Os 50 anos de Zidane: 50 histórias que reconstroem a lenda de Zizou, um gênio da bola em sua essência | OneFootball

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·24 de junho de 2022

Os 50 anos de Zidane: 50 histórias que reconstroem a lenda de Zizou, um gênio da bola em sua essência

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Zinédine Zidane foi um jogador único. Dos raros que merecem ser chamados de “gênio” por aquilo que apresentavam em campo. A classe de Zizou permanecerá relembrada através de décadas. Quem via um jogo do camisa 10 francês esperava sempre seus gestos elegantes, como se vestisse smoking dentro de campo. O que surpreendia era a inventividade dos lances, entre domínios surreais, passes magistrais, dribles serenos e gols exuberantes. E, tantas vezes, rendiam coisas grandes. Afinal, poucos craques se sentiam tão à vontade em uma decisão quanto Zidane. Seus feitos em Copas do Mundo, Eurocopa e Champions League não deixam mentir.

Nesta quinta, Zidane comemora 50 anos de idade. Para celebrar o eterno craque, listamos 50 histórias dignas de reverência à lenda. São menções às suas virtudes, às suas atitudes e às suas passagens da carreira. Exemplos da grandeza de Zizou, embora um passe ou um drible tantas vezes fossem suficientes a isso.


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Os domínios

Zidane foi reconhecido ao longo da sua carreira pela interminável elegância. E não há fundamento que melhor apresente a classe do gênio do que seus domínios. Zizou fazia a bola obedecê-lo perfeitamente. Ela parecia adormecer em seus pés, descansar em seu peito, acariciar sua cabeça. Movimentos de balé que se misturavam ao jogo com uma graciosa sutileza. A arte mais pura.

Os dribles

Zidane nunca foi o mais rápido dentro de campo – com os pés. Porque, em raciocínio, dificilmente alguém parecia capaz de superá-lo. Zizou dominava os adversários com seus dribles desconcertantes, mesmo que tantas vezes parecesse atuar em outro tempo, mais lento. Sabia o tempo exato de esperar e partir. A condução da bola era outra característica essencial de seu talento. Com isso, sempre sabia como cortejá-la, para se desvencilhar das caneladas dos beques. Chapéus, pedaladas e a inesquecível roleta eram parte de seu vasto repertório.

Os passes

A visão de jogo de Zidane sempre foi uma de suas características mais marcantes. Seus times eram tão fortes também pelos presentes que o meia entregava costumeiramente aos seus companheiros. Consagrou diversos atacantes com suas assistências, mas não só. Pontas e laterais tantas vezes se deleitavam com os passes de Zizou que clareavam o caminho até a área. Tudo isso unido, claro, à categoria do francês para bater na bola. Tantos toques do gênio valiam o ingresso, de tão inacreditáveis.

As cobranças de falta

Zidane tinha tantos predicados que sua precisão nas cobranças de falta nem é dos mais lembrados. Ainda assim, o craque marcou muitos gols na carreira em chutes fatais. A virtude de saber como bater na bola também garantiu pinturas em tiros diretos, sobretudo nos tempos de Bordeaux e Juventus. Os goleiros sofriam com a maestria do meio-campista, em tiros colocados e letais.

Os golaços

Zidane não precisava ser um goleador para garantir tentos inesquecíveis ao longo de sua carreira. Muitos deles foram grandiosos – em finais, em duelos decisivos, em clássicos. A classe do gênio também se colocava a serviço de alguns lances antológicos, especialmente pelos voleios sensacionais. Foi assim que fez o tento mais célebre de sua carreira, em plena decisão da Champions. Mas o craque não precisava dos grandes palcos todas as vezes para apresentar sua coleção de pinturas.

Um apaixonado pelo futebol desde cedo

Zidane nasceu com um dom, mas o aprimorou com muita dedicação e também fanatismo pela bola. Afinal, é o amor pelo futebol que regeu os sonhos do garoto desde cedo. O prodígio de La Castellane, em Marselha, costumava frequentar as arquibancadas do Estádio Vélodrome. Era um torcedor fiel do Olympique, em tempos nos quais os celestes voltavam a figurar como uma potência. Além disso, a seleção francesa alimentava seus sonhos. A Euro 1984 seria um formador de caráter para Zizou, não apenas pelo impacto que o título teve sobre o futebol local, mas também porque o menino veria tudo de perto. Ele foi gandula na competição. A plenitude de Michel Platini o arrebataria.

Um herdeiro dos grandes camisas 10

Platini era uma referência óbvia para Zidane. Não dava para ser francês e não adorar o craque durante os anos 1980. A inspiração para Zizou, ainda assim, veio de outros cantos. Diego Maradona, é claro, estava em seus sonhos. A Copa de 1986 foi aquela que formou o caráter do meia, exatamente quando assistiu ao ápice do argentino. Era outro a admirar. Além disso, não é segredo a maneira como Zidane se espelhava em Enzo Francescoli, craque do Olympique de Marseille por um curto período, mas que deixou impressões profundas. Queria repetir cada gesto técnico do uruguaio, a quem via das arquibancadas. A ideia de batizar o filho com o nome de Enzo ou o dia em que dormiu com a camisa do River Plate dada pelo ídolo só mostram como Zizou levava em alta conta o Príncipe.

As raízes familiares

Zidane sempre deixou claro o orgulho de sua família e a maneira como é ligado com os pais, com os quatro irmãos. Muitos dos valores do craque foram transmitidos dentro de casa. Filho de uma dona de casa e de um guarda noturno, ambos de origem argelina, Zizou aprendeu desde cedo a não se deslumbrar e a se dedicar ao máximo. Foi para honrar seus pais que seguiu em frente no futebol, para seguir seu sonho. Mesmo longe de Marselha desde os 14 anos, manteve os pés no chão. “Meus pais não ficaram muito felizes por eu deixar os estudos. Eu estava focado no futebol. Com minha mudança a Cannes, disse a mim mesmo que ia me empenhar por meus pais. Eu queria que eles se orgulhassem de mim. Coloquei tudo no futebol. Com 15 anos, eu sabia o que queria: ter sucesso no futebol, ter sucesso para os meus pais”, diria ao L’Équipe.

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O orgulho de Marselha

A cidade de Marselha é muito orgulhosa de sua história e de seus filhos ilustres. Há um regionalismo forte por lá, em especial para se contrapor historicamente a Paris. E o futebol, muitas vezes, serve de amálgama ao redor desse sentimento. Zidane não chegaria a atuar profissionalmente pelos clubes marselheses, mas ainda assim é uma face primordial dentro dessa identidade. É o talento surgido na cidade e a personalidade sem estardalhaço que costuma caracterizar seus conterrâneos. Além do mais, representa um bairro pobre e também a grande comunidade imigrante da cidade portuária. Sua aura é maior por essa ligação. “Tenho sorte de vir de uma área difícil. Isso te ensina não apenas sobre o futebol, mas também sobre a vida. Há muitos garotos de origens diferentes e de famílias pobres. As pessoas precisam lutar para viver. A música era importante. O futebol foi a parte fácil”, diria ao The Guardian. “O mais importante para mim é que eu ainda sei quem eu sou. Todos os dias penso de onde vim e tenho orgulho de quem sou: primeiro, um Kabyle (região da Argélia de onde vieram seus pais) de Castellane, depois um argelino de Marselha, e então um cidadão francês”.

O zagueiro que encantou

Zidane atuava em clubes de bairro de Marselha quando o Cannes descobriu seu talento. E aquela ocasião poderia dar errado para o futuro craque. Curiosamente, Zizou jogou como zagueiro, na ausência do titular da posição. Mesmo assim, convenceu o olheiro do clube. Num momento da partida, o garoto resolveu aplicar uma caneta no adversário. Foi quando o observador viu que tinha algo diferente ali e se encantou. O meio-campista voltaria à sua posição original no Cannes, onde se firmou como um futuro talento do futebol.

A personalidade forte

A personalidade forte de Zidane marcou sua trajetória desde as categorias de base. E o garoto não era do tipo que levava desaforo para casa, especialmente se alguém atacasse suas origens argelinas ou a vizinhança humilde de onde saiu em Marselha. Zizou chegou a socar um adversário que tirou sarro de suas raízes, sendo punido pelo Cannes com um período limpando as instalações do centro de treinamentos. Foi Jean Varraud, descobridor do craque e seu primeiro treinador, quem começou a ensiná-lo a canalizar aquela energia para buscar mais em campo. “Senhor Varraud foi como um pai para mim. Ele era fantástico! Falava comigo o tempo todo, me dizia que teria sucesso se fosse sério e trabalhasse. Ele nunca me abandonou. Era um maluco por futebol. Essas pessoas são gênios e marcam sua existência”, contaria ao L’Équipe.

O primeiro gol inesquecível

Zidane passou três anos no Cannes até fazer sua estreia como profissional, em maio de 1989, às vésperas de completar 17 anos. Tudo aconteceu muito cedo para o jovem craque. E o seu primeiro gol pelo clube é a prova cabal de que um jogador especial começava a despontar. Foi uma obra de arte. O garoto, então com 19 anos, dominou com a parte de fora do pé. A bola subiu e ele ajeitou com o corpo, antes de aproveitar o quique para bater por cobertura. O goleiro do Nantes saía desesperado e passou lotado. Um golaço que ainda rendeu um prêmio e tanto, já que o presidente do Cannes havia prometido um carro ao prodígio para quando ele fizesse seu primeiro tento. “Vocês nem imaginam o que aquilo representava para mim. Eu fiquei maluco…”, relembraria.

A arte em Cannes

Zidane permaneceu por quatro temporadas com o Cannes. Disputou 71 partidas e anotou seis gols. Foi o suficiente para auxiliar o clube a se classificar para a Copa da Uefa pela primeira vez. Não demorou a ficar claro que o talento de Zizou era grande demais à pequena equipe do sul do país. As primeiras mostras de sua arte ficariam gravadas na cidade tão importante ao cinema.

Fino como um vinho em Bordeaux

Foi em Bordeaux que Zidane realmente recebeu o reconhecimento como um dos melhores jogadores em atividade na França. O meia chegou a ser cortejado por clubes importantes e teve proposta do Olympique de Marseille nos abastados tempos de Bernard Tapie. Entretanto, o projeto oferecido pelos girondinos foi o mais convincente e por lá o craque realmente desabrochou a partir de 1992. Foram mais quatro temporadas, agora com 39 gols em 179 aparições. O gênio se consolidava.

A estreia arrebatadora pela seleção

Zidane disputou sua primeira partida pela seleção francesa em agosto de 1994. Era um momento de reconstrução dos Bleus, após a decepcionante queda nas Eliminatórias para a Copa do Mundo. Zizou chegou a ser cogitado por Gérard Houllier antes da amarga derrota para a Bulgária, mas a primeira chance surgiu apenas com Aimé Jacquet. Era um amistoso contra a República Tcheca e a convocação só aconteceu após a lesão de Youri Djorkaeff, com Zidane por perto para a partida que aconteceria em Bordeaux. O novato saiu do banco no meio do segundo tempo, num momento em que os franceses perdiam por 2 a 0, e mudou a história do duelo. Anotou dois gols no empate por 2 a 2. O primeiro foi um golaço, driblando dois e mandando uma sapatada de longe. Depois, fez de cabeça, antecipando o gesto que mudaria o mundo para a seleção. Os rumos da equipe nacional começavam a se alterar ali.

A final europeia com o Bordeaux

Zidane protagonizou um dos maiores momentos do Bordeaux nas competições continentais, com a campanha até a decisão da Copa da Uefa de 1995/96. Não deu para levar a taça, com a derrota para o Bayern de Munique na final. Apesar disso, foi naquele instante que grande parte do continente se deu conta da genialidade daquele rapaz. Os girondinos despacharam o Milan com uma incrível virada, aplicando um 3 a 0 no Chaban-Delmas após a derrota por 2 a 0 no San Siro. Foram duas assistências do camisa 7. De qualquer maneira, seu lance mais lembrado da campanha foi o gol estupendo diante do Betis. Ao final daquela temporada, Zidane ainda foi eleito o melhor jogador da Ligue 1.

A mudança para Turim

Zidane não brilhou tanto na Euro 1996, sua primeira competição internacional com a seleção francesa. Porém, não era isso que afetava sua fama. Naquele momento, aos 24 anos, o meia poderia escolher com qual clube assinaria. E isso se evidenciou ao escolher a Juventus. Juntaria-se ao time que havia acabado de conquistar a Champions. Mais do que isso, teria a chance de seguir os passos de Michel Platini com a camisa bianconera. Zizou não seria tão grande quanto o velho ídolo em Turim, mas fez o suficiente para ganhar um status lendário.

Maestro em dois Scudetti

Não é exagero dizer que Zidane potencializou uma Juventus tão forte. Os bianconeri desfrutaram de um domínio respeitável na Serie A e faturaram dois títulos consecutivos nas duas primeiras temporadas com o francês, em 1996/97 e 1997/98. O novo camisa 10 formou uma parceria estelar com Alessandro del Piero e se transformou no grande maestro dos juventinos para aqueles sucessos. Faltou um pouco mais de sorte na Champions, é verdade, com as finais consecutivas perdidas diante de Borussia Dortmund e Real Madrid. Apesar disso, Zizou já era aclamado entre os melhores do mundo. Fazia por merecer tal consideração pelas repetidas mágicas e atuações de gala.

A caminhada até a final em 1998

A França encarou uma grande pressão rumo à Copa de 1998. Recebia o torneio em casa após se ausentar de dois Mundiais seguidos. O time dirigido por Aimé Jacquet demorou a convencer e precisava lidar com um intrincado processo de renovação, sem alguns dos craques das gerações anteriores. Zidane assumiu o protagonismo de forma incontestável. Não foi uma campanha tão linear do camisa 10. Ele construiu gols na fase de grupos, mas também foi expulso diante da Arábia Saudita. Voltaria nas quartas de final, conduzindo o meio-campo nas classificações sobre Itália e Croácia, com bons lances mesmo sem marcar gols. Estava indo razoavelmente bem, até que viesse a decisão.

A Copa do Mundo em seu bolso

Saint-Denis poderia ter sido o berço de Zidane. Quando seu pai deixou a Argélia, viveu por alguns anos nos subúrbios de Paris. Não se aclimatou e, quando voltava ao seu país, é que conheceu a esposa durante a viagem via Marselha. Acabou ficando por lá mesmo. Zizou cresceu longe da capital, mas foi em Saint-Denis que experimentou sua maior glória. Fez o que mais gostava: arrebentou num jogo enorme. Maltratou o Brasil com seus dois gols de cabeça e pintou o planeta de “bleu” pela primeira vez. A quem ainda não o conhecia, apresentava-se como uma figura memorável. Viria mais.

O símbolo da miscigenação

A conquista da França em 1998 é bastante lembrada não apenas por seu aspecto esportivo. Aquele título se insere num contexto político e social maior, especialmente pela penetração dos imigrantes na população francesa. Zidane virou o maior exemplo dessa miscigenação na sociedade local, em especial relacionada àqueles que vieram das antigas colônias na África. E sabia de sua força nesse contexto, tanto pela representatividade aos seus, quanto no combate aos discursos xenofóbicos. Mesmo tendo um envolvimento político moderado, Zizou participou de campanhas contra o Front Nacional, o partido extremista de Jean-Marie Le Pen. “Essa conquista foi por todos os argelinos que são orgulhosos de sua bandeira. Todos aqueles que fizeram sacrifícios por suas famílias, mas nunca abandonaram suas próprias culturas”, escreveria em seu livro publicado após o título.

O símbolo de um país

É importante ressaltar, porém, que os laços de Zidane com a comunidade imigrante nunca fizeram com que ele renegasse seu senso de pertencimento à França. Pelo contrário, o craque se entende como parte de um contexto amplo e também possui uma relação muito forte com o país onde nasceu, cresceu e viveu em boa parte de sua vida. Isso se resumia, sobretudo, pelo gosto que tinha ao defender a seleção nacional e na forma como isso se refletia à população. “É especial quando você recebe a camisa da seleção. Quando você joga pelos Bleus, é magnífico. É tão forte, poderoso. As emoções pela seleção são melhores de se viver do que de se contar. A seleção é tudo, tudo ao máximo para mim”, diria, ao L’Équipe.

O entendimento de si diante do país

“Minha ascensão, claro, é motivo de orgulho. As pessoas na rua falam comigo sobre isso, sobre o fato de eu seguir o mesmo. É bacana. Eles veem que eu fiz minha parte, mas sem deixar o meu lugar. Isso não significa que eu não saiba o que represento, e fico orgulhoso se isso inspirar as pessoas. Isso não significa que não me engajo, mas faço do meu jeito. Se eu tiver que falar sobre um assunto importante, não tenho problema. Mas por que, sob o pretexto de que tive sucesso na minha área, alguém desejaria que eu falasse sobre tudo? Porque sou conhecido? Mesmo que tenha evoluído socialmente e financeiramente, deveria dar opinião sobre tudo? Não, não, não. Faço coisas, muitas coisas, mas sem a necessidade de expor”, complementaria, ao L’Équipe.

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A Bola de Ouro em 1998

É curioso como Zidane ganhou apenas uma vez a Bola de Ouro em sua carreira. Em compensação, o prêmio recebido em 1998 é um dos mais incontestáveis da história da France Football. Zidane recebeu 244 pontos na votação, contra 68 de Davor Suker e 66 de Ronaldo. É a quarta maior diferença percentual entre o primeiro e o segundo da história da condecoração. Não tinha como questionar os méritos de Zizou, seja pelo papel decisivo com a França ou pela bola que vinha apresentando pela Juventus. Mesmo a queda de rendimento no segundo semestre de 1998 não custaria seu moral.

Os prêmios da Fifa

Se a Bola de Ouro só parou nas mãos de Zidane uma vez, ele seria bem mais respaldado pelo prêmio de melhor do mundo oferecido pela Fifa. O craque ganhou o troféu três vezes: em 1998, em 2000 e em 2003. Seria mais reconhecido por jogadores e técnicos do que necessariamente pelos jornalistas que compunham a votação da Bola de Ouro. Nada que fizesse falta a um gênio que compõe as “seleções de todos os tempos” de quase todos os torneios que disputou.

Espanha e Portugal, Euro 2000

Zidane flutou nos gramados da Eurocopa de 2000. O próprio craque reconhece que viveu o melhor de sua carreira durante aquela temporada. E algumas atuações seriam fascinantes. A começar pelo duelo nas quartas de final, diante da Espanha. Zizou marcou um gol de falta e conduziu a classificação dos franceses. Já nas semifinais, diante de Portugal, o craque teve uma das maiores exibições diante de Portugal. Destruiu os adversários com sua costumeira classe e anotou o gol de ouro que valeu a vaga na final.

A conquista da Europa

A seleção francesa conquistou seu maior título em 1998. Porém, é consenso que o ápice daquela geração aconteceu na Euro 2000. O time ganhou consistência, se tornou mais confiável e novos protagonistas chegaram. É uma escalação mais completa do que a do Mundial, e com um nível de ímpeto evidente dentro de campo. O próprio Zidane resume isso, pela leveza explicitada ao longo da competição na Holanda e na Bélgica. O título veio com um sofrido gol de ouro na final contra a Itália, mas nada que diminua a capacidade dos Bleus no torneio – com Zizou eleito o melhor jogador do certame, bem como o melhor do mundo da Fifa em 2000.

O mais caro da história

Zidane carregou o rótulo de jogador mais caro da história por oito anos. E o investimento feito pelo Real Madrid em 2001 era totalmente plausível. O meia vinha como o melhor jogador da Serie A, enquanto fazia maravilhas com a seleção da França. Era o nome perfeito para o projeto galáctico de Florentino Pérez à frente dos merengues. Talvez a contratação mais certeira de todo o período, não apenas por aquilo que Zidane produziu em campo, mas também por aquilo que representa ao madridismo.

Aquele gol em Glasgow

Se for necessário escolher só um lance para resumir a perfeição de Zidane, a final da Champions de 2001/02 oferece a óbvia resposta. O gol de voleio no Hampden Park, diante do Bayer Leverkusen, é um dos mais memoráveis da história do esporte. A grandeza do momento é essencial para torná-lo inesquecível, mas também o autor da obra de arte. Afinal, aquela é realmente a obra-prima de Zizou. Conquistou a Orelhuda que tanto perseguia e conseguiu aumentar as glórias de um Real Madrid, que já vinha de outros dois títulos nas quatro edições anteriores do torneio. Foi o lance que também delineou o auge madridista na virada do século.

A conquista de La Liga

O Real Madrid dos Galácticos conquistou menos títulos do que prometia, especialmente à medida que a constelação aumentava. No entanto, além da famosa Champions, outro troféu marcante veio em La Liga 2002/03. Ronaldo tinha se juntado ao timaço e reforçou a amizade com Zizou. Os dois jogaram o fino da bola durante aquela campanha, com passes açucarados entre si. Não à toa, aquela taça seria importante para que o francês voltasse a levar o prêmio de melhor do mundo da Fifa em 2003 – mesmo ficando num modesto quinto lugar na eleição da Bola de Ouro.

Traje de gala contra o Brasil

Zidane enfrentou o Brasil quatro vezes na carreira: duas na Copa do Mundo, uma no Torneio da França de 1997. Além dessas, houve uma ocasião especial também em maio de 2004, durante um amistoso que comemorava os 100 anos de fundação da Fifa. Durante o primeiro tempo, as duas seleções vestiram uniformes retrô, inspirados nos primeiros de suas histórias. Aquela camisa azul sem tantos detalhes parece adicionar ares ainda mais solenes à elegância do camisa 10. Ele jogou demais e emendou lances plásticos, mesmo que o empate por 0 a 0 não tenha valido tanto. Uma ocasião menos mencionada, mas que merece seu destaque.

A mentalidade para se reerguer

A carreira de Zidane não é feita apenas de conquistas, claro. O craque também teve algumas decepções marcantes, sobretudo com a seleção da França. A Copa do Mundo de 2002 marca um momento difícil dos Bleus, quando todo o favoritismo desabou, enquanto Zizou se recuperava de lesão. Não seria suficiente para evitar a hecatombe, mesmo de volta contra a Dinamarca. Já na Euro 2004, a Grécia seria a algoz dos franceses numa grande zebra durante as quartas de final. Neste momento, o craque chegou a anunciar sua aposentadoria da equipe nacional. Todavia, voltaria atrás. Voltaria mais forte e mais desejoso por um último grande ato. “Esses são os momentos complicados de uma carreira, você também precisar viver isso para aproveitar o resto”, diria, ao L’Équipe.

A última ovação no Bernabéu

Os últimos anos de Zidane no Real Madrid não renderam títulos, enquanto as eliminações na Champions foram dolorosas. Apesar disso, o craque continuou venerado pelos torcedores merengues pelos lampejos que seguia proporcionando a um time desequilibrado. E o adeus seria emocionante, dentro do Estádio Santiago Bernabéu. O último jogo de Zizou com a camisa blanca aconteceu por La Liga, contra o Villarreal. Seria homenageado e ovacionado pelos torcedores que puderam apreciá-lo por cinco anos.

Espanha, 2006

A França começou a Copa do Mundo de 2006 longe de agradar. Teve um desempenho abaixo da crítica durante a fase de grupos e avançou na segunda posição de sua chave. Tudo começou a mudar a partir das oitavas de final, contra uma respeitável Espanha. O começo do fim mágico de Zidane, pronto para pendurar as chuteiras ao final do Mundial, mas ainda sedento por vencer.

Brasil, 2006

A atuação mais deslumbrante da carreira de Zidane fala por si, através das imagens. Botou o Brasil na roda, desestabilizou os craques adversários com seus dribles, desfilou ao longo da noite pelo meio-campo. Tudo isso com uma lesão na coxa, que o teria tirado da partida se dependesse só dos médicos. O gênio em sua essência.

Portugal, 2006

Não seria a melhor exibição do craque, mas seria igualmente decisiva. Marcou de pênalti o gol que recolocou a França em uma final de Copa do Mundo. Ainda existia todo o simbolismo de, após eliminar Raúl e Ronaldo, também deixar Figo pelo caminho do Mundial. O craque promovia o seu grand finale, se firmando de vez entre os maiores da história das Copas.

Itália, 2006

O pênalti de cavadinha, em plena final da Copa do Mundo e diante de Gianluigi Buffon, poderia marcar a consagração definitiva de Zidane. De novo, o veterano não rendeu o seu melhor. Mas fez a diferença e poderia ter feito mais, não fosse a cabeçada potente na prorrogação brilhantemente defendida por Gigi. A cabeçada mais lembrada na decisão de Berlim, porém, é aquela no peito de Materazzi. “Um segundo e acabou, mas então você tem que aceitar. Não tenho orgulho, mas faz parte da minha jornada. Naquela época, eu era mais frágil. Às vezes é nesses momentos que você pode fazer algo errado… Termina assim. É difícil, mas esta é minha carreira. A história da minha vida. Com meus dois gols na final de 1998”, relembraria, ao L’Équipe.

O perdão de todo um país

O ato impensado de Zidane na final da Copa de 2006 poderia ter transformado o craque em vilão para os franceses. Porém, não havia como condenar quem tinha oferecido tanto o país, seja pelo título de 1998 ou mesmo pela caminhada em 2006. Quando os vice-campeões do mundo voltaram a Paris depois da derrota em Berlim, Zizou seguiu ovacionado e teve seu nome gritado pela massa que recebeu a equipe. O presidente Jacques Chirac resumiria: “A partida que você fez na última noite foi cheia de talento e profissionalismo. Eu sei que você está triste e desapontado, mas o que quero te dizer é que o país inteiro está extremamente orgulhoso de você. Você honrou o país com qualidades excepcionais e com seu fantástico espírito de luta, que foi sua força em momentos difíceis, assim como em momentos vitoriosos”.

O prêmio de melhor da Copa

Muita gente questionou a escolha de Zidane como o melhor da Copa do Mundo de 2006. Por bola, seus méritos eram claros. A indisciplina, todavia, é que gerou ruídos. Aquele prêmio fazia justiça ao que Zizou ofereceu ao longo do Mundial da Alemanha, melhor do que se vira oito anos antes. E também o recompensava por aquilo que não ganhou em 1998, já que a Bola de Ouro do Mundial tinha ido para Ronaldo, numa polêmica escolha antes da final. Com ou sem cabeçada sobre Materazzi, o troféu estava em boas mãos com Zizou.

A humildade e a paixão para ser treinador

“Nunca imaginei uma vida fora do futebol. É o que amo, minha paixão, o que conheço melhor. Não pulei etapas, fiz as coisas na ordem para virar treinador. Era uma obrigação para mim. Não queria um passe livre. Nunca disse a mim mesmo que era Zidane e dariam o diploma. Eu queria mergulhar na formação de verdade. Também pensei em todos os treinadores que não se chamam Zinédine Zidane. Também precisava respeitá-los enquanto fazia esse curso. Tem muita gente que é boa, tem ideias, mas não faz porque não tem espaço. Eu pude fazer esse grande treinamento com grandes caras. Aproveitei meu status, mas fiz três anos de formação”, disse ao L’Équipe.

Uma figura ainda maior para o Real Madrid

Zidane passou por diferentes cargos no Real Madrid após se aposentar, inclusive quando pensava em se tornar dirigente. O que gostava, porém, era do campo. E o novo caminho seria à beira dele, como técnico. Primeiro, se tornou assistente de Carlo Ancelotti. Era uma figura imponente ao lado de um treinador vitoriosíssimo. A parceria rendeu a reconquista da Champions depois de 12 anos, desde aquele voleio em Glasgow. Depois, Zizou dirigiu o Real Madrid Castilla. Até que, em 2016, assumiu a equipe principal. Pode não ser o comandante mais sofisticado taticamente, mas poucos sabem gerir estrelas como ele. Foi o catalizador de novos feitos imensos dos madridistas.

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Zinedine Zidane, do Real Madrid, com a taça da Champions League (Photo by Matthias Hangst/Getty Images)

Tricampeão da Champions

Zidane é um técnico imenso dentro da história da Champions League. O Real Madrid se impôs para conquistar três troféus consecutivos, o que não acontecia desde os anos 1970 na competição. Valeu-se de seus craques, mas também de um treinador que soube dirigir essa motivação por glórias atrás de glórias. Cristiano Ronaldo, Karim Benzema, Luka Modric e outros gigantes tinham uma lenda para ouvir nos vestiários, para trabalhar nos treinamentos. Zidane aproveitou as bases deixadas por Ancelotti e alcançou um patamar que mesmo outros técnicos mais tarimbados do que ele não foram capazes. Está na lista de comandantes mais vitoriosos do clube, com outros dois troféus do Campeonato Espanhol (um deles na segunda passagem) no currículo.

O gosto por vencer

“Quando faço algo, é para ganhar. Eu sou um vencedor, sem pretensão. Eu vivo para vencer. Caso contrário, eu não faço. Nem sempre ganhamos, mas faço tudo por isso. Quando ganho, não me surpreendo, porque dei tudo. Eu trabalhei. E, quando você trabalha, tem o direito de ser recompensado. A recompensa vem do trabalho e isso significa que você merece”, resumiu ao L’Équipe.

A consciência social

Zidane sempre usou a força do futebol em prol da solidariedade. Desde os tempos de jogador, o francês atuou em campanhas beneficentes, sobretudo para juntar dinheiro aos programas de desenvolvimento da ONU. As tabelinhas com Ronaldo sempre foram grandiosas também neste sentido. O craque sabe o que representa e como possui peso para mobilizar mais gente. Assim, tantas vezes fez o bem.

Mesmo aos 50 anos, um aficionado pela bola

Zidane é um personagem que valoriza o futebol, pela forma como vivencia o jogo. E isso se nota também no período como treinador. As vitórias o motivam, claro, mas também o ambiente de quem experimentou aquilo com a máxima paixão nos tempos de craque. “Vivi esses momentos como jogador e são em outro nível como treinador. Eu tinha mais prazer mesmo no treino. A partida não era tão divertida porque há uma sentença. É bizarro dizer isso. Há mais ação, mais pressão. Nos treinos, era simplesmente excepcional com esses jogadores. A diversão estava realmente lá”, contaria ao L’Équipe.

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França x Brasil, em 2006 (Photo by Michael Steele/Getty Images)

O reconhecimento de Pelé

“É simplesmente um mestre. Eu colocaria Zidane entre os cinco melhores jogadores da história”.

O respeito de Alfredo Di Stéfano

“Ele domina a bola, é um espetáculo ambulante e joga como se tivesse luvas de seda em cada pé. Zidane faz valer a pena ir ao estádio. É um dos melhores que já vi jogar”.

A reverência de Michel Platini

“Tecnicamente, acho que ele é o rei dos fundamentos do jogo – o controle e o passe. Não acho que alguém pode igualá-lo quando é o momento de conduzir ou receber a bola”.

O carinho de Cristiano Ronaldo

“Eu já o respeitava, mas trabalhar com ele certamente me fez admirá-lo ainda mais, sobretudo por sua maneira de ser, de falar, de comandar, de tratar o time. Ele sempre foi sincero, e é por isso que eu sempre o levarei no meu coração”.

A lenda que sonha com novas façanhas

“Quero ser treinador da seleção, claro. Serei, espero, algum dia. Quando? Não cabe a mim. Mas quero fechar meu ciclo com a seleção. Conheci a seleção como jogador. E é a coisa mais linda que já me aconteceu, é o auge. Assim, como vivi isso e hoje sou treinador, a seleção está enraizada em minha cabeça. Não sei se vou substituir Deschamps. Se tiver que acontecer, vai acontecer, agora ou não. Quando digo que quero dirigir a seleção um dia, assumo. Hoje, a equipe está em seu lugar, com seus objetivos. Mas, se a oportunidade vier em seguida, estarei lá. Novamente, não depende de mim. Mas meu desejo profundo é estar lá. A seleção é a coisa mais bonita que existe”, apontou ao L’Équipe. E Zidane foi a coisa mais bonita que já aconteceu à seleção francesa.

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