O Galo de Milito: Nuances táticas e outras coisas mais | OneFootball

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·23 de abril de 2024

O Galo de Milito: Nuances táticas e outras coisas mais

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Por: Max Pereira @MaxGuaramax2012   Sempre que um clube contrata um treinador cujas ideias de jogo e maneira de ver o futebol são absolutamente diferentes daquelas colocadas em prática por aquele que o antecedeu, uma crítica recorrente nestes casos é sempre desferida aqui ou ali: ao contratar treinadores tão diferentes os dirigentes mostram que não sabem o que querem ou que não têm nenhuma ideia de time que querem ver em campo. Apenas querem se livrar de um problema.

Não saberia explicar porque o comando atleticano, aparentemente tão apegado ao Felipismo, trouxe um treinador que em nada lembra o seu antecessor e cujas ideias de jogo flagrantemente se opõem àquelas professadas e praticadas pelo veterano ex-comandante alvinegro.


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De fato, trocas de comando como esta última que aconteceu no Atlético são singulares e curiosas e até perigosas porquanto suscitam dúvidas e geram expectativas mil. Este tipo de mudança seria mesmo uma sinalização da falta de um norte por parte de quem comanda o futebol do clube e, em consequência, um tiro no escuro, ou seria a demonstração de que houve a percepção de que essa troca de comando e, principalmente de ideia de jogo, era mais que necessária?

Acho que nunca saberemos a resposta, mesmo porque qualquer que seja ela, dadas as peculiaridades do futebol e as especificidades do Atlético em particular, a contratação de Milito, como seria a de qualquer outro treinador, nunca deixou de ser algo incerto e preocupante. Tudo pode dar certo e tudo pode dar errado.

Entendo quem crítica trocas açodadas e intempestivas de técnicos, quase sempre apoiadas em birras de dirigentes, de torcedores e até de formadores de opinião da mídia convencional e hoje, também, das redes alternativas. Ainda que seja bastante defensável a tese de que não se monta um time de um dia para o outro e, tampouco, o faz atingir um nível de excelência em um piscar de olhos, nunca é demais não se esquecer que futebol não é ciência exata e tem particularidades que jamais podem ser desprezadas.

No artigo “O PÉRIPLO DE MILITO: UMA JORNADA QUE SE INICIA EM MEIO A UMA DECISÃO E A UMA ESTRÉIA NA LIBERTADORES”, publicado no Arquibancada do Galo em 28 de março último, escrevi que Milito havia iniciado “uma jornada em solo tupiniquim que tanto pode ser fascinante quanto se transformar em uma caminhada rumo ao cadafalso”.

E acrescentei: “se os verdadeiros e graves problemas internos do Atlético não forem atacados de frente, enfrentados e saneados QUALQUER TREINADOR, SEJA ELE QUEM FOR, SERÁ SEMPRE UMA APOSTA. Assim, o trabalho de Milito deve ser cercado de muitos cuidados. Se de um lado, cabe ao clube dar-lhe as melhores condições de trabalho possíveis, de outro cabe à torcida abraçá-lo, deixá-lo trabalhar e jogar com o time”.

O que está acontecendo no Atlético parece um juntar a fome com a vontade de comer. Elenco e Milito parecem viver uma lua de mel e, como ocorre em todos os casamentos/relacionamentos, este encanto inicial corre riscos de se quebrar.

Em vários momentos da vida somos simultaneamente três pessoas diferentes: somos o nosso eu verdadeiro que apenas nós conhecemos, somos o eu com o qual nós nos apresentamos para a sociedade e por meio do qual nunca nos revelamos por inteiro sem que isto indique necessariamente deficiência de caráter ou falsidade, e somos também aquele ou aquela que quem está apaixonado por nós quer enxergar, ou seja, um ser perfeito do ponto de vista de quem nos ama de paixão.

Isto vale não só para para namoros e para os primeiros anos de casamento. Vale para qualquer relacionamento, inclusive os profissionais. Aquelas decepções do tipo “eu achei que te conhecia”, “você mudou e eu não te conheço mais” ou “você fingiu ser uma pessoa que não é, você é falso”, muitas vezes derivam dessa trindade que não é Augusta e nem divina, mas sim humana.

Estava claro que time e elenco atleticanos estavam doentes. Está claro também que Milito e o grupo estão encontrando e vendo um no outro aquilo que tanto desejavam ver e encontrar. Essa fase de lua de mel é tão alvissareira, quanto exige cuidados e um trabalho que transcende as quatro linhas.

Há muito tempo não via jogadores e treinador comemorarem juntos e com tanta alegria os gols e as vitórias. E isso é muito significativo. Por falar nisso, como é gostoso ver o time voltar a sorrir durante os jogos, ver o time mais leve, mais confiante, mais inspirado. E olha que isso é apenas um começo. O começo de um trabalho que precisa ser blindado, abraçado e cuidado em toda a sua complexidade.

Essa felicidade nascida desse encontro do elenco atleticano com o jovem e elétrico treinador argentino por óbvio tem funcionado como um elemento facilitador da assimilação das ideias de Milito e, também, do crescimento da vontade dos jogadores de vencer e de superar obstáculos.

Se de um lado lado, o time vem se inovando e conseguindo aprender a enfrentar e a se sobrepor às demandas e às variações táticas dos adversários, de outro vê-se também uma gradual evolução no enfrentamento das armadilhas mentais e emocionais que vêm sendo utilizadas largamente pelos adversários, particularmente aqueles de qualidade técnica flagrantemente inferior ou de camisa menos pesada.

Mesmo ainda longe do nível de excelência sonhado e desejado pelos seus milhões de torcedores o Atlético já consegue fazer o Galista gargalhar. As duas últimas e recentes vitórias de três gols sobre seu maior rival regional, resgataram no time e na Massa aquela chama que faz os seus adversários tremerem. Pela vez primeira a Arena deu um “spoiller” daquele caldeirão prometido.

Dentro de campo, algumas nuances táticas e algumas experiências aparentemente insanas de Milito não só têm funcionado, como, também, têm alegrado e feito a Massa sonhar e os jogadores a voltarem a sorrir e a acreditar que nenhuma vitória é impossível.

Essa amplitude tática que vem abrindo espaços mais que importantes para que Scarpa e Arana sejam liberados e explorem os flancos, enquanto os demais jogadores flutuam por dentro atraindo a marcação e deixando os corredores nas beiradas do campo livres, não é algo feito por acaso.

Claro que os outros treinadores irão buscar neutralizar esta estratégia. Claro está, também, que se espera de Milito, jogo a jogo, outros Atletico’s surpreendentes e envolventes, capazes de assimilar as variantes e os ferrolhos táticos que os adversários fatalmente tentarão impor. Mas este Atlético dos sonhos, cada vez mais forte e brilhante, só será alcançado com tempo, trabalho, perseverança e muitos cuidados.

Essa amplitude tática, esse escalar diferente e ousado, às vezes com apenas um zagueiro de ofício no time, esse descobrir o potencial multifuncional e tático de vários jogadores como, por exemplo, Saravia, Bataglia e Franco, esse resgatar da autoestima e da confiança de Jemerson e de Paulinho e esse Hulk que começa a se alternar entre protagonista e coadjuvante tático fundamental, dentre outras coisas mais, são também a amplitude e resgate da confiança, do apoio solidário da Massa em jogadores antes amaldiçoados e, em consequência, da parceria inestimável e imprescindível com a torcida.

E os ventos futuros certamente serão derrotados e transformados em brisa. Esse Atlético que Milito está forjando é o Atlético que todo atleticano quer ver, é o Galo que alimenta nossos sonhos, é o Atlético a quem chamamos de nosso e com o qual nos identificamos, é o Galo Forte e Vingador que está tatuado na alma de cada um de seus milhões de aficcionados espalhados por este mundão de meu Deus como dizia a velha Zulmira, aquela torcedora raiz que não entendia nada de futebol, mas de Atlético era doutora e tudo sabia.

*Este texto é opinativo, de inteira responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, o pensamento do portal Fala Galo.

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