AVANTE MEU TRICOLOR
·02 de janeiro de 2025
In partnership with
Yahoo sportsAVANTE MEU TRICOLOR
·02 de janeiro de 2025
Ame-o ou deixe-o.
Que me perdoem os leitores mais sensíveis, mas ao abrir essas linhas para retratar o que foi o ano de Luis Zubeldía no comando do São Paulo, não consigo deixar de pensar em como o famigerado slogan que pautou o governo de Emílio Garrastazu Médici na Ditadura Militar entre 1969 e 1974, uma alusão direta à perseguição política e consequente exílio sofridos pelos opositores, se encaixa perfeitamente na síntese do que foi a sensação no Morumbi com o comandante argentino.
Fato é que há tempos nenhum outro treinador do Tricolor mexeu tanto com as emoções do torcedor, para o bem ou para o mal. Nenhum outro quebrou tanto paradigmas.
Zubeldía causou polêmica antes mesmo de sua chegada oficial. Após eliminar o Tricolor na Copa Sul-Americana do ano passado pela LDU, seu nome passou a integrar o caderninho dos nomes a serem olhados com carinho para assumir o time do Morumbi em caso do cargo ficar vago.
Acontece que o cargo ficou vago cedo demais. Já que Dorival Júnior se mandou para a Seleção Brasileira na primeira semana de pré-temporada. E aí o nome de Zubeldía começou a ser atrelado ao São Paulo. Mas não de um jeito positivo.
O coordenador Muricy Ramalho fez questão de detonar o argentino após esse se recusar a ser entrevistado por ele. Pior, Zubeldía enfatizou que não tinha interesse em assumir o São Paulo naquele momento. Queria descansar após o período no Equador. E recusou a investida. Saiu com os piores adjetivos possíveis por parte do ex-técnico tricolor e seus apoiadores.
Mas o mundo não gira, ele capota. Enquanto Thiago Carpini era fritado em óleo quente após a eliminação no Campeonato Paulista os contatos com Zubeldía foram reestabelecidos. E assim, apenas dois dias após a demissão do novato, o argentino foi confirmado como o novo treinador são-paulino em abril, superando o incômodo inicial do contato feito em janeiro.
Zubeldía e Muricy até postaram uma foto juntos, ambos sorridentes, no primeiro dia do argentino no CT da Barra Funda. O novo técnico estreou com uma vitória por 2 a 0 sobre o Barcelona em Guayaquil, pela Libertadores, quebrando dois tabus: o Equador era o único país onde o Tricolor nunca tinha vencido pelo torneio, e desde 2005 nenhum treinador são-paulino estreava com vitória jogando fora de casa por uma competição oficial.
As más notícias até teimaram em aparecer (Pablo Maia se contundiu gravemente e perderia o resto do ano), mas o treinador mostrou estrela. Engatou uma série de 12 jogos invictos e conheceu o paraíso tricolor. Enquanto as arquibancadas entoavam o mantra 'Zubeldía e alegria', o treinador cativava além do desempenho em campo. No campo, saía para comemorar com os jogadores os gols. E quebrando de vez qualquer protocolo, foi flagrado curtindo a Capital paulista nas folgas andando de transporte público, algo tão surpreendente quanto insólito.
Mas nem tudo eram flores a partir de junho, quando os resultados ruins começaram a aparecer. Zubeldía perdeu em pleno Morumbi para o Cuiabá e tomou a pior goleada sofrida pelo São Paulo em quatro anos para o Vasco em São Januário. Foi a vez dos aspectos negativos ganharem espaço, como o grande número de cartões sofridos pelo treinador, que diante das constantes suspensões aproveitou para ver o auxiliar entrar na história como o primeiro negro a dirigir o Trcolor desde José Carlos Serrão nos anos 1980.
Dentro de campo, a crise também fez com que Zubeldía enfrentasse certa fritura. A primeira quando Ferreirinha disse que foi cobrar sua escalação em conversa na sala do chefe, algo visto como sinal de fraqueza. A segunda, involuntária, quando mais um titular se despediu precipitadamente do ano: Alisson, que se contundiu gravemente, abrindo um certo buraco na formatação de jogo da equipe.
A sequência, que fez vazar informações quase diárias de conversas dos dirigentes com o treinador, culminou em mais um curioso episódio protagonizado por Zubeldía. Após a derrota para o Atlético-MG em Belo Horizonte, o treinador perdeu a cabeça alegando que o gol do triunfo rival fora marcado com a mão. Saiu de campo socando o banner de entrevistas e se exaltou na coletiva, gritando e gesticulando diante de um jornalista da TV que transmitiu a partida, pedindo o replay do lance (sem desrespeitá-lo, importante dizer).
O episódio parece ser um divisor de águas, afinal a partir dali, Zubeldía se acalmou. Não era para menos, o treinador, que viu nomes sendo cogitados publicamente para substituí-lo, pedido por conselheiros, viveria a sequência mais dura da temporada, com o afunilamento dos torneios de mata-mata. E as duras eliminações para Galo e Botafogo nas copas do Brasil e Libertadores, respectivamente.
Os tropeços foram o ponto de partida para uma espécie de divisão da torcida são-paulina. Enquanto a ala virtual passou a condenar o técnico e pedir sua saída, os frequentadores habituais do Morumbi pareciam lhe apoiar. Até porque, importante dizer, em nenhum momento Zubeldía parecia correr riscos de perder o posto na zona de classificação para a Libertadores no Brasileirão, que acabou confirmada.
O ano terminou com Zubeldía vendo as qualidades antes exaltadas na sua chegada usadas como forma de ataque pela ala que desaprovou seu desempenho. Inclusive por gente da diretoria, que demorou mais do que devia para garantir sua permanência para este ano. Ame-o ou deixe-o, uma coisa parece certa para o argentino em 2025: prepare o seu coração. Afinal, se tem uma coisa que parece certa é que com ele, a garantia de emoções é garantida.