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·30 de janeiro de 2021
Palmeiras: A Era de ouro, a queda e o seu renascimento

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·30 de janeiro de 2021
O futebol é uma das maiores formas de movimentar as grandes massas no Brasil. Aliás, não só no país, mas no mundo inteiro. A Copa do Mundo atrai milhares de olhares, os campeonatos nacionais e regionais também são grandes vitrines. Além disso, o Palmeiras é um bom exemplo.
Mesmo com o risco de ter mais uma temporada totalmente fora dos padrões em 2021. Mesmo sem a presença de público devido à pandemia de Coronavírus, a Globo aumentou os seus valores de cota de patrocínio para o Campeonato Brasileiro.
Em 2021 serão seis cotas no valor de R$ 311 milhões de reais, enquanto em 2020 o valor para cada cota vendida era de R$307 milhões. Além do alto valor, e mesmo com todas as adversidades causadas pela Covid-19 e o interesse de outras emissoras nos direitos do campeonato, a emissora fechou as seis cotas.
Contudo, as marcas Ambev, Casas Bahia, Chevrolet Hypera Pharma, Itaú e Vivo formaram a publicidade durante o Brasileirão 2020 e terão a prioridade na nova edição.
Os valores são altos, e as marcas ficam populares com isso. No entanto essa relação fica cada vez mais estreita quando se trata diretamente com equipes de futebol. O Palmeiras – tanto da Era Parmalat, quanto da Era Crefisa – é um grande exemplo disse. Esse é o tema da coluna Rasgando o Verbo de hoje.
De um lado uma das maiores equipes do Brasil e com descendência italiana e do outro uma marca também ítalo-brasileira. Então, esse seria o início de uma grande história. A parceria entre Palmeiras e Parmalat não era meramente financeira. A empresa de laticínios também ajudaria na parte administrativa da equipe.
Contudo, durante a Era Parmalat, que durou de 1991 a 2000, o clube paulista conquistou a marca de incríveis 11 títulos. Passando por Paulistas, Brasileiros, Rio-São Paulo e até mesmo a grande obsessão do Palmeirense, a Libertadores, o Palmeiras conseguiu se tornar um dos maiores campeões da década e do século.
Além disso, foi justamente nessa época, e com grande impulsionamento por parte da marca, que o Palmeiras saiu de uma fila de 16 anos sem títulos. A vitória sobre o Corinthians no Campeonato Paulista de 1993 é extremamente emblemática e carrega um simbolismo muito grande.
Todavia, um dos pontos mais fortes da parceria foi o planejamento (é o que defende um texto publicado pelo Palmeiras em seu site oficial). O clube teve equipes extremamente competitivas e bem montadas durante a era Parmalat.
Nomes como Evair, Mazinho, Edmundo, Alex, Djalminha desfilaram toda a beleza de seu futebol nas quatro linhas do gramado alviverde.
Desse modo, a Libertadores de 99 é um dos maiores exemplos do planejamento do Palmeiras. Mesclado ao talento dos seus jogadores – do grande técnico que os guiava – e um pouco da sorte de campeão.
O campeonato que consagrou o goleiro Marcos, um novato que brilharia vestindo a camisa do Verdão após a lesão do titular Velloso, foi a ponta do iceberg, e uma das últimas conquistas Palestrinas durante a era.
Maradonna foi um dos nomes cogitados pela direção para compor o elenco do Palmeiras, na época. Um dos maiores nomes do futebol mundial quase vestiu a camisa alviverde, que já tinha um peso e uma supremacia tática em campo que castigava os adversários.
O contrato entre as duas empresas durou incríveis oito anos, no entanto alguns gaps ficaram no caminho dos parceiros. Contudo, em 1992, a Folha de S. Paulo já anunciava em seu periódico detalhes da negociação entre as partes envolvidas:
“O Palmeiras deve fechar hoje um acordo de US$ 500 mil por ano com a multinacional italiana Parmalat. A empresa pagará a rescisão de contrato de patrocínio com a Coca-Cola, que é de US$ 700 mil. A Coca-Cola dá US$ 200 mil por ano clube. A Parmalat vai investir cerca de US$ 40 mil por mês. A curto prazo, o uniforme do Palmeiras será mudado e o nome da Parmalat será escrito na camisa. Nenhum novo jogador deverá vestir a camisa do Palmeiras nos próximos meses.” – Folha de S.Paulo
Uma curiosidade é que o contrato vigente entre Palmeiras e Parmalat nunca foi de fato assinado. Carlos Facchia Nunes, então presidente fez o acordo “na broderagem” e dizia que nunca se fez necessária a assinatura.
No entanto, além do patrocínio na camisa do Palmeiras, a marca detinha os direitos de passe de inúmeros jogadores, aumentando para quase 3 milhões de reais – convertidos para os dias atuais – seu investimento junto ao clube, justamente aí que mora o perigo.
O final do relacionamento entre a marca e o clube foi tenso, e resultou em prejuízos para o Palmeiras. A história envolve boicote de rivais e culmina no rebaixamento do time em 2002. A dependência financeira por parte do clube, somada às sucessivas más gestões fizeram com que o Palmeiras saísse da onda de ser um dos maiores da década, para um dos momentos mais complicados da era 2000.
Anos depois – e um rebaixamento depois – surge novamente no Palmeiras uma parceria que envolve muito dinheiro. No entanto, a situação do clube era mais delicada, vinda de diversas dividas – muitas das quais foram saldadas com empréstimos realizados pelo então presidente Paulo Nobre.
O mesmo homem que trouxe a Crefisa, da empresária Leila Preira, para dentro da instituição. A chegada da patrocinadora ao time aconteceu em 2015, ano em que o clube ganhou seu primeiro título na volta à Elite do futebol Brasileiro.
Afinal, a Copa do Brasil daquele ano representou o ressurgimento do Palmeiras como uma das potências no cenário nacional. Não, o time não era uma seleção, mas tinha estrela, e ergueu a taça. Depois disso, o Verdão ainda conquistou o Campeonato Brasileiro em 2016 e 2018, além do Paulista em 2020.
Desde a conquista de 2015 os Paulistas não ficam fora das edições anuais da Copa Liberadores. Sempre fazendo campanhas arrebatadoras na fase de grupo, e caindo nos mata-matas, o Palmeiras se consolidou como um dos brasileiros com mais participações na competição continental.
Além disso, o clube chegou à final da Libertadores – depois de 21 anos, já que a última vez foi justamente em 2000, ainda na era Parmalat – e pode coroar a parceria com uma conquista inédita na década.
A Crefisa/FAM, diferentemente da Parmalat, não interfere na administração do clube. A empresa de Leila Pereira é a patrocinadora Master, e, apesar de tê-la como conselheira, a empresa não participa de gestões administrativas.
Uma matéria publicada pela Folha de S.Paulo em novembro de 2018 fala dos investimentos da patrocinadora: até então já haviam sido injetados cerca de R$80 milhões de reais por temporada – além da compra de passes de jogadores que redeu uma multa e uma dívida de R$ 150 milhões de reais à época.
Em 2019 aconteceu a renovação da parceria entre clube e patrocinadora por mais três anos. O combinado divulgado previa que o time do Palmeiras receberia R$ 81 milhões por temporada, mais investimentos em marketing (cerca de R$7 milhões), luvas (R$15 milhões) e prêmios por metas alcançadas na temporada (R$34 milhões).
Esses valores todos poderiam render ao Palmeiras cerca de R$410 milhões de reais nos três anos de contrato, que se encerra em 2021.
Acima de tudo, o futebol é uma das grandes vitrines para as marcas, isso é fato. Mas não apenas pelos altos índices de audiência e buzz que ele gera, mas pela associação aos grandes momentos, ao auge e a glória.
Um bom exemplo disso é justamente a Era Crefisa. A empresa está sempre nos assuntos mais comentados nas redes, e praticamente todo mundo, sabe quem é Leila Pereira. Porém, mais do que isso: as pessoas associam a empresa à momentos vitoriosos. E a companhia incentiva isso.
Do mesmo modo, na Era Parmalat, a marca ficou gravada eternamente como uma das maiores responsáveis pelos títulos – e montagem de elenco – do Palmeiras na década. A história não se apaga, e ela é feita de imagens.
Ao passo que a publicidade também. E além de ser feita de imagens, ela conta histórias. Marcas como a Parmalat e a Crefisa estarão marcadas para sempre na história do Palmeiras e do futebol. Farão parte de uma narrativa heroica, na maioria das vezes, além de estarem eternizadas em fotos marcantes.
Assim, são essas coisas, esses pequenos detalhes, que nem os R$ 400 milhões investidos pela patrocinadora podem comprar: Virar história!
Foto: eder.desenhos