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André Gonçalves·25 de janeiro de 2018
Para que serve uma Taça da Liga em Portugal?

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André Gonçalves·25 de janeiro de 2018
Passaram dez anos desde a primeira edição da Taça da Liga. Vale a pena manter a competição nestes moldes?
Já se conhecem os finalistas de mais uma edição da Taça da Liga. Após o 0-0 no tempo regulamentar, o Sporting bateu o FC Porto nas grandes penalidades e vai encontrar o Vitória de Setúbal na final, a ter lugar no próximo sábado em Braga.
Seria de esperar uma grande partida entre duas das melhores equipas em Portugal, mas infelizmente tal não sucedeu. Na verdade assistimos a um jogo de fraca qualidade, repleto de faltas e passes errados. Houve momentos em que os atletas ainda tentaram mostrar algo mais, mas a arbitragem de Nuno Almeida nunca deixou a bola rolar.
Na tentativa de ‘segurar’ o jogo, o juiz algarvio apitou mil e uma faltas desnecessárias, fazendo com que no final dos 90 minutos estivéssemos perante um total de 53 (!) faltas. Ironicamente, o jogo não foi violento ou excessivamente agressivo e a prova disso mesmo é que, apesar das mais de 50 faltas, Nuno Almeida exibiu ‘apenas’ cinco cartões amarelos. Uma meia-final merecia outro tipo de arbitragem e os cerca de 27 mil espectadores que se deslocaram ao Estádio Municipal de Braga mereciam ter visto um jogo de futebol e não uma sinfonia do apito.
É claro que a arbitragem não foi o único responsável pelo pobre espectáculo. O futebol nervoso e trapalhão de ambas as equipas, aliado às lesões de Danilo e Gelson também não ajudaram. A verdade é que por muito que amemos futebol ou os clubes envolvidos, perante a partida de ontem e o historial da competição, a pergunta impõe-se: vale a pena ter uma Taça da Liga em Portugal?
A Taça da Liga foi criada com o objectivo de aumentar o número de partidas e receitas para os clubes e para a Liga. Desde 2007/08 já sofreu duas reformulações e teve quatro patrocinadores, mas continua sem conseguir cativar o interesse ou o mediatismo desejado aquando da sua génese. A maioria dos adeptos não percebe bem a peculiaridade dos regulamentos da competição e considera hilariante ver uma equipa passar à fase seguinte por ter uma média de idades inferior ao adversário. É de facto, hilariante.
A competição está ‘feita’ para que os quatro primeiros da Liga – leia-se três grandes e o SC Braga – entrem directamente para a fase final de grupos, enquanto que os demais clubes têm de disputar uma pré-eliminatória (a um só jogo) em Julho, numa fase embrionária da época em que uma boa parte das equipas ainda não consegue fazer três passes seguidos. Será assim tão difícil criar uma competição em que todos os clubes sejam tratados por igual e não exista uma espécie de VIP pass para uma determinada elite? Como é que é possível que os clubes tenham aprovado este regulamento em assembleia geral?
As primeiras eliminatórias da Taça da Liga são um fracasso competitivo e comercial. No dia 23 de Julho, o Sporting da Covilhã recebeu o União da Madeira no José Santos Pinto, perante 339 espectadores. No mesmo dia, o Penafiel era eliminado pela Oliveirense (surpreendente semifinalista e talvez o único factor de interesse da prova deste ano) no Estádio 25 de Abril, perante uma multidão composta por 506 pessoas. Pergunto-me se as receitas obtidas nestes jogos são suficientes para cobrir as despesas associadas à realização de um evento desportivo.
A Liga de clubes tem feito um esforço tremendo para manter esta prova ‘ligada às máquinas’, com particular ênfase na nova identidade gráfica e na forte presença nas redes sociais. Contudo, esta competição não faz sentido no actual plano competitivo.
As equipas envolvidas nas competições europeias, como Sporting e Porto, estão muito perto das 40 partidas disputadas nesta época. A fadiga é evidente e como tal, as lesões são inevitáveis (vide Danilo Pereira e Gelson Martins). Em anos de Europeu ou Mundial, o excesso de jogos ganha proporções dramáticas. Devíamos pensar em salvaguardar a componente física dos atletas e evitar sobrecarregá-los com partidas ‘desnecessárias’.
É certo que tanto Conceição como Jesus poderiam ter apresentado formações compostas por reservas, mas a verdade é que um clube grande não se pode dar ao luxo de entrar numa competição apenas para rodar jogadores. Há um troféu em jogo e, como tal, é imperativo lutar pela vitória, sobretudo quando se defronta um rival.
Em suma, não faz sentido manter esta competição no formato actual. O interesse dos adeptos na competição é baixo, as receitas insuficientes, a vitória na prova não oferece qualificação europeia (ao contrário da Taça da Liga Inglesa) e, além do mais, contribui para o aumento da fadiga nos atletas.
Aquando da criação da Taça da Liga, a intenção da Liga e dos clubes era boa, mas passados 10 anos fica a ideia que este ‘avião nunca chegou a levantar voo’. Por enquanto é tempo de dar os parabéns a Sporting e Vitória FC e desejar que a final de sábado seja um espectáculo memorável e um grande jogo de futebol.