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·24 de novembro de 2020

Palmeiras está no caminho para recuperar o seu DNA

Imagem do artigo:Palmeiras está no caminho para recuperar o seu DNA

O Palmeiras é um dos maiores campeões nacionais, é fato. No entanto, como qualquer clube, passou por dificuldades. De 2014 para cá, alguns altos e baixos marcaram o clube que sofre com inconstâncias que incomodam os torcedores.

Apesar de figurar quase sempre entre os primeiros colocados na tabela, alguma coisa ainda se perde no Verdão. Estar em todas as edições da Libertadores (desde 2015) e sempre fazer excelentes campanhas no primeiro turno frustram ainda a equipe que não ganha a competição por lampejos e apagões em jogos decisivos.


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Compras. Investimentos altos. Jogadores e mais jogadores. Até o presente momento foram conquistados uma Copa do Brasil, dois brasileiros e um Paulista em cima do maior rival. Mas ainda falta…

Mas, o Palmeiras precisava recuperar seu ímpeto brigador em campo. De lutas e resistência. Foi então, que em dezembro de 2019, o presidente Maurício Galiotte decidiu trazer de volta Vanderlei Luxemburgo. Conhecido e vitorioso. Não tinha como dar errado, certo?

Por isso, a coluna Rasgando o Verbo de hoje vai falar sobre a busca do Palmeiras por recuperar a sua identidade em meio ao contexto e à sua história.

LUXEMBURGO DE VOLTA AO PALMEIRAS: FALTOU O PROJETO

No dia 15 de dezembro o Globo Esporte noticiava a volta do técnico Vanderlei Luxemburgo ao Verdão. O professor deixou um recado para a torcida dizendo que o time brigaria por títulos em 2020. Em sua quinta passagem (1993/94, 1996, 2002 e 2008/09), Luxa encontraria uma estrutura grandiosa e um elenco farto para trabalhar.

De fato, Luxemburgo brigou por títulos. Ganhou o Paulista em cima do Corinthians, mas não tinha um futebol primoroso. Os resultados nem sempre traduziam os jogos que o time apresentava. Além disso, a filosofia de “não precisar fazer o segundo gol” fugia de uma identidade que faz parte do Palmeiras e do próprio treinador.

O desgaste interno não demorou a chegar. Em campo um time apático e desorganizado. Jogos disputados no “entra aí e faz o que dá”. Mesmo com a tão aclamada capacidade do elenco, o professor alegava não ter peças para jogar um futebol bonito. Em suas próprias palavras:

“Reclamaram muito, me deram muita porrada que a equipe jogava feio. Tem que saber se eu tenho equipe pra jogar bonito. Temos que analisar com calma. Como vamos criar essa engenharia pra poder fazer a coisa funcionar? Se for pra fechar o time, jogar feio e pelo resultado, o torcedor vai ter que entender que vai ser feito. A gente tem que ter regularidade. Não pode jogar dois jogos bons e dois ruins. Contra o Botafogo, meio tempo horrível e 30 mins bons. Hoje, meio tempo bom e segundo tempo ruim. Nós temos que encontrar uma regularidade na equipe”.

Após ser derrotado pelo Coritiba por 3 x 1, no dia 14 de outubro, o técnico foi desligado do Palmeiras. Somando 36 jogos oficiais, 17 vitórias, 14 empates, cinco derrotas e uma taça.

O TAL DO DNA PALMEIRENSE

Após a demissão de Luxa, finalmente, o presidente palmeirense veio a público. Muitas questões pairavam sobre o Palmeiras, e a nuvem de tempestade estava formada. No mais, uma das coisas que mais se pensava era: por que o Galiotte resolveu trazer o Luxemburgo de volta?

Escudo político? A excelente atuação do Vasco diante do Flamengo? A história e o passado profissional? Muitas perguntas sem respostas. Galiotte falava e falava. Palavras sem convicção. Anderson Barros, até então discreto e desconhecido pela torcida, resolveu dar as caras também.

Por isso, o palmeirense nunca esteve tão longe do Palmeiras como nesse momento. E longe não no sentido físico devido a pandemia. Mas no sentido de ter sido afastado pela falta de coerência e transparência de seus dirigentes.

A promessa que ficou foi a recuperação do DNA do Palmeiras. “No fim do ano passado, eu comentei que o Palmeiras iria atrás de uma filosofia de jogo com o DNA palmeirense.” Porém, sem sucesso.

Então, em outubro de 2020 ele entende o problema: “Este é o trabalho que está faltando no Palmeiras. Precisamos definir o modelo ideal, como o time jogará, e aí sim escolher o treinador baseado no modelo. É assim que trabalharemos.” Como quem quer ganhar a partida faltando dois minutos para acabar.

Como já dizia Joelmir Beting: “Explicar a emoção de ser palmeirense, a um palmeirense, é totalmente desnecessário. E a quem não é palmeirense… É simplesmente impossível!”. Essa é a mais pura descrição desse tal de DNA. E era isso que ele precisava recuperar.

O DNA ESTÁ NA HISTÓRIA

Com 106 anos, o Palmeiras carrega em sua história marcas de luta e de resistência. Uma trajetória que se confunde com o enredo do Brasil. Que carregou a nacionalidade, apesar de sua origem italiana, mais de uma vez.

Além disso, teve que brigar pela sua própria existência. Assim em 1942, morria o Palestra Itália, líder, para o nascimento do Palmeiras campeão. O mundo enfrentava a segunda Grande Guerra. Os imigrantes foram perseguidos e tiveram seus bens apreendidos.

Contudo, com o futebol não foi diferente. Esporte Clube Germânia e o Palestra Itália de Minas Gerais, assim como o Palmeiras, tiveram que mudar seu nome. Além disso, o São Paulo – equipe que disputava o título do Campeonato Paulista daquela época com o Verdão – juntamente com aliados da Elite pressionavam e perseguiam os imigrantes.

Os tricolores nomeavam os palestrinos com apelidos depreciativos, como “carcamanos”. Além disso, os jornais também os colocavam como traidores. Mesmo diante disso, o Palmeiras emergiu. Foi campeão e viu o São Paulo fugir do campo. Exatamente como está relatada na súmula daquela partida que aconteceu no dia 20 de setembro.

E depois disso, as grandes Academias . Em 1959 o Palmeiras parou o tal “imparável” Santos de Pelé. E reinou durante 10 anos com um futebol admirável. A mídia falava que assistir aos jogos do Palmeiras era um prazer, e chamava equipe de Academia.

Já na década de 70, a segunda Academia Alviverde impressionava. O Palmeiras de Dudu e Ademir da Guia. Equipes brigadoras em campo. Inteligentes. Ofensivas. Ao todo somam seis Campeonatos Brasileiros, um torneio Rio-São Paulo e quatro Campeonatos Paulistas.

Isso sem falar na moderna Era Parmalat. Épocas em que o Palmeiras sabia brigar.

CEBOLIZADOS E ABELIZADOS

Com a saída de Vanderlei Luxemburgo, o técnico Andrey Lopes – conhecido como Cebola – assumiu interinamente o comando do Palmeiras. Em paralelo, o clube buscava uma solução para os seus problemas: um novo técnico.

Cebola conseguiu dar uma nova cara ao Palmeiras. Comandou o time em cinco ocasiões, nas quais, quatro obteve vitória – e algo que se podia chamar de padrão de jogo. Andrey deixou o comando do Palmeiras para passar a faixa para o novo comandante após vencer o Atlético Mineiro no Allianz, com um placar de 3 x 0.

Por outro lado, os planos do Palmeiras eram frustrados por Miguel Angel Ramirez, que decidiu ficar no Independiente dell Vale, e por Gabriel Heinze. Especulações saiam na imprensa todos os dias: Gareca, Rogério Ceni, Guto Ferreira e Abel Braga foram nomes levantados.

Mais uma vez a falta de transparência por parte do clube dava margem para especulações e falatórios. A torcida esperava ansiosa. As negativas e as especulações rendiam muito assunto nas redes de TV e sociais.

No entanto, Abel Ferreira foi o nome que ganhou mais força. O português que treinava o PAOK da Grécia tinha um estilo de jogo diferenciado e uma filosofia forte. Chegou falando bonito, e mostrando que fez a lição de casa.

O professor estudou a fundo a história do Palmeiras. Conhece os seus jogadores por nome. Se colocou como um pai, em alguns momentos. Respeitou o legado positivo deixado por Cebola e começou a colocar sua identidade na equipe.

24 HORAS PARA LAMENTAR A DERROTA E 24 HORAS PARA CELEBRAR A VITÓRIA

Abel é um técnico jovem. Chegou como uma aposta do Palmeiras, mas mostrou muita personalidade e respeito. Deixou claro – em suas próprias palavras– que irá “defender o verde e o branco até a morte”. Falou em recuperar as Academias.

“Não vim aqui para ter férias, vim aqui para trabalhar e ganhar com o clube. Vim para ajudar os jogadores a crescerem, é a minha missão. Portanto, minha estadia nos próximos meses será aqui dentro. Não nos falta nada. O Palmeiras oferece todas as condições para os profissionais fazerem o trabalho — afirmou o treinador.

É cedo para fazer qualquer aposta, mas ele mostrou bem que veio entendendo onde estava e o que queria. Projetar títulos ou academias com pouco mais de um mês de trabalho é uma projeção muito otimista e no Palmeiras não se canta vitória antes da hora.

Fato é que, nos últimos confrontos o Palmeiras enfrentou inúmeras adversidades. As lesões de Wesley e Felipe Melo – jogadores importantíssimos e titulares – começaram a onde de má sorte do verdão.

Abel não desistiu, não reclamou. A convocação das seleções para as eliminatórias tirou peças importantes ao mesmo tempo que um surto de covid-19 assombrou a equipe. O Palmeiras resistiu e conseguiu garantir a classificação para a semifinal da copa do Brasil diante do organizado Ceará.

OPINIÃO: O PALMEIRAS ESTÁ NO CAMINHO CERTO

Na última partida diante do Goiás, Abel não podia contar com 21 jogadores, teve que promover a base para ter banco. Viu Luiz Adriano, artilheiro alviverde, se lesionar no início do jogo e Mayke ser expulso.

Com um a menos, o Palmeiras resistiu. Levou um gol – um golaço – no finalzinho do jogo, quebrando a invencibilidade do professor português. Não, o Abel não é mágico. O time não tinha o entrosamento de sua equipe de titulares, mas brigou.

Com isso, já dá para ver que o Palmeiras terá, sim, um longo caminho a percorrer, mas está no caminho certo para recuperar o seu DNA.

Foto: Divulgação / Palmeiras

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