Raúl García deu uma entrevista fora da caixinha com diversas reflexões sobre o papel do jogador de futebol na sociedade | OneFootball

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·26 de outubro de 2022

Raúl García deu uma entrevista fora da caixinha com diversas reflexões sobre o papel do jogador de futebol na sociedade

Imagem do artigo:Raúl García deu uma entrevista fora da caixinha com diversas reflexões sobre o papel do jogador de futebol na sociedade

Raúl García é um bastião de La Liga. O meia-atacante é o terceiro jogador com mais aparições na primeira divisão espanhola, só atrás de Andoni Zubizarreta e Joaquín, e permanece como uma liderança importante do Athletic Bilbao. Aos 36 anos, o veterano traz uma ampla bagagem como profissional, também como um nome marcante do Osasuna e do Atlético de Madrid. E demonstra uma visão crítica bastante aguçada sobre o papel de um jogador de futebol na sociedade. Em entrevista ao jornal El País, o camisa 22 ofereceu diversas reflexões, num tipo de análise que raras vezes se nota entre seus colegas de profissão.

Em tempos nos quais a evasão de impostos é comum entre os grandes craques, Raúl García foi no sentido oposto. O basco também falou sobre o peso da fama de ser jogador de futebol e da maneira como abriria mão de seu salário por mais privacidade. Discutiu se a busca desenfreada por dinheiro deveria ser a meta constante do esporte e se não valeria uma discussão séria para se reduzirem os salários. Muitas de suas respostas soam como utopia. De qualquer maneira, valem demais pela reflexão. Abaixo, destacamos parte delas:


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Os torcedores e o dinheiro

“A relação com os torcedores mudou completamente desde a época em que comecei. Pelos salários e por tudo o que move economicamente, você tem que buscar renda. Entendo essa parte, mas tenho muito claro que o futebol é do povo. Até onde se tem que ceder? É um pouco triste que existam pessoas que queiram ir ao futebol e não podem, porque não conseguem pagar. E a aproximação com o jogador, o mesmo. É preciso buscar um equilíbrio. Não vale pensar só no econômico, pensar só em expandir”.

O peso do jogador na sociedade

“Para mim, o futebolista não tem importância na sociedade. Para mim, a importância quem tem é um professor. Um professor é o que tenta educar ou dar valores. Temos que valorizar o professor como se deve. É preciso dar importância às pessoas que estão na base da sociedade. Deixo meu filho no colégio e a pessoa que está com meus filhos tem uma importância incrível, e você precisa dar essa importância a ela. Mas não se valoriza”.

A relação com o salário e a falta de privacidade

“Se no futebol não existissem os salários que existem, falaria-se de outra forma sobre os jogadores. De certo. Não justifico o comportamento dos jogadores. O problema do futebol é que está no foco. Tudo o que se faz, tudo o que se diz, tem essa crítica. Sempre digo que parece que tenho que pedir perdão por ganhar o que ganho. Eu me dediquei a algo por muitíssimo tempo, ao qual dedico muito tempo, que me privou de muitas coisas. Mas, claro, dar a entender às pessoas que também há coisas negativas, que eles não perderam, não são conscientes do que significam. Para mim, perder a intimidade que perdi e não poder fazer as coisas que gostaria… Se me tivessem dito como seria a vida de jogador, de tudo o que tenho, o que gostaria de recuperar? Minha privacidade. Tenho claríssimo. Mesmo prescindindo de muito dinheiro”.

A realidade econômica e os impostos

“Você ouve muitas vezes que o futebolista vive em uma bolha. Obviamente, vivemos em uma situação cômoda economicamente, mas a mim isso não me inibe das situações que vivem meus amigos, minha família. Entendo que a vida não é o que estou vivendo. Por isso creio que é preciso ser solidário. Vão nos fazer pagar uma taxa de solidariedade. Temos que entender o momento em que estamos. Se queremos um estado de bem-estar, em que todos possam ter uma vida digna… Parece mentira que estamos falando que há gente sem emprego, que não chegam ao final do mês, que não têm dinheiro para a alimentação. Vejo meus amigos. Que uma hipoteca de repente esteja te afogando, com as duas pessoas de casa trabalhando. Ou ter que considerar se você terá ou não um filho por questões econômicas. Eu entendo que se eles estão me cobrando uns impostos… Cobrando não, arrecadando para que todo mundo possa se beneficiar, eu entendo e quero que seja assim. Tem coisas como o imposto de patrimônio que me custa a entender, pelo simples fato de haver uma dupla imposição. Fico feliz que me subam os impostos se vão para onde eu acho que deveriam ir. Porque creio que não se está fazendo tudo o que se deveria”.

Ser contra a Supercopa na Arábia Saudita

“Eu disse o que pensava. Depois vem a crítica típica, que te diz que se não vai para lá não vai ganhar tanto, porque se gera dinheiro lá. Já sei que se toma essa decisão por isso. Mas outra coisa é que meu ponto de vista seja diferente. E eu não via sentido de ir à Arábia Saudita. Temos que buscar outra maneira para que exista essa renda. Ou cobrar menos, para falarmos de coisas que não criem essa polêmica”.

Quando não é tratado como uma pessoa comum

“Muitas vezes digo que não me distancio das pessoas, mas que tenho que me distanciar pela maneira como agem comigo. Gosto que me tratem como uma pessoa normal, porque me considero uma pessoa normal. No momento em que, por ser futebolista, vejo que me julgam ou veem as coisas de outra maneira, eu sou relutante”.

“Eu me sinto cômodo quando me tratam como uma pessoa normal. Meu hobby de cavalos, por exemplo, foi por aí. Vou a um lugar em que não sou Raúl García. Sou Raúl, um companheiro a mais”.

Os julgamentos sobre os jogadores

“Eu entendo a imagem que as pessoas têm de mim como jogador. Sou uma pessoa que compete, que mete a perna, que com o árbitro não paro de falar… A imagem que há eu entendo. O que quero é que as pessoas entendam é que esse é meu trabalho. É a parte que você vê. Não quer dizer que conhece a pessoa. Se eu te disser que sou tímido, quem me vê no futebol dirá que é impossível. Ou que sou calado, e isso é impossível, porque se me vê 90 minutos durante a semana não me conhece. Eu creio que sou uma pessoa super tranquila, bastante madura desde sempre”.

Insultos aos jogadores

“Que você vá a um campo de futebol e precise aguentar insultos, me parece que não tem sentido. Por ser jogador tenho que aguentar que estejam faltando com respeito? Se ando pela rua e faço o mesmo com uma pessoa que não conheço, o que você acha que pode acontecer? Há coisas que você precisa começar a falar claramente. Isso não é normal. Ver o que se pode fazer para que isso não aconteça. Porque é um tema de educação”.

A maneira como lida com a fama

“O problema é que as pessoas precisam entender que às vezes é incômodo que você esteja com seus filhos, fazendo qualquer coisa, e venham tirar o tempo que você está desfrutando com eles, como se você estivesse se queixando. E a típica frase de que ‘isso está incluso no salário’. Eu não digo que não e fico feliz em fazer. Se me pedem uma foto, um autógrafo, eu vou dar. Mas custa às pessoas entenderem que estou desfrutando o tempo com minha família, como eles estão fazendo. Se estamos em festas em Bilbao, para compartilhar momentos que gostaria com meus filhos, muitas vezes não o faço. Começam a pedir fotos. Chega um momento em que você não pode estar lá. Porque, claro, se você diz que não, as pessoas se sentem mal. Se você diz que sim, não pode estar com seus filhos. Há muitas coisas que deixei de fazer porque não quero me encontrar nessa situação e não gosto de dizer não”.

A felicidade perfeita

“Sobretudo, a saúde é algo que me dá felicidade, porque quando você tem uma situação de saúde pessoal ou de alguém próximo, você valoriza as coisas de outra maneira. A saúde é o que me dá tranquilidade e felicidade. Se falamos de situações com mais gente, é muito simples: estar com meus amigos, com família ou com a minha gente, mesmo fazendo nada, me vale. Por quê? Pelo que dizia antes, porque me encontro num entorno em que estou seguro, em que não me preocupo se estão me olhando, se estão tirando uma foto, se estão me criticando…”

O maior medo

“Sendo pai, o passar do tempo é uma das coisas que me cria um pouco de medo. Porque dou conta que as situações passam, que há muitas que não vão voltar. Ver as crianças com aquela nostalgia de saber que isso que você viveu deixará de acontecer. Não falo muito, mas é das coisas que tenho um pouco de… não chamaria de medo, mas é a coisa que me tira a tranquilidade”.

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