Calciopédia
·27 de setembro de 2019
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Ao pesquisar listas de convocações para a seleção italiana ou buscar quais jogadores atuaram mais vezes por equipes tradicionais da Itália, volta e meia emergem à vista do explorador alguns nomes surpreendentes. Não por apresentarem falta de qualidade, mas por terem conseguido seu espaço comendo pelas beiradas, muito discretamente. Esse é o caso do meia Carlo Nervo, que se consolidou no Bologna e chegou a vestir a camisa da Nazionale.
Nervo começou jogando futebol nas divisões infantis do GSR Solagna, clube da cidade onde cresceu. Logo depois, Carlo passou aos juvenis do Bassano Virtus, de maior porte e visibilidade, já que Solagna tem pouco mais de mil habitantes e Bassano del Grappa é uma das 10 maiores cidades do Vêneto, com cerca de 45 mil.
Em 1988, o meio-campista subiu para os profissionais e, após uma temporada, teve uma fracassada passagem pelo Monza – nem ao menos entrou em campo na Serie B 1989-90. Nervo voltou ao Bassano Virtus, teve um breve período no Cittadella e, em 1992, chegou ao Mantova. Com um ótimo rendimento na Lombardia, levou o time para a Serie C1 em seu primeiro ano e bateu na trave para chegar na categoria superior na temporada seguinte, com uma segunda colocação no grupo. As boas aparições e os graves problemas financeiros do Mantova fizeram com que Carlo fosse vendido ao Bologna, em 1994.
O clube bolonhês acabara de pedir falência e estava na terceira divisão. Por sua situação periclitante, precisava de jovens promessas que custassem pouco e não onerassem seu caixa – essa era a solução proposta pelo novo presidente, Giuseppe Gazzoni Frascara. Nervo aceitou o desafio e posteriormente acabou entrando para a história como protagonista do time que conseguiu dois acessos seguidos e levou os rossoblù de volta para a Serie A, em 1996-97.
Além desta grande empreitada, que devolveu o tradicional time ao seu lugar, Carlo também fez parte de grandes equipes do Bologna. Com o meia no centro do gramado – primeiro com a camisa 16 e, depois, com a 7 –, os rossoblù chegaram na semifinal da Coppa Italia de 1996, 1997 e 1999 e da Copa Uefa de 1999, além de terem alcançado um título e uma final da Copa Intertoto. O presidente contratou jogadores importantes durante sua gestão – nomes como Roberto Baggio, Giuseppe Signori, Klas Ingesson, Kennet Andersson, Julio Cruz, Francesco Antonioli e Gianluca Pagliuca –, mas o símbolo de sua presidência foi, sem dúvidas, Carlo Nervo.
Jogando como um meio-campista pelo lado direito, o vêneto era conhecido por conseguir ajudar a recompor a linha defensiva e também por participar de alguns gols. Tais características lhe renderam algumas convocações para amistosos preparatórios da Euro 2004, todas por obra de Giovanni Trapattoni. Nervo acabou não indo para o Campeonato Europeu, o Bologna foi rebaixado no ano seguinte e ele deixou o Renato Dall’Ara em fim de contrato.
O meia quase acertou com o Torino, mas fechou mesmo com o Catanzaro, clube pelo qual teve uma passagem de apenas um ano. Após a falência dos giallorossi, ficou alguns meses parado e retornou para a Emília-Romanha para jogar sua última temporada no Bologna em 2006-07. Ao fim dela, se aposentou.
No total, Nervo jogou 11 anos pela equipe do Bologna e é o terceiro no ranking de mais partidas com a camisa azul e vermelha, com 417 aparições. Até hoje, se entrarmos em sua página no Facebook, conseguimos perceber que o ex-meia é um torcedor fervoroso do time das duas torres. No entanto, a camisa dos veltri não foi a última que Carlo vestiu: em 2008, já com 37 anos, resolveu voltar a jogar, atuando no Virgilio e depois no Rolo, times semiprofissionais de divisões inferiores. Em 2009, parou definitivamente.
Poucos meses após sua derradeira partida jogando futebol, Carlo resolveu voltar às suas raízes e se candidatar ao posto de prefeito em Solagna, pela Lega Nord. A escolha do partido de extrema direita, famoso por ser xenófobo e separatista, é no mínimo curiosa, tendo em vista que o jogador não foi para a Euro 2004 pois Mauro Camoranesi, cidadão italiano mas nascido e criado na Argentina, acabou sendo o dono da posição.
Felizmente, Nervo não se guiava por essas diretrizes perigosas: o ex-jogador não quis seguir as linhas mais radicais de seus companheiros, se afastou de alguns vereadores e quase foi expulso do partido. Criou uma nova aliança, unindo direita e esquerda, em prol de sua cidade, mesmo sabendo que não seria possível se candidatar a reeleição, tamanha ruptura criada.
Sem querer se envolver em brigas políticas, Carlo se desfiliou e voltou a administrar sua loja de móveis, que existe desde 2005, e em 2017 se tornou presidente do GSR Solagna, o clube em que deu seus primeiros passos no futebol. Ainda em nível semiprofissional, o time não consegue oferecer aos seus jogadores além de uma pequena ajuda de custos, então o projeto inicial é fazer uma equipe ligada às raízes, com jogadores atuando por paixão e esperança de serem observados por equipes mais estruturadas.
Como meio-campista ou prefeito, ambos pela direita, Carlo jamais deixou de reconhecer que o mais importante é a comunhão e o prazer de estar junto daqueles que compartilham a mesma história e identidade. Títulos e reeleições não podem preencher o vazio causado pela desunião.
Carlo Nervo Nascimento: 29 de outubro de 1971, em Bassano del Grappa, Itália Posição: meio-campista Clubes como jogador: Bassano Virtus (1988-89 e 1990-91), Monza (1989-90), Cittadella (1991-92), Mantova (1992-94), Bologna (1994-2005 e 2006-07), Catanzaro (2005-06), Virgilio (2008), Rolo (2008-09) Títulos como jogador: Serie C2 (1993), Serie C1 (1995), Serie B (1996) e Copa Intertoto (1998) Seleção italiana: 6 jogos