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·20 de novembro de 2024

Que Barraca(s): filhos no comando, <i>favores</i> familiares e discussões com Milei

Imagem do artigo:Que Barraca(s): filhos no comando, <i>favores</i> familiares e discussões com Milei

O futebol sul-americano está habituado a regalar os apaixonados pelo futebol com diversas histórias caricatas. Autênticas pérolas futebolísticas, que, por vezes, chegam mesmo a chocar quem com elas se depara. Esta que iremos relatar neste artigo integra esse restrito lote. Apertem então os cintos para uma viagem atribulado à Argentina, país célebre pelas massas associativas fervorosas e pelo amor destas aos respetivos emblemas e figuras históricas.

Da mesma forma como se veneram algumas entidades específicas, também se odeiam outras. E que o diga Claudio Tapia, atual presidente da Associação de Futebol Argentino. O dirigente tem estado envolvido num número interminável de polémicas, muitas delas associadas a um clube que conhece tão bem como a palma da sua mão: o Barracas Central.


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Antes de olharmos para o contexto atual, com os múltiplos dramas que têm circulado na imprensa internacional, é necessário dar a conhecer um pouco do percurso do nosso protagonista, caracterizado por altos e baixos, numa saga bem-sucedida até ao topo.

Retornar a casa com um estatuto distinto

Claudio apaixonou-se desde cedo pela formação onde viria a escrever grande parte da sua trajetória. Natural de Concepción, na província de San Juan, Chiqui [alcunha que é vulgarmente tratado], tal como grande parte das crianças, seguiu para Buenos Aires com o sonho de ser um avançado de topo. Calçou então as chuteiras e partiu para a aventura. No entanto, depois de atuar nas camadas jovens do Independiente e de se estrear no profissional pelo Barracas Central, rapidamente se cansou desta vertente. O destino reservou para si uma tarefa diferente. Já lá vamos...

Depois de se despedir, de forma precoce, da vida de jogador, Claudio começou a trabalhar como varredor de rua. Contudo, entre múltiplas profissões que desempenhou, foi no Sindicato dos Camionistas que obteve um papel de maior relevo. Foi também no respetivo posto que conheceu a sua futura esposa, Paola Moyano - filha de Hugo Moyano, líder da Associação e presidente do Independiente, uma turma com bastante tradição no país.

Todavia, as estrelas alinharam-se para o retorno de Chiqui ao mundo futebolístico: em 2000, foi chamado por um grupo de sócios para ajudar na reorganização do Barracas Central, que atravessava, à época. uma grande crise financeira. Depois das boas impressões inaugurais, o protagonista desta história assumiu logo a presidência do clube, no ano que se sucedeu.

Nos primeiros tempos de mandato, era notória a sua enorme vontade de guiar a equipa que atua de vermelho e branco ao principal pedestal do futebol argentino. Como tal, chegou mesmo a exercer a função de técnico principal ao mesmo tempo que tratava da administração do conjunto. A forma vincada e convicta como geriu o emblema da capital acabou por render os seus frutos.

De varrer a rua para varrer o Mundial

Em 2009/10, o Guapo, sob a sua alçada, alcançou a subida ao Torneo Primera B Metro, correspondente ao terceiro escalão. Posteriormente, depois de uma longa caminhada, conquistou a competição em questão e, mais tarde, colocou a sua equipa no patamar mais elevado da nação. Um feito bastante marcante na história do clube, aclamado no Estádio Claudio 'Chiqui' Tapia, nome naturalmente atribuído pelo dirigente em questão.

Ao mesmo tempo, face ao seu gradual prestígio e à sua vasta rede de contactos, começou a estar mais ligado aos assuntos da Asociación del Fútbol Argentino, entidade máxima da modalidade no país. Em 2017, chegou mesmo à liderança do organismo, depois de Luis Segura ser afastado do cargo por fraude, em junho 2016. Depois de uma grande revolta na seleção argentina, derivada das constantes desilusões nas competições internacionais, Tapia tinha como objetivo contornar a delicada situação.

Uma das primeiras medidas passou por cortar o acordo entre a seleção e o Estado para a transmissão dos jogos na TV pública, negociando, posteriormente, os direitos com as empresas Disney + e Turner, donas da ESPN e TNT Sports. Após uma campanha frágil dos albicelestes no Mundial 2018, sob o comando do controverso Jorge Sampaoli, as críticas acentuaram-se.

Tapia, numa cartada que viria a revelar-se decisiva, apostou as suas últimas fichas em Lionel Scaloni, que revolucionou o paradigma da equipa. O resto é história. A conquista do Campeonato do Mundo 2022, no Catar, fez com que a onda de desconfiança à gestão do líder se convertesse em aplausos.

As dificuldades resolvem-se... em família

Contudo, nem tudo tem sido um mar de rosas para o antigo líder máximo do Guapo. A verdade é que a sua árvore genealógica deu o mote para os atritos primários. Quando Claudio abandonou o barco, em 2020, o cetro foi passado ao seu filho, num modelo praticamente hereditário.

Atualmente, Matías Tapia prossegue no trono dos Barraqueños, ao passo que Iván Tapia, filho mais novo, é o capitão e o camisola '10' do clube. Este suspeito modelo de negócio, associado a um agregado familiar, não deixou ninguém indiferente, sobretudo depois do mais recente episódio.

No dia 17 de outubro de 2024, foi convocada uma Assembleia-Geral Ordinária pela AFA, com o propósito de definir novas medidas legislativas. Um dos tópicos colocados em cima da mesa passou pelo alargamento do número de clubes na primeira divisão argentina de 28 para 30 já para a próxima temporada. A proposta foi aprovada, mas deixou um coro de desconfiança, fruto do atual posicionamento do Barracas Central na tabela classificativa.

Los Camioneros são, atualmente, últimos classificados da Primera División Argentina, com apenas 16 pontos somados em 22 jornadas. Posto isto, muitos adeptos do futebol argentino acreditam que esta nova alteração no regulamento pode ter sido um pretexto para evitar uma eventual descida de divisão do clube presidido pelo rebento do dirigente da AFA.

Tapia vs. Milei: «Parece a Venezuela com Maduro»

Estas recorrentes dúvidas prendem-se, ainda, com um conjunto de ações duvidosas das equipas de arbitragem favoráveis ao conjunto de Buenos Aires, ao longo dos últimos anos. Na plataforma Youtube, muitos simpatizantes da modalidade publicaram compilações de alguns lances passíveis a uma outra análise.

Estas divergências chegaram mesmo à esfera política. Na assembleia mencionada anteriormente, aconteceram, de forma surpreendente, as eleições para Presidente, Vice-Presidentes e integrantes do Comité Executivo, sufrágio que estava previsto para 2025. Ora, esta mudança sem aviso prévio não agradou a Javier Milei, presidente da Argentina, que deixou duras críticas à atitude de Chiqui: «Poderíamos ter uma Liga local de muito melhor qualidade se não fossem as negociações duvidosas da AFA.»

«A Inspeção Geral de Justiça havia ordenado que as eleições antecipadas propostas pelo Sr. Tapia fossem inválidas. Parece a Venezuela com Maduro, que antecipou o Natal. Bem, eles anteciparam as eleições de forma irregular. Além disso, deve existir uma mente aberta por parte das pessoas. Ninguém é obrigado a mudar o modelo corporativo, mas se alguém quiser fazer isso, terá que lhe dar oportunidade. Qual é o problema? Porque é que o incomoda que as pessoas possam escolher? Temos que investigar o assunto», acrescentou.

Esta Caixa de Pandora de intrigas parece estar longe de se fechar. Veremos se a intervenção jurídica trará novos contornos a uma casa, que, aparentemente, conta com cada vez mais furos na parede.

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