Quando os times masculinos terão mulheres como técnicas ou diretoras? | OneFootball

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Vitor Geron·04 de setembro de 2020

Quando os times masculinos terão mulheres como técnicas ou diretoras?

Imagem do artigo:Quando os times masculinos terão mulheres como técnicas ou diretoras?

O futebol feminino cresce, mais mulheres estão comentando jogos (mesmo no masculino), a exposição aumenta, mas… quando teremos mulheres em posições de destaque nos clubes de futebol? Será que Kathleen Krüger, gerente do Bayern campeão da Champions League continuará sendo exceção?

O OneFootball convidou as comentaristas e ex-jogadoras Alline Calandrini e Milene Domingues para entrevistas sobre o atual momento e os rumos do futebol no Brasil em reportagens que serão publicadas ao longo dos próximos dias. Nesta primeira, a discussão é sobre a mulher ocupando cargos no futebol masculino e o planejamento pós-aposentadoria.


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“Infelizmente o futebol masculino é muito preconceituoso, machista. É difícil [uma mulher técnica de um time masculino], acho complicado. Sei de uma que trabalha no futsal do Palmeiras, mas é raro. No Bayern tem uma mulher na comissão técnica masculina [Kathleen Krüger], e isso virou assunto justamente por ser raro. Eu não consigo imaginar tão próximo uma mulher comandando um time na Série B ou Série A dos homens. Não por falta de capacidade, mas de oportunidade”, disse Calandrini, que virou jornalista após encerrar a carreira.

Para Milene, que também é embaixadora do futebol feminino do Corinthians, pensar em mulheres ocupando cargos de comando no futebol masculino é o final de um processo em andamento.

“Não acho distante, mas é preciso pensar passo a passo. Ter uma diretora ou uma técnica, seria correr sem ter engatinhado ou caminhado. Capacidade existe, não tenho dúvida, seja homem ou mulher, mas a mudança cultural precisa quebrar essas crenças de algo que vem há muito tempo. A mulher está ganhando espaço e, para esses cargos maiores, acho que é questão de tempo”, analisou Milene.

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Foto: imago images / Fotoarena

Por enquanto, além do desenvolvimento do futebol feminino, é possível notar maior presença de jornalistas e comentaristas mulheres, mesmo nos jogos masculinos, dirigindo as equipes femininas de clubes tradicionais, tanto em campo quanto fora dele.

“Sim, a mulher está ocupando um espaço [no futebol como um todo]. As pessoas acham que você quer lacrar colocando mulher comentando jogo, mas ninguém quer lacrar. É que homens e mulheres entendem de futebol, só que a mulher não tem esse espaço. É um espaço que deveria ter sido dado há muito tempo. O SporTV contratou várias mulheres, e acho importantíssimo. Tem algumas que narraram, também, mas ainda existe preconceito”, avaliou Calandrini, que comenta futebol na Band.

Abismo financeiro impacta no pós-carreira

Se os salários no futebol feminino ainda são mais baixos, se muitas jogadoras da elite ainda não são profissionais, obviamente tudo isso atrapalha o pós-carreira. Depois da aposentadoria, as mulheres encontram mais dificuldade para se recolocarem no mercado, mesmo do futebol.

“Uma coisa muito diferente é o que os homens ganham, principalmente os da Série A1, com o que as mulheres ganham. Quando os homens param, têm uma fortuna, a mulher não. E muitas não estudam e não se preparam para quando param. Os homens também não, mas têm grana para empreender, contratos, são famosos…”, destacou Calandrini, que completou:

“A gente não tem incentivo pra trabalhar como treinadora, preparadora física. A CBF tem alguns cursos caríssimos. Acho que a CBF poderia facilitar para a jogadora, para continuar no futebol, seja masculino ou feminino”.

Por outro lado, Milene destacou que, mesmo com as dificuldade, as coisas estão melhorando. No Corinthians, por exemplo, todas as jogadoras do elenco principal são profissionais. Além disso, as atletas conseguem estudar.

“Temos parceria com escola de idiomas e faculdade. O curso de inglês pro sub-17 é obrigatório. E as mais velhas, do profissional, podem se preparar para seguir uma carreira, mesmo fora do futebol. Muitas estudam e tem formação, graças à faculdade que proporcionou isso”, lembrou.

Na opinião de Milene, o cenário pós-aposentadoria é muito melhor hoje do que na época em que ela parou de jogar.


Foto destaque: imago images / Poolfoto