Trivela
·22 de setembro de 2021
Trivela
·22 de setembro de 2021
Texto originalmente publicado em 22 de setembro de 2016, reeditado e atualizado
A carreira de jogador de futebol é curta. Aqueles com mais sorte conseguem jogar por 20 anos, mas a maioria não chega nem nisso. Mais do que a carreira que o jogador faz é a lembrança que deixa. Ronaldo completa 45 anos neste dia 22 de setembro, e está eternizado na história do futebol. O Fenômeno, apelido que ganhou na Itália, quando defendeu a Inter, impressionou quem o viu jogar. A Internazionale, aliás, foi o clube pelo qual viveu seu ápice como jogador, mas também as maiores dores da sua carreira, com duas lesões graves.
LEIA TAMBÉM: De Bento Ribeiro à Copa de 2002, Ronaldo recontou sua trajetória fenomenal no Players’ Tribune
Seu talento em campo foi muito maior do que o sucesso que conseguiu. Mesmo sendo um craque, não conquistou uma Copa Libertadores e nem uma Champions League. O sucesso na Copa de 2002 é o seu maior título, mas o seu futebol teve o auge antes. Sua vida fora das quatro linhas sempre gerou polêmica – pouco treino, vida de popstar, modelos, casas noturnas, castelos. As lesões, outro problema, também frearam alguém que parecia imparável no início de carreira. Ronaldo foi um fenômeno em campo e será sempre lembrado pelo seu talento. Mostramos um pouco da sua carreira neste especial.
Ronaldo pelo Cruzeiro, no início de carreira (reprodução)
O seu início no Cruzeiro já foi muito impressionante. O garoto, aos 16 anos, já fazia com que as defesas sofressem. Estava claro para quem estava ali que se travava de um grande craque. tudo começou quase por acaso. No dia 25 de maio de 1993, o então técnico do time celeste levou um time recheado de reservas para o jogo contra a Caldense, pelo Campeonato Mineiro. Ronaldo, então nos juniores, foi chamado para compor o banco de reservas, aos 16 anos. Foi naquele dia que ele estreou pelos profissionais. Nada mais seria como antes.
Dois meses após a estreia, o técnico Carlos Alberto Silva levou o atacante para uma excursão que o Cruzeiro fez em Portugal. Inicialmente, ele foi apenas para compor o elenco. Voltou como titular e destaque do time. Não deixaria mais o 11 inicial e seria o artilheiro e craque do time.
Infelizmente para a Raposa, por pouco tempo. Ele jogaria naquele segundo semestre de 1993 e primeiro semestre de 1994. Os números desse período dão um indício que aquele garoto, franzino, rápido e incrivelmente habilidoso, não era comum: 58 jogos, sendo 55 como titular, e 56 gols. Foi artilheiro da Supercopa de Campeões da Libertadores em 1993, com oito gols, ainda com 17 anos recém-completos, e depois artilheiro do Campeonato Mineiro de 1994 com 22 gols. Foi convocado para a Copa do Mundo de 1994.
A ida ao Mundial, ainda que como um reserva que não entrou em nenhum jogo, já mostrava que o seu destino era o futebol internacional. Ele ainda voltou ao Cruzeiro depois da Copa do Mundo, mas apenas para se despedir. No dia 8 de agosto de 1994, no empate por 1 a 1 com o Botafogo, ele se despediu da camisa celeste. Com um gol, claro. Foi vendido para o PSV por US$ 6 milhões na época (algo como US$ 10,7 milhões, com a correção monetária para 2021). Sua trajetória começaria na Holanda e começaria a mostrar que não era um fenômeno precoce. Era fenômeno de fato.
Ronaldo em jogo pelo PSV em 1995 (Imago / OneFootball)
Em fevereiro de 1996, a revista Placar fez uma matéria com “o garoto de 20 milhões de dólares”. Na época, era chamado de Ronaldinho e jogava pelo PSV. Ronaldo esteve na Copa do Mundo de 1994, aos 17 anos, mas não entrou em campo. Era, porém, visto como um potencial craque. Já assustava pelo que fazia no Cruzeiro desde os 16 anos, ainda adolescente.
Foi para o PSV em 1994 e se tornou rapidamente ídolo dos Boeren. Foi lá que teve sua primeira lesão de joelho, que atrapalhou a sua segunda temporada no clube. Ainda assim, teve uma marca importante de gols: 54 em 57 jogos. Formou uma dupla para lá de famosa com Luc Nilis, um dos melhores parceiros da sua carreira. Tanto que o brasileiro foi vendido pelos US$ 20 milhões falados na matéria da Placar. O recorde mundial de transferências naquele momento.
A trajetória de Ronaldo em Eindhoven foi tão marcante que merece um capítulo à parte, que contamos aqui: Ronaldo na Holanda: o primeiro grande desafio – e o primeiro grande rival.
Aliás, uma curiosidade é que nesta matéria, Ronaldo falava do sonho de jogar na Internazionale. Isso mesmo, a Inter de Milão, como também é chamada no Brasil, estava na mente do então Ronaldinho já naquela época. O que é curioso, porque a Inter dos anos 1990 era um clube cheio de problemas, que não vencia o badalado campeonato italiano desde 1990, quando tinha o trio de alemães Brehme, Klinsmann e Matthäus. Era, porém, um dos grandes times italianos e da Europa. A próxima parada seria marcante.
Ronaldo comemora no Barcelona (AP Photo/Denis Doyle)
O destino foi o Barcelona e a Catalunha foi um dos palcos que Ronaldo se destacou mais rapidamente. Naquela época, o Barcelona não passava nem perto de ser o time dominante no cenário europeu que se tornaria anos depois. Depois de conquistar a sua primeira Champions League na história em 1992, o time vivia uma crise de identidade após a saída de Johan Cruyff, arrasado pelo Milan de Fabio Capello em 1994.
Foi apenas uma temporada vestindo azul-grená, mas a sua passagem é lembrada até hoje pelos torcedores do clube. Foi assustador. O gol contra o Compostela é desses que nos deixa de boca aberta. A parceria com Giovani, então jogando muito também, foi fantástica. No total, foram 47 gols em 49 jogos, uma marca impressionante. Nos acostumamos a ver isso com Cristiano Ronaldo e Lionel Messi, mas naquela época isso era algo sem precedentes. É preciso julgar Ronaldo pelo parâmetro de 1996, não de 2021. Até porque não só as ligas eram outras, mas o futebol era outro.
“Ele não é um homem, é uma manada” Jorge Valdano
Aquele time do Barcelona era cheio de estrelas. Tinha Zubizarreta no gol, Laurent Blanc na zaga, Pep Guardiola no meio, Luis Enrique, Figo, Giovanni. O técnico era o lendário Bobby Robson, com José Mourinho ali na sua comissão técnica. Mas a estrela era Ronaldo. Ele parecia imparável. Jorge Valdano, lenda do Real Madrid, disse naquele ano: “Ele não é um homem, é uma manada”. A forma como Ronaldo passava pelos defensores parecia desafiar o impossível.
Ele passava pelos defensores onde não parecia haver espaço. Vencia na velocidade, na força e na habilidade, uma combinação explosiva de técnica, habilidade e um físico privilegiado. Bob Robson disse, na época: “Eu nunca vi um jogador mostrar um controle de bola tão preciso em uma velocidade tão alta”. Se hoje se fala em jogadores que parecem de videogame, Ronaldo talvez tenha sido o primeiro jogador de Playstation.
“Ele foi o jogador mais espetacular que eu já vi”, afirmou Luis Enrique, ex-companheiro de Ronaldo e atual técnico da seleção espanhola. “Ele fazia coisas que eu nunca tinha visto antes. Agora nós estamos acostumados a ver Messi driblar seis jogadores, mas na época não. Ele era forte, um animal”. Basta lembrar que Ronaldo levou a sua primeira Bola de Ouro aos 21 anos, o mais jovem jogador da história a vencê-la (na época de Pelé e Maradona, só jogadores europeus e que atuavam na Europa podiam ser premiados). É o recorde que ele ainda mantém. Ele quebrou o recorde mundial de transferências duas vezes antes de completar 21 anos de idade.
José Mourinho já era polêmico na época. Ronaldo era criticado por uma suposta falta de vontade, de gana. “Nós dissemos a Ronaldo que não é bom marcar um gol maravilhoso e passar os outros 89 minutos dormindo”. A declaração foi dada depois do primeiro gol do jogador no Campeonato Espanhol. Claro que esta crítica se diluiu em meio a tantos gols espetaculares. Ele ainda conquistou um título continental pelo clube: a Recopa, em 1997, com um gol na final contra o PSG.
Havia polêmicas, porém. Ele foi liberado para o Carnaval e as imagens dele festejando, enquanto companheiros treinavam, foi faísca em um barril de pólvora. Sua vida fora de campo sempre foi agitada. Ele chegou a questionar as táticas de Bobby Robson, o que levou a mais polêmica. Tudo isso atrapalhou tanto que os torcedores escolheram Luis Enrique, e não Ronaldo, como o melhor jogador da temporada.
Os vilões mesmo para o Barcelona, porém, eram os empresários do jogador, Reinaldo Pitta e Alexandre Martins. Se falava muito da renovação e os empresários, claro, queriam maximizar o lucro. No final da temporada, no dia 26 de maio de 1997, o Barcelona acreditou ter feito uma renovação até 2006 com o jogador, com declarações do então presidente Josep Lluís Núñez dizendo: “Ele é nosso pela vida toda”. No dia seguinte, quando iam assinar o contrato, o acordo ruiu. O presidente do Barcelona, então, admitiu: “Acabou, Ronaldo vai embora”.
A Internazionale de Massimo Moratti já queria tê-lo contratado do PSV e não queria deixar escapar a chance desta vez. Os empresários do jogador receberam a sua comissão da Inter e o cheque para levar à Catalunha. Depositaram o cheque de 27 milhões de dólares na sede da Federação Espanhola de Futebol, pagando assim a sua cláusula de rescisão, mais uma vez quebrando o recorde mundial de transferências. O Barcelona entrou na Fifa pedindo uma indenização e a entidade obrigou o clube italiano a pagar mais 1,8 milhão pelo jogador, em setembro. Ronaldo, a essa altura, já tinha estreado pela Inter. O clube, enfim, tinha realizado o sonho de levar Ronaldo para ser um nerazzurri em Milão.
LEIA TAMBÉM: Ronaldo tinha tanta facilidade em dar canetas que conseguiram achar 256 delas para um vídeo
Ronaldo pela Inter em 1997, antes de jogo com o Milan (Getty Images)
Na Itália, era o melhor atacante do mundo iria para a liga dos melhores zagueiros do mundo. Foi o final de uma época de ouro do futebol italiano, como contamos neste especial. A camisa 9, que ele tanto gostava, já tinha dono em Milão: Ivan Zamorano. Por isso, ele ficou com o número 10 na sua temporada de estreia. Podemos dizer que o número da camisa foi também a sua nota pelo que fez em campo. Foi um desempenho espetacular, mantendo a ótima forma que já vinha no Barcelona e o encantamento que causava no mundo. Diria, anos depois, que “Ir para a Inter foi a melhor decisão que tomei”.
Aquela temporada, 1997/98, talvez tenha sido a melhor da sua carreira. Aos 21 anos, marcou 34 gols em 47 jogos. Ficou ainda mais completo: passou a ser o cobrador de pênaltis do time, passou a fazer gols de falta, virou também um jogador que faz assistências. No final de 1997, levou mais uma vez o prêmio de Melhor do Mundo da Fifa, além da Bola de Ouro. O fechamento daquela temporada foi em Paris: a final da Copa da Uefa contra a Lazio teve um show de Ronaldo, com golaço passando por Alessandro Nesta e entrando quase com bola e tudo. Os 3 a 0 deram o título europeu à Inter. Ronaldo definiu aquela temporada em entrevista, em 2017: “Não trocaria meu primeiro ano na Inter por nada”.
Foi nesse contexto que aconteceu um dos amistosos mais incríveis de todos os tempos, algo impensável nos dias atuais: O dia em que Ronaldo e Batistuta se juntaram para destruir a Europa de Zidane. Foi algo que vemos só em videogame: dois times formados pelas maiores estrelas do futebol mundial se enfrentando em um jogo dos mais interessantes.
Veio a Copa do Mundo, que ele jogou muita bola, especialmente naquele que talvez tenha sido o maior jogaço da competição, o empate por 1 a 1 na semifinal com a Holanda, com um gol seu e classificação brasileira nos pênaltis. Só que aquela Copa também ficou marcada pela final e a sua convulsão horas antes do apito inicial. A França venceu por 3 a 0, dois gols de Zinedine Zidane, que tomaria de Ronaldo os prêmios de Melhor do Mundo e Bola de Ouro. O Fenômeno terminou a Copa com sua chuteira pendurada no pescoço – um gesto que muitos atribuíram à patrocinadora, Nike, que tinha na chuteira Mercurial usada por Ronaldo um investimento grande.
Ronaldo comemora seu gol pelo Brasil contra o Chile, na Copa 1998 (Imago / OneFootball)
Na sua segunda temporada, a Nike, já a grande patrocinadora do Fenômeno, se tornou também patrocinadora da Inter. E pediu, para não dizer exigiu, que Ronaldo usasse a camisa 9. A marca tinha criado uma linha chamada R9, associando o jogador ao número. Zamorano teve que ceder. Foi quando passou a usar a camisa 18, com um símbolo de mais entre os números, o que se tornou um clássico. Foram duas grandes temporadas do Fenômeno na Inter. Mesmo sem tantos gols, com 15 em 28 jogos, apresentou um grande futebol.
Em 1999/2000, a Inter queria acabar com o jejum de títulos na Serie A e tinha um ataque espetacular para isso. Além de Ronaldo, Roberto Baggio e Christian Vieri compunham a linha ofensiva. Só que em 21 de novembro de 1999, contra o Lecce, Ronaldo contundiu o joelho. Rompeu o tendão do joelho e, assim, precisou passar por cirurgia. Voltou a jogar no dia 12 de abril de 2000, no primeiro jogo da final da Copa da Itália. Já era reta final da temporada. E mais uma vez, Ronaldo encontrou o inferno.
Foram apenas sete minutos em campo. Em um lance que correu o mundo, ele tentou o seu característico drible passando o pé em cima da bola. Seu joelho saiu do lugar. Nova lesão. Novo rompimento do tendão. Mais uma vez, a mesa de cirurgia. Outra vez uma recuperação longa. Desta vez, ainda pior. Terminou a temporada 1999/2000 com apenas oito jogos e três gols.
“Se não fossem pelas suas lesões, eu acho que estaríamos falando dele no mesmo nível de Pelé e Maradona. Ele tinhas todas as habilidades necessárias para ser o melhor de todos os tempos. Ele era como um extraterrestre pelo que ele podia fazer no campo”. Gianluigi Buffon
Ronaldo perdeu a temporada seguinte inteira, 2000/01. Mesmo na temporada seguinte, Ronaldo jogou pouco. Em 2001/02, foram só 16 jogos e sete gols. O técnico, o argentino Héctor Cúper, não parecia confiar no atacante. Esteve em campo pouco. Tudo indicava que o jogador não teria condições de jogar a Copa do Mundo. Mas Luiz Felipe Scolari acreditou nele, o levou à Coreia do Sul/Japão e todos nós sabemos como a história terminou: artilheiro, craque da Copa e campeão.
A sua saída da Inter logo depois da Copa foi, mais uma vez, polêmica. Os torcedores, apaixonados por Ronaldo, esperavam ver aquele jogador da Copa em campo. Mas ele decidiu ir embora, seduzido por uma proposta do Real Madrid. A bronca da torcida era porque o clube deu a ele todo tempo para se recuperar e esperava, agora, colher os frutos. Mas o seu relacionamento com Hector Cúper era ruim. O técnico não parecia disposto a ceder. Foi vendido ao Real Madrid por € 46 milhões, um valor numericamente muito maior do que o que foi contratado, mas que já não quebrava nenhum recorde de transferências na época.
Terminou a sua passagem pela Inter com 59 gols em 99 jogos, além de um imenso carinho da torcida, apesar de tudo. O presidente da época, Massimo Moratti, disse que Ronaldo foi a melhor contratação que ele fez. “Ele poderia ter sido um fenômeno, para mim ele poderia ter o melhor do mundo. Ele tinha as habilidades que ninguém mas tinha. Mas ele não treinava duro o suficiente e não tinha o desejo de sofrer. Ele teve uma carreira pior do que suas habilidades o permitiam. O azar de Ronaldo foi se machucar depois da Copa do Mundo de 1998. Ele tinha uma grande carreira e era um grande jogador, sem aquela lesão ele teria feito ainda melhor”, declarou o dirigente após a aposentadoria de Ronaldo, em fevereiro de 2011.
A Inter ficou muito marcada na carreira de Ronaldo. Em 2019, o atacante disse que “A Inter está no meu coração e estará para sempre”.
LEIA TAMBÉM: Jogadores da França tentam descobrir como marcar Ronaldo na Copa de 1998 neste vídeo raro
Ronaldo fenômeno deixou a Internazionale para defender o Real Madrid em 2002 (AP Photo/Paul White)
Assim como na Inter, Ronaldo não pôde usar a camisa 9 quando chegou ao Real Madrid. O número era de Morientes e ele vestiu a 11 na primeira temporada. Claro que isso não durou muito. Na temporada seguinte, o Fenômeno já passou a vestir a camisa 9. E deixaria a sua marca também no Real Madrid dos Galácticos.
Ganhou a liga espanhola duas vezes e o Mundial de Clubes – no ano que ele chegou, 2002, o Real Madrid tinha conquistado a Champions da temporada anterior, 2001/02, aquela do golaço de Zidane. Ficou nos merengues até 2007, quando deixou o clube com muitas acusações de pouco comprometimento, de jogar sempre acima do peso. Ele foi chamado de gordo muitas vezes.
Em 18 de janeiro de 2007, ele teria aceitado uma transferência para o Milan, mas o Real Madrid não aceitou vendê-lo. Ronaldo teve que pagar, do próprio bolso, o resto do seu contrato. Depois de muitas conversas, a transferência foi finalizada no dia 30 de janeiro. Ronaldo deixava o Real Madrid no meio da temporada.
Ronaldo pelo Milan, em 2007 (AP Photo/Luca Bruno)
Depois de jogar no Barcelona e anos depois jogar no Real Madrid, Ronaldo voltou a jogar por um rival na Itália. Foi ídolo na Inter, mas chegava ao Milan. Ele acertou sua ida ao clube para tentar repetir o sucesso e voltar a jogar com frequência, mas a sua passagem pelo clube rossonero não durou mais que uma temporada. Naquela segunda metade de temporada 2006/07, ele jogou 14 partidas e marcou sete gols. Não era o mesmo Ronaldo da Inter, mas ainda era um atacante letal.
O seu período na volta à Milão teve problemas parecidos com o Real Madrid: muitas críticas em relação ao seu peso, o que causava problemas musculares. No dia 13 de fevereiro de 2008, Ronaldo sofreu uma lesão séria no joelho em um empate com o Livorno. Ele rompeu os ligamentos do joelho esquerdo, o que o tirou de ação por um tempo maior do que o do seu contrato, que ia até junho. Acabou sem clube.
Ronaldo pelo Corinthians em 2009 (AP Photo/Andre Penner)
Sem clube, Ronaldo voltou ao Brasil para a sua recuperação. Ficou treinando no Flamengo, seu clube de coração, o que aumentou as especulações que ele poderia jogar pelo time. No final do ano, porém, ele foi anunciado como jogador do Corinthians no dia 9 de dezembro, para surpresa de muita gente. As especulações sobre a ida de Ronaldo ao Corinthians chegaram a ser dadas como piadas, mas ela se concretizou.
Mesmo acima do peso, voltando de mais uma lesão grave e aos 32 anos, Ronaldo foi uma contratação estelar. E a sua passagem pelo Corinthians acabou sendo marcante. Desde a sua estreia contra o Itumbiara, na Copa do Brasil de 2009 no dia 4 de março, até o último jogo com a camisa do Corinthians, a eliminação vexatória contra o Tolima, na fase preliminar da Copa Libertadores de 2011, Ronaldo se tornou o grande jogador do time.
Conquistou o Campeonato Paulista de 2009 sobre o Santos do então ainda muito jovem Neymar, marcando um golaço. Foi também campeão da Copa do Brasil naquele ano, contra o internacional, sendo absolutamente decisivo na reta final. Foi o seu último título como jogador. Ele ainda seria importante na recuperação do Corinthians em 2010, após a chegada de Tite ao time e depois do desastroso período sob Adílson Baptista.
O time foi para a Libertadores do ano seguinte como quarto colocado do Brasileiro, mas a eliminação traumática na Colômbia antecipou o fim da carreira de Ronaldo. Ele anunciou a aposentadoria na semana seguinte ao jogo, no dia 14 de fevereiro de 2011. Ele citou as dores e o hipotiroidismo pela aposentadoria. Ele tinha 34 anos.
Ronaldo, artilheiro da Copa de 2002 pelo Brasil, vence Kahn, da Alemanha (Photo by Stu Forster/Getty Images)
Gianluigi Buffon o enfrentou na Itália, quando o goleiro ainda era jovem. “Se não fossem pelas suas lesões, eu acho que estaríamos falando dele no mesmo nível de Pelé e Maradona. Ele tinhas todas as habilidades necessárias para ser o melhor de todos os tempos. Ele era como um extraterrestre pelo que ele podia fazer no campo”.
As lesões, para muitos, vieram pelo seu fortalecimento muscular precoce e seu desempenho fantástico tão cedo. Outros acreditam que tem a ver com o estilo de vida do jogador, que não era dos mais calmos. Seja como for, o “e se…” que as duas possibilidades deixam tornam Ronaldo uma lenda ainda maior.
Sua participação pela Seleção será para sempre lembrada. Foram 98 jogos e 62 gols, o que o coloca como um dos melhores de todos os tempos, atrás apenas de Pelé (77 gols). Conquistou duas vezes a Copa América, em 1997 e 1999, a Copa das Confederações de 1997 e, claro, as Copas do Mundo de 1994 e 2002, embora só tenha jogado nesta segunda. É o segundo maior artilheiro da história das Copas do Mundo, o que é notável, com 15 gols.
Fora de campo, Ronaldo corroeu a sua imagem se envolvendo em polêmicas, como dizer que “não se faz Copa do Mundo com hospitais”, ou viver em um claro conflito de interesses ao ser comentarista na TV, convidado normalmente pela TV Globo, ao mesmo tempo que a sua empresa, 9ine, gerencia a imagem de diversos jogadores envolvidos em jogos que comenta. Desde 2018, Ronaldo é também dirigente: tornou-se o novo dono do Valladolid. Ronaldo, como jogador, é uma lenda eterna. Fora de campo, é só um homem comum, que chega cheio de problemas. Como todos nós.