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·23 de agosto de 2025

Os escudos arvernos da Gávea

Imagem do artigo:Os escudos arvernos da Gávea
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A maioria de nós ainda conhece o personagem Asterix, criado por René Goscinny e Albert Uderzo nos anos 50, misturando um pouco do povo gaulês da época do Império Romano com a Resistência Francesa dos tempos da República de Vichy (o “país alemão” dentro da França, uma passagem triste da história deles).

Uma das revistas lançadas nos anos 1970 e 80 pela Editora Record era “O Escudo Arverno”, que girava em torno do escudo do líder gaulês Vercingetórix, vencido na batalha de Alésia.


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Na história, o chefe da aldeia gaulesa que resiste (agora e sempre) à ocupação romana, Abracurcix, vai ao país arverno, onde ficava Alésia, para tratar de problemas do fígado e da obesidade.

Para quem não leu a historinha: Abracurcix anda por sua aldeia em cima de um escudo, carregado por dois de seus guerreiros. Pois bem: ao fim da história, é revelado que o escudo de Vercingetorix foi colocado aos pés de Júlio César mas depois passou um longo caminho depois de roubado do acampamento e trocado por vinho em uma estalagem.

Os gauleses estavam desesperados para recuperar o escudo, pois souberam que a ideia de Júlio César era reviver o triunfo de Alésia pisando no escudo de Vercingetórix.

Já então os gauleses sabiam da importância, do impacto desses simbolismos para toda a população. Aquilo que nos é caro, nos move.

Refazer todo o trajeto do escudo foi a trama principal da história, tendo como pano de fundo o spa de Abracurcix. Mas eis que o final é feliz (perdão pelo spoiler): descobrem – quando Abracurcix emagrece – que o escudo esteve ali com ele o tempo todo.

O dono da estalagem, ao ver o chefe agora magro, o reconhece, e tudo termina bem.

Este longo preâmbulo pode ter causado estranhamento ao rubro-negro que clicou no link entendendo que veria algo sobre um assunto Flamengo.

Mas não temam: é sobre o Flamengo. É sobre o nosso “escudo arverno”, é sobre relíquias que representam a nossa história em todas as suas nuances: o acervo de Eduardo Vinícius de Souza, a nossa grande perda de 2024. Uma perda que será sentida através dos séculos.

Na noite do dia 19 de agosto de 2025 o Flamengo aprovou o maior contrato de patrocínio de sua história, com a Betano, nos garantido de cara mais de 100 milhões em janeiro de 2025 (num total que passa dos 220 milhões facilmente).

Mas esta é uma história para o caderno de Economia. Dois fatos gigantescos também ocorreram no mesmo dia, para a História do Flamengo – fatos que a mídia voluptuosa por dinheiro e gossip fez questão de deixar em segundo plano: a aprovação de uma emenda antiracista tornando o racismo algo passível de expulsão dos clubes e o pronunciamento do conselheiro Túlio Rodrigues sobre o acervo de Eduardo Vinicius de Souza, tornando oficialmente esta questão uma pauta do Conselho Deliberativo.

E aqui cabe uma ressalva importante, que o Túlio também fez, de certa forma: o Museu do Flamengo é hoje uma obra belíssima, necessária, definitiva. Mas o museu por si só não deve descartar o esforço de colecionadores dedicados como Eduardo Vinícius de Souza e Maurício Neves de Jesus (autor, dentre outras preciosidades, da série obrigatória Me Arrebata).

Esse acervo construído por mortais pertence, na verdade, à imortalidade. Quando uma pessoa como Eduardo Vinícius deixa este mundo, é o Flamengo que precisa resgatar aquilo que pertence a Sua História.

E resgatar compensando a família do Edu de alguma forma – afinal, ao longo de décadas o Eduardo fez o que o Flamengo deveria ter feito. Entre milhares de peças incríveis e históricas, a destacada por Túlio Rodrigues no Conselho Deliberativo: a camisa utilizada pelo Torcedor Jayme de Carvalho, o fundador da Charanga.

Onde teria ido parar essa camisa se não fosse um dia resgatada por Eduardo Vinícius?

E concordo plenamente com os que vão dizer que não cabe no museu todo esse acervo – o museu, do jeito que está, é perfeito. Mas acima de tudo, é entretenimento e doutrinação (também necessários).

O que precisamos em definitivo é de um espaço físico – não necessariamente o museu – em que se abrigue a Memorabilia Rubro-Negra, um local em que se guarde (e que se edite e publique) os livros sobre o Flamengo (com exceção do meu O Velho e o Zico, porque seria legislar em causa própria, mas vocês podem conhecer pelo link https://amzn.to/3JoswL1).

As camisas, as coleções, os acervos como os do Recanto Rubro-Negro, em Lages (SC), tudo o que pode se perder por aí tal e qual o escudo arverno da história, passando de mão em mão até cair no acervo de quem nem percebe seu valor. Discuti essa ideia há umas semanas com o cronista Rubro-Negro Marcelo Dunlop – o único problema foi que nos comprometemos a ela durante um chope no Sat’s, e é comum que as ideias nascidas ali demorem a se tornarem concretas. Mas não importa: precisa acontecer.

O que fazemos hoje ecoa na eternidade. O Flamengo daqui a cem anos continuará sendo imenso, mas sua História precisará continuar sendo contada, e muitas dessas páginas estão no acervo de Eduardo Vinícius de Souza e de tantos outros. Que o Flamengo destine, vá lá, um naco pequeno de seu orçamento bilionário para financiar a preservação irrevogável de sua história me parece algo mandatório.

E cito um exemplo: ainda estão com o Zico as chuteiras passadas por Carlinhos? Se não estão, com quem estão? E quem as possui sabe do valor inestimável desse objeto?

Que a atual gestão, já inovadora no combate ao racismo, na defesa de valores humanistas, entenda a importância da Memória para a Eternidade e que vá mais além do nosso (maravilhoso) Museu para enfim termos um espaço definitivo da Alma flamenga.

Parabéns a todos os conselheiros que têm feito essa defesa. E parabéns antecipado à atual gestão, que seguramente vai se sensibilizar com essa ideia – que já foi muito bem iniciada pela gestão anterior, com a criação do incrível Museu.

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