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·14 de junho de 2021

Referência de sua geração, Lúcio liderou a zaga da Inter na campanha da Tríplice Coroa

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Referência. Esta talvez seja a palavra que melhor consiga descrever a relevância do zagueiro Lúcio para o futebol europeu nos anos 2000 e 2010. Capitão da seleção brasileira durante anos e vencedor nato, o xerife marcou época em grandes clubes do Velho Continente. Na Inter, o jogador viveu o auge da sua carreira e ajudou os nerazzurri a conquistarem a Tríplice Coroa, em 2010.

Lúcio é de Planaltina, no Distrito Federal. Na infância, quando entregava jornais e auxiliava sua mãe, Olindina da Silva Ferreira, em uma barraquinha de camelô, o garoto ainda era conhecido como Lucimar, seu nome de batismo. Batalhador, não desistiu quando foi reprovado em testes por Goiás, Vila Nova e Cruzeiro. O garoto, então, passou a jogar pelo time de sua cidade, o Planaltina. Assim como inúmeras crianças Brasil afora, Lucimar sonhava em se tornar jogador de futebol para poder oferecer uma condição de vida melhor à família. Afinal, sua mãe sustentava três filhos sozinha, já que havia se separado do marido. A história dos Ferreira começou a mudar em 1997.


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Após deixar o time que o revelou, Lucimar se transferiu para o Guará, outra equipe do Distrito Federal. O garoto, então com 19 anos, chamou a atenção do Internacional depois de seu time tomar 7 a 0, no Beira-Rio, em jogo válido pela Copa do Brasil. Assim, em agosto de 1997, o Colorado acertou a contratação do jovem. A mudança não foi fácil, já que ele teve de deixar a sua família para ir morar sozinho em Porto Alegre. Tudo em busca do seu insaciável objetivo: jogar futebol profissionalmente.

Na capital gaúcha, integrou o time de juniores. Às vésperas do Natal daquele ano, a saudade de casa bateu forte, e Lúcio ligou para a mãe. “Não aguento mais. Vou largar tudo e voltar”, expôs a dona Olindina. Lúcio, no entanto, enxugou as lágrimas, levantou a cabeça e seguiu adiante. A recompensa veio. Em 1998, capitaneou o time que ganhou a Copa São Paulo de Futebol Júnior e, posteriormente, ascendeu ao elenco profissional.

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Em 2000, Lúcio – que começara a carreira como atacante – ganhou o prêmio Bola de Prata, concedido pela Revista Placar, foi convocado para os Jogos Olímpicos de Sidney, na Austrália, e recebeu sua primeira convocação à seleção brasileira principal. A estreia com a camisa canarinho ocorreu na vitória por 1 a 0 sobre a Colômbia, em São Paulo, nas Eliminatórias Sul-Americanas para a Copa do Mundo de 2002. Jogou os 90 minutos ao lado de Roque Júnior na zaga brasileira.

Em grande fase no Inter, Lúcio atraiu a atenção de clubes estrangeiros. Um deles foi o Bayer Leverkusen. O beque demorou a aceitar, mas, com a ajuda da mãe, topou se mudar para a Europa. O clube alemão desembolsou US$ 8 milhões para assinar com o brasiliense. Com a camisa do Leverkusen, o jogador logo ganhou uma vaga de titular da equipe treinada, na época, pelo lendário Berti Vogts. Além da solidez defensiva, ele também aparecia bem no ataque – tanto nas jogadas aéreas quanto em suas características arrancadas. Entre janeiro e maio de 2001, por exemplo, marcou uma doppietta contra o Köln e outra ante o Eintracht Frankfurt.

O Bayer Leverkusen de Lúcio bateu três vezes na trave na temporada 2001-02: vice da Liga dos Campeões, vice da Bundesliga e vice da Copa da Alemanha. O brasiliense marcou o gol de honra dos Leões na derrota por 2 a 1 frente ao Real Madrid, na final da Champions. Ele concluiu a época com 51 jogos disputados (somando todas as competições), oito gols e duas assistências. Também recebeu o prêmio de melhor jogador da Bundesliga 2001-02. Nada mal para um atleta de 24 anos que disputava sua segunda temporada na Europa.

Enquanto progredia no Bayer, Lúcio se firmava ainda mais na seleção brasileira. Não à toa, o beque teve seu nome incluído na lista dos 23 selecionáveis para disputar a Copa do Mundo de 2002. No 3-4-2-1 implementado por Luiz Felipe Scolari, Lúcio compunha a linha defensiva ao lado de Roque Júnior, seu parceiro de time na Alemanha, e Edmílson, recuado para a zaga. O camisa 3 disputou todos os jogos do Mundial, do pontapé de início ao apito final, e ajudou o Brasil a se tornar pentacampeão do mundo.

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O time alemão não conseguiu manter a pegada para a temporada seguinte, mas Lúcio seguiu firme no onze titular. A defesa do Leverkusen também ganhou a adição de um jogador que por muito tempo seria companheiro de zaga de Lúcio: Juan. Os brasileiros terminaram a Bundesliga atuando juntos na retaguarda do time. Entretanto, a dupla não conseguiu impedir que os aspirinas findassem o campeonato na 15ª posição.

Após quatro temporadas no Leverkusen, Lúcio optou por trocar de time. Embora houvesse rumores de que Chelsea, Juventus, Manchester United, Milan e Real Madrid estivessem de olho no brasileiro, o defensor seguiu os passos do compatriota Zé Roberto e trocou o clube da Bayer pelo Bayern Munique. O gigante da Baviera pagou 12 milhões de euros para contratar o zagueiro, que tinha 25 anos à época.

Em Munique, Lúcio qualificou o plantel já estrelado do Bayern, se consolidou como um dos grandes zagueiros do futebol europeu e empilhou títulos. Com o xerife na zaga, os bávaros conquistaram três Bundesliga, três Copas da Alemanha e duas Copas da Liga Alemã. A Liga dos Campeões, porém, nunca esteve ao alcance da potência germânica, que, no período em que Lúcio vestiu as cores vermelha e branca, alcançou, no máximo, a fase de quartas de final.

Em 2005, Lúcio conquistou seu segundo título com a camisa da seleção brasileira. Sob o comando de Carlos Alberto Parreira, a equipe canarinho concluiu a campanha na Copa das Confederações com uma goleada por 4 a 1 sobre a Argentina. Como de praxe, atuou em todas as partidas. O xerife também esteve presente na Copa do Mundo de 2006, na Alemanha. Mas, dessa vez, os brasileiros ficaram pelo caminho nas quartas de final, após sucumbirem diante da França de Zinédine Zidane, Thierry Henry e companhia. Lúcio, pelo menos, superou o recorde de maior tempo sem fazer faltas em jogos de Copas do Mundo: 386 minutos contra 383 do paraguaio Carlos Gamarra.

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A partir da temporada 2007-08, a diretoria do Bayern começou a planejar uma reformulação no elenco bávaro, que contava com muitos jogadores na casa dos 30 anos. Dois grandes personagens deram adeus à agremiação ao fim daquela temporada: o goleiro Oliver Kahn e o treinador Ottmar Hitzfeld. Na época seguinte, Louis van Gaal seria a escolha da cúpula dos Roten para conduzir o projeto rejuvenescido visando a conquista da Liga dos Campeões. Com a chegada do comandante holandês, Lúcio, Zé Roberto e Luca Toni se despediram do clube.

O zagueiro brasileiro tinha a intenção de renovar contrato com a equipe de Munique, que, por sua vez, não oferecera um vínculo duradouro. “Lúcio queria um novo contrato de longa duração, mas nós só queríamos dar mais dois anos. Quando a Inter ofereceu três [anos] a ele, decidimos aceitar”, explicou o então diretor-geral do Bayern, Uli Hoeness.

Antes da oficialização da transferência, contudo, o jogador focou na Copa das Confederações que tinha para disputar na África do Sul. Sob o comando de Dunga, o escrete canarinho conquistou o bi do torneio. Na decisão, os brasileiros remontaram o 2 a 0 dos Estados Unidos para 3 a 2, com Lúcio anotando o gol da virada. O beque, nomeado capitão da seleção após o Mundial de 2006, levantou a taça.

Depois de muita vibração com a conquista da Copa das Confederações, Lúcio deu sinal verde para a Inter. O zagueiro, então com 31 anos e em ótimo momento na carreira, assinou contrato por três anos e pegou a camisa de número 6. Na Beneamata, o atleta foi potencializado pelo técnico José Mourinho e voou baixo em 2009-10. O brasiliense mal chegara e logo pegou a titularidade que, na época anterior, era de Iván Córdoba. Assim, Lúcio e Walter Samuel formaram uma das duplas de zagas mais sólidas da Europa no final dos anos 2000.

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A Inter de Lúcio foi tão devastadora na temporada 2009-10 que ganhou a Tríplice Coroa. Primeiro, venceu a Coppa Italia em cima da Roma: na campanha, o zagueiro marcou um gol fundamental para a virada sobre a Juventus, nas quartas. Depois, os comandados de Mourinho emplacaram mais um scudetto – o quinto em sequência. Por fim, a cereja do bolo: a Liga dos Campeões, saboreada após derrotar o Bayern, antigo clube do brasileiro, na decisão. Um ano dos sonhos para Lúcio, que foi escolhido para a seleção do ano da FIFPro, a Federação Internacional dos Jogadores Profissionais de Futebol, feita em parceria com a Fifa.

Vindo de uma temporada fabulosa na Inter, Lúcio tentaria conduzir a seleção brasileira à conquista do hexa na Copa do Mundo de 2010. A Canarinho, todavia, caiu nas quartas de final frente à Holanda, de seu companheiro Wesley Sneijder, que perderia o título para a revolucionária Espanha. A eliminação resultou na queda de Dunga, substituído por Mano Menezes. Com o novo técnico, Lúcio participou da Copa América de 2011, torneio no qual o Brasil parou nas quartas de final ao perder nos pênaltis para o Paraguai, e de alguns amistosos. Em 2011, aos 33 anos, o xerife encerrou sua trajetória pela Seleção com 105 jogos e quatro gols.

O experiente zagueiro, porém, continuava com a bola toda na Itália. Na temporada 2010-11, ajudou a Inter a faturar mais três títulos – Supercopa Italiana, Mundial de Clubes e Coppa Italia. No entanto, em julho de 2012, a Beneamata passou a conduzir uma renovação no plantel e decidiu encerrar o vínculo de Lúcio, deixando o beque livre no mercado para assinar com qualquer outro time. Assim, ele recebeu uma proposta da Juventus e, aos 34 anos, reforçou a rival dos nerazzurri. Motivação não faltou quando o atleta foi anunciado pela Vecchia Signora.

“Espero poder contribuir bem para o time”, afirmou Lúcio. “Eu gosto de treinar bem, pois se você treina bem, se cansa menos nos jogos. Essa é a mentalidade mais correta. Se treinar bem, vai estar melhor nas partidas. Espero fazer o meu melhor para o time e oferecer toda a minha força, experiência e técnica. Quero fazer todo o possível para levar a Juventus ao topo”, acrescentou.

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Ocorre que, bem diferente do planejado, Lúcio não obteve sucesso com a Juventus. O jogador não conseguiu desbancar o trio BBC, formado por Andrea Barzagli, Leonardo Bonucci e Giorgio Chiellini, sofreu com lesões e, em dezembro de 2012, acertou seu retorno ao Brasil para defender o São Paulo. Com a camisa bianconera, foram apenas quatro jogos disputados, num total de 307 minutos em campo, e um título de Supercopa Italiana, obtido em cima do Napoli. Para efeito de comparação, o brasiliense fizera 136 partidas pela Inter.

De volta a terras brasileiras, Lúcio firmou vínculo de dois anos com o Tricolor paulista. Porém, em janeiro de 2014, rescindiu com o clube, do qual já estava afastado devido a um problema de indisciplina envolvendo o técnico Paulo Autuori, e rumou ao Palmeiras. No Porco, o beque chegou a ser eleito o melhor zagueiro do Campeonato Paulista de 2014 ao de Anderson Salles, à época jogador do Ituano, e usar a braçadeira de capitão. Entretanto, teve um ano bem aquém das expectativas. No início de 2015, foi afastado da equipe; em maio, o Alviverde rompeu com o defensor.

Após deixar o Palmeiras, Lúcio defendeu ainda Goa – time indiano então treinado por Zico –, Gama e Brasiliense, onde decidiu se aposentar, em 2019, aos 41 anos. Ele foi o último remanescente do grupo pentacampeão mundial em 2002 a pendurar as chuteiras.

Lucimar Ferreira da Silva, o Lúcio Nascimento: 8 de maio de 1978, em Planaltina (DF) Posição: zagueiro Clubes: Planaltina (1995-97), Guará (1997), Internacional (1997-2000), Bayer Leverkusen (2000-04), Bayern Munique (2004-09), Inter (2009-12), Juventus (2012), São Paulo (2012-14), Palmeiras (2014), Goa (2015-16), Gama (2018) e Brasiliense (2018-19) Títulos: Copa São Paulo de Futebol Júnior (1998), Copa do Mundo (2002), Copa da Liga Alemã (2004 e 2007), Bundesliga (2005, 2006 e 2008), Copa da Alemanha (2005, 2006 e 2008), Copa das Confederações (2005 e 2009), Serie A (2010), Coppa Italia (2010 e 2011), Liga dos Campeões (2010), Supercopa Italiana (2010 e 2012) e Mundial de Clubes da Fifa (2010) Seleção brasileira: 105 jogos e 4 gols

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