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·01 de agosto de 2023

Primeiro holandês da Roma, Maarten Stekelenburg fracassou na capital italiana

Imagem do artigo:Primeiro holandês da Roma, Maarten Stekelenburg fracassou na capital italiana

O torcedor da Roma pode contar nos dedos os goleiros confiáveis que a equipe da capital teve na baliza na década de 2010. Alisson, Wojciech Szczesny e Morgan De Sanctis se destacaram como raras exceções que trouxeram segurança ao gol da Loba nesse ínterim. Ao longo deste período, nada menos que 14 arqueiros foram testados na meta giallorossa. Um deles foi Maarten Stekelenburg, contratado com status de titular da seleção holandesa, mas que passou longe de resolver os problemas da posição.

Oriundo de Haarlem, capital da província da Holanda do Norte, Stekelenburg passou pelas categorias de base de Zandvoort ’75 e VV Schoten antes de ingressar no setor juvenil do Ajax. Curiosamente, ele não era goleiro de origem, mas encontrou sucesso ao ser testado em um jogo no qual o titular estava ausente. Com apenas 13 anos, o neerlandês já dava sinais de enorme potencial com as luvas, e foi desse modo que despertou o interesse dos olheiros dos Godenzonen. Surdo do ouvido direito, Maarten mostraria que isso não seria um obstáculo para vestir a camisa número 1 de um dos maiores clubes do mundo.


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Após período de maturação, Stekelenburg também iniciou sua jornada nas seleções holandesas de base, a partir de 2000, quando teve sua primeira oportunidade no time sub-18 da Oranje. No ano seguinte, o arqueiro foi incluído na convocação para o Mundial Sub-20, com Louis van Gaal na área técnica. A partir de 2002-03, Maarten entrou na briga pela vaga no gol do Ajax com Bogdan Lobont e Joey Didulica.

Com lesões dos titulares, o jovem teve chances em algumas partidas e foi titular na conquista da Supercopa da Holanda. Em 2004-05, Ronald Koeman o escolheu como titular e Stekelenburg também fez sua estreia na seleção principal da Holanda, substituindo Edwin van der Sar no intervalo em um amistoso contra Liechtenstein. Após uma lesão, Maarten retornou em 2005-06 para se firmar na escalação inicial, atuando tanto no Campeonato Holandês quanto na Liga dos Campeões. Neste período, o arqueiro ergueu sua segunda taça no clube, a Copa da Holanda, e foi selecionado pelo treinador Marco van Basten para a Copa do Mundo da Alemanha.

Naturalmente, permaneceu na sombra de Van der Sar durante o Mundial. Mas parecia questão de tempo até a lenda do Manchester United passar o bastão. Além de ser o goleiro principal no Ajax, Stekelenburg se estabeleceu como o favorito a herdar a posição na Holanda. Em 2007, atuou mais vezes pela seleção do que o titular. Após ter poucas oportunidades na Euro 2008, Maarten assumiu a titularidade mais tarde, com a aposentadoria da lenda da Oranje.

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Stekelenburg chegou à Roma para participar de uma revolução na equipe (Getty)

Algumas atuações inconsistentes o colocaram na berlinda tanto no clube quanto na seleção, e ele recebeu críticas, sendo relegado ao banco por um período. Em fevereiro de 2010, Van der Sar deu ponto final nos rumores de retorno à seleção, deixando claro que Stekelenburg seria o titular na África do Sul. “Steken” eliminou a desconfiança com intervenções decisivas, nas oitavas de final, contra a Eslováquia, e a mais memorável de todas, nas quartas, quando parou Kaká no jogo contra o Brasil. O gol de Andrés Iniesta, aos 116 minutos da final contra a Espanha, não desvalorizou o desempenho sólido do arqueiro, que foi vazado seis vezes, sendo duas delas em cobranças de pênalti.

No auge físico e técnico, Stekelenburg conquistou mais um título holandês antes de encerrar sua primeira passagem no Ajax Em julho de 2011, tomou a decisão de se transferir para a Roma. Os italianos desembolsaram 6,3 milhões de euros pelo primeiro neerlandês da história da agremiação. “Queria ter uma experiência no exterior e o projeto da Roma era intrigante”, afirmou poucos meses depois, ao jornal Tuttosport. Na mesma entrevista, Maarten revelou ter sido procurado pela Juventus para substituir Gianluigi Buffon em uma possível saída. “Fui contatado pelo clube, mas nunca deu em nada”.

Apesar de estar em um bom momento, Stekelenburg foi assombrado por uma fase turbulenta. Na seleção, faria parte do vexame em que a seleção holandesa sequer passou da primeira fase na Euro 2012. Antes disso, em sua estreia oficial na Roma, sofreu um revés contra o Slovan Bratislava pela última fase qualificatória da Liga Europa. Os giallorossi também não venceram na volta e foram eliminados da competição. A derrota em casa, na primeira rodada da Serie A, frente ao Cagliari, aumentou a pressão sobre a equipe de Luis Enrique.

Vale destacar que a Roma vivia um momento particular àquela altura: eram os primeiros meses de uma nova gestão, formada por um grupo norte-americano encabeçado por Thomas DiBenedetto, que adquiriu a agremiação junto a Rosella Sensi. Os novos donos da Loba tinham a intenção de levar os giallorossi a praticarem um futebol inspirado no Barcelona e, por isso, buscaram Luis Enrique, técnico do time B blaugrana. Além disso, fizeram diversas contratações de peso: além de Stekelenburg, chegaram Gabriel Heinze, Simon Kjaer, Miralem Pjanic, Fernando Gago, Erik Lamela, Bojan Krkic, Pablo Daniel Osvaldo e Fabio Borini. Entretanto, uma reformulação tão profunda como aquela teria seus percalços.

Em setembro, Maarten foi atingido na cabeça, pelo zagueiro Lúcio, durante um jogo contra a Inter, e chegou a desmaiar em campo. Por conta da pancada, Stekelenburg ainda perdeu as três rodadas seguintes da Serie A e chegou a ser cortado de compromissos da Holanda numa data Fifa. O começo não foi fácil, visto que Luis Enrique tentava trocar o pneu com o carro em movimento ao buscar implementar sua abordagem ofensiva e focada no controle da posse. Esses imprevistos em nada ajudavam o técnico espanhol.

A Roma oscilava e sua defesa frequentemente deixava o arqueiro holandês exposto. Dessa forma, duas expulsões em jogos decisivos, ambas por pênaltis cometidos, marcaram a temporada de Stekelenburg: a primeira delas ocorreu aos 8 minutos do segundo dérbi contra a Lazio, com a Loba sendo derrotada por 2 a 1. A segunda aconteceu contra a Juventus, aos 26 minutos, quando os capitolinos já perdiam por 2 a 0, e encaminhou uma goleada bianconera por quatro gols. Ainda assim, o goleiro foi titular na maior parte dos compromissos dos giallorossi e foi vazado 45 vezes em 33 apresentações.

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Exposto no esquema de Luis Enrique e questionado por Zeman, o holandês não teve vida fácil na Itália (Iguana Press/Getty)

Por conta do modesto sétimo lugar, que deixou a Roma fora de competições europeias em 2012-13, Luis Enrique não permaneceu na Cidade Eterna. Zdenek Zeman e suas idiossincrasias – aceitas na agremiação, onde já construíra bela história – foram a escolha da diretoria na substituição ao espanhol. Para Stekelenburg, isso significava uma ameaça.

No decorrer da temporada 2012-13, o grandalhão de 1,97 m cometeu muitos erros e sofreu uma lesão na tíbia no fim de outubro, num jogo contra o Parma, válido pela 10ª rodada da Serie A, o que levou a Roma a investir no uruguaio Mauro Goicoechea, seu reserva. O holandês não escondeu a insatisfação. “Eu acho que foi totalmente sem sentido comprar Goicoechea, considerando que nós já tínhamos Bogdan Lobont no elenco. Qual é a necessidade de um terceiro goleiro?”, questionou em entrevista ao site Sport Promotion.

Inicialmente, Lobont era o substituto, mas Goicoechea assumiu a titularidade e foi mantido mesmo após a recuperação do titular. Relegado à Coppa Italia, Stekelenburg jogou nas oitavas de final, contra a Atalanta, e na partida de ida das semifinais, em vitória por 2 a 1 sobre a Inter. Após essa segunda oportunidade, não poupou críticas à decisão do técnico Zeman, que seria demitido pouco mais de uma semana mais tarde. “Por que Zeman perdeu a confiança em mim? Eu não sei. Nós nunca falamos sobre isso e não há nada que eu possa fazer para mudar esta situação”. Por fim, o arqueiro deu um ultimato à diretoria, considerando o intervalo entre as ocasiões em que entrou em campo. “São seis semanas, é muita coisa para suportar. Eu quero jogar, não ficar no banco”, pontuou.

O tempo daria razão a Stekelenburg. No dia 1º de fevereiro de 2012, a Roma recebeu o Cagliari no Olímpico e, no primeiro lance de ataque da etapa complementar, o brasileiro Danilo Avelar efetuou um cruzamento inofensivo para a área e Goicoechea empurrou a bola para as suas próprias redes, num dos gols contra mais bizarros da história do futebol italiano. Os giallorossi perderam por 4 a 2, Zeman foi demitido e, sob o comando de Aurelio Andreazzoli, o holandês retomou a titularidade.

Entretanto, os dias de Maarten na capital italiana estavam contados. Já em janeiro houve negociações com o Fulham, mas o acerto entre os clubes ruiu de última hora. Na gestão interina de Andreazzoli, Stekelenburg de fevereiro a meados de abril de 2013, quando um problema físico lhe afastou da reta final da temporada – incluindo da final da Coppa Italia, que a Roma, fora das competições europeias devido ao sexto lugar na Serie A, perdeu para a arquirrival Lazio.

Em junho de 2013, o Fulham voltou à carga e Stekelenburg seguiu para o time inglês, com o intuito de recuperar a sequência de antes – e também de honrar o legado de Van der Sar, que fora ídolo em Craven Cottage. A proposta de 5,6 milhões de euros foi aceita pela Roma, de modo que, após 55 aparições e 78 gols sofridos, tinha fim a trajetória do primeiro holandês da história da agremiação capitolina. Acabava, sem deixar saudades nos giallorossi, a passagem de um jogador que gerou expectativas, mas não entregou muito além de erros e polêmicas.

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Stekelenburg chegou a voltar à meta da Roma após a demissão de Zeman, mas seu destino já estava selado – e seria bem longe da Itália (Getty)

Stekelenburg iniciou bem no Fulham, mas lesões no ombro o afastaram da titularidade, dando espaço a Gavin Stockdale. Quando retornou, já era tarde: teve que se conformar com o banco de reservas. Não foi lembrado para a convocação da Copa de 2014. Sua percepção no mercado mudou, deixando de ser visto como titular para ser considerado um goleiro experiente para compor o elenco.

Na temporada 2014-15, o holandês foi emprestado ao Monaco, onde atuou principalmente em partidas da Copa da França. Depois, em 2015-16, serviu como reserva de Fraser Forster no Southampton, a pedido de Ronald Koeman. Após o término do contrato com o Fulham, ele novamente se juntou ao compatriota no Everton. O arqueiro teve uma breve retomada na carreira ao ser titular dos Toffees, com direito a defesa de um pênalti, contra o Manchester City, cobrado por Sergio Agüero.

Enquanto Jasper Cillessen era reserva no Barcelona e Tim Krul enfrentava dificuldades no Ajax, Stekelenburg teve uma nova chance na seleção, durante a campanha fracassada nas Eliminatórias da Copa de 2018. No Everton, perdeu a titularidade para Joel Robles e, posteriormente, para Jordan Pickford. Ficou como reserva até 2020, quando seu contrato se encerrou e, surpreendentemente, retornou ao Ajax.

Em janeiro de 2021, a suspensão de André Onana, por doping, abriu espaço para Stekelenburg se tornar o titular do Godenzonen por alguns meses. As atuações seguras o levaram de volta à Oranje, após cinco anos, pelas mãos de Frank de Boer. Após Cillessen testar positivo para covid-19, Maarten emergiu como o goleiro principal para a Euro 2020, numa jornada de herói inesperada. Com a eliminação nas oitavas de final, Steken anunciou sua aposentadoria do futebol internacional.

Prestes a completar 40 anos, Maarten estendeu o seu contrato com o Ajax por mais uma temporada. Entretanto, sua última campanha pelos Godenzonen foi a de 2022-23, quando foi terceiro goleiro e sequer entrou em campo. Foi então que pendurou as luvas e encerrou uma carreira que ficou aquém do prometido, com direito a uma mancha em Roma, na sua maior oportunidade fora dos Países Baixos. Stekelenburg ficou lembrado por alguns como um quebra-galho, mas ainda assim, pode ser ídolo em Amsterdã e se gabar de ser detentor de uma extensa coleção de troféus.

Maarten Stekelenburg Nascimento: 22 de setembro de 1982, em Haarlem, Países Baixos Posição: goleiro Clubes: Ajax (2002-11 e 2020-22), Roma (2011-13), Fulham (2013-16), Monaco (2014-15), Southampton (2015-16) e Everton (2016-20) Títulos: Eredivisie (2004, 2011, 2021 e 2022), Copa da Holanda (2006, 2007, 2010 e 2021), Supercopa da Holanda (2002, 2007 e 2008) Seleção holandesa: 63 jogos

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