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·03 de outubro de 2022

Planejamento contra camisa: Derrota para o Del Valle expõe diferenças e traz ensinamentos

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A derrota para o Del Valle na final da Sul-Americana em 2022 trouxe muita decepção para o torcedor são-paulino. Mas com cabeça fria, olhando todo o processo, é importante dar atenção justamente para o nosso rival e usar de exemplo.

O São Paulo tem mais expressão que o Del Valle no aspecto nacional e internacional, isso considerando títulos. Entretanto, como o próprio Ceni disse, o momento é muito mais favorável ao Del Valle que de 2016 para cá, jogou sua quarta final sul-americana e venceu a segunda.


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Mas o ponto é mais amplo que títulos e finais. O que quero dizer é sobre projeto e planejamento que o Del Valle tem, isso sem um orçamento, apesar de ter investidores e estruturas moderníssimas.

Primeiro ponto: Modernização além das estruturas

O São Paulo parou no tempo e fica repetitivo falar disso. Enquanto o Del Valle tem tudo novo, mas não bastou, também sofreram no processo. E aprenderam.

Na matéria de análise do Del Valle abordamos pontos Unidade de Desenvolvimento Individual (UDI) e um departamento de scout forte. Ou seja, no primeiro, é um auxílio crucial na formação de jovens jogadores, que foram a base do título do Del Valle contra o São Paulo. Não basta só formar, ele precisa chegar o mais pronto possível a equipe profissional, e para isso, o UDI ajuda demais, assim como o IDV reservas, espécie de Aspirantes, que não desiste de atletas até seus 22 anos.

Segundo ponto: Scout

Citei acima Departamento de Scout, mas é legal descartar a parte por motivos que irei explicar. A folha salarial do Del Valle é semelhante a Série C do Brasileirão, claro que é um clube do Equador e não contém grandes investimentos em jogadores de renome.

Mas ao mesmo tempo, não ficam parados no mercado, buscam nomes alternativos com um forte trabalho de scout. Para ser claro, exemplo é o Lautaro Diaz, que jogava no Villa Dálmine da 2ª divisão argentina, e ele nem tinha grandes números, eram 7 gols em 31 jogos. Entretanto também deu 5 assistências e era um jogador participativo, como o Del Valle pretendia, e foi assim na final, sendo o destaque.

É somente um exemplo, mas outros atletas foram dando cancha para um time jovem. Seja nomes experientes como Jaime Ayovi e Gaibor que são reservas, como o experiente Pellerano. Assim como o lateral-direito chileno que veio do La Calera, Martin Fernandez. E os hermanos, Faraveli, meia que veio do Huracan e Carabajal que estava no Arsenal Sarandi.

O Brasil com maior poder econômico e atrativos, vemos o São Paulo gastando muito com Volpi, Tchê Tchê, Pablo, além de salários altíssimos em medalhões. Será que não teriam melhores opções, sem loucuras no orçamento?

Terceiro ponto: Planejamento

As coisas não acontecem do dia para a noite. Existem realmente processos, e o São Paulo sempre busca pula-los. Não adianta investir uma grana alta em um jogador, treinador, mas sem ter um planejamento, uma ideia de jogo.

O Del Valle tem uma ideologia de jogo, é ofensiva, joga com saídas curtas e geralmente no 3-4-2-1. Pois é basicamente isso com técnicos diferentes, para ter ideia, Martin Anselmi tem somente 16 jogos pelo clube, e é só o segundo trabalho como treinador. Tudo bem que foi auxiliar do Miguel Angel Ramirez e conhecia o clube, projeto, mas estava fora fazia duas temporadas, voltou e encaixou.

Planejamento é completo em todos os setores, treinadores, dirigentes e jogadores. Ou seja, buscam sempre dentro do que planejam no jeito de jogar, no que querem para a temporada e o futuro do clube. Claro que o foco é ser campeão, mas não é obsessão, respeitam processos e colhem frutos.

Quarto ponto: Organização

Talvez o ponto mais importante que é organizar tudo isso. Não adianta fazer algo sem ter uma diretriz e convicção nos processos, mesmo com percalços pelo caminho.

No Del Valle, claro, a pressão é muito menor, apesar de ser um clube antigo, mudou de nome e não tinha uma grande massa por trás. Dentro do São Paulo, a pressão será por resultados imediatos, e isso faz pular etapas.

Podemos olhar para o próprio São Paulo dos anos 2000, onde tinha um sistema bem feito de reforços ‘baratos’, e destaques de times médios, em crescimento na carreira. Claro, o mercado mudou, o futebol brasileiro mudou e não dá para repetir 100%. Mas é neste momento que entram todos os pontos acima, unindo e formando uma filosofia, junto com a modernização e um departamento de scout.

O volante Zé Luis, campeão brasileiro de 2007-08 pelo São Paulo, esteve no Boleiragem neste final de semana e falou alguns pontos sobre o São Paulo do passado e o atual. E ele é um exemplo, um jogador sem tanto nome quando veio, não é tão lembrado, mas fez sucesso. Ele é só um exemplo, Richarlyson, Josué, Mineiro, Lenilson, Danilo, e tantos outros… Mas não somente os nomes em campo , Zé comentou que o time tinha uma ideologia, uma gestão forte com Juvenal, papel do coordenador Milton Cruz e do treinador Muricy, o resultado vinha em campo.

Reflexão final

A questão não é ser igual o Del Valle ou outro projeto, mas olhar para elementos importantes que temos e tentar implementar do jeito que o clube é. Não existe fórmula do sucesso no futebol, mas sim organização, trabalho e convicção.

O São Paulo vive uma grave crise financeira, todos sabem, e atrapalha muito. Mas é fruto do que já citamos acima e que segue sendo recorrente, gasta-se muito e ganha-se pouco. Por isso é necessário olhar para estrutura do clube em modo geral, e não é reclamando da falta de dinheiro, ou de rivais como Palmeiras e Flamengo contratando estrelas.

É preciso ter inteligência de mercado, um scout que trabalhe firmemente para encontrar soluções. Como pode um elenco sem ter um meia? Nem médio, ruim ou bom… Sequer tem um peça, sofre com falta de velocistas, e ainda sim é uma das maiores folhas salariais do Brasileirão 2022, resultado no fim do ano é trágico.

Abraços

Fábio Martins (@fbiomartins1)

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