Por mais necessária que fosse, saída de Oscar Tabárez corta o coração dos uruguaios: “O maior de todos” | OneFootball

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Trivela

·26 de novembro de 2021

Por mais necessária que fosse, saída de Oscar Tabárez corta o coração dos uruguaios: “O maior de todos”

Imagem do artigo:Por mais necessária que fosse, saída de Oscar Tabárez corta o coração dos uruguaios: “O maior de todos”

De Montevidéu, Uruguai

A cotação do dólar era R$2,17. Tite estava prestes a treinar o Palmeiras. O São Paulo, de Diego Lugano, recém havia derrotado o Liverpool, de Steven Gerrard, e conquistado o Mundial de Clubes. Enquanto isso, Óscar Washington Tabárez chegava ao comando técnico da Seleção Uruguaia pela segunda vez. Era março de 2006, logo depois da frustração por ter perdido da Austrália na repescagem intercontinental para a Copa do Mundo daquele ano.


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Desde 1990, quando Tabárez foi o técnico dos Charrúas na Copa da Itália, o Uruguai só tinha conseguido ir à Copa de 2002. Ficou fora de 1994, 1998 e perdeu a vaga novamente em 2006. Tabárez voltou ao posto de selecionador uruguaio para tentar mudar esse cenário.

De lá para cá, foram 15 anos, oito meses, uma semana e quatro dias de casamento entre a Celeste e o Maestro Tabárez. Dentre as principais conquistas estão o quarto lugar no Mundial da África do Sul, em 2010, e o título da Copa América, em 2011. Mas a relação de Tabárez com seu povo vai além de resultadismos, como ele mesmo gosta de dizer. O Maestro conquistou o coração dos uruguaios e o respeito de toda uma nação pela forma com que ele recuperou a Celeste e criou uma metodologia de trabalho respeitada para além das fronteiras. Com sua reformulação, o Uruguai voltou a ser relevante no cenário de seleções.

Com Tabárez no comando, o Uruguai resgatou o orgulho. Após o sucesso de 2010, foi às Copas do Mundo de 2014 e 2018 e chegou às oitavas de final e depois às quartas. Em 2018, derrubou Portugal de Cristiano Ronaldo e só caiu diante de uma França que viria a ser campeã do mundo. Apesar dos sucessos, os questionamentos passaram a ser mais constantes também pelo rendimento baixo da seleção nas Eliminatórias da Copa. Ameaçado de não ir ao Mundial de 2022 e com Tabárez sentindo os efeitos da idade, a decisão foi tomada. Mas não quer dizer que foi uma decisão fácil e nem que os uruguaios não sentiram o peso dela, mesmo aqueles que achavam que era hora de mudar.

Na quarta-feira (17), quando chegamos em Montevidéu, entramos em um táxi, saindo da rodoviária. Hector, o motorista, ouvia atentamente ao rádio em que, em alguma emissora local, debatiam sobre uma eventual saída do comandante celeste.  Notando o desapontamento dele, questionei: “Não te agrada o debate?”. Rapidamente ele respondeu: “Não me agrada que Tabárez saia”. Ao longo do trajeto, o grisalho torcedor do Cerro, que atualmente joga a segunda divisão nacional, concordou que Óscar Tabárez precisa descansar, mas também acredita que vai ser difícil ver outro profissional na casamata: “Foi o melhor que tivemos. Se sair, quem sabe ele não comande o Cerro?”, disse, rindo.

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Óscar Tabárez, técnico da seleção uruguaia (Getty Images / OneFootball)

Se o Uruguai é palco de marcos importantes no futebol mundial, Óscar Tabárez é personagem histórico na trajetória da seleção uruguaia. O técnico, até então mais longevo da história das seleções, encerra uma era na Celeste. Com 74 anos, ele enfrenta problemas de saúde, embora a teimosia e a gana por comandar a seleção de seu país não o tenha afastado da beira do gramado. Em 2016, Tabárez conduziu um treino pilotando um carrinho elétrico, para auxiliar na locomoção. Também, a muleta, para o apoio, é quase que indispensável.

O respeito conquistado por Tabárez ao longo dos anos é louvável. Quando a Associação Uruguaia de Futebol, em nota oficial à imprensa, oficializou a sua saída no dia 19, os clubes uruguaios, independentemente de divisão, começaram a divulgar notas, cards e posts em homenagem ao, agora, ex-técnico da Seleção Uruguai. Aos poucos, os atletas foram agradecendo o Maestro. Nomes como Diego Forlán e Luis Suárez escrevem lindas homenagens e mostrando eterna gratidão à pessoa Óscar e ao treinador e Maestro Tabárez.

Os rádios todos sintonizavam alguma emissora esportiva que falava sobre o fim de uma era. As televisões mostravam fotos e momentos de Tabárez no comando do Uruguai. Também não preciso dizer que as capas dos jornais só falavam disso no dia seguinte.

Valentín e Ariel, torcedores do Peñarol e que nunca viram outro técnico comandar a seleção uruguaia, acreditam que El Maestro não vai se aposentar. “Ele vai escolher alguma equipe pequena para comandar. Vai transformar o clube em uma grande equipe”, disse Valentín. Já Ariel acredita que Tabárez não vai treinar, mas vai se manter no meio do futebol. “Ele não conseguirá largar o futebol. Pode ser que encontre algum cargo de direção, mas se ele deixar o futebol pode ser que fique mais doente”.

Óscar Tabárez é tido, por muitos, como o maior técnico da história uruguaia.  “É o maior de todos. Dificilmente outro fará o que ele fez. Triste a saúde não o ajudar mais”, disse Leonardo, torcedor do Defensor, após falar sobre a briga do clube para sair da segunda divisão. “Antes dele, nos Mundiais, o Uruguai jogava como? Patada, violência, pelea. Hoje somos uma equipe que respeita o rival, quer jogar bem. Maestro organizou tudo, perdendo ou não, seguimos na mesma linha”, exaltou.

Há também quem diga que o Uruguai já precisava de uma renovação no comando técnico. “Meus amigos dizem que ele já deveria ter saído antes do último Mundial, para dar tempo para o novo técnico trabalhar”, disse Sebastian, que trabalha como porteiro e não perde tempo para conversar sobre futebol. Aproveitei o gancho e perguntei quem ele queria ver treinando a seleção. “Queria [Marcelo] Gallardo, do River, mas ele não vai querer. Gosto muito do [Diego] Aguirre, do Inter. Precisamos de um técnico jovem, mas experiente para fazer os jogadores o respeitarem e jogarem o seu jogo.”

Ainda sobre possíveis substitutos, Leonardo, que ostentava sua belíssima camiseta do Campeão de 76, disse que gostaria de ver Fabián Coito no comando da Celeste. “Entre Aguirre e Coito, ficaria com Coito. Precisamos vencer para ir ao Mundial e restam apenas quatro jogos. Coito já treinou alguns dos jogadores na seleção de base e tem experiência na seleção de Honduras. Precisamos de resultados para não ficar de fora da Copa, isso traria muitos prejuízos ao futebol uruguaio”, afirmou preocupado.

O Uruguai ainda tem pela frente: Paraguai (fora), Venezuela (casa), Peru (casa) e Chile (fora). Atualmente é o sétimo colocado, com 16 pontos. Está apenas um ponto atrás de Colômbia (4º e vaga direta) e Peru (5º e repescagem).

A frase clichê diz que um ciclo se encerra para dar início a outro. Leonardo finaliza a conversa, em frente ao Estádio Luis Franzini, dizendo: “Que sejam outros 15 anos vitoriosos”. O coração seguirá partido pela saída do Maestro Tabárez, mas ainda se permite encher de esperança para o futuro.

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