Calciopédia
·04 de maio de 2022
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Curinga. Esta talvez tenha sido a melhor faceta de Marco Parolo em seus tempos de jogador. Meio-campista de origem, o italiano oriundo da região da Lombardia, em seus 17 anos de carreira no futebol profissional, atuou em todas as áreas do campo: defesa, meio e ataque. Mais especificamente, ele só não fez as vezes de goleiro, lateral-esquerdo e centroavante. De resto, foi pau para toda obra, sobretudo na Lazio, time com o qual obteve maior destaque. No entanto, antes de chegar à elite, o atleta, que se inspirava em Steven Gerrard, rondou bastante pela terceira divisão da Itália.
Parolo cresceu em Gallarate, uma comuna localizada na Lombardia, e começou no esporte ainda pequeninho. “Eu jogava futebol em qualquer lugar. […] Amei rápido esse esporte”, recordou, em entrevista a Il Posticipo. O amor pelo Milan também estimulou o garoto a seguir a árdua estrada da modalidade. Aliás, ele guarda boas lembranças do título da Serie A que os rossoneri conquistaram em 2004. “Me lembro das comemorações, a caravana buzinando junto ao meu melhor amigo”.
Curiosamente, poucos meses depois de Parolo celebrar o 17º scudetto milanista, ele estrearia profissionalmente a serviço do Como, que, à época, disputava duas divisões abaixo da elite italiana. Aos 19 anos, foi titular durante toda a temporada 2004-05 na Serie C. Fez três gols e desempenhou várias funções dentro do time, que acabaria rebaixado e também declararia falência. Uma vez que a equipe comasca era escalada ora no 4-4-2, ora no 4-4-1-1, Marco atuou em todas as posições do meio-campo, além de ser utilizado, em algumas situações, como segundo atacante.
Visto que o Como havia decretado falência, Parolo ficou livre, no verão de 2005, para assinar sem custos por qualquer clube. Assim, fechou com a Pistoiese, outro integrante da terceira divisão da Itália. Permaneceu na agremiação toscana por dois anos até ser negociado com o Chievo. O lombardo, contudo, jamais entraria em campo para defender as cores dos gialloblù. Isso porque o Céo o emprestou, primeiro, ao Foligno — onde bateu na trave para ascender à Serie B — e, depois, ao arquirrival Hellas Verona, que também estava no nível três do futebol itálico.
Como tantos jogadores italianos, Parolo explodiu tardiamente, com a camisa do Cesena (Getty)
Em 2009, Parolo galgou alguns degraus em sua carreira após ser emprestado pelo Chievo ao Cesena. A transferência só trouxe vantagens ao versátil atleta, à época com 24 anos. De cara, ele disputaria pela primeira vez a Serie B, depois de jogar em divisões inferiores desde o início de sua carreira. Em segundo lugar, Marco virou a chavinha vestindo o preto e branco dos romanholos. Na Emília-Romanha, o jogador reencontrou o comandante Pierpaolo Bisoli, que o havia treinado nos tempos de Foligno.
Parolo deslanchou no Cesena, onde atuou em várias áreas do meio-campo, de acordo com o esquema tático escolhido por Bisoli para cada partida: 4-3-3, 4-1-4-1, 4-3-2-1, 4-3-1-2, 4-2-3-1, 4-4-2, 3-5-2, 5-4-1 e 5-3-2. Em sua primeira temporada, participou de 36 jogos na Serie B, marcou cinco vezes e foi peça importante na campanha que resultou na classificação à elite — os bianconeri finalizaram o campeonato na vice-liderança, um ponto atrás do campeão Lecce. Foi do volante, aliás, o gol que garantiu a equipe romanhola na máxima divisão do Belpaese depois de 19 anos. Após o ótimo aporte do atleta, o clube decidiu adquirir metade dos direitos econômicos do meio-campista junto ao Chievo.
Dias de luta, dias de glória. Em 2010-11, o camisa 18 do Cesena teve sua primeira experiência na Serie A. A regularidade na principal divisão de futebol da Itália o credenciou à estreia na seleção italiana. Após ser chamado para a equipe sub-19 em maio de 2004 e não haver entrado em campo, o lombardo fez, aos 25 anos, sua estreia pela Nazionale. Ele substituiu Claudio Marchisio faltando poucos minutos para acabar o amistoso contra a Ucrânia, realizado no dia 29 de março de 2011, em Kyiv. O embate terminou com placar de 2 a 0 a favor da Squadra Azzurra.
Dois meses depois, Parolo terminou a sua primeira temporada na Serie A com excelentes números: dos 38 jogos do certame, só perdeu um — suspenso devido ao acúmulo de cartões amarelos —, anotou cinco gols e forneceu quatro assistências. Um fato curioso: em duas rodadas consecutivas, o atleta balançou as redes e serviu de garçom: as vítimas foram a Sampdoria e a Juventus — vitória por 3 a 2 e empate por 2 a 2, respectivamente. O Cesena, por sua vez, findou a campanha na 15ª colocação, sete pontos acima da zona da degola, e comprou a outra metade dos direitos econômicos de Marco.
Depois de ganhar destaque com o Cesena, Parolo defendeu o Parma e se consolidou na seleção italiana (Getty)
Se, em 2010-11, o Cesena fez bonito e conseguiu permanecer na Serie A, a temporada seguinte teve efeito reverso. A equipe bianconera conseguiu somente quatro triunfos no campeonato inteiro e acabou sendo o saco de pancadas da edição 2011-12, terminando na lanterna da competição, 20 pontos atrás do primeiro clube fora do Z3. Parolo, por sua vez, chegou a usar a braçadeira de capitão na quinta rodada do Italiano, em um estádio que costumava ir quando criança, San Siro; porém, não foi capaz de evitar a derrota dos cavalos marinhos diante do Milan, por 1 a 0. Marco foi um dos poucos que se salvaram na campanha, embora tenha sido responsável apenas por um gol e uma assistência em 35 partidas disputadas.
Com o rebaixamento do Cesena, o lombardo se mudou para o Parma, em julho de 2012. O modelo da negociação foi empréstimo, com opção de compra avaliada em 4 milhões de euros. Em sua chegada ao Ennio Tardini, o meia escolheu o número 16 para usar e revelou quem era a sua referência. “Desde pequeno eu sempre olhei para o [Steven] Gerrard. É um meio-campista completo, faz as duas fases, infiltra bem. Eu faço a fase defensiva, mas quando tenho a possibilidade de avançar, não desprezo também a finalização. Resumindo, se eu puder marcar um gol, não me faço de rogado”, alertou.
As torcidas de Napoli, Roma e Atalanta viram que Parolo não estava mentindo. Afinal, as três equipes foram as vítimas do meio-campista na edição 2012-13 da Serie A, na qual os ducali encerram no 10º posto. Em 36 jogos na liga, ele marcou três gols e serviu de garçom três vezes. O camisa 16 somou boas atuações pelo time crociato, foi comprado em definitivo e, assim, entrou novamente na mira de Cesare Prandelli, então treinador da seleção italiana, que o convocou após quase três anos sem vestir a camisa azzurra. Saiu do banco para ocupar a vaga de Thiago Motta no início do segundo tempo do amistoso ante a Nigéria, em Londres — a partida terminou em 2 a 2.
Parolo mostrou seu lado goleador em 2013-14. Foram oito gols, além de sete assistências, na Serie A. Um jogo, certamente, foi marcante para o meio-campista. Em duelo válido pela nona rodada, Parma e Milan se enfrentaram no Ennio Tardini, e o atleta lombardo simplesmente acabou com a partida. Anotou uma doppietta, sendo o segundo numa paulada em cobrança de falta, e deu o passe para o tento de Antonio Cassano. Os ducali ganharam dos rossoneri por 3 a 2. Marco também guardou duas vezes na animada vitória por 4 a 3 sobre a Atalanta, novamente em casa. Foi importante também no elétrico 3 a 3 com a Inter, no Giuseppe Meazza, ao fazer um e dar passe para Nicola Sansone carimbar sua dobradinha na peleja. Uma temporada à Gerrard.
Em 2013-14, o meio-campista foi um dos grandes nomes de uma ótima campanha nacional do Parma (Getty)
O Parma treinado por Roberto Donadoni fez uma campanha excelente, que acabou coroada com a classificação à Liga Europa. Porém, a decisão foi revogada, posteriormente, devido a irregularidades financeiras, e, com isso, o Torino herdou a vaga. De qualquer maneira, Parolo teve pouco tempo para ficar triste, já que foi convocado para a Copa do Mundo de 2014. Aos 29 anos, desfrutou de seu primeiro e único Mundial. A Itália deu vexame ao ser eliminada na fase de grupos pela segunda Copa consecutiva, e Marco jogou duas das três partidas — sempre saindo do banco.
Mas, passada a frustração pelo fracasso em solo brasileiro, Parolo trocou a Emília-Romanha pela Cidade Eterna. Desejo antigo da diretoria laziale, o meio-campista assinou vínculo de cinco anos e custou cerca de 4,5 milhões de euros, segundo o Transfermarkt. À época, o presidente da Lazio, Claudio Lotito, e o diretor esportivo Igli Tare também contrataram o zagueiro Stevan De Vrij, que, assim como o meia, seria uma peça crucial na engrenagem da equipe nas campanhas seguintes.
Parolo assumiu, logo de cara, o posto de titular no 4-3-3 do então novo comandante biancoceleste, Stefano Pioli. Atuando como mezzala geralmente pela direita, o camisa 16 fez parte de um tripé que contava também com Lucas Biglia um pouco mais recuado, construindo o jogo por trás, e Senad Lulic (ou Stefano Mauri) do outro lado do trio. Um sólido meio de campo, uma defesa sustentada por De Vrij e um tridente de ataque muito entrosado (Antonio Candreva pelo flanco direito, Miroslav Klose na referência e Felipe Anderson gerando amplitude na outra extremidade).
A primeira temporada de Parolo na Lazio foi uma das melhores de sua carreira. O lombardo disputou 40 jogos, fez 11 gols e forneceu quatro assistências. Suas exibições contribuíram para as águias chegarem à final da Coppa Italia, perdida na prorrogação após o tento do 2 a 1 marcado por Alessandro Matri, e encerrarem o campeonato na terceira colocação, com vaga nos playoffs da Liga dos Campeões. Ele também ganhou mais tempo de campo pela seleção italiana de Antonio Conte. Não à toa foi titular na Eurocopa de 2016, disputando quatro das cinco partidas da Squadra Azzurra — ele ficou no banco no terceiro duelo, contra a Irlanda, porque o técnico decidiu poupar alguns jogadores para o mata-mata. A Nazionale sucumbiu nas quartas de final, diante da Alemanha, nas cobranças de pênalti.
Líder nato, Parolo chegou a utilizar a braçadeira de capitão da Lazio (Getty)
No retorno à Lazio após a Euro, Parolo e a equipe sofreram dois baques. Primeiro, a derrota na Supercopa Italiana, novamente para a algoz Juventus. Depois, queda ante o Bayer Leverskusen nos playoffs da Champions League, fazendo os celestes se contentarem com a Liga Europa. Curiosamente, na temporada 2015-16, o camisa 16 marcou mais um gol contra o Milan, juntando-se aos dois que ele havia anotado na vitória por 3 a 1 sobre os rossoneri, no Olímpico, na Serie A de 2014-15.
Já com Simone Inzaghi à frente do time, a Lazio chegou à final da Coppa Italia novamente em 2016-17, mas outra vez não conseguiu superar a Juventus: revés por 2 a 0. Para Parolo, o jogo mais memorável daquela temporada foi a goleada por 6 a 2 sobre o Pescara, no estádio Adriatico, pela 23ª rodada da liga. É que o camisa 16 fez um poker, tornando-se o primeiro meio-campista a marcar quatro gols em um confronto da Serie A.
No início da temporada seguinte, Parolo, aos 32 anos, conquistou seu primeiro título como profissional. Uma vez que a Juventus havia feito a dobradinha, levando Serie A e Coppa Italia, a Lazio, vice-campeã da copa nacional, desafiou a Vecchia Signora pela Supercopa Italiana. Diferentemente das decisões passadas, a equipe da capital derrotou a os bianconeri, por 3 a 2, e o lombardo forneceu uma assistência para o segundo gol de Ciro Immobile. Ainda em 2017-18, Marco usou a braçadeira de capitão em alguns jogos.
Em 2017, o meio-campista passou por mais um vexame na seleção. A Squadra Azzurra, cujo comando era do questionado Gian Piero Ventura, falhou na tentativa de se classificar à Copa do Mundo de 2018. Já sob a batuta de Roberto Mancini, o jogador recebeu algumas chamadas à Nazionale, mas parou de ser convocado em 2018. Foram 36 jogos a serviço da equipe italiana.
Pilar da Lazio, o versátil e potente meia conquistou três taças na capital (Getty)
O ano de 2019 foi o mais vitorioso da carreira de Parolo. Afinal, o jogador participou das conquistas de Coppa Italia (triunfo sobre a Atalanta, por 2 a 0) e Supercopa Italiana (3 a 1 sobre a Juventus, com assistência do camisa 16 para gol de Lulic). Ele também passou a ostentar a braçadeira de capitão no returno da Serie A 2019-20, campeonato o qual a Lazio flertou com a liderança antes da pandemia de covid-19. Em 2020-21, sua última campanha antes da aposentadoria, Marco perdeu espaço, pois Inzaghi deu preferência ao brasileiro Lucas Leiva para compor a trinca no meio-campo, na plataforma 3-5-2, ao lado de Sergej Milinkovic-Savic e Luis Alberto. Então, passou a jogar também como zagueiro central em algumas ocasiões.
Ao fim de 2020-21, Parolo não teve o contrato renovado e, assim, pendurou as chuteiras, aos 36 anos. Foram sete temporadas defendendo as cores da Lazio. Entrou em campo 265 vezes, marcou 39 gols, forneceu 19 assistências e venceu três títulos. Aposentado, tirou licença para ser treinador e virou comentarista do DAZN Italia. Destino à beira do gramado, tal qual sua maior referência, Steven Gerrard? “Neste momento, gosto de fazer o que estou fazendo. Amo o meu trabalho como comentarista. Porém, pensando no futuro, me vejo bem como técnico. Já consegui a licença. Me sinto jovem e acredito que posso fazer muito ainda […]”, afirmou, em fevereiro de 2022.
Marco Parolo Nascimento: 25 de janeiro de 1985, em Gallarate, Itália Posição: meio-campista Clubes: Como (2004-05), Pistoiese (2005-07), Foligno (2007-08), Verona (2008-09), Cesena (2009-12), Parma (2012-14) e Lazio (2014-2021) Títulos: Supercopa Italiana (2017 e 2019) e Coppa Italia (2019) Seleção italiana: 36 jogos
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