Calciopédia
·25 de julho de 2024
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Desde os seus primórdios, a Serie A é um campeonato no qual jogadores argentinos brilham intensamente. Em meados da década de 2000, por exemplo, o goleiro Mariano Andújar, passou a integrar a lista dos muitos atletas portenhos que desembarcaram na Itália para viverem seus melhores anos no futebol. O arqueiro passou pela Sicília e pela Campânia, no sul do país, e foi com a camisa do Catania que deixou mais saudades: foram quatro temporadas e meia de sucesso pelos rossoazzurri.
Andújar nasceu em Buenos Aires, no fim de julho de 1983, e se profissionalizou em 2003 no Huracán, clube da capital argentina, com apenas 19 anos. As primeiras oportunidades de Mariano no time adulto, porém, ocorreram devido a uma tragédia: durante o campeonato nacional daquela temporada, com os quemeros brigando contra o rebaixamento, Sergio Schulmeister, o goleiro titular, cometeu suicídio em sua própria casa.
Em meio a toda a comoção pela traumática morte de Schulmeister, Andújar assumiu a titularidade do Huracán em maio de 2003, jogando o restante do torneio Clausura daquele ano. Após a consolidação do rebaixamento do Globo, o goleiro ganhou novas oportunidades durante a disputa da segunda divisão e se destacou: mesmo em uma categoria inferior do futebol argentino, suas atuações chamaram a atenção do Palermo, promovido à elite italiana na temporada anterior. Assim, em 2005, Mariano se transferiu ao clube rosanero por empréstimo.
Andújar aportou na Sicília no último dia da janela de transferências para atuar ao lado de Mariano González e Mario Santana, seus compatriotas, e num time que contava ainda com nomes como Andrea Barzagli, Cristian Zaccardo, Fabio Grosso e Simone Barone. Porém, nas opções do recém-empossado Luigi Delneri, o argentino começava como terceiro goleiro, atrás de Matteo Guardalben e Nicola Santoni.
No Palermo, seu primeiro clube na Itália, Andújar não teve tantas oportunidades e jogou mais nas copas (Bongarts/Getty)
O portenho começou a temporada no banco, mas, outra vez, questões relacionadas aos colegas de posição lhe permitiram ter um lugar no time: Guardalben se machucou em outubro e, assim, Andújar superou a concorrência de Santoni para estrear num jogo da Copa Uefa, contra o Maccabi Petah Tikva, de Israel. Mariano foi o arqueiro do Palermo nas competições de mata-mata e atuou em 11 partidas da Serie A.
Andújar, contudo, não foi unanimidade. Em janeiro, o time siciliano vendeu Guardalben e Santoni, indo ao mercado em busca de novos arqueiros – Federico Agliardi e Cristiano Lupatelli, com os quais passou a alternar. No fim das contas, o argentino somou 21 aparições em 2005-06, contribuindo para que o Palermo fosse até as oitavas da Copa Uefa, as semifinais da Coppa Italia e ainda ficasse com o quinto lugar da Serie A, garantindo posto em competições europeias outra vez.
Ao fim da temporada, Mariano não foi contratado em definitivo pelo Palermo, mas ganhou lugar como titular num grande clube da Argentina: o Estudiantes de La Plata, então treinado por Diego Simeone, e começaria a fazer história pelos pincharratas, que defendeu em três oportunidades. A sua primeira passagem pelo time durou três anos, entre 2006 e 2009. Além das 141 partidas, levantou o Apertura de 2006 e conquistou a Copa Libertadores de 2009, ao lado de Juan Sebastián Verón – meses antes, ainda amargou o vice da Sul-Americana para o Internacional.
A ótima experiência pelo clube de La Plata abriu as portas da seleção argentina para Andújar. O goleiro foi convocado pela primeira vez para a equipe albiceleste em novembro de 2007, mas só estreou em junho de 2009, numa vitória contra a Colômbia, pelas eliminatórias para a Copa do Mundo de 2010. Dias depois, acertou a sua volta à Itália. Mais exatamente, o retorno à Sicília, para representar o Catania, maior rival do Palermo.
O goleiro surpreendeu ao voltar para a Itália para fechar com o Catania, principal rival do Palermo (Getty)
Cacifado pelo período no Estudiantes e pelas aparições na seleção de seu país, Andújar chegou ao Catania, que vinha de três campanhas de permanência na elite, para ser titular absoluto. O goleiro, aliás, foi um dos cinco argentinos que chegaram para formar a legião albiceleste no time rossoazzurro, que contou com 11 atletas nascidos no país sul-americano naquela temporada – entre eles, Matías Silvestre e Maxi López.
Andújar enfrentou os vários problemas que o time apresentou sob a batuta de Gianluca Atzori, que somou apenas uma vitória nas 16 primeiras rodadas da Serie A e deixou o Catania na laterna. Sinisa Mihajlovic substituiu o técnico, que jamais teria nova oportunidade na Serie A, e mostrou como se fazia: somou 36 pontos e levou os etnei a 45, estabelecendo um novo recorde de pontuação do clube na elite, com dois a mais do que no ano anterior. Nessa arrancada por uma tranquila permanência na categoria, Mariano foi um dos pilares dos rossoazzurri e chegou a ter uma sequência de apenas seis gols sofridos em 10 jornadas.
Em grande momento, Andújar foi convocado por Diego Armando Maradona para ser o reserva imediato de Sergio Romero na Copa do Mundo de 2010. Foi o primeiro dos cinco torneios ao qual foi chamado para defender a Argentina até 2016, sempre como opção a Chiquito, o titular daqueles tempos.
Após a competição, o arqueiro voltou a ser titular absoluto do Catania, que chegou a ter 13 atletas albicelestes em 2010-11. Aquela temporada foi concluída com outra salvação e mais um recorde de pontos (46) obtido por conta da arrancada construída por um técnico contratado no meio do ano. Os elefantes começaram a campanha com Marco Giampaolo, mas em janeiro de 2011 foram buscar Simeone – dessa forma, reunindo o goleiro com o técnico que o projetara no Estudiantes. Assim, a trupe de argentinos liderada por El Cholo, Andújar, Maxi López, Silvestre e Alejandro “Papu” Gómez superou expectativas outra vez.
Andújar estava muito confortável com a camisa rossoazzurra, mas alguns entreveros com a diretoria resultaram em breve empréstimo (Getty)
Em 2011-12, tudo parecia correr bem para o Catania, desta vez arrumado com um técnico que ficaria até o fim da campanha – Vincenzo Montella – e para Andújar, reserva na trajetória da Argentina na Copa América, mas absoluto na baliza rossoazzurra. E assim foi por 16 rodadas, nas quais o camisa 21 teve um ótimo desempenho. Até que, após um rocambolesco empate por 3 a 3 com o Parma, às vésperas da pausa natalina, entrou em atritos com a diretoria e foi afastado do elenco.
Enquanto o Catania foi buscar o também argentino Juan Pablo Carrizo, cedido pela Lazio, Andújar acabou retornando à Argentina através de um empréstimo curto, de apenas seis meses, ao Estudiantes de La Plata. Titular dos pincharratas neste período, Mariano voltou para a Itália após deixar o time de seu país no meio da tabela do campeonato nacional e foi reintegrado ao elenco rossoazzurro, depois de aparar as arestas com a diretoria – neste ínterim, os etnei obtiveram o seu quarto recorde de pontos consecutivo, e havia espaço para mais.
Na temporada 2012-13, a titularidade de Andújar estava garantida, já que ele não tinha a concorrência de outro nome à altura. Não à toa, atuou em 35 dos 38 jogos do time na Serie A, não participando de três rodadas apenas por suspensão: no empate por 1 a 1 num inflamado dérbi com o Palermo, que terminaria rebaixado, discutiu com Édgar Barreto e socou o paraguaio, levando o cartão vermelho e o gancho pela conduta violenta.
De qualquer forma, o argentino foi um dos líderes do Catania numa campanha histórica. Com um excelente desempenho dentro de casa – foram oito vitórias nos 12 primeiros compromissos no estádio Angelo Massimino –, o time treinado por Rolando Maran terminaria a Serie A com 56 pontos, na oitava posição, logo à frente da Inter. Além do quinto recorde de pontuação quebrado em sequência, a equipe siciliana ainda igualou seu melhor posicionamento no campeonato, que havia sido obtido três vezes, no início da década de 1960. De quebra, os etnei ainda alcançaram as quartas de final da Coppa Italia.
Em sua segunda passagem pelo Catania, o argentino foi protagonista de uma campanha histórica (Getty)
Infelizmente, para a torcida do Catania, a sequência de recordes foi interrompida da pior maneira em 2013-14. Após as saídas de Papu Gómez e Francesco Lodi, o time se desacertou de forma inesperada e o presidente Antonino Pulvirenti entrou em parafuso: os rossoazzurri tiveram três técnicos diferentes ao longo da temporada e, desorganizados, não se livraram do rebaixamento nem mesmo com as três vitórias consecutivas nas últimas rodadas do campeonato. Depois de oito anos na elite, os etnei caíam para a Serie B e, pior davam início a uma década perdida, na qual faliram e disputaram até a quarta divisão.
Ao longo da campanha, Andújar cometeu alguns erros e chegou a ser colocado no banco de reservas por Luigi De Canio, um dos técnicos dos elefantes na temporada. No entanto, ainda foi um dos melhores nomes do Catania em 2013-14 – de modo que foi convocado para representar a Argentina, como reserva, na Copa de 2014, disputada no Brasil. Depois do vice-campeonato mundial com a seleção, o portenho se deu um ponto final em sua história pelos etnei. Mariano somou 149 aparições pelos sicilianos e pode ser considerado como o maior goleiro da história do clube rossoazzurro.
O destino de Andújar já era conhecido desde janeiro de 2014: o Napoli, que o adquirira em copropriedade, aproveitando o encaminhamento do rebaixamento do Catania, e o deixara na Sicília emprestado até o fim da temporada. Experiente, com mais de 30 anos e um bom currículo, chegava à Campânia para fazer parte do projeto de Rafa Benítez, se juntando a um elenco recheado. À época, os azzurri contavam com jogadores que fizeram história no clube, como Lorenzo Insigne, Gonzalo Higuaín, Marek Hamsík e José Callejón, entre outros ótimos nomes.
Andújar começou a temporada como reserva de Rafael Cabral e, nessa condição, comemorou o título da Supercopa Italiana, sobre a Juventus. Entretanto, os frequentes erros do brasileiro inverteram a hierarquia no meio da campanha. O argentino estreou pelos azzurri em dezembro de 2014, numa vitória por 3 a 0 sobre o Slovan Bratislava, pelo último jogo da fase de grupos da Liga Europa. Mais tarde, em janeiro, defendeu cobrança de pênalti de Allan, da Udinese, e classificou o Napoli para as quartas da Coppa Italia.
Após brilhar na Sicília, Andújar foi atuar pelo Napoli, da Campânia (Getty)
O argentino se tornou titular de fato em fevereiro de 2015, quando Benítez cansou de perder pontos devido à inconsistência de Rafael. Na baliza partenopea, Mariano somaria 27 aparições e ajudaria o Napoli a ser semifinalista do torneio continental e da Coppa Italia, além de quinto colocado na Serie A. Andújar até começou a temporada seguinte no clube, mas mudou de ideia em setembro: a troca no comando, com a substituição de Benítez por Maurizio Sarri, e a chegada de Gabriel se juntaram a uma proposta do Estudiantes. Assim, o portenho decidiu voltar para casa.
Em sua reta final de carreira, Andújar não trocou mais de clube. O goleiro disputou mais oito temporadas pelo Estudiantes de La Plata e emplacou grandes marcas: totalizou 458 partidas com a camisa pincharrata e se tornou tanto o arqueiro com mais aparições pelo time quanto o terceiro da lista geral. Neste período, Mariano ainda foi convocado para a Copa América Centenário, em 2016 (e também tinha sido para a anterior, ainda nos tempos de Napoli) e, em 2023, se aposentou em grande estilo, levantando a Copa da Argentina.
Certamente, Andújar não foi um goleiro que circulou pelos ambientes mais glamourosos do futebol. Entretanto, isso não fez diferença para ele. Mariano foi um arqueiro bastante confiável e, por isso, fez parte da seleção argentina por sete anos, além de ter marcado época pelo Estudiantes de La Plata, um dos grandes de seu país. E, claro, como pilar do melhor Catania da história, o que lhe permitiu conquistar o carinho de milhares de pessoas na Sicília.
Mariano Gonzalo Andújar Nascimento: 30 de julho de 1983, em Buenos Aires, Argentina Posição: goleiro Clubes: Huracán (2001-05), Palermo (2005-06), Estudiantes de La Plata (2006-09, 2012 e 2015-23), Catania (2009-12 e 2012-14) e Napoli (2014-15) Títulos: Campeonato Argentino (2006), Copa Libertadores (2009), Supercopa Italiana (2014) e Copa da Argentina (2023) Seleção argentina: 11 jogos e 11 gols sofridos