O Milan superou o nervosismo e a Juventus na final da Champions League de 2003 | OneFootball

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·21 de abril de 2021

O Milan superou o nervosismo e a Juventus na final da Champions League de 2003

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A decisão da Champions League na temporada 2002-03 colocou frente a frente duas potências do futebol italiano: a Juventus, de Marcello Lippi, e o Milan, comandado por Carlo Ancelotti. Era apenas a segunda ocasião em toda a história da competição que duas equipes do mesmo país iriam duelar na final. A primeira vez havia ocorrido três anos antes, quando o Real Madrid venceu o Valencia por 3 a 0.

De fato, os elencos de Juventus e Milan estavam entre os melhores da Europa naquele momento. Tanto é que as equipes italianas superaram adversários de alto calibre para chegar à decisão, que aconteceu no estádio Old Trafford, em Manchester, na Inglaterra.


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Destino: o topo do continente

O regulamento da Uefa Champions League era diferente em relação ao de hoje: a grande diferença é que a competição contava com duas fases de grupos e o mata-mata começava nas quartas de final. Na primeira etapa da competição, as duas equipes do norte da Itália avançaram em primeiro em suas chaves. Os bianconeri no Grupo E, que contava com Newcastle, Dynamo Kyiv e Feyenoord, e os rossoneri no Grupo G, composto também por Deportivo La Coruña, Lens e Bayern Munique. Alessandro Del Piero e Filippo Inzaghi, autor de oito gols em seis partidas, foram os destaques.

Depois de classificados os dezesseis melhores times da fase anterior, quatro novos grupos foram formados. Cada um tinha dois primeiros colocados e duas equipes que passaram em segundo. Os dois melhores de cada uma das quatro chaves iriam às quartas de final.

Além do Milan, o Grupo C tinha Real Madrid, Borussia Dortmund e Lokomotiv Moscou. Com quatro vitórias e duas derrotas, o time dos brasileiros Dida, Roque Júnior, Serginho e Rivaldo garantiu a primeira colocação. Pelo Grupo D, a Juventus teve mais dificuldades e se classificou em segundo, atrás do líder Manchester United, e com a mesma pontuação de Basel e Deportivo La Coruña – todos os três times com dois triunfos, um empate e duas derrotas. Pelo saldo de gols, a equipe de Turim levou a melhor. Tinha zero, enquanto os adversários possuíam balanços negativos.

Era chegada a hora do mata-mata. Dos oito postulantes ao título, três vinham da Itália: Milan, Juventus e Inter. Real Madrid, Barcelona, Manchester United, Ajax e Valencia eram os outros contendores. O Diavolo iria encarar o Ajax de Zlatan Ibrahimovic, Rafael van der Vaart e de um jovem Wesley Sneijder, que havia subido para o time principal ainda naquela temporada; a Velha Senhora teria o Barcelona de Patrick Kluivert, Javier Saviola, Marc Overmars, Xavi e companhia pela frente.

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No Delle Alpi, os comandados de Lippi empataram em 1 a 1 com a equipe blaugrana – gols de Paolo Montero e Saviola. Na segunda partida, em solo catalão, um gol de Xavi na primeira etapa, o primeiro do espanhol na Champions League, pôs o Barcelona na frente. Os visitantes empataram no começo da etapa complementar com Pavel Nedved, após assistência de Edgar Davids – sua quinta naquela edição. O holandês seria expulso não muito tempo depois, ficando de fora da prorrogação. No tempo extra, em contragolpe puxado por Nedved, Alessandro Birindelli recebeu pela direita e cruzou na medida para o uruguaio Marcelo Zalayeta, que bateu de primeira e mandou para o fundo da rede. A Juventus estava classificada à semifinal.

Já o Milan arrancou um empate sem gols no primeiro duelo contra o Ajax, em Amsterdã. Nos primeiros 45 minutos, Inzaghi marcou seu décimo gol e deu a vantagem parcial aos anfitriões. A verdadeira emoção estava reservada para o final: o Ajax empatou com Jari Litmanen, sofreu um gol de Andriy Shevchenko dois minutos depois, igualou o marcador novamente – desta vez com o sul-africano Steven Pienaar – e viu o atacante dinamarquês Jon Dahl Tomasson marcar aos 46 do segundo tempo, fazendo o time rossonero avançar. As semifinais colocaram frente a frente quatro dos maiores clubes europeus. De um lado, Juventus e Real Madrid; do outro, ocorreria o Derby della Madonnina, já que a Inter havia eliminado o Valencia.

Milan e Inter empataram em 0 a 0 no primeiro jogo e em 1 a 1 no segundo, com gols de Shevchenko e Obafemi Martins. Por ser o visitante na partida de volta, o Diavolo eliminou os nerazzurri por conta do gol marcado pelo ucraniano. No confronto entre Juventus e Real Madrid, o primeiro jogo foi na capital espanhola e os donos da casa venceram por 2 a 1, com gols da dupla brasileira Ronaldo e Roberto Carlos. David Trezeguet descontou para os visitantes. Em Turim, coube ao trio formado por Del Piero, Nedved e Trezeguet decidir, com um gol cada. Zinédine Zidane ainda marcou contra sua antiga equipe no penúltimo minuto do tempo regulamentar, mas já era tarde: a Juventus venceu por 3 a 1 e também se garantiu na final.

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A finalíssima

O palco da decisão foi o Old Trafford, casa do Manchester United. A Juventus teria um enorme desfalque. Pela suspensão de Nedved, Lippi decidiu escalar Gianluca Zambrotta pelo flanco esquerdo com o intuito de colocar velocidade para cima do experiente Alessandro Costacurta, de 37 anos. O Milan foi a campo com força máxima entre os titulares.

O jogo começou levemente acelerado, com as equipes demonstrando compreensível ansiedade. Aos oito minutos, Clarence Seedorf recuperou a bola e tocou para Rui Costa, que arrancou na intermediária e achou Pippo Inzaghi aberto na esquerda. O camisa 9 rolou para Shevchenko marcar, livre dentro da área. O gol foi anulado por conta de um impedimento de Rui Costa, que encobria a visão de Gianluigi Buffon.

O jogo era extremamente brigado na intermediária e os dois setores de meio de campo entregavam muita energia. Shevchenko, caindo pelo flanco direito, surgia como boa opção. Quando tinha a bola, tocava rapidamente para tabelar e também arriscava jogadas individuais. Com pouco menos de 20 minutos jogados, uma inversão errada de Montero foi parar nos pés do camisa 7 rossonero, que encontrou Seedorf na ponta direita. O holandês cruzou e Inzaghi mergulhou de peixinho, em uma finalização de almanaque, obrigando Buffon a operar um milagre em lance de puro reflexo. A defesa é considerada, até hoje, uma das mais emblemáticas da carreira do lendário goleiro.

Zambrotta era uma boa válvula de escape da Juve pela esquerda e sofreu algumas faltas ao arrancar em velocidade. Em um destes momentos, foi parado por um carrinho de Costacurta, que foi punido com o cartão amarelo. Esse lance exemplifica bem o objetivo de Lippi ao escalar o lateral naquela função.

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Davids, na intensidade que lhe era costumeira, dominava a área central. Desarmava e iniciava as tramas, se projetando como opção de passe no campo ofensivo. A intensidade também fez Alessandro Nesta e Del Piero se chocarem em disputa pelo alto – o camisa 10 da Juve ficou com um ferimento abaixo do olho esquerdo. Na sequência, lances de muita virilidade e carrinhos ditavam o perde e ganha na meia cancha.

No final da primeira etapa, uma grande chance para cada lado. Primeiro com o Milan, que passou a explorar mais o lado direito da defesa adversária e viu Andrea Pirlo progredir por aquele setor e tocar para Rui Costa, sozinho na entrada da grande área. O português dominou e bateu para fora, à direita de Buffon, que fez o golpe de vista. Aos 42 minutos, Mauro Camoranesi, apagado até então, descolou bonito passe de trivela para Del Piero, que chegou batendo de primeira, mesmo com Nesta em seu encalço. Em sua primeira intervenção naquela noite, o brasileiro Dida mandou a bola para escanteio.

O último grande momento foi uma verdadeira loucura. Em sobra de escanteio, Zambrotta – sempre ele pela esquerda – fez o que quis com seus marcadores e cruzou. A defesa cortou e Del Piero emendou uma bicicleta para o meio da área. Dida e Nesta se anteciparam e o zagueiro fez o corte. No desenrolar, Zambrotta bateu de primeira, mas furou. Após uma fraca cabeçada, Dida segurou a bola com firmeza, contendo o ímpeto dos adversários. Encerrada a primeira metade, apesar da pressão nos minutos finais por parte da Juventus, o Milan parecia superior, especialmente através dos lampejos criativos de Rui Costa e da mobilidade de Shevchenko. A solidez defensiva de Nesta e Lilian Thuram também merecem destaque.

A Juventus voltou com tudo para o segundo tempo. E com cara nova: Antonio Conte, que tomou a vaga de Camoranesi no intervalo. Em cruzamento de Del Piero, o recém-entrado mandou uma testada no travessão, que chegou a assustar pela força do impacto. Passada a pressão inicial da equipe de Turim, o maestro Pirlo começou a aparecer e a ditar o jogo com lançamentos e passes, como o que deu para Paolo Maldini cabecear para fora com certo perigo, em cobrança de falta.

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Por volta dos 20 minutos, Nesta aplicou um de seus precisos carrinhos para impedir que Zambrotta, agora atuando pela direita, recebesse dentro da área. Pouco tempo depois, Davids deu lugar a Zalayeta, autor do gol salvador na classificação diante do Barcelona, nas quartas. No Milan, Roque Júnior entrou na vaga de Costacurta. Outro brasileiro que entrou minutos depois foi o lateral Serginho, no lugar de Pirlo, cansado. Com isso, Seedorf passou a não ocupar tanto o flanco direito e, por vezes, jogava mais centralizado, armando o jogo. O lado direito milanista era pura força física com Gennaro Gattuso e Roque Júnior.

Carlo Ancelotti quase comemorou um gol aos 30 minutos. Na ocasião, após boa troca de passes entre Gattuso e Shevchenko, Seedorf recebeu e descobriu Serginho na esquerda, livre de marcação. O brasileiro cruzou e Inzaghi se antecipou para cabecear com perigo. Os rossoneri tinham mais a bola e passaram a buscar com maior frequência o seu inquieto camisa 7, que se movimentava incansavelmente na tentativa de confundir a marcação. O vigor de Seedorf, sempre em busca do ataque, era de outro mundo.

Apesar disso, os minutos restantes não reservaram nenhuma grande emoção. O Milan demonstrava mais desenvoltura ofensiva, mas esbarrava na defesa adversária. Com o placar inalterado depois de 90 minutos, chegava a hora da prorrogação.

À exceção do inesgotável Gattuso, ambos os times estavam completamente exaustos. A primeira jogada de perigo veio aos 3 minutos, quando Roque Júnior escorregou e a bola ficou com Zambrotta. O ala levantou para a cabeçada de Zalayeta, que mandou na rede pelo lado de fora – Dida estava atento e apenas acompanhou. Com todas as substituições feitas (e sem colocar Rivaldo em campo), o Milan se viu em apuros quando o mesmo Roque Júnior deixou o campo mancando para receber atendimento médico. Com um problema no músculo posterior da coxa e sem conseguir correr, a função do brasileiro era basicamente ser apenas um obstáculo aos oponentes; Massimo Ambrosini ocupou a lateral direita. A Velha Senhora passou a arriscar chutes de fora da área com Alessio Tacchinardi e, depois, com Conte e Del Piero, mas não obteve sucesso nas três vezes.

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O relógio corria e cada vez mais aumentava a possibilidade da disputa por pênaltis. No segundo tempo, a Velha Senhora reclamou de um possível pênalti de Nesta em Conte, que matou de peito, dentro da grande área, um levantamento feito por Zambrotta. A arbitragem, comandada pelo alemão Markus Merk, mandou seguir.

Retendo mais a bola em seus pés, os bianconeri buscavam trabalhá-la com mais paciência. Já o Milan tentava sair em velocidade quando recuperava a posse. Aos 110 minutos, em uma dessas recuperações, Gattuso sofreu entrada por trás de Del Piero, que foi punido com o amarelo. O derradeiro lance de perigo foi rossonero: Seedorf conduziu a bola e abriu com Shevchenko no lado direito. O camisa 7 fez o cruzamento buscando Inzaghi, mas Thuram, um gigante naquela partida, cortou na hora certa e foi abraçado por Buffon. Não havia mais tempo – e forças – para nada. Tudo seria decidido nas penalidades.

Nas cobranças, Dida e Buffon foram monstruosos, mas só um deles poderia levantar a taça. E isso coube ao brasileiro, que começou defendendo a finalização de Trezeguet. Serginho e Birindelli converteram as penalidades seguintes, ao passo que Gigi mergulhou para evitar que o chute de Seedorf, no canto direito, estufasse as suas redes. Zalayeta e Kaladze desperdiçaram as terceiras chances de Juventus e Milan, respectivamente, parando nos arqueiros.

A decisão se encaminhava para o seu final e o Milan tinha vantagem nas cobranças que faltavam. Isso ficou claro quando Montero cobrou mal e Dida – muito adiantado –, teve facilidade em defender com os pés. Nesta e Del Piero guardaram as cobranças seguintes e coube a Shevchenko ir para a marca da cal no momento que valia o título. O ucraniano demonstrou todo o seu talento quando deslocou Buffon e mandou com força no canto esquerdo, garantindo o título daquela Champions League para o Diavolo.

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Clímax rossonero

O capitão Maldini ergueu a taça, em gesto que lembrou seu pai, Cesare, campeão europeu em 1963 – quando o Milan fez 2 a 1 sobre o Benfica. Em termos de taças, quem realizou um feito inédito foi Seedorf. O meia se tornou o primeiro jogador a vencer a Champions League por três clubes diferentes: Ajax, em 1995, Real Madrid, em 1998, e Milan, em 2003).

A conquista teve um sabor especial para Ancelotti, que no passado foi companheiro de time e naquele momento era o comandante de Maldini. O treinador calou aqueles que o chamavam de perdedor, especialmente após sua demissão na própria Juventus, dois anos antes. Em Milão, ele conseguiu dar fluidez ao estilo de jogo implementado; o Milan tinha refinamento técnico e disposição física para tirar forças de onde parecia não ter, mesmo quando vivia situações complicadas.

O peso da ausência de Nedved foi incalculável para a Juventus. Sem o checo, a Velha Senhora teve a capacidade técnica limitada. Contudo, ficou a impressão de que faltou um pouco mais de contundência da parte de Lippi para fazer seu time explorar os problemas físicos que assolaram o Milan nos instantes finais do confronto. O que não apaga, de forma alguma, todo o esforço e toda a luta dos bianconeri.

Shevchenko, herói do Milan ao converter a última cobrança, teve um roteiro para lá de interessante naquele ano. No início da temporada 2002-03, fora submetido a uma cirurgia no joelho esquerdo logo depois de o Diavolo ter garantido a sua participação na Champions League ao eliminar o Slovan Liberec, da Chéquia, na fase preliminar da competição. Recuperou-se após ficar dois meses afastado dos gramados e se tornou um dos principais nomes da vitoriosa campanha que colocou o Milan no topo da Europa pela sexta vez em sua história. Não à toa, é um dos maiores ídolos da torcida rossonera.

Juventus 0-0 Milan (2-3 na disputa por pênaltis)

Juventus: Buffon; Thuram, Ferrara, Tudor (Birindelli), Montero; Camoranesi (Conte), Tacchinardi, Davids (Zalayeta), Zambrotta; Trezeguet, Del Piero. Técnico: Marcello Lippi. Milan: Dida; Costacurta (Roque Júnior), Nesta, Maldini, Kaladze; Gattuso, Pirlo (Serginho), Seedorf; Rui Costa (Ambrosini); Shevchenko, Inzaghi. Técnico: Carlo Ancelotti. Pênaltis convertidos: Birindelli e Del Piero; Serginho, Nesta e Shevchenko Pênaltis desperdiçados: Trezeguet, Zalayeta e Montero; Seedorf e Kaladze Cartões amarelos: Costacurta, Tacchinardi e Del Piero Árbitro: Markus Merk (Alemanha) Local e data: Old Trafford, Manchester (Inglaterra), em 28 de maio de 2003

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