Trivela
·24 de maio de 2022
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·24 de maio de 2022
Os playoffs de acesso/rebaixamento da Bundesliga encerraram um calvário nesta terça-feira. Se o Hamburgo não conseguiu encerrar o drama na segundona, um dia depois o alívio viria para o Kaiserslautern. Depois de quatro temporadas na terceira divisão, em que a equipe esteve ameaçada inclusive de cair para o quarto nível, os Diabos Vermelhos ressurgem na segundona. Terceiro colocado na temporada regular, o Kaiserslautern fazia os duelos decisivos contra o Dynamo Dresden, antepenúltimo da 2. Bundesliga. Mesmo diante de 46 mil torcedores no Estádio Fritz Walter, os alvirrubros não saíram do 0 a 0 na ida. Assim, a promoção seria arrancada dentro do caldeirão de Dresden, com o triunfo por 2 a 0 nesta terça. Os jogadores fizeram uma linda festa com a torcida, em renascimento após períodos incertos também do ponto de vista econômico.
O Kaiserslautern possui seu lugar especial na história do futebol alemão principalmente pelo protagonismo na conquista da Copa do Mundo de 1954, quando era a principal base da Mannschaft e cedia inclusive o capitão Fritz Walter. Naquela época, os Diabos Vermelhos conquistaram duas edições do Campeonato Alemão-Ocidental, em 1951 e 1953. Certa importância se manteve após a criação da Bundesliga e o Kaiserslautern se preservou na primeira divisão por mais de três décadas, reconquistando a Salva de Prata em 1990/91. O rebaixamento inédito aconteceu em 1995/96, para os alvirrubros subirem de imediato e levarem mais uma vez o troféu da elite em 1997/98. Não havia questionamento do peso da agremiação no esporte local.
Tempos mais duros começaram para o Kaiserslautern no início do novo século, quando o clube gastou mal o dinheiro em contratações e beirou a falência. Acabou salvo depois de vender o Estádio Fritz Walter para um consórcio liderado pela prefeitura. Isso, todavia, não evitou o rebaixamento em 2005/06. Seriam quatro anos para subir. A partir de então, os Diabos Vermelhos frequentaram por mais tempo a segunda divisão do que a primeira. O breve retorno à elite ocorreu entre 2010/11 e 2011/12, para nunca mais voltar. Os alvirrubros chegaram a disputar os playoffs de acesso em 2012/13, mas perderam para o Hoffenheim, e aos poucos perderam fôlego na segundona. A ameaça do inédito descenso à terceirona rondava e a queda se tornou real em 2017/18, com a lanterna.
Naquele momento, o Kaiserslautern acumulava dívidas e teve dificuldades para montar seu elenco na terceirona. A equipe só venceu um jogo nas primeiras oito rodadas e passou pela zona de rebaixamento, até recuperar o fôlego e terminar na nona colocação. Não era o que a torcida esperava. A situação parecia pior rumo a 2019/20, quando os Diabos Vermelhos não tinham o dinheiro para bancar a licença na liga e contaram com a ajuda do Bayern, para levantar renda num amistoso. A chegada do empresário luxemburguês Flavio Becca também garantia novo fôlego financeiro. Todavia, o dinheiro precisaria ser usado para cobrir rombos causados pela pandemia, com a perda das receitas fundamentais com público. A campanha dentro de campo também não melhorou, de novo com uma passagem pela zona de rebaixamento no primeiro turno, antes do crescimento que rendeu um modesto décimo lugar.
A temporada de 2020/21 foi a mais difícil. Primeiro, do ponto de vista administrativo, com a abertura de um processo de insolvência que era visto como a chance de “botar ordem na casa” – mas não precisou ser levado em frente, abandonado três meses depois. Esportivamente, de qualquer forma, a equipe sofreu. O Kaiserslautern teve que lutar contra o descenso até o fim. O time passou 22 das 38 rodadas na zona de rebaixamento e teve um respiro apenas com a chegada do técnico Marc Antwerpen, superando o Z-4 nas cinco últimas partidas. O 14° lugar na tabela entre 20 times até maquiava uma situação bem mais perigosa, já que os Diabos Vermelhos ficaram apenas dois pontos acima da zona vermelha. A falta de público que ainda imperava era outro obstáculo aos alvirrubros.
(Ronny Hartmann/Getty Images/One Football)
A manutenção de Marc Antwerpen garantia um novo fôlego para o Kaiserslautern na atual temporada. O clube também buscou reforços a baixo custo, entre medalhões encostados e apostas mais jovens. Deu certo, mas não de imediato. Os Diabos Vermelhos só ganharam um dos primeiros oito jogos e de novo apareceram na zona de rebaixamento. A guinada começou no meio do primeiro turno e, com consistência para emendar vitórias, a equipe entrou na zona de acesso direto em fevereiro. O problema viria na reta final, com uma sequência de três derrotas nos últimos três jogos. O Eintracht Braunschweig tomou o segundo lugar e, em terceiro, o Kaiserslautern teria que jogar os playoffs.
A fase ruim causaria cisões mais profundas antes dos jogos decisivos contra o Dynamo Dresden pelos playoffs. Marco Antwerpen foi demitido e o Kaiserslautern contratou Dirk Schuster, comandante que teve um trabalho importante no Darmstadt quando chegou à primeira divisão. Durante a primeira partida, o “fato novo” ainda não deu resultado. Num duelo nervoso, as duas equipes não saíram do 0 a 0. Os alvirrubros decepcionavam sua torcida mais uma vez e teriam que buscar o resultado em Dresden.
A partida de volta dos playoffs teve um primeiro tempo intenso, mas sem que grandes chances surgissem. O Kaiserslautern cresceu no início do segundo tempo e abriu o placar aos 14 minutos. Num contra-ataque, Marlon Ritter carregou e passou para Mike Wunderlich na entrada da área. O meia ajeitou para a batida rasteira de Daniel Hanslik, nas redes. O Dynamo Dresden tentou reagir e criou várias oportunidades, mas o goleiro Matheo Saab estava inspirado e operou pelo menos três grandes defesas para segurar os anfitriões. Por fim, já aos 47, o Kaiserslautern matou o jogo numa tabela que Philipp Hercher concluiu sem muitas dificuldades. A torcida da casa se revoltou e sinalizadores foram atirados em campo. Depois de alguns minutos de paralisação, a partida foi retomada até o apito final. Festa vermelha e queda do tradicional Dynamo, que já virou um ioiô entre as sucessivas alternâncias de divisão nos últimos anos.
A demissão de Marc Antwerpen pode ser contestada, mas Dirk Schuster chega como um técnico de relevo pensando na segunda divisão. A equipe conta com jogadores experientes para a sequência da empreitada, incluindo o centroavante Terrence Boyd, o meia Mike Wunderlich e o volante Felix Kroos. Mas há também jogadores mais jovens que fizeram a diferença na campanha, como o goleiro Matheo Raab e o zagueiro Boris Tomiak. Vale destacar também o papel dos laterais, muito produtivos ofensivamente. Philipp Hercher e Hendrick Zuck construíram 27 gols, entre aqueles anotados e as assistências servidas.
A segunda divisão já representa um cenário melhor para que o Kaiserslautern recupere sua saúde financeira e se restabeleça. Além disso, a reabertura total dos estádios também pode fazer a diferença para o clube. A média de público dos Diabos Vermelhos na segundona quase sempre girou acima dos 25 mil e, nesta reta final de terceirona, foram três partidas com mais de 46 mil pessoas nas arquibancadas. Tal empolgação pelo acesso deve manter os números altos, algo importante para empurrar a equipe e também para gerar dinheiro. Fato é que um clube com a história do Lautern não deveria passar tanto tempo longe da elite. Agora, falta só mais um passo e o sonho se facilita.