O versátil José Herrera impulsionou a longeva relação entre os uruguaios e o Cagliari | OneFootball

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·26 de outubro de 2022

O versátil José Herrera impulsionou a longeva relação entre os uruguaios e o Cagliari

Imagem do artigo:O versátil José Herrera impulsionou a longeva relação entre os uruguaios e o Cagliari

A garra charrua é reconhecida no futebol italiano desde os primórdios da Serie A, quando os primeiros jogadores uruguaios aportaram no país. Mas há um lugar em que a intensa dedicação dos atletas do Uruguai é ainda mais apreciada: na Sardenha, região que tem o Cagliari como seu maior representante. Parte considerável dessa adoração se deve ao versátil José Herrera, que se doava na lateral direita, no centro da zaga e no meio-campo.

José Óscar Herrera nasceu em 1965 na cidade de Tala, localizada a menos de 100 km ao norte da capital Montevidéu. No intuito de realizar seu sonho de ser jogador de futebol, logo cedo Pepe, como era conhecido, decidiu buscar condições para desenvolver seu talento e migrou para o grande centro urbano do país. Lá, passou nos testes e ingressou na base do Peñarol, um dos mais tradicionais times de toda a América do Sul, e ascendeu ao elenco principal na temporada 1982-83.


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Ao longo de seus anos pelo clube, Herrera foi ganhando lugar aos poucos no time titular e logo mostrou a versatilidade que lhe distinguiu, ao atuar como volante, zagueiro e lateral-direito. José fez parte das campanhas do bicampeonato uruguaio em 1985 e 1986, e também contribuiu para a conquista da Copa Libertadores da América de 1987, quando o Peñarol bateu o América de Cali na final e obteve o seu quinto título da competição.

Foi jogando pelo Peñarol que Herrera fez sua estreia na seleção celeste, em 1988. No ano seguinte, após ser vice-campeão da Copa América, Pepe deixou os carboneros para se juntar ao Figueres, clube que militava na segunda divisão espanhola e buscava uma façanha: disputar a elite pela primeira vez. O uruguaio atuou como titular e teve um bom desempenho, mas o time catalão não atingiu seu objetivo, o que impulsionou o fim de sua passagem pela Península Ibérica.

No entanto, a principal razão para a saída de Herrera do Figueres foi o seu rendimento como lateral-direito do Uruguai na Copa do Mundo de 1990, disputada na Itália. A celeste caiu no Grupo E, ao lado de Espanha, Bélgica e Coreia do Sul, e terminou a primeira fase como uma das terceiras melhores colocadas. Pepe disputou as três partidas de sua seleção em Verona e Údine, mas ficou no banco no jogo das oitavas de final em Roma, quando os sul-americanos foram eliminados pela anfitriã, após 2 a 0.

Durante a competição, a diretoria do Cagliari estabeleceu uma relação de proximidade com o empresário uruguaio Paco Casal. O procurador, então, emplacou as transferências de três compatriotas para o time da Sardenha: para lá rumaram o versátil Herrera, o jovem atacante Daniel Fonseca e o meia-atacante Enzo Francescoli. Todos se tornaram ídolos dos rossoblù e, embora Pepe fosse o menos talentoso do trio, terminou sendo o mais longevo na ilha, com cinco temporadas a serviço da equipe.

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Com grande desenvoltura, Pepe se tornou um dos principais jogadores do Cagliari na década de 1990 (Arquivo/Cagliari)

Herrera chegou a um Cagliari recém-promovido à elite e que colhia os frutos de uma reconstrução. A ascensão dos sardos contou diretamente com a renovação do elenco e, sobretudo, com a chegada de Claudio Ranieri ao comando técnico. Na temporada 1988-89 o time estava afundado na terceira divisão e, graças ao trabalho do treinador, conseguiu dois acessos consecutivos.

Com isso, buscando fortalecer ainda mais a equipe para a disputa da Serie A, a diretoria do Cagliari buscou contratar novos atletas, de modo a iniciar uma tradição que perdura até os dias de hoje: a presença de jogadores uruguaios no time. O primeiro charrua havia sido o atacante Waldemar Victorino, no começo dos anos 1980, mas as ligações com o futebol do país sul-americano se fortaleceram graças ao trio formado por Herrera, Fonseca e Francescoli.

Com a equipe formada para o desafio da Serie A, o Cagliari fez uma grande campanha de recuperação. Os casteddu chegaram a ocupar a última posição durante parte considerável do primeiro turno e só conseguiram virar a chave na segunda metade do certame. Herrera passou um período no banco, mas se tornou fundamental ao ser um dos vice-artilheiros do time, com quatro gols marcados – balançou as redes nos empates com Fiorentina e Lazio e nas vitórias sobre Parma e Lecce.

Após a saída de Ranieri para o Napoli, o time rossoblù foi comandado brevemente por Massimo Giacomini, mas seria Carlo Mazzone que tomaria as rédeas. O romano manteve Herrera na equipe titular e contou com a sua garra (e mais três gols, incluindo um na vitória sobre a então campeã Sampdoria) para salvar o Cagliari do rebaixamento novamente em 1992.

No ano seguinte, os casteddu tiveram um desempenho ainda mais satisfatório. Com a base praticamente inalterada, salvo pela saída de Fonseca para a Roma e as chegadas de Luís Oliveira e Francesco Moriero, a formação sarda obteve um suntuoso sexto lugar na Serie A – que lhe rendeu vaga na Copa Uefa. Exercendo papel mais defensivo no cauteloso esquema de Mazzone, Herrera só anotou uma vez, em derrota para o Parma.

Em 1993-94, Pepe viu os compatriotas deixarem a Sardenha – Francescoli foi para o Torino e o apagado Marcelo Tejera, que só ficou uma temporada no clube, rumou ao Boca Juniors. Assim, se tornou o único representante da garra charrua no Cagliari, cujo elenco foi encorpado com as chegadas do atacante Julio César Dely Valdés e do meia Massimiliano Allegri, incumbido de ajudar Moriero e Gianfranco Matteoli no setor central. Mazzone, contudo, fora contratado pela Roma e deu lugar a Luigi Radice, que não convenceu e terminou demitido após derrota na estreia. Bruno Giorgi o substituiu.

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Herrera não teve experiência tão duradoura na Atalanta, mas ajudou a equipe a obter bons resultados (Allsport)

Mesmo diante de tantas mudanças, o time tinha seus pilares, que seguravam a bronca. Herrera era um deles e contribuiu para que o Cagliari não só permanecesse na Serie A, mas também conseguisse alcançar as semifinais da Copa Uefa, naquela que foi sua melhor campanha numa competição europeia. Pepe perdeu três partidas por conta de um cartão vermelho direto recebido contra o Dinamo Bucareste, em sua estreia no torneio, mas foi fundamental para que os rossoblù superassem a Juventus, que defendia o troféu. Após avançarem nas quartas, os casteddu foram eliminados por outra adversária doméstica: a Inter, que acabou faturando a taça ao bater o Salzburg na decisão.

Na temporada 1994-95, Herrera continuou a mostrar sua polivalência pelo Cagliari. E, dessa vez, comandado por um velho conhecido: o compatriota Óscar Tabárez, que havia sido seu treinador na seleção uruguaia. Com o maestro, Pepe jogou na defesa ou no meio-campo com a mesma eficiência, sempre com muita calma e boa chegada ao ataque – tanto é que anotou mais quatro vezes. Ao fim da campanha, após um nono lugar na Serie A, o charrua acabou encerrando o seu ciclo na Sardenha. Não conquistou nenhum título, mas se tornou um destaque no time, chegando a 164 partidas e 15 gols durante os cinco anos em que representou os isolani.

Se chegou ao Cagliari após uma campanha com a seleção uruguaia, Pepe saiu da mesma forma. Em 1995, após faturar a Copa América nos pênaltis, ante o Brasil, com direito a cobrança convertida, o versátil jogador continuou na Itália, mas agora em solo continental: assinou com a Atalanta, que também retornava à elite. Em Bérgamo, foi titular absoluto do time de Emiliano Mondonico, sempre trocando de posição quando necessário, e contribuiu para uma permanência tranquila na Serie A e com um vice da Coppa Italia.

Herrera representou a Atalanta por uma temporada e meia, nas quais somou 49 aparições e dois gols. Em janeiro de 1997, o uruguaio, que estava prestes a completar 32 anos, rumou ao México. O Cruz Azul foi o seu destino, mas Pepe representou os cementeros por apenas alguns meses. Na verdade, dali em diante começou a pular de clube em clube até se aposentar. O versátil jogador passou por Newell’s Old Boys, da Argentina, Persib, da Indonésia, Shandong Luneng, da China e, em seu país, atuou por Racing de Montevideo, Montevideo Wanderers (duas vezes) e Peñarol – mais três, totalizando quatro estadias nos carboneros. Pendurou as chuteiras em 2003, aos 38.

José Herrera nunca foi um daqueles grandes destaques individuais, mas por onde passou, sobretudo no Cagliari, deixou sua marca por conta de seu estilo calmo e paciente, sempre desejoso de ajudar o conjunto. Além disso, sua índole gregária e sua eficiência acabaram ajudando a criar uma tendência na Sardenha: no total, 24 jogadores e quatro técnicos uruguaios representaram o time. Um dos mais famosos deles, aliás, só chegou lá por conta de sua herança. O principal motivo para a transferência do zagueiro Diego Godín para o clube foi o fato de ele ser marido de Sofía, filha de Pepe e nascida na ilha. Isso é que é identificação.

José Óscar Herrera Corominas Nascimento: 17 de junho de 1965, em Tala, Uruguai Posição: lateral-direito, zagueiro e volante Clubes: Peñarol (1984-88, 1998, 2001 e 2003), Figueres (1989-90), Cagliari (1990-95), Atalanta (1995-97), Cruz Azul (1997), Newell’s Old Boys (1997-98), Racing de Montevideo (1999), Montevideo Wanderers (2000 e 2002) e Persib (2001) Títulos: Copa Artigas (1984, 1985, 1986 e 1988), Campeonato Uruguaio (1985 e 1986), Copa Libertadores (1987) e Copa América (1987) Seleção uruguaia: 57 jogos e 4 gols

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