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·23 de julho de 2019

Os brasileiros que já foram treinadores de times italianos

Imagem do artigo:Os brasileiros que já foram treinadores de times italianos

Nos últimos anos, o baixo número de treinadores brasileiros no futebol europeu tem sido tema frequente no jornalismo esportivo do nosso país. O sucesso de técnicos argentinos, como Mauricio Pochettino e Diego Simeone, costuma trazer o assunto à tona e suscitar o debate sobre quais seriam as barreiras que estão no caminho dos profissionais do Brasil. A Itália, contudo, já foi desbravada por comandantes originários de terra brasilis.

O primeiro nome que deve vir à mente de muitos dos leitores é o de Leonardo, que esteve à frente de Milan e Inter nos anos 2010. Contudo, a trajetória dos técnicos brasileiros no futebol italiano é anterior à profissionalização do esporte na Velha Bota e já dura mais de um século. Nesse período, 17 treinadores do Brasil trabalharam na Itália e oito deles atuaram em clubes da elite.


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O início desse percurso está ligado à abastada família Gama Malcher, que se desdobrava entre o Pará e Milão. Os irmãos José e Achiles – italianizados como Giuseppe e Achille – participaram da fundação da Inter, em 1908. Giuseppe, porém, nunca teve cargo ou atuou pela agremiação. Entre 1910 e 1911, ele fez parte da primeira comissão técnica da seleção italiana, num tempo em que ainda não existia a profissão de treinador propriamente dita. Depois, enveredou pela carreira de árbitro, como o irmão e o filho Alberto, que chegou a apitar na Copa de 1950.

Achille foi o mais versátil da família. Além de ter sido juiz de futebol, marcou o primeiro gol nerazzurro num Derby della Madonnina e atuou brevemente como técnico. Em 1932-33, foi o treinador do Bologna na reta final da Serie A e comandou os rossoblù rumo à terceira posição no campeonato. Gama, porém, não foi o pioneiro entre os oito brasileiros que já dirigiram uma equipe na elite do esporte italiano.

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Um ano antes, Amílcar Barbuy, ídolo de Corinthians e Palmeiras, foi o primeiro técnico brasileiro da Serie A. Curiosamente, o bicampeão da Copa América chegou à Itália como um atacante ainda em atividade. Aos 38 anos, foi contratado para exercer dupla função: seria jogador e treinador da Lazio. O time de Amílcar tinha 10 atletas canarinhos e ficou conhecido como Brasilazio, mas não conseguiu resultados expressivos.

Todos aqueles brasileiros da Lazio, incluindo o próprio Barbuy, eram filhos ou netos de italianos – logo, pelas leis da Itália, eram considerados como cidadãos do país. O Brasil foi uma das nações que mais recebeu imigrantes itálicos e isso contribuiu para que seus oriundi pudessem atuar na Serie A num tempo em que estrangeiros eram vetados. O mesmo aconteceu com treinadores: os primeiros brasileiros que conseguiram emprego na Bota tinham, também, passaporte italiano. Paulo Innocenti, o primeiro capitão do Napoli, foi um deles. O ex-zagueiro dirigiu o time numa campanha na segundona, em 1943.

Depois de Innocenti, a Itália não teve outros treinadores brasileiros por quase 20 anos. Coube a Paulo Amaral quebrar essa sequência. Considerado como o pioneiro da preparação física no Brasil, o carioca integrou a comissão técnica da Seleção no bicampeonato mundial, em 1958 e 1962, e foi técnico de Botafogo e Vasco. Em 1962, após a Copa do Chile, a Juventus inovou e anunciou a sua contratação.

Amaral foi o primeiro treinador do Campeonato Italiano a orientar sua defesa a marcar por zona. O brasileiro também surpreendeu ao implantar um esquema ofensivo, que alternava entre o 4-2-4 com a bola e o 4-3-3 sem a posse da pelota. Em seu primeiro ano, Paulo comandou um elenco que tinha como destaques o meia Luis del Sol e o atacante Omar Sívori. Se sagrou vencedor da Copa dos Alpes e foi vice-campeão nacional.

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No ano seguinte, o carioca começou a Serie A com bons resultados – três vitórias em quatro jogos –, mas seu jeito bruto tinha causado divergências com o elenco. Demitido, o “sargento de ferro” teve uma breve passagem pelo Corinthians e retornou à Bota, mas não obteve sucesso. Em 1964-65, Paulo comandou o Genoa num péssimo início de campeonato e deixou a Ligúria após cinco derrotas e dois empates nas oito primeiras rodadas.

Apenas quatro temporadas depois de Amaral deixar a Itália, estreava o técnico brasileiro que mais tempo trabalhou no futebol italiano e na Serie A. Estrela de equipes como Napoli e Vicenza, Luís Vinício se apaixonou pelo Belpaese e por lá ficou após encerrar sua carreira como jogador. O mineiro, que no Brasil jogou pelo Botafogo, começou como treinador nas divisões inferiores, e obteve mais sucesso pelo Brindisi, que levou à segunda divisão. Depois do título da terceirona, recebeu um irrecusável convite napolitano.

Em sua primeira passagem como treinador pela Campânia, Vinício conquistou um terceiro lugar (1973-74) e um vice-campeonato (1974-75) da Serie A, igualando os melhores resultados dos napolitanos até aquele momento. O ex-atacante por pouco não faturou a Coppa Italia em 1976: havia deixado a equipe após o encerramento do Italiano e não a comandou na fase final da copa, tendo sido substituído pelos auxiliares Alberto Delfrati e Rosario Rivellino. Luís Vinício acertou com a Lazio e não teve muita sorte na missão de manter os capitolinos no ótimo patamar competitivo obtido no ciclo vitorioso de Tommaso Maestrelli, que havia se sagrado campeão nacional dois anos antes.

Depois de ser demitido, retornou ao Napoli para mais um biênio regular e rodou por equipes menores, nas quais conseguiu resultados satisfatórios. Foi assim na Udinese de Zico e Edinho e nas campanhas de permanência de Pisa e Avellino na Serie A: com os biancoverdi, o belo-horizontino conseguiu uma décima e uma oitava posições, em 1981 e 1986, respectivamente. Ao todo, Luís Vinício treinou equipes da elite por 15 temporadas, nas quais totalizou 377 partidas de Campeonato Italiano.

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Vinício foi o precursor de uma geração de ex-jogadores brasileiros dos anos 1960 que se identificaram com a Itália e permaneceram no país. Chinesinho, que também foi ídolo do Vicenza, não teve o mesmo sucesso que seu compatriota fora das quatro linhas e se limitou às divisões inferiores. Por sua vez, Nenê, ícone do Cagliari, teve longa trajetória nas categorias de base: formou jogadores cagliaritanos e juventinos, além de ter vencido os principais títulos sub-19 do país pela Fiorentina. O santista, porém, não teve continuidade nos profissionais e só comandou pequenos times da Sardenha e da Campânia.

A Campânia foi, também, a região em que Angelo Sormani e Cané deram seus primeiros passos como treinadores. Sormani teve breve experiência como interino do time principal do Napoli, em 1980, substituindo Vinício, e comandou a Primavera azzurra. Angelo também passou pelos juvenis da Roma e, entre 1985 e 1989, foi técnico do time principal capitolino em duas ocasiões, em dupla com os suecos Sven-Göran Eriksson e Nils Liedholm. O ex-jogador, que também dirigiu o Catania, deixou herdeiros na profissão. Adolfo, seu filho, seguiu seus passos: foi jogador, com passagens por Parma e Avellino, e foi técnico dos juvenis da Juventus e do Napoli, além dos profissionais do Südtirol, na terceirona.

Jarbas Faustinho, o Cané, teve carreira parecida à de Sormani. Também começou no Napoli, pelos juvenis, e depois rodou por diversos clubes pequenos – quase todos sediados na região metropolitana de Nápoles. O carioca conquistou os títulos do Campeonato Interregionale e da Serie C2, mas teve maior evidência em 1994-95, quando dividiu o comando do time principal napolitano com Vujadin Boskov e se tornou o primeiro técnico negro da Serie A. Ivan, seu filho, também seguiu carreira como treinador e, além de ter passado por equipes de divisões inferiores, foi um dos primeiros professores de Lorenzo Insigne na base partenopea.

A Itália também foi o destino de um técnico que dirigiu o Brasil numa Copa do Mundo. Em 1990, a Seleção não fez uma boa campanha em solo italiano, mas Sebastião Lazaroni permaneceu no país após o torneio. O treinador estava acertado com a Fiorentina e teve a chance de trabalhar no mais prestigiado campeonato do mundo daquela época.

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Lazaroni foi sondado por Bologna, Lazio e Sampdoria, mas aceitou a proposta violeta. Em Florença, o mineiro teve resultados abaixo do esperado. Rusgas com a diretoria e com jogadores do elenco comprometeram sua passagem, ainda que Dunga e Mazinho (seus pupilos) tenham quebrado seu galho com boas atuações. Em 1991, após um fraco início de Serie A, foi demitido. Rumou ao Al-Ahli, da Arábia Saudita, mas retornou na temporada seguinte. Em 1992-93, Sebastião assumiu o Bari, na segunda divisão, mas acabou exonerado ainda no primeiro turno.

Depois das empreitadas de Lazaroni e Cané, nos anos 1990, o Brasil só voltou a ser representado por um técnico na elite italiana em 2009. Leonardo passou anos como diretor do Milan e foi alçado ao comando da equipe rossonera após a demissão de Carlo Ancelotti. Leo praticou um futebol ofensivo e conseguiu um terceiro lugar na Serie A – com elenco bem inferior ao de Roma, vice, e Inter, campeã.

Porém, fritado por Silvio Berlusconi, Leonardo decidiu não permanecer no cargo. Seis meses depois, a surpresa: foi contratado pela rival local. Com os nerazzurri, mais futebol ofensivo, um vice-campeonato italiano e um título da Coppa Italia. O suficiente para escolher parar por ali e ser diretor novamente. Desde que deixou a Inter, o ex-meia foi diretor esportivo do Paris Saint-Germain e teve uma nova (e breve) experiência nos bastidores do Milan.

Nos anos 2000, outros ex-jogadores brasileiros que fizeram carreira na Itália tiveram experiências como técnicos no futebol do país. Foi assim com Juary, Zé Maria e Jeda, nas divisões inferiores e em equipes juvenis; César na base da Lazio e do Frosinone; e Adaílton, que atualmente é o comandante da Vigor Carpaneto. Quem será o próximo?

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