogos, entre março e abril de 1979, em que ficou sem perder. Na sequência, viria outros anos de conquista estaduais e inter-regionais que fez o Tricolor ser apelidado de Terror do Nordeste, entre elas, o TriSuper Campeonato.
Assim, em 1983, em um dos campeonatos pernambucanos mais emocionantes da história, o Santa Cruz conquistou o emblemático TriSuper Campeonato. Até recentemente, era ostentado no escudo. Naquele ano, o estadual era decidido em três turnos. O primeiro foi do Sport, o segundo ficou com o Náutico e no terceiro, os Tricolores forçaram um Supercampeonato entre os três campeões. Assim, o título veio em um jogo extra contra o Timbu. Em um Arruda entupido com mais de 76 mil pessoas, a torcida assistiu o goleiro Luis Neto defender a cobrança do atacante Porto e garantir mais um título local, o 18º na história.
Dessa forma, os piores anos da trajetória do Santa Cruz vieram na virada do século, entre 2006 e 2011. Antes, com uma das melhores formações tricolores, que contava com Carlinhos Bala e Rosembrick, o Time do Povo voltou às glórias estaduais em 2005, após novo hiato de 10 anos. Na mesma temporada, conquistou o acesso à Série A. No entanto, no ano seguinte, o clube começou uma sequência de quatro rebaixamentos sucessivos até chegar a Série D. Assim, a ressurreição coral teve início em 2011. Liderados pelo goleiro Tiago Cardoso e as joias da base Renatinho, Everton Sena e Natan, além do atacante Gilberto, hoje no Bahia, e do técnico Zé Teodoro, os Corais ganharam o primeiro dos três títulos seguidos contra o rival Sport. No mesmo ano, subiram para a Série C.
Após dois anos, o Santa Cruz conquistou seu maior título: Campeonato Brasileiro da Série C de 2013. No elenco, o herói do acesso e da conquista foi Flávio Caça-Rato. O folclórico atacante entrou para a história ao marcar os gols mais importantes daquele ano. Em seguida, viria a temporada de 2016 com Milton Mendes no comando e o retorno do ídolo Grafite. Logo, com o time em ascensão e de volta a Série A depois de 10 anos, os tricolores conquistaram a Copa do Nordeste. Dessa forma, reafirmando seu posto como um dos maiores clubes da região.
Assim, impulsionado por uma massa gigante nas arquibancadas que canta em alto tom que é a torcida mais apaixonada do Brasil, do mesmo jeito que caiu, o Santa Cruz subiu. No entanto, apesar de um elenco que tinha nomes como Keno, André Luis e Grafite não foi suficiente para conter um novo rebaixamento. Atualmente na Série C, o clube busca um outro renascimento para sair do marasmo da terceira divisão nacional e, para isso, conta com os gols do novo ídolo e artilheiro Pipico.
Foto Destaque: Reprodução / Memórias do Santa Cruz