Paco Gento | OneFootball

Há 20 anos cheguei ao JB e soube que Nandor Hidegkuti havia falecido. O estagiário perguntou espantado: “vocês vão abrir espaço pra esse cara”? Ele não tinha a menor ideia de quem era o lendário atacante húngaro, peça importante na seleção que fez o diabo a quatro, mas que havia perdido a decisão do Mundial de 1954 para a Alemanha. Após breve explicação, o estagiário silenciou, pois preferiu o silêncio à ser reprovado por sua ignorância.

– Gento (de branco), um cracaço do Real entre os anos 50 e 70 / ANEFO, Nationaal Archief Fotocollectie

Fiquei feliz ao ver na página de Esportes de O Globo – existe jornal impresso, sabiam? – que Paco Gento, que morreu aos 88 anos de idade, mereceu pelo menos dez parágrafos. Eu era quase criança quando soube da existência do Real Madrid de Di Stéfano. Lia sobre o grande esquadrão em “El Gráfico”, que me pai comprava todas as semanas, ou em breves informações, que hoje julgo um tanto imprecisas, que os jornais daqui vez por outra publicavam a respeito do futebol europeu.

Nunca via o Real jogando, mas sabia que só tinha craques e que era, provavelmente, o único capaz de derrubar o Santos de Pelé, o maior time de futebol de todos os tempos. Era tão ligado em futebol que as notícias do cotidiano local não eram suficientes. Assim que foi possível, passei a descobrir como conseguir as outras principais revistas estrangeiras, principalmente “Guerin Sportivo” e  “World Soccer”, verdadeiros tesouros de uma época em que a TV, em preto e branco, tinha três canais e ficava menos de 12 horas no ar.

Com o tempo, e por conta do meu interesse pelo que se passava além da minha aldeia, o Rio de Janeiro, comecei a aprender de tudo um pouco, e muito de tudo, pois o que está em torno do futebol pode te levar ao céu do conhecimento. Um pequeno exemplo: foi na revista inglesa que soube pela primeira vez que o Celtic estava ligado à comunidade católica e o Rangers à protestante. E por aí vai.

Ao ver a informação sobre a morte de Paco Gento, e o espaço que ela ocupou na edição desta quarta-feira, fiquei sabendo que ainda há interesse pelo que houve de mais importante no futebol e que há alguém que ainda entende que o passado pode explicar o presente. É provável que muitos jovens – sim, tem jovem que lê impresso – comecem a compreender a partir de agora os motivos que levaram a Fifa a escolher o Real Madrid, que você vê quase todo dia na TV de hoje, foi eleito o clube do Século 20.

Futebol vai muito além de bola na rede. Só não me peçam para que eu ainda seja fanático por algo que reúne tantos interesses financeiros e políticos. A propósito: minhas coleções de revistas estrangeiras foram todas cedidas à CBF.

*As opiniões contidas nesta coluna não refletem necessariamente a opinião do site Jogada10.

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