O Zurique passava longe dos favoritos ao título, mas surpreendeu a todos e voltou a ser campeão suíço após 13 anos | OneFootball

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·02 de maio de 2022

O Zurique passava longe dos favoritos ao título, mas surpreendeu a todos e voltou a ser campeão suíço após 13 anos

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O Campeonato Suíço atravessou dois grandes períodos hegemônicos nas últimas décadas. O Basel se estabeleceu como octacampeão nacional de 2010 a 2017, em momento marcado também por bons desempenhos nos torneios continentais. O Young Boys não teve um reinado tão duradouro, mas conseguiu um tetra de 2018 a 2021, com direito a campanhas avassaladoras depois de um jejum que atravessou 32 anos. Já neste domingo, seria a vez do Zurique se intrometer e levantar a taça. Os alviazuis conquistaram o 13° troféu nacional e interromperam um hiato de 13 anos fora do topo do país. Seria uma campanha marcante, não apenas pela maneira como o Zuri se desgarrou da concorrência, mas também por acontecer cinco anos depois de uma breve passagem pela segunda divisão nacional. Fora do rol dos favoritos antes do início do campeonato, foi um campeão surpreendente.

O Zurique consta na lista de principais clubes da Suíça. O primeiro título veio ainda em 1902, embora o período mais relevante tenha acontecido entre os anos 1960 e 1980. Foram sete troféus levados pelos alviazuis de 1963 a 1981, com direito a duas semifinais de Champions nesse intervalo. O time passou por sua entressafra a partir de então, com 25 anos até conseguir ser campeão novamente em 2006. Antes que a citada supremacia de Basel e Young Boys ocorresse, o Zuri festejou três títulos num intervalo de quatro anos. Tempos em que Lucien Favre passou pelo comando, enquanto jogadores como Gökhan Inler, Raffael e Alhassane Keita estavam entre os protagonistas.


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O Zurique não conseguiu se estabelecer como um coadjuvante nos anos dominados por Basel e Young Boys. Até seria vice campeão em 2011, um ponto atrás do Basel, e teria duas terceiras colocações. Ainda assim, o processo de renovação não seria tão simples e o mais comum foi competir na parte intermediária da tabela. Isso até que uma campanha desastrosa acontecesse em 2015/16, com o rebaixamento do Zuri numa disputa apertada com Vaduz e Lugano, em temporada que até rendeu o título da Copa da Suíça. O jeito seria recomeçar na segundona, o que não foi problema com o acesso imediato em 2016/17.

O Zurique voltou à primeira divisão do Campeonato Suíço com um razoável quarto lugar em 2017/18, o que rendeu uma vaga na Liga Europa. Porém, desde então, variou entre a sétima e a oitava colocação, até flertando com o rebaixamento. Não parecia ser um dos favoritos ao título na atual temporada, até considerando a concorrência. O Young Boys mantinha destaques do tetracampeonato, apesar de mudanças no comando; já o Basel mesclava juventude e experiência, dando sinais de estabilização após crises recentes. Todavia, correndo por fora, o Zuri superou as expectativas para encerrar seu jejum de mais de uma década.

O técnico do Zurique para esta temporada não era das apostas mais óbvias. Os alviazuis buscaram o alemão André Breitenreiter, responsável pela ascensão do Paderborn na Bundesliga, mas que não deixou muitas saudadas em Schalke 04 e Hannover 96. Depois de dois anos sem clube, ele traria uma visão externa após algumas apostas caseiras feitas pela diretoria. E não que o elenco passasse por grandes investimentos. Os reforços se resumiam a jogadores emprestados ou trazidos sem custos, com raras exceções. Enquanto o sistema defensivo ganhou novos titulares, do meio para frente o Zuri preservava muitos que já estavam no grupo.

O Zurique venceu suas quatro primeiras partidas, antes de experimentar um jejum de vitórias nos quatro compromissos seguintes. Ainda não dava para cravar qual o destino do time, especialmente quando o Basel deslanchava graças aos gols de Arthur Cabral. Todavia, enquanto os rubroazuis ficavam pelo caminho e vendiam seu artilheiro, o Zuri emendou uma fase muito consistente a partir de outubro. Foram 17 partidas de invencibilidade, incluindo uma sequência de nove vitórias de novembro a fevereiro. Quando o reencontro com o Basel pelo terceiro dos quatro turnos aconteceu, os alviazuis já tinham uma vantagem de dez pontos na dianteira e o time da Basileia caiu para terceiro. Bastava não fazer besteira na reta final para comemorar.

Até houve certa acomodação em março, quando as derrotas voltaram a acontecer. Porém, o Zurique ainda tinha uma ótima gordura. Mais importante, venceria os últimos confrontos diretos com as duas antigas forças hegemônicas. No meio de abril, os 2 a 1 sobre o Young Boys impediram a mínima esperança de uma reviravolta. Já neste domingo, os 2 a 0 sobre o Basel em pleno St. Jakob Park é que determinaram a conquista do Zuri. Com mais quatro rodadas pela frente, o time abriu uma vantagem de 16 pontos na liderança graças ao triunfo no confronto direto. Para ninguém mais ter dúvidas.

Autor de um dos gols decisivos, o atacante Assan Ceesay foi um dos símbolos da conquista. O gambiano está no clube desde 2018/19 e, em suas aparições anteriores pela elite suíça com a camisa alviazul, só tinha feito seis gols em 66 partidas. Na atual campanha, são 18 tentos e ainda oito assistências em 29 jogos. Foi protagonista ao lado do camisa 10 Antonio Marchesano, esse destaque do Zuri desde o acesso na segunda divisão, e do volante marfinense Ousmane Doumbia. Outro nome a se observar é o do ala esquerdo Adriàn Guerrero, de 24 anos, emprestado pelo time B do Valencia e que serviu muitas assistências. Já entre os mais jovens, o ponta italiano Wilfried Gnonto e o zagueiro suíço Becir Omeragic têm bom potencial de estourar. Aos 18 anos, Gnonto veio da base da Inter, enquanto Omeragic já defendeu a seleção principal.

Tais promessas puderam absorver um bocado com Blerim Dzemaili, o nome mais conhecido do plantel do Zurique. O meio-campista surgiu na base do clube e fez parte do time bicampeão nacional, em 2006 e 2007. Saiu para uma experimentada carreira que inclui diversos clubes especialmente na Itália, além de 69 jogos pela seleção. Em 2021, após deixar o futebol chinês, o meio-campista retornou para antiga casa. Teve o gosto de levantar novamente o troféu aos 36 anos, unindo duas pontas de gerações vitoriosas no Letzigrund e que aumentam sua aura como ídolo da torcida.

O título do Zurique leva o time à segunda fase qualificatória da Champions League. Ainda haverá uma longa caminhada para alcançar a fase de grupos e, assim, se fortalecer financeiramente como os últimos dominantes do país. Pela forma como esse troféu veio sem necessariamente um processo de crescimento ao longo dos anos, há dúvidas se o Zuri poderá prolongar esse reinado. Entretanto, o nível de desempenho apresentado na campanha muda o status dos alviazuis no cenário nacional. Se os principais destaques forem preservados, o clube poderá provar que a comemoração desse ano não foi um mero lampejo.

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