Terra de Zizou
·01 de abril de 2020
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Poucas vezes um time francês reuniu tanto talento junto quanto o Monaco da temporada 1999/00. Se a defesa apresentava a rigidez e firmeza de Rafa Marquez, Philippe Christanval, Willy Sagnol e John Arne Riise, era no ataque que residia a maior reserva de qualidade da equipe. David Trezeguet e Marco Simone precisavam apenas empurrar as bolas para as redes tendo Ludovic Giuly e Marcelo Gallardo os servindo com a maior frequência possível.
A receita não poderia culminar em outra coisa que não fosse uma taça conquistada. Naquela temporada, não houve time que fosse capaz de bater de frente no Campeonato Francês e o troféu caiu no colo monegasco pela sétima vez na história.
No nosso quadro “Times Históricos”, resgatamos aquele lendário time que encantou a França na temporada 1999/00.
Claude Puel e Monaco são quase sinônimos. Como jogador, foram quase 20 anos de serviços prestados desde a base até os profissionais. Disputou mais de 600 partidas e fez parte de alguns dos mais brilhantes elencos que os monegascos já formaram. Em janeiro de 1999, no meio da temporada, encarou o desafio de ser o treinador do time. E não era uma das missões mais fáceis.
Jean Tigana, seu antecessor, teve uma passagem absolutamente bem sucedida pelo clube. Em quatro temporadas, deixou o time no top 5 do Campeonato Francês em todas as oportunidades, tendo erguido o troféu em 1997. Ainda conseguiu fazer o time ter reconhecimento internacional, atingindo as semifinais da Liga dos Campeões em 1998 e da Copa da Uefa no ano anterior.
Puel, que dirigia o time B do Monaco, levou a equipe do Principado até a 4ª colocação naquela edição do Francês e ganhou peças preciosas para a próxima temporada. Rafa Márquez, Marco Simone e Marcelo Gallardo foram apenas alguns dos jogadores que se juntaram a Fabien Barthez, Willy Sagnol, Sabri Lamouchi, Ludovic Giuly e David Trezeguet para compor aquele que foi um dos times mais encantadores da história monegasca.
O começo de temporada do Monaco começou indicando que um quarteto seria dono do time: Marcelo Gallardo, Ludovic Giuly, David Trezeguet e Marco Simone. Com os dois primeiros articulando e os outros dois definindo, o Monaco assumiu a liderança na 9ª rodada, com cinco vitórias, dois empates e duas derrotas. Entre os triunfos, alguns importantes, como o 3 a 0 sobre o Paris Saint-Germain, na capital, e 1 a 0 diante do Lyon, no Louis II, nas rodadas 8 e 9. Trezegol, que havia feito 18 gols na temporada 1997/98 e 12 na seguinte, estava on fire. Fez três contra o Bastia, outros dois contra o Troyes e terminou as primeiras nove rodadas com nove gols.
O ponto mais negativo acabou sendo a bizarra derrota para o Rennes, por 2 a 1, na 6ª rodada. O Monaco chegou a sair na frente no Route de la Lorient, mas perdeu em dois lances cômicos. Os rubro-negros empataram com um gol contra de Costinha e viraram com Shabani Nonda, aproveitando uma falha incrível de Tony Sylva (que substituia Barthez naquele jogo), que soltou uma bola fraca em um cruzamento torto da direita.
A derrota para o Bordeaux por 3 a 2, no Chaban Delmas, na 10ª rodada, foi o ponto de virada do time de Claude Puel. Primeiro porque foi dolorosa, já que os Girondins eram os atuais campeões nacionais e estavam entre os postulantes ao troféu. Segundo porque foi a última do 1º turno. Dali em diante vieram vitórias sobre Strasbourg, Nantes, Nancy, Sedan, Le Havre e Auxerre, além de um solitário empate contra o Olympique de Marseille. Ao término das primeiras 17 rodadas (na época, a Liga contava com 18 equipes), o Monaco despontava na liderança, com 36 pontos, cinco de vantagem para o vice-líder Lyon.
Na ocasião, Marcelo Gallardo começava a receber outros olhares na França. Adquirido junto ao River Plate naquela temporada, Muñeco já acumulava quatro gols e duas assistências, mas era considerado o principal jogador do campeonato até então.
O 2º turno começou como terminou o anterior: com o Monaco em alta. Apesar de ter sido batido pelo Bastia, na 19ª rodada, por 1 a 0 (primeiro revés em dois meses), encerrou 1999 com vitórias sobre Lens (2 a 0) e Montpellier (1 a 0). Nesse ínterim, foi passando etapas na Copa da Uefa. St. Johnstone (Escócia), Widzew Łódź (Polônia) e AEK Atenas foram despachados pelos franceses.
O ano 2000 começava e a sensação que o campeonato passava era de que nada, nem ninguém seria capaz de tirar a taça das mãos do Monaco. Logo na primeira rodada do ano, goleou o Troyes por 4 a 1 e, de sobra, viu Paris Saint-Germain e Lyon, seus principais adversários, empatarem em 2 a 2. Já eram sete pontos de vantagem para o OL e oito para os parisienses.
Até que chegou fevereiro e veio o jogo chave para a conquista. Logo no primeiro dia do mês, pela 24ª rodada, o Monaco se encontraria com o PSG. Oito pontos separavam os dois times, que ocupavam as primeiras duas colocações. Precisando ganhar a qualquer custo, o Paris se assanhou mais na primeira etapa, chegou a acertar uma bola na trave de Barthez, mas Laurent Robert pôs tudo a perder aos 44 minutos, quando agarrou Rafa Márquez, recebeu o segundo cartão amarelo e deixou seu time com apenas dez jogadores.
Em vantagem numérica, o Monaco foi atrás do gol no 2º tempo e o encontrou aos 39 minutos. De Giuly para Simone, que devolveu para o camisa 8. Com enorme visão de jogo, deu um singelo toque de calcanhar, que deixou Trezeguet de frente para Bernard Lama. Ali, não tinha como perder. Era o 15º gol de Trezegol na temporada.
Faltando dez rodadas para o fim da temporada, o vice líder era novo, o Auxerre despontou, mas a vantagem era ainda maior. O Monaco tinha dez pontos de vantagem e carregava os atributos de melhor ataque e defesa menos vazada.
Fevereiro terminou com o Monaco entrando em relaxamento. Foi batido por Lyon (2 a 1) e Strasbourg (3 a 2) e deu adeus à Copa da Uefa, sendo eliminado pelo Mallorca (Espanha). Apesar disso, em solo doméstico, os rivais pisavam em ovos e a distância na liderança ainda estava em confortáveis dez pontos com sete jogos a serem disputados.
Disposto a não deixar o relaxamento se tornar uma acomodação generalizada, Claude Puel fez seu time acelerar de vez em março. Bateu Auxerre e Nantes, ambas as vezes por 2 a 0, e ainda despachou o Lyon na Copa da França. Ao fim do terceiro mês, com 61 pontos, o Monaco ingressava em abril precisando vencer apenas uma partida para erguer o troféu.
Por fim, a taça veio sem nem conquistar uma vitória. Após perder para o Marseille por 4 a 2, os monegascos buscaram um suado empate por 2 a 2 diante do Nancy, que corria contra o rebaixamento, e confirmaram o sétimo título nacional da história. O gol que garantiu a conquista foi anotado por Dado Prso, aos 47 minutos da etapa complementar. Um pingo de emoção para um time que demonstrou extrema segurança por uma temporada inteira.
Faltando três rodadas, a vantagem para o Lyon era de dez pontos. A campanha até o fim ainda reservou uma goleada por 5 a 2 sobre o Le Havre, na última partida em casa, coroando uma equipe que encantou o país, vencendo 20 dos 34 jogos, tendo o melhor ataque da Liga com 69 gols.
– Rafa Marquez: contratado naquela temporada junto ao mexicano Atlas, o zagueiro vestiu a camisa do Monaco como se estivesse há algum tempo jogando na Europa. Disputou 23 jogos e marcou três gols. Foi titular absoluto ao lado de Christanval na defesa monegasca;
– Sabri Lamouchi: meio-campista clássico, Lamouchi era o dono da área central do gramado. Jogando sempre de cabeça erguida, era uma peça de suporte tanto defensivo, quanto válvula de escape para o quarteto poderoso do ataque. Só se ausentou de duas partidas e terminou a temporada com cinco gols;
– Ludovic Giuly: técnico, ousado e muito decisivo. Giuly começava a ganhar uma relevância ainda maior pelo Monaco naquela temporada. Disputou 33 das 34 partidas e marcou cinco gols;
– Marcelo Gallardo: a exemplo de Marquez, Muñeco trajou a camisa monegasca com uma naturalidade absurda. Fazendo o que já fazia em gramados sul-americanos, o camisa 10 do Monaco deixou todos bobos com lances plásticos, técnicos e uma finesse digna dos mais lendários craques argentinos. Com louros, foi eleito o melhor jogador do campeonato após marcar oito gols em 28 jogos;
– David Trezeguet: foi a temporada mais prolífica em gols de Trezegol. Foi às redes 22 vezes. Ainda entre os 22 e 23 anos, impressionava pelo faro de gol. Marcava de tudo quanto é jeito. Só não ocupou o topo da artilharia porque Sonny Anderson, do Lyon, fez um a mais. Dali em diante, foi uma história já conhecida: Trezeguet fez o gol do título europeu da França e migrou para a Juventus, onde se tornou lenda;
– Marco Simone: contratado naquela temporada junto ao PSG, o italiano conseguiu ter rendimento melhor do que teve na capital – onde conseguiu construir uma carreira respeitável. Disputou todas as partidas e foi às redes 21 vezes. Foi outra peça fundamental do quarteto ofensivo que encantou a França.