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Ian Chicharo Gastim·18 de agosto de 2020
🤔 Por que muita gente odeia o RB Leipzig? 🇩🇪

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Ian Chicharo Gastim·18 de agosto de 2020
O RasenBallsport Leipzig, ou melhor RB Leipzig, como é popularmente conhecido, está na semifinal da Champions League, apenas após pouco mais de 11 anos da sua fundação, em 2009.
Com um futebol de ataque emocionante e jovens talentos, o time da Red Bull tem admiradores ao redor do mundo, mas o clube não conquistou a todos com sua história meteórica.
A história do RB Leipzig não é a de um azarão na Champions e o clube ainda é odiado em todo o futebol alemão. Por quê?
Foto: Christian Kaspar-Bartke/Bongarts/Getty Images
A Alemanha é a terra da “política dos fãs”, dos ultras, da propriedade dos torcedores sobre os clubes no futebol. A regra 50 + 1 existe, inclusive, para manter os torcedores no controle do destino de seus clubes.
Ou seja, nenhuma pessoa ou empresa pode deter mais da metade das ações de um clube e, assim, tocar a administração como bem entender.
Existem, no entanto, algumas exceções. Bayer Leverkusen e VfL Wolfsburg foram formados como clubes de trabalhadores e, portanto, isentos pela Liga de Futebol da Alemanha (DFL) da regra.
TSG Hoffenheim é outro, que é um clube de propriedade do ex-jogador e empresário bilionário local Dietmar Hopp, que recebeu permissão para assumir o clube após investir pesado.
O Leipzig não é exceção à regra. Na verdade, eles seguem tecnicamente a regra 50 + 1, mas eles simplesmente não permitem que ninguém se torne um membro votante.
Você até pode se tornar sócio – pagando até € 1 mil por temporada para ser um membro ouro -, mas isso não lhe dá direito de voto.
Ou seja, o torcedor não tem voz sobre como o clube é administrado. Algo que faz os torcedores alemães torcerem o nariz.
Para se ter uma ideia, em 2016, no seu primeiro ano na Bundesliga, o Leipzig tinha apenas 17 membros votantes. Uma coleção de funcionários do clube.
Foto: Maja Hitij/Bongarts/Getty Images
A Red Bull tinha uma ambição clara de comprar e reformular um clube de futebol na Alemanha. E eles queriam que aquele clube fosse o maior possível, o mais rápido possível.
A empresa fez tentativas para assumir o controle de St Pauli, 1860 Munique e Fortuna Düsseldorf. Com os fãs no conselho dos clubes, para darem opinião, a Red Bull, no entanto, foi rejeitada em todas as ocasiões.
Na Alemanha, o sucesso não compensa a história e a tradição. Dessa forma, a gigante de bebidas energéticas comprou a licença do modesto clube SSV Markranstädt, com sede nos arredores da cidade de Leipzig.
O estatuto da DFL proíbe nomes de empresas no clube, exceto que ela seja dona do time há mais de 20 anos, como no caso do Bayer Leverkusen, da farmacêutica Bayer.
O RB que antecede o Leipzig vem de RasenBallsport, que significa “esporte com bola na grama”, em tradução livre. Foi uma escolha necessária para usar as iniciais “RB” que se pretendia.
Dessa forma, nome e uniforme foram alterados e, de repente, o RB Leipzig existia na quinta divisão do futebol alemão.
Mas por que existem clubes de futebol? Por que eles querem ganhar dinheiro? Para a grande maioria, trata-se de vencer e conquistar títulos.
A ideia da Red Bull é jogar em alto nível para que se possa ganhar mais dinheiro e, assim, reinvestir os recursos para ganhar mais jogos.
Para o RB Leipzig, vencer não é o fim do jogo. O objetivo final é conseguir o máximo possível de olhares para a marca Red Bull.
O Leipzig vence partidas de futebol e criou uma comunidade. Mas eles só “existem” como um anúncio da Red Bull. Essa é toda a razão de sua existência e, por extensão, do seu sucesso. E isso se encaixa tão mal no futebol alemão.
Quando se trata de gastos, é claro que a ascensão de Leipzig ao topo não foi exatamente uma história de conto de fadas.
Apesar de estar na Bundesliga há apenas quatro temporadas, o time da Red Bull registrou uma despesa líquida de 160 milhões de euros com contratações, ficando apenas um pouco atrás dos 175 milhões de euros do Bayern de Munique.
Não há dúvida de que o poder de compra de Leipzig depende de sua propriedade. A Red Bull paga 35 milhões de euros por temporada para ter seu logotipo na camisa do clube.
Compare isso com o acordo de 15 milhões de euros por ano que o Borussia Dortmund assinou recentemente com o 1 & 1, apesar de haver poucas dúvidas sobre qual dos dois clubes conta com um maior número de seguidores, local, nacional e globalmente.
Isso seria bastante comum na Inglaterra, ou pelo menos não muito distante das normas que já existem. É o mesmo que acontece no Paris Saint-Germain também.
Mas todos esses clubes existiriam sem seus proprietários bilionários. O Leipzig, não. E essa é a diferença.
Foto: Alex Grimm/Bongarts/Getty Images
A verdadeira “tragédia” para os torcedores na Alemanha é que isso foi permitido acontecer no futebol alemão, onde os fãs estão mais ligados e envolvidos aos seus clubes do que em qualquer outra grande liga europeia.
Pergunte aos torcedores em St Pauli, 1860 Munique e Fortuna Düsseldorf como eles se sentem sobre rejeitar avanços da Red Bull há mais de uma década e todos dirão a você a mesma coisa: seu clube teria morrido se uma aquisição tivesse sido permitida.
A própria existência do RB Leipzig ameaça a cultura de propriedade dos fãs, que é a coisa mais importante para os torcedores na Alemanha, e significa que o clube de Leipzig pode gastar mais do que seus rivais, prejudicando a competição.
Para os alemães, o Leipzig mina o que é o futebol. E ser um clube ou um torcedor realmente significa muito para os fãs de futebol na Alemanha. Dessa forma, não é surpresa por que o RB Leipzig seja tão odiado por lá.
Foto de destaque: Guenter Schiffmann/AFP/Getty Images