O Scudetto do Milan é tão especial pela reconstrução e também pelo sonho de que este seja o primeiro passo a novos sucessos | OneFootball

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Trivela

·22 de maio de 2022

O Scudetto do Milan é tão especial pela reconstrução e também pelo sonho de que este seja o primeiro passo a novos sucessos

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O Milan possui uma história que fala por si. Poucos clubes são tão respeitados ao redor do mundo quanto os rossoneri. Mas, ainda que a tradição não se apague, passar 11 anos sem títulos era demais para os milanistas. Muita gente aguardava o dia em que o gigante renasceria. E o sol raiou outra vez para o Milan neste domingo, com um título incontestável na Serie A. A campanha que marca o ressurgimento do Diavolo, também, é das mais interessantes por seus detalhes. Veio com um projeto esportivo excepcional, depois de tempos de incertezas nos bastidores. Coroa uma equipe jovem, que desde já indica que pode fazer mais.

O Scudetto de 2010/11 ainda parece um canto do cisne para o Milan que conquistou duas vezes a Europa na década anterior. É o troféu que finaliza o ciclo para diversas lendas dos rossoneri, ensanduichado em períodos hegemônicos da Internazionale e da Juventus na Serie A. Algumas apostas daquele período não vingaram e a reconstrução seria mais dura. Em meados da década passada, os milanistas conviveram com a mediocridade do meio da tabela, em que sequer conseguiam se classificar para as copas continentais, terreno tão fértil à história gloriosa do clube. Os treinadores se sucediam sem que ídolos dessem conta do recado, o elenco colecionava jogadores aquém da grandeza da agremiação.


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Silvio Berlusconi e Adriano Galliani, duas figuras fundamentais do Milan, saíram de cena já dentro desse apequenamento. O último troféu da dupla viria numa esquecida Supercopa em 2016, com presença só garantida por um vice na Copa da Itália. Iniciava-se então a gestão de Li Yonghong, um empresário que prometia alto investimento, mas cuja origem do dinheiro era duvidosa. Não demorou para que os problemas se tornassem maiores e Yonghong sequer cumprisse o pagamento dos empréstimos feitos para a aquisição. O clube emendava problemas com o Fair Play Financeiro e a chegada do Grupo Elliott era uma grande interrogação, já que o fundo de investimentos americano estava ali bem mais pelo negócio do que pelo aspecto esportivo.

Não dá para negar que a mudança de donos fez bem ao Milan, a partir de 2018/19. O Grupo Elliott podia não ser especialista em futebol, mas conseguiu entregar o Milan para quem era. A gestão ainda teve seus erros, mas as escolhas de Stefano Pioli para o comando técnico e de Paolo Maldini como diretor se provaram certeiras. Depois de duas campanhas no Top 6 com o grupo americano, o ápice veio com o vice em 2020/21. Não seria uma caminhada tão linear, seja pela liderança que escapou com o tempo, seja pela chegada de Ralf Rangnick que nunca se concretizou. Mas, considerando a juventude do time, voltar à Champions League depois de sete temporadas de ausência já era motivo para comemorar. Pioli também se provou o comandante ideal, ao deixar para trás as desconfianças e moldar a identidade do time. Criticado em sua chegada e às portas da demissão na temporada passada, transformou seu nome.

O Grupo Elliott nunca escondeu sua intenção de fazer dinheiro com o Milan e valorizar um ativo que assumiu em baixa. Conseguiu isso através de gente que honrou a história dos rossoneri, até a reconquista do Scudetto nessa temporada. Se o posto de Maldini como lenda é inquestionável pela carreira como jogador, a influência do diretor na montagem do atual elenco valoriza ainda mais sua idolatria. Já Pioli mostrou que era mesmo um técnico de ponta, permitindo que a equipe evoluísse em relação à temporada passada e ganhasse a consistência que faltava. Nem mesmo as perdas de Gianluigi Donnarumma e Hakan Çalhanoglu tiraram a equipe dos prumos.

O Milan podia não parecer exatamente um favorito ao título, mas estava no bolo. E isso ficou claro pela excelente largada na campanha, com 10 vitórias nas primeiras 11 primeiras rodadas. O Napoli se colocou como um fortíssimo concorrente a se perseguir, antes que a Inter se recuperasse e se mostrasse como candidata ao bicampeonato. Fato é que o equilíbrio que se pedia aos rossoneri se tornou maior. O time não foi impecável e teve tropeços duros na virada do ano, especialmente contra times que ocupavam a metade inferior da tabela. Mas também respondeu em momentos necessários, sobretudo com as vitórias sobre Inter e Napoli a partir de fevereiro. Jogos grandes, que moldam campeões.

A reta final, então, viu outra sequência invicta do Milan surgir, já durando 16 partidas. Nessa, o Napoli ficaria para trás. E a reta final guardou uma batalha ponto a ponto com a rival Inter, das mais memoráveis da história da Serie A. Mesmo que tivessem deficiências, os milanistas precisaram se agarrar aos seus protagonistas e à sua força mental. Assim, a equipe emendou vitória atrás de vitória no momento decisivo, muitas delas apertadas. Resultados que valiam comemorações efusivas. Afinal, foi através deles que a aura do campeão nasceu, até a confirmação derradeira.

É um Milan que mescla muita juventude com experiência pontual, mas vital. Mike Maignan sobrou como melhor goleiro da Serie A e a torcida nem se lembra mais do antecessor visto como traidor. Theo Hernández é um dos melhores laterais do mundo, com Davide Calabria também se saindo bem na direita. O miolo de zaga teve em Fikayo Tomori uma excelente peça em setor bem servido, ainda com as presenças do promissor Pierre Kalulu, do capitão Alessio Romagnoli e do experiente Simon Kjaer. Já a força no meio foi outra virtude, com Franck Kessié, Ismaël Bennacer, Brahim Díaz e principalmente Sandro Tonali – este, dando um passo à frente na carreira.

Já num ataque que teve Junior Messias como um talismã, Rafael Leão experimentou a explosão de sua carreira e dá para dizer sem receio que foi o melhor jogador da Serie A nesta temporada, tanto pelo nível de atuação quanto pelo caráter decisivo que teve – recebendo o prêmio oficial da liga. Sem esquecer, claro, as atuações decisivas de Olivier Giroud – o dérbi contra a Inter e a rodada final contra o Sassuolo estão entre as maiores de sua carreira. E também a contribuição de Zlatan Ibrahimovic, menos influente que em outros tempos, mas ainda vital, sobretudo pela liderança nos vestiários. Foi o elo em campo com o Diavolo vitorioso de 2010/11.

Até pela média de idade de muitos jogadores e pela espinha dorsal formada, a sensação é de que o Milan pode voltar a sonhar grande com constância. Não são as perdas pontuais e a saída dos medalhões que vão custar o potencial. Voltar a brigar por Champions é outra história, depois de uma década em que o futebol mudou muito, mas a Serie A volta a pintar no horizonte – e num momento ótimo da liga, de muito equilíbrio. A nova mudança de gestão em breve, com a venda do Grupo Elliott, gera interrogações. No entanto, as bases já estão firmadas para algo mais duradouro. E aí está o motivo que torna esse Scudetto, além do fim do jejum, tão especial.

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