Os 8×2 da Atalanta foram a gota d’água, mas ainda assim Davide Nicola fez um trabalho especial na Salernitana | OneFootball

A maior sapatada do final de semana na Europa aconteceu na Serie A: a Atalanta aplicou impiedosos 8 a 2 sobre a Salernitana. Das 19 finalizações da Dea, nada menos que 13 foram em direção ao gol, num enorme bombardeio contra Guillermo Ochoa. E o resultado incontestável encerrou a trajetória de um herói em Salerno. O técnico Davide Nicola terminou demitido após a saraivada. O treinador até começou bem a atual Serie A, mas a equipe acumula seis rodadas sem vencer. Despede-se, ao menos, com o orgulho de ter liderado os grenás a uma das fugas de rebaixamento mais fantásticas dos últimos anos, na temporada passada.

Nicola chegou a Salerno com a fama de bombeiro. Foi assim que consolidou seu nome na Serie A, especialmente à frente do Crotone, quando liderou um milagre pela permanência. A missão na Salernitana era difícil, não somente pelo péssimo início de campanha no Italiano passado: o clube passara por um delicado momento nos bastidores, em que precisou buscar um novo dono para evitar o rebaixamento. Até o acesso, o dono dos grenás era Claudio Lotito, também presidente da Lazio, e o regulamento da Lega Serie A não permite tal conflito de interesses. Foi só na virada de ano que houve uma solução definitiva e que permitiu também reforços no mercado. Nicola foi anunciado pouco depois, em fevereiro, com a equipe ainda estagnada.

Nicola assumiu a Salernitana na vice-lanterna, com 19 pontos em 25 partidas. A primeira vitória demorou a vir, mas o empate na estreia contra o Milan era um bom sinal. Já a virada aconteceu nos últimos oito compromissos. Foram quatro vitórias e três empates numa sequência de sete rodadas, que impulsionaram os grenás na tabela. A guinada tornava o milagre possível. E apesar da decepção na rodada final, com a goleada por 4 a 0 sofrida em Salerno diante da Udinese, a derrota do Cagliari no jogo paralelo salvou o clube da Campânia.

Adorado pela maneira como transformou os rumos do time, Davide Nicola ganhou um voto de confiança. A Salernitana manteve parte dos destaques da salvação, mesmo que alguns nomes mais badalados tenham sido vendidos – a exemplo do volante Éderson, levado exatamente pela Atalanta, que fez valer a Lei do Ex com uma pintura nos 8 a 2. Em compensação, também vieram reforços tarimbados, a exemplo de Boulaye Dia, Antonio Candreva e Krzysztof Piatek. Como resultado, o início da campanha foi positivo. Durante as primeiras rodadas, os grenás abusaram dos empates, mas logo emendariam uma série de boas vitórias, incluindo contra a Lazio. Após 12 jogos, o time ocupava o décimo lugar, bem longe dos riscos.

A mudança de rumos veio exatamente depois desse triunfo. A Salernitana acumulou tropeços desde então. Empatou com Cremonese e Torino, além das derrotas para Fiorentina, Monza e Milan. Já a goleada da Atalanta foi a pá de cal. Os grenás não aparecem em situação de tanto perigo. O time está duas posições acima da zona de rebaixamento, é verdade, mas com nove pontos a mais (o dobro) que os ocupantes do Z-3. O problema é que, se para Nicola manter-se na elite parecia suficiente, para os donos os investimentos demandavam algo além. A relação não era boa e os 8 a 2 serviram de chave para a troca.

A contratação de Guillermo Ochoa é um sinal da ambição dos atuais donos da Salernitana, que trouxeram uma baciada de reforços no início da temporada. Entretanto, do milagre ao escapar do rebaixamento à metade de cima da tabela há uma grande distância – não é sempre que pinta um Leicester no futebol, muito pelo contrário. David Nicola realmente não vinha bem, mas não se nega que seu trabalho foi marcante. O milagreiro sabe que sempre ganhará aplausos quando visitar Salerno.