Trivela
·10 de dezembro de 2022
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·10 de dezembro de 2022
Marrocos alcança as semifinais da Copa do Mundo com vários destaques. A começar pelo técnico Walid Regragui, que impulsionou a seleção com poucos meses de trabalho. Ainda assim, todos os setores possuem participantes notáveis na campanha fantástica dos Leões do Atlas. Achraf Hakimi e Noussair Mazraoui são nomes óbvios pela força nas laterais. Hakim Ziyech e Sofiane Boufal providenciam altas doses de talento. Romain Saïss e Nayef Aguerd compõem uma entrosada dupla de zaga, cujos substitutos não deixaram o nível cair. Bono fechou o gol nestes mata-matas, enquanto Youssef En-Nesyri marcou o gol mais importante da história do país. Ainda assim, há uma trinca que amarra tudo e enche os olhos. A alma desse time de Marrocos está no meio-campo. Sofyan Amrabat, Azzedine Ounahi e Selim Amallah formam o tripé do sucesso marroquino.
Nenhum dos três é uma grande estrela. Sofyan Amrabat possui um pouco mais de reconhecimento, presente na Copa de 2018, mas ainda assim o destaque foi seu irmão Nordin Amrabat. De qualquer maneira, o volante se consolidou na Serie A nos últimos tempos e veste a camisa da Fiorentina. Talvez não por muito tempo. Ounahi, por sua vez, vive uma ascensão meteórica. Jogava na terceira divisão francesa há menos de dois anos, estreou pela seleção somente em janeiro e briga contra o rebaixamento na Ligue 1 com o Angers. Também vai decolar. Já Amallah igualmente está em sua primeira Copa e se projetou no último ciclo. Mas é um jogador restrito ao futebol belga, primeiro no Mouscron, depois no Standard de Liège.
O que o trio produz nessa Copa do Mundo, em contrapartida, é digno das melhores equipes da Champions League. Marrocos é uma seleção que se pauta num sistema defensivo forte, num ataque rápido, em jogadores de boa dose técnica para racionar velozmente em seu trabalho. Quem dá liga a tudo isso é o meio-campo. O setor possui uma intensidade altíssima e muita voracidade, mas sem deixar de pensar a identidade de jogo dos Leões do Atlas. A surpresa positiva ao redor do time está aí, até porque o restante dos destaques não pode ser tachado exatamente como “desconhecidos”. Quem se revela acima das expectativas é a faixa central.
Sofyan Amrabat nem tanto, porque já vinha em momentos sólidos da carreira depois de se projetar no Utrecht. De qualquer maneira, o volante vem sendo um monstro durante todo o Mundial. Algumas de suas atuações beiram o absurdo. Na fase de grupos, sua estreia contra a Croácia seria titânica. Foi bem contra Bélgica e Canadá, mas não tanto quanto se notou diante da Espanha, inesgotável durante os 120 minutos. Isso até travar Portugal nas quartas de final. Os lusitanos não achavam meios de criar e entrar por dentro muito graças ao camisa 4. E jogando limpo. Teve uma bola no segundo tempo, em que ele arma o contra-ataque de maneira altiva, que lembrou craques de outros tempos.
Mais pelo lado direito do meio-campo, Azzedine Ounahi está entre os jogadores mais completos da Copa do Mundo. Herói desde as Eliminatórias, o garoto de 22 anos faz um pouco de tudo: marca, cerca, arma, dribla, se manda ao ataque. Sua pilha não acaba e os espanhóis sofreram, tanto é que Luis Enrique dedicou elogios especiais ao camisa 8 depois da eliminação. Ounahi parece motivado a fazer ainda mais, porque também foi impressionante diante de Portugal. As combinações com Hakimi e Ziyech são uma força pelo flanco direito. E hoje o meio-campista foi o melhor desta trinca, pela forma como criou e quebrou linhas com seus dribles.
Por fim, pela esquerda, Amallah é o mais silencioso dos meio-campistas. Ainda assim, faz uma competição bastante regular em seu papel de transpiração na faixa central. O volante de 26 anos não possui grandes números ofensivos, mas está entre os melhores da equipe em participação defensiva. É aquele jogador que lê os espaços e cobre os buracos. Prova disso é o que aconteceu contra Portugal, em que teve bastante trabalho por lidar com o lado por onde circulava Bruno Fernandes. Um dos melhores jogadores da Copa não se criou por ali.
Depois de cinco jogos, Sofyan Amrabat é franco candidato ao time ideal da Copa do Mundo. Se havia uma disputa dura com Casemiro, esses duelos das quartas de final fazem a balança pender para o marroquino – e não só pela vitória, mas pelo nível até maior que o brasileiro nos mata-matas. Ounahi é uma das melhores revelações, talvez a maior entre aqueles que atuam em times menos badalados. Amallah também indica ter capacidade para um salto maior. Terão mais duas partidas para mostrarem seu talento para o restante do planeta. Se uma delas for a final, pode ter certeza que uma das principais razões passará diretamente pelo trio.